Sobre não dar descanso a Temer, as diferenças, distinções e imobilidade eleitoreira

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Quando Dilma sofreu o impeachment na câmara parte da esquerda partidária e de movimentos sociais declarou que não daria um segundo de paz a Temer.

Pois é, mas deu.

Deu inclusive mais que um segundo em paz, deu dias, semanas, meses.

Manifestações até ocorrem, mas pingadas, poucas e pouco representativas.

Ações, como as que ocuparam o MinC, foram pouquíssimas e pararam há semanas, mesmo obtendo vitórias diante deste governo apalermado, ilegítimo e fraco.

E o governo ilegítimo prossegue com suas ameaças asneiras não só à classe trabalhadora, mas à democracia, ao bom senso, ao futuro da produção científica e à educação laica e de qualidade.

Mas a esquerda partidária prossegue sem tirar a paz de Temer, a não ser que entenda que tirar a paz seja xingar muito no Twitter.

Nesse meio tempo a esquerda partidária redescobriu o PMDB vilão de desenho animado, mesmo que o PT, que se aliou ao PMDB feliz em 2010, tivesse se construído denunciando o PMDB coo parte da direita coronelista brasileira desde seu nascimento nos anos 1980.

Todo santo dia parte dessa esquerda chora lágrimas de esguicho porque Cunha, Temer, etc são “ladrões” e “golpistas”, chega a ser meigo, doce e dramático, mas tem a função social do furúnculo na bunda como processo civilizador, com a devida vênia pela utilização terminológica.

Enquanto isso se não fosse índios, padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazendo o carnaval à revelia da política institucional poderíamos dizer que a esquerda morreu enforcada nas tripas do último burocrata.

Sim, não há esquerda nas ruas, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Tá, vá lá. Não sejamos injustos!
Profissionais estão em greve em vários estados, especialmente professores, e especialmente no Rio e RS, mas a vida da esquerda é mais que greve, por enorme importância que elas tenham.

E a vida política das greves é mais que elas mesmas e suas categorias.

Nem às greves o apoio coletivo da esquerda, o enorme peso necessário pra disputa hegemônica e contra hegemônica das consciências, a gente vê com a ênfase necessária.

Greve Geral? Sonha!

Vemos sim a esquerda tartamudear lamentos grandiloquentes sobre a maldade do mundo contemporâneo gritando o inócuo e babaquara grito “Primeiramente Fora Temer”.

Como se essa fraseologia amestrada fosse um abracadabra da libertação dos cães capetóides da revolução pra cima da direita, que ri, de lacrimejar na gravata, dessa bobagem.

A esquerda partidária definitivamente abraçou a teleologia da revolução enquanto evento escatológico e apocalíptico.

Sua religiosidade “racional”, seus mantras, signos, sinais, santos e demônios travestido de figuras públicas e burguesia, e segue na procissão candente dos ignaros rumo ao nada.

Tem avanço fascista que mata alunos da UFRJ, amplia crimes de ódio, ameaça professores, ganha DCEs, apoia bolsonaros, etc?

Lutaremos contra isso, mas vamos tentar canonizar nosso santo da vez elegendo-o prefeito primeiro?

E às diferenças e distinções entre nós da esquerda, como são tratadas? Com a velha e boa desqualificação dos que não são convertidos à fé dos mosteiros vermelhos de São Lênin, São Marx, São Trotski e Reverendo Stálin, na borrachada.

A nova é o racha do PSTU provocando grandiloquentes debates sobre a razão ou desrazão de gente adulto optar por tomar outro caminho organizativo.
Como se isso fosse sequer da conta coletiva ou elemento fundamental de qualquer mudança dramática na conjuntura ou tivesse efeito daninho à organização política coletiva.

Sim, a esquerda partidária ainda se ressente de gente adulta definindo que não quer mais fazer parte de grupo A e se deslocando pra fazer parte de grupo B ou vender sua arte na praia.

Como se o cara ao migrar sua militância pra anarquia ou sair do partido A pra fundar outro ou ir pro B, ou mudando seu nome pra Chupeta de Baleia e fazer performances acrobáticas na praça XV mudasse um cacete de elemento prático na conjuntura e tornasse a vida coletiva mais ou menos dura no enfrentamento político contra a direita.

Mas reparem que a cada racha ou a cada crítica soltam-se as balalaicas argumentativas dos xóvens do mosteiro vermelho falando da necessidade de “um partido da classe”.

Vejam bem, não falam da necessidade da classe trabalhadora se organizar ao máximo, mas dela ter “um partido”, reparem no numeral “um”, isso mesmo, apenas um, unzinho.

E as diferenças, as dissonâncias, a diversidade, as distinções? Fodam-se elas, só pode existir um.

Tá certo que parte boa da esquerda de hoje cresceu com Highlander no imaginário, mas desde os anos 1960 ao menos temos elementos teóricos pra discutir essa obsessão pela uniformidade na esquerda que dão um novo gás à nossa própria percepção do mundo e rediscutem a obsessão marxista-leninista pelo partido único, centralizadaço, supostamente democrático, não?

A diversidade, as distinções, as diferenças produzem mais diversidade, mais distinções e mais diferenças, e isso tá longe de ser negativo diante da óbvia complexidade da composição da realidade e das classes operárias, dos mundos e fundos que são feitos de gente que luta, se organiza, sobrevive, produz suas próprias pautas e lutas.

E o que isso tem a ver com dar descanso a Temer?

Tudo.

Até porque enquanto a esquerda partidária ignora o mundo externo a ela e o aumento dos crimes de ódio, da sanha bolsonarísta de se impor na porrada sobre mulheres, negros, LGBT, a coletividade transformadora da esquerda não partidária tá por ai enfrentando essa direita sem precisar gritar “Primeiramente Fora Temer”.

E segue a esquerda ignorando essas lutas, tratando-as como “problematização que desvia o foco da luta de classes”, atacando mulheres, atacando indígenas, atacando LGBT que gritam, em grandiloquente razão, sua fome de mudanças e conseguem cercear a direita, emparedar a direita, tornar a vida da direita um inferno enquanto a esquerda partidária agenda uma nova apresentação do Papai Noel de Montevidéu numa tour inútil de louvação tosca a figuras públicas burocratizadas, mas pop.

Ou isso ou lendo um Stalinista pop como Zizek falar bobagens reaças, mas de esquerda, enquanto Temer agenda matar a CLT a pauladas.

Vão esperar perder direitos pra agir? Não é a lição que secundaristas, índios, LGBT e mulheres estão dando.

Mas uma esquerda que ainda acha que só há um caminho pra transformação, e portanto um tipo de conhecimento supostamente racional e organizado pra compreender a realidade, consegue aprender algo que fuja do adestramento?

Difícil.

Da diversidade da subversão e do ethos transformador

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Primeiramente #Molotov .

Os caminhos ideológicos da esquerda traduzem as contradições próprias do campo contra hegemônico a partir de sua miríade de campos dentro e fora do marxismo tradicional.

Quando coloco campo contra hegemônico é proposital pra fugir da terminologia “Progressista” onde são encaixados uma outra miríade de grupos que nem sempre são participantes de qualquer noção ética de transformação social ou ruptura ao status quo, entre eles liberais democratas, capitalistas desenvolvimentista de linha keynesiana, etc.

Por que os caminhos da esquerda hoje, tida como dispersa e fragmentada, traduzem as contradições inerentes a este campo contra hegemônico? Porque a esquerda jamais foi esse monólito vivo em torno do ideário marxista.

E isso se tornou mais eloquente pós-crise do estruturalismo decorrente dos efeitos da segunda guerra mundial e da racionalização do genocídio a partir do nazifascismo provocando uma crise na própria narrativa moderna da razão como libertadora e mãe do progresso.

Inclusive esse é mais um motivo pra crítica do uso do termo “progressista” para definir quem atua no campo contra-hegemônico, mais conhecido como esquerda. Porque a lógica moderna do progresso traduz uma percepção de avanço das forças produtivas que despenca na ideia do domínio antropocêntrico da Terra com desprezo absoluto ao meio ambiente, e também a um etnocentrismo que põe na frente a concepção moderna do progresso industrial e científico branco ocidental como medida de todas as coisas e culturas.

Dessa crise “da razão” emergiram muitas formas novas de transformação contra-hegemônica, mas também ressurgiram formas antigas e que estavam em campo desde muito tempo antes, como a própria ideia de anarquia que por muitos anos foi submersa pelo marxismo-leninismo, nem sempre apenas com a hegemonia ideológica e cultural, mas com violência (vide 1936 na Espanha).

Além do ressurgimento de campos ideológicos antigos como a anarquia e o autonomismo, surgem novas formas de debate contra-hegemônico como as que nascem a partir do feminismo e da luta LGBT, como a teoria Queer; A própria ideia de organização política dos povos originários, com seus paradigmas teóricos próprios que compreendem o mundo, a sociedade e as formas de transformação para além do que as teorias ocidentais propõe, mesmo que dialoguem com elas em algum momento; As construções ideológicas das populações africanas e do Oriente médio e Ásia a partir do caudal cultural e teórico produzido na descolonização, com ações que incluem o pan-africanismo e o marxismo, mas também releituras de ambos e transformações que traduzem valores próprios como a filosofia Ubuntu.

Para além disso as teorias produzidas na História, Filosofia e nas Ciências sociais apontam para novas saídas teóricas passíveis de serem utilizadas, como de fato o foram, por movimentos.

Pensadores como Ginzburg, Foucault, Thompsom, etc, fogem dos paradigmas centrais ao marxismo-leninismo e apontam para novas interpretações possíveis da vida humana e das organizações sociais que não eram contempladas quando Marx produziu suas teorias no século XIX ou quando Lênin se organizou misturando a teoria marxista a uma percepção fordista da política. Ou se eram contempladas o eram de forma absolutamente embrionária.

Se já haviam esses movimentos nos anos 1920 ou 1930, com críticos como Walter Benjamin tanto trabalhando com a crítica à construção marxista-leninista como mecânica quanto apontando o progresso, e a própria noção de História como irmã do progresso, como um processo de inevitável libertação da humanidade a partir do desenvolvimento técnico, como se a sociedade e a tecnologia fatalmente se abraçassem um dia numa era de ouro do humano, eles triplicaram em participação, peso e vivência no pós-segunda guerra e produziram tantas transformações quanto possível na própria ética da transformação no campo contra-hegemônico.

E desde os anos 1960 em especial esses movimentos e caminhos se tornaram cada vez mais diversificados e mais contundentes na ampla raiz de uma crítica complexa, completa e permanente de todos por todos e da própria ideia de transformação social.

E o que isso nos mostra? Nos mostra muitas possibilidades de análise e entre elas está desde a própria percepção das transformações como parte fundamental para o avanço das ideologias de transformação, com resultados práticos, até a própria reação de parte da esquerda outrora absolutamente hegemônica a esta diversidade e à própria crise de estabelecimento de sua ideia de unidade como hegemônica entre o diversificado plano de consciência dos movimentos de transformação.

Além disso, esse confronto entre a miríade de movimentos de transformações e os outrora campos hegemônicos do ideário de transformação põe também em confronto a própria ética da transformação, ou seja, o ethos que permite a compreensão da moral deles (Dos opressores) e da nossa (quem busca as transformações).

Não é incomum que nos embates e nas lutas pela representação do ideário da transformação o amplo espectro da ética inerente aos mais diversos movimentos seja mandado pro espaço em nome da punição daquele que disputa com o outro o papel de representante da transformação social e política (Seja ela a revolução, a anarquia, a igualdade de gêneros ou o fim do racismo ou tudo isso junto). Não é incomum as acusações mútuas entre os campos de serem traidores de uma causa em especial ou de uma bandeira ou de um campo de significados que simbolizam a revolução. E não é incomum todos estarem certos.

A diversidade da subversão por vezes é tomada como panaceia ou como veneno, quando não é nem um nem outro e sequer deveria também significar diversidade do ethos transformador.

A diversidade da subversão é um fenômeno histórico que traduz uma nova percepção do real como multifacetado e intraduzível de forma única pelas mais diversas ciências e teorias (incluídas ai as ditas exatas), algo que se não é consenso é cada vez mais perceptível nos debates ocorridos no interior das ciências humanas, e não só.

A diversidade no ethos transformador é que é um problema e dos grandes.

Porque a diversidade da subversão é filha dileta da expansão das formas de luta e dos campos de embate contra a opressão, que produzem amplos espectros de vitórias e de exposição das forças conservadores e do Estado a uma miríade de táticas e demandas que não os permitem muitas saídas simplificadoras.

Prendem anarquistas? Autonomistas atuam. Prendem comunistas? Grupos feministas estão nas ruas. Universitários reprimidos? Secundaristas ocupam escolas.

Entre todos esses existem comunistas ortodoxos e não ortodoxos, autonomistas tradicionais e novos, black blocks, feministas interseccionais e radfem, movimento negro unificado ou que inclui brancos, movimento indígena com raízes partidárias e autonomistas, entre todos existem foucaultianos, confederalistas libertários, anarquistas, autonomistas, malucos, etc.

E todos participam da enorme tarefa de transformação do mundo com o estabelecimento de uma polifonia onde vários mundos acabam se tocando e dialogando, na marra.

Isso é o estado da arte da diversidade teórica e da liberdade de ação política conquistada pela contestação, dentro e fora da academia, e que permite de tudo um pouco nas ruas, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Essa diversidade teórica e liberdade de ação política nasce da própria crítica às amarras teóricas e políticas produzidas no campo contra-hegemônico pela ascensão do marxismo-leninismo como resposta única a todas as questões produzidas no espectro contra-hegemônico que contemplassem as transformações necessárias nas sociedades contra toda forma de opressão.

Essas amarras nasceram e cresceram desde a ascensão de Lênin ao poder na URSS com silenciamento de todas as contradições internas e externas aos bolcheviques, muitas vezes com uso do exército vermelho de Trotski, e viraram um Leviatã sob Stálin e com o crescimento do peso geopolítico da URSS e seu controle sobre os partidos comunistas mundo afora.

Não à toa dois dos momentos de explosão da miríade de movimentos e concepções de luta nascem na e da explosão teórica pós-1960, período onde também ocorre o primeiro rompimento coletivo com o Stalinismo partindo da própria URSS e tendo reflexos na saída da China do estado de parte do Komintern, e após a queda da URSS nos anos 1990.

O resultado das reações à diversidade teórica e liberdade de ação política pós-1960 vem sendo, primeiro pelos PCs e agora pelos partidos da esquerda tradicional (em geral trotkistas) mundo afora, bem similares: Descrédito a tudo o que foge da ideia de “unidade”, que no fundo é busca de uniformidade; desqualificação das teorias contra hegemônicas não partidárias como “pós-modernas” , mesmo que a maioria ainda compartilhe de boa parte dos paradigmas da modernidade e o pior dos casos, o desvio ético que contempla o abandono do ethos da transformação em nome da garantia de espaços de poder, em geral burocráticos, que permitam o confronto com vantagens operacionais contra as mobilizações diversificadas, ou mais gerais e autônomas. Essas vantagens nos confrontos incluem uso do aparato policial de governos, processos judiciais e sim, tem muito a ver com a concepção fordista e até militarizada (Trotski defendia inclusive a ideia de militarização de sindicatos na revolução russa) de movimentos sociais e organizações políticas.

E ai é que está parte do problema do rompimento com o ethos transformador.

Porque o ethos transformador inclui na práxis cotidiana a ideias de reprodução ética de valores aos quais se deseja espalhar para toda a sociedade, ou seja, não adianta defender igualdade de direitos entre gêneros e etnia e incorrer em racismo ou machismo.

Não adianta ser contra transfobia e ser transfóbico, homofóbico, etc. Não adianta querer a liberdade da sociedade via revolução e encarcerar quem diverge de você, ou desejar que alguém morra de forma brutal por ser seu adversário, mesmo ele sendo um torturador ou defensor de torturadores.

A diversidade de meios de luta contra hegemônica é positiva, a flexibilização ética do ethos transformador não.

Há uma bela diferença entre pacifismo e contraposição à barbárie com barbárie.

Precisamos manter a lógica de ampliar a diversidade de percepções, interações, construções contra hegemônicas, a diversidade não nos enfraquece, fortalece e “pira” o poder.

Se nesse meio tempo essa diversidade também enfraquece as forças políticas organizadas em torno das burocracias, paciência e problemas deles.

Enfrentemos os resultados disso, pensemos e construamos a resistências à opressão com ou sem essas forças, com ou sem parlamentares, mas não esqueçamos da necessária manutenção do ethos transformador.

Parte da diferença entre nós e Bolsonaro é saber a nossa ética. Quem esqueceu ainda dá tempo de lembrar.

A própria ideia da catalogação ideológica em caixinhas determinantes e limitadoras é parte de um processo redutor do outro ao limite ideológico imposto. Por isso limites como “anarquistas não podem votar” ou “marxistas tem de ser centralistas democráticos” são parte da redução e da simplificação, que contém uma boa dose de autoritarismo.

O limite do pertencimento ao campo contra-hegemônico deveria ser menos doutrinário e mais ético, menos autoritário e mais libertário, menos redutor e mais amplificador e pode ser resumido na luta contra a opressão e contra o capital como porto seguro de todas as opressões a partir das opressões de classe.

Precisamos ir além do sistema e pensar pra fora dele. Ir além do voto, ir além das caixas, mas sem desgrudar de nossa ética fundamental: Não podemos ser como quem combatemos.

 

Do Impeachment ao stalinismo: A ampliação do silenciamento de mulheres, LGBT, Negros e índios

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O Brasil passa por milhares de problemas hoje.

Pós-impeachment de Dilma ele acrescentou a uma crise econômica gravíssima dentro de um contexto mundial, um nível de ruptura institucional complicadíssimo pra quem vive a luta institucional.

Acrescente a ampla descrença no sistema político brasileiro que vem em um crescendo ao menos desde 2013 um avanço de conservadores, amplifique com desconfiança tácita em todos os partidos, um judiciário ativista com flexibilidade ética, um governo interino ilegítimo e uma esquerda imobilizada, voilá, temos um caldeirão pronto pra requentar o caos.

Pra piorar o governo ilegítimo acha que o impeachment os legitima pra uma guinada de 180º na linha política já tímida do governo anterior em relação a direitos e a esquerda partidária pira na batatinha endossando o que o Governo Dilma e o PT mais querem: A irreflexão sobre os anos de concessões que pavimentaram o golpe transformada em apoio acrítico, recheado de pânico, ao Partido dos Trabalhadores como se um golpe fosse uma espécie de morte, que a tudo santifica.

É de um lado Alexandre de Moraes afirmando que usará a lei antiterrorismo pra meter a porrada em manifestante e quem criou a lei antiterrorismo e foi cúmplice de violência contra manifestante na copa e sócio do agronegócio no ataque a indígenas dizendo que são lados opostos, porque Dilma foi apenas péssima em DH, enquanto Temer é o horror.

Só que tudo fica mais pantanoso e até leviano quando nos pegamos lendo atitudes que envergonharia a esquerda se essa não tivesse perdido a noção de ética e do que é nossa moral em relação à da burguesia faz tempo, nessa marcha de naturalização do Stalinismo como se fosse pragmatismo e da secundarização de lutas como se fosse “foco na Luta de Classes”.

Bem, o PT e parte da esquerda partidária não satisfeitos em mimetizar a mídia corporativa para atacar Temer, como se precisasse, também está utilizando o momento crítico pra fazer uma caça às bruxas a toda a esquerda que atuava nos movimentos ampliando as pautas e exigindo mais direitos, especialmente os movimentos calo pro PT e governo como LGBT, Mulheres, Negros, Índios, Trans, etc.

Além do clássico “Não é hora de criticar o PT” temos agora o “Essa galera que problematizava turbante, essas ‘‘feminazis’’ são também participantes do golpe!” e variações da ladainha numa ressurreição do movimento de criminalização de ativistas produzido em 2013 que chegou ao ponto dos MAV do PT espalharem fotos fake de anarquistas empunhando bandeira nazista, foto manipulada por Photoshop que apagou o A anarquista e pôs a suástica.

Pra completar ninguém da esquerda partidária faz a mínima autocrítica sobre sua participação na criminalização de anarquistas e autonomistas feitas de 2013 pra cá, e não só, atua pra aparelhar as ocupações de escolas e transformar todo movimento de resistência a Temer em parte da “Frente Povo sem Medo”.

Se juntarmos o avanço de silenciadores secundarizadores de luta tentando silenciar mulheres e negros com o aparelhamento da indignação não é difícil entender o que temos pela frente: além da luta antifascista, que não recebe um pingo de ajuda dos partidos da ordem como PT, PSOL e PSTU, ainda temos um avanço de uma concepção stalinista de esquerda que é um avanço autoritário terrível para a esquerda.

E sim, esse momento contém mais perigos do que podemos imaginar. O avanço do Stalinismo dentro do campo das esquerdas naturaliza o autoritarismo como solução.

Some a contaminação autoritária da esquerda à ampliação do caudal autoritário na sociedade como um todo e o resultado não é exatamente cheiroso.

Se a esquerda é autoritária e a sociedade também é não há Chapolin Colorado que nos salve.

Em tempos onde escolas ocupadas sofrem ataques violentos de estudantes financiados pela direita para agredir quem as ocupa é perigosíssimo transformar quem deveria resistir a isso em espelho.

A complexidade dos problemas e da conjuntura exige mais do que uma reação dura aos ataques conservadores, ela exige uma reação qualitativa ao avanço do conservadorismo.

Não precisamos e nem podemos responder autoritarismo com flores, mas também não precisamos ou podemos responder ao conservadorismo com autoritarismo centralizador, silenciador e até misógino e racista.

É nessa hora que precisamos entender a diferença entre nós e eles. E ela não é só de um suposto lado que ocupamos e arbitrariamente definimos como se fossem uma manifestação binária maniqueísta.

A diferença entre nós e eles é também de valores, de busca de abolição de hierarquias, classes, fronteiras, opressões.

E não, isso não é sonhador, isso é identitário, estruturante.

Não podemos manipular manchetes pra desqualificar Temer, não precisamos disso, temos a defesa dos DH e a luta contra sua violação como tarefa, e isso já dá um enorme caldo pra batermos no governo ilegítimo.

Não, não precisamos sacanear movimentos autônomos ou a luta contra o silenciamento, debatedora do lugar de fala, e contra a apropriação cultural racista pra supostamente focar na luta de classes sufocando “desvios”, porque a luta anti racista e contra privilégios,misoginia, machismo e homofobia SÃO A LUTA DE CLASSES.

E também não precisamos fantasiar o governo Dilma pra chamar Temer de um horror.

Essa é inclusive a hora de E-XI-GIR do PT uma plataforma de real guinada à esquerda, uma reversão programática do que vinha fazendo, concretizando promessas jamais cumpridas, isso pra começar, e não para agirmos como esquerda domesticada pronta a servir o tutor do Campo da esquerda na hora em que ele precisa, mesmo sem merecer uma linha de confiança.

Precisamos inclusive entender que as fragilidades do governo Temer tem tudo pra miná-lo mais cedo do que a imprensa encantada com o governo reaça deseja e sequer percebe. E que essas fragilidades fatalmente porão de novo o PT no governo, ou ao fim de 180 dias ou em 2018,mas que recebendo endosso ao que foi Dilma baseado numa espécie de amnésia causada pelo pânico teremos a continuidade de governos terríveis pra DH, meio ambiente, indígenas, favelados, etc..

Não basta, portanto, resistir a Temer, derrubá-lo, precisamos também derrubar no PT o que levou Temer a ser presidente ilegítimo.

E não faremos isso com silenciamento e adesão acrítica, precisamos de mais e um bom começo é saber que nossa moral e a deles não é a mesma.

O que fazer no dia depois de amanhã?

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A esquerda vem sendo reativa há tempos, isolada em seus castelos, transformada em assessoria de gabinete de governos, movimentos organizados inclusive, desde muito tempo antes do PT assumir o poder em 2003.

Funcionou por muito tempo a relçação entre movimentos, partidos, governos e mandatos. Construiu caminhos através da burocracia, programas de governo e projetos de lei.

Só que enquanto se acostumava com a relação íntima com palácios a esquerda foi paulatinamente perdendoas ruas, e quando percebeu isso, especialmente em 2013, outras forças da própria esquerda e da direita começaram a ocupá-las. A saída pra governos e partidos vinculados à esquerda foi criminalizar quem ocupava as ruas, colocando todos no balaio do fascismo.

Isso esvaziou as ruas por um tempo até que a direita se reorganizou, amparada por governos explicitamente de direita, e voltou pras ruas, amparada por policiais que construiram publicamente a diferença entre “manifestante” e “militante”, o segundo, “comunista”, deveria ser reprimido, os demais não.

Atônita a esquerda partidária permaneceu longe das ruas. Aprisionada e processada, a esquerda não partidária também, embora atuasse fortemente nas ocupações de escola, manifestações por passe livre, etc, atuando em geral por vias menos ortodoxas, mais próximas às periferias e vinculadas a bandeiras mais práticas e cotidianas.

E cresceram os movimentos de direita, a classe média conservadora tomou gosto pelas manifestações sem política, sem repressão policial, com muita festa, anticomunismo, ódio racial, ódio a LGBTTS, feminismo e em especial ao comunismo. O fascismo começava a pôr a cabeça de fora.

A esquerda, aidna atônita, mas percebendo o perigo de impeachment saiu às ruas por um breve tempo, depois voltou a aguardar com a fé dos incansáveis, uma solução salvadora vinda das articulações palacianas de suas figuras públicas.

E não teve solução, não teve articulação que desse jeito, Dilma caiu, Temer assumiu com um ministério mais conservador que o de Collor.

Enquanto tudo isso acontecia várias manifestações antifascistas e ocupações de escolas ocorriam, com a esquerda partidária as ignorando ou tentando se apropriar delas pela via de UBES e UNE sem muito mais do que dezenas de estudantes ocupando o Parlamento, enqquanto nas escolas alunos auto-organizados tocavam o baile do ativismo que transforma, conseguindo em São Paulo uma CPI da Merenda e no Rio o fim do SAERJ (Prova de avaliação de “desempenho”). As ocupações horizontais permanecem em vários lugares, como em Goiás, Porto Alegre, Fortaleza.

E ai, e o resto da esquerda, o que faz no dia depois de amanhã do Impeachment de Dilma?

Bem, pouca coisa prática além de choramingar sobre o recuo conservador que é o Governo Temer e listar publicações internacionais criticando o impeachment de Dilma.]

Zero de análise, de auto-crítica, de propostas, zero de percepção de algo além do óbvio sobre o processo.

Parece que Temer, vice de Dilma, desceu de um disco voador vindo de Marte.

A esquerda petista lembrou outro dia que os índios existem e colocou que com Temer eles vão acabar. Bem, pode ser, inclusive Temer precisa apenas olhar como Dilma produziu parte do processo de extermínio indígena e repetir, nem precisa reinventar a roda.

Esse é parte do problema: Cadê ao menos o “Foi mal!” do PT sobre os recuos que empoderaram essa direita que o golpeou pra gente começar a conversar coletivamente sobre resistência? Não vai rolar? Não, não vai rolar, mas então, que tal ao menos propor caminhos de resistência além do Avaaz?

Não sei se vocês notaram, mas dizer o óbvio, que o ministério Temer é um horror, não o transforma no Coelhinho da Páscoa.

A ausência de mulheres e negros, a transferência da titulação de Quilombos pro MEC não é apenas um informe, é uma prática entrando em ação. Alexandre de Moraes na Justiça idem, significa que o pau vai comer.

E não, não adianta vir com aquele papo brabo de “Viram? Sem o PT é pior!”, porque senão a gente lçembra a responsabilidade do próprio PT com alianças à direita e empoderamento do mesmo PMDB dentro dos governos Dilma e Lula. Sim, sem o PT é pior, mas com o PT não estava bom e metade do ministério Temer também foi ministério Lula ou Dilma, de Henrique Meirelles a Henrique Eduardo Alves, Jucá, Kassab, etc. Melhor mudar de assunto, não?

Então, estão vendo as escolas? Estão vendo as manifestações antifas? Que tal baixarem a bola e a sbandeiras e colarem enquanto militantes pra apoiar, dar força sem tentar apropriar, aparelhar, transformar em palco eleitoreiro? Que tal se transformarem de novo naquela galera que não queimava na fogueira valores e bandeiras históricas pra construir o cadafalso que produziu o impeachment de Dilma?

E podemos avançar, há enormes mudanças no quadro teóprico prático da militância anarquista e socialista desde 1917, sabe? Tem as experiências do Curdistão libertário sírio, por exemplo, que dão caldo. E acho que se o Ocalan velho de guerra conseguiu produzir uma teoria libertária vindo de uma tradição leninista a gente consegue também, não?

Que tal a gente começar a discutir comitês de resistência? Não, dificilmente vai ter a adesãod e autonomistas e anarquistas, mas tem boa parte da esquerda que ainda ama votar e adoraria uma experiência organizada de forma horizontal, mesmo com o exemplo dado recentemente sobre o valor que a eltie política dá ao voto. Sabe o PODEMOS e o SYRIZA? Pois não nasceram cooptados pelo sistema e tem mais horizontalidade que a maior parte dos partidos brasileiros, mas muito mais que PSOL e PT.

Sei que RAIZ e REDE não são similares a PSOL e PT, embora o RAIZ esteja hoje em filiação solidárioa ao PSOL, mas são experiências de organização político partidária bastante mais horizontais e o quadro de recuo conservador não tá deixando barato quem fica pensando apenas no próprio umbigo.

Para além disso há contingentes autonomistas e anarquistas produzindo coisas novas, com resistência a tarifaços, aumento de energia, passagem, com luta por ocupação de imóveis, tem todo um trabalho educacional sendo feito. Tudo isso pode ser exemplo de funcionamento pra quem quiser transformar de novo o quadro político e construir saídas ao recuo conservador.

Ainda mais se analisarmos o quanto esse recuo que tenta atingir cotas, LGBT, mulheres, etc e também não aponta nenhuma saída econômica que vá funcionar em um quadro de crise econômica internacional, que tende a ampliar a recessão, além de pôr fogo no cabaré que é hoje o teatro político brasileiro.

Já tem ocupação do IPHAN, auditores do CGU bastante invocados, pra disso sair greve é dez reais, mesmo o Alexandre de Moraes achando que o Brasil é São Paulo e vai geral protegê-lo de mídia e de exposição.

E ai, que tal parar o mimimi e produzirmos o avanço na marra?

O que não estamos enxergando? A perseguição política a anarquistas e outras histórias.

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Fazer politica exige honestidade, ao menos de quem transita na esquerda.

Honestidade tá longe de ser apenas não roubar. Honestidade exige uma postura rígida de princípios. Quem a rifa, mesmo que seja para “vencer” um embate político pontual, manda às favas os escrúpulos de consciência e ai, amigo, é ladeira abaixo da chamada degeneração.

Sim, há uma degeneração política a partir da cooptação, a primeira fase manda pro cacete qualquer vestígio de projeto de longo prazo, de percepção estratégica. Dai em diante o vivente é preenchido por um senso de urgência sempre pontual, focado nas suas necessidades imediatas ou nas de seus grupos políticos, sempre ignorando a necessária avaliação cotidiana de forças e coisas, de movimentos e gestos, de atos e de percepções de conjuntura.

Tudo começa a ser organizado de forma a tratar qualquer crítica a seu grupo político ou ninho habitual de vivência política como “fora de hora”. Nunca é hora de autocrítica, de aprofundamento da análise sobre movimentos políticos de, pela e para a esquerda ou de qualquer cheiro de percepção ampla das próprias organizações e de debates francos sobre movimentos futuros.

Há, e sempre haverá, um espantalho a ser combatido que oblitera qualquer reflexão.

Os monstros são ferramentas eficientes de transformação de gente inteligente em muares.

O mais recente monstro do uso da conjuntura para o silenciamento de crítica e a cooptação de lutadores é a pré criminalização de Guilherme Boulos do MTST.

Digo pré criminalização porque ao menos desde 2013 movimentos e frentes anarquistas e autonomistas como o MEPR, OATL, FIP, FAG, lutadores como Camila Jourdan e Sininho e pessoas pobres pegas como bucha de canhão como Rafael Braga vem sofrendo criminalização frontal violenta, destrutiva, silenciadora, canalha, calhorda, na maior parte das vezes contando com auxílio luxuoso de PT, PSOL, PSTU, MTST, MST, CUT, etc de forma direta ou indireta. E não vimos uma malditinha palavra sendo posta no papel em solidariedade a eles. Rafael Braga até recebeu uma atenção momentânea enquanto o assunto estava quente, agora que esfriou ele foi largado às traças, exceto por FARJ, FAG e outros movimentos que também sofrem e sofreram com a criminalização, como os supracitados.

Estes foram concretamente criminalizados, estão sendo criminalizados, estão sob processo, Boulos sequer perto disso está, há apenas um pedido do PSDB para fazê-lo.

Boulos, MTST, PT e PSOL estão usando a ação do PSDB como o jogador que se joga dentro da área pedindo pênalti. Enquanto fazem isso outro jogador está em pé com os dentes quebrados e tentando jogar, tendo seu time menos 23 jogadores suspensos por um tribunal esportivo venal.

Essa questão toda ocorre em meio a pedidos de solidariedade vindos da esquerda partidária, que ao mesmo tempo diz que não é hora de criticá-la por ter se omitido ou agido de forma intencionalmente criminalizadora de militantes da esquerda não partidária.

Ou seja, o pedido é de solidariedade, mas acompanhado de silêncio diante da necessária acusação a esta esquerda partidária de cúmplice do aparato repressivo do estado quando ele foi interessante ferramenta de eliminação de quem ela considerava indesejável.

Por que a esquerda partidária quer isso? Porque não interessa a ela repensar sua trajetória de auxiliar da marcha de recrudescimento de um ethos fascista na sociedade que ameaça agora seu governo de estimação, que só é de esquerda às vésperas das eleições e dentro dos discursos do mal maior.

Quando a esquerda dizia que era preciso isolar os black bloc, que os movimentos de junho de 2013 eram “despolitizados” e compostos de “vândalos” e que a violência policial era causada por quem resistia a ela e não pela polícia ser um instrumento de opressão do estado burguês aos trabalhadores, (em especial aos pobres, pretos e favelados) ela foi cúmplice da retirada da esquerda das ruas, da esquerda partidária acovardada e da esquerda não partidária criminalizada. E isso, amigos, abriu espaço para que movimentos de direita avançassem sobre as ruas vazias.

Mas agora, que a esquerda partidária e suas boy bands de “lideranças de movimentos” são atacadas com sugestão de criminalização, é preciso solidariedade, mas sem lembrar a esta esquerda suas digitais no processo?

Por quê? Porque para esta esquerda a unidade não interessa, a ela interessa uma uniformidade, que rime como apoio, e que apoio rime com sua manutenção e a de seu capital eleitoral na luta pela ocupação de postos no estado, estado esse que utilizará para reprimir, perseguir e processar, com auxílio da lei antiterrorismo, todos os movimentos que não seguirem suas diretrizes políticas.

Unidade na luta? Não. Essa gente quer calar o dissenso e quer receber apoio em nome de uma solidariedade de classe que esquecem de usar quando a esquerda que não está sob suas asas recebe pancada.

E porque isso é importante agora? Primeiro porque uma solidariedade coletiva a Boulos manteria em alta de forma acrítica a narrativa de que quem apoia Dilma, e Boulos apoia Dilma, está na verdade numa cruzada contra a burguesia. E esse discurso não é isolado, militantes do MST conseguem justificar eles e Katia Abreu apoiarem Dilma e “lutarem pela democracia” apelando pra uma analogia com a aliança entre Mao Tsé Tung e Chiang Kai Shek durante a segunda guerra mundial para combater a invasão japonesa.

Ninguém menciona a relação entre MTST e o “Minha Casa, Minha Vida”, né? Pra que?

Em segundo lugar porque o processo de resistência aos processos de impeachment de Dilma tem o chamariz de luta pela democracia, mesmo que no fundo estejam sendo utilizados por PT e Cia como reforço à narrativa de apoio da esquerda ao governo, e que a luta pela democracia precisa da contra narrativa de que existe um processo autoritário em curso e que ele está atingindo lutadores de esquerda.

A narrativa tem uma enorme base de verdade, existe um processo autoritário em curso e ele está atingindo lutadores de esquerda, só que estes lutadores não são os da esquerda partidária e já vem sendo atingidos fazem três anos ou mais e sem uma caceta de palavra de movimentos e partidos ligados à institucionalidade a respeito. No máximo o PCB e Mauro Iasi falaram algo, e muito pouco.

Em terceiro lugar é importante para a esquerda partidária manter o fogo alto pra retirar a direita das ruas, para tensionar o congresso e também para manter sua militância frenética para a conquista de votos agora e em 2018, e se necessário agir para que a militância de partidos como PSOL, PSTU, etc acabem pressionando suas direções para que se aliem ao Pt e a Lula “contra a direita” em 2018.

Ou seja, essa narrativa tem um pano de fundo de cara, corpo e modo de andar stalinista com tática refinada de ocupação de espaço político com fins eleitorais.

E enquanto isso os criminalizados que apodreçam na cadeia, afinal são só anarquistas.

E enquanto isso ocorre Dilma rifa ministérios na quermesse do salvamento do governo na bacia das almas, o MST ganha migalhas pra fingir que tá tendo guinada à esquerda, os movimentos do STF parecem indicar que há fortes pressões para que o impeachment (E a Lava Jato) sejam tornados inviáveis legal e politicamente e a mídia muda lentamente sua linha editorial, atacando Temer, Moro e Cunha, indicando que também ocorreu movimento de refinanciamento do caixa das empresas jornalísticas, além de ter ficado claro que todo o movimento dos últimos meses não vai resolver o problema de gerência do capitalismo em plena crise econômica pelo qual passa o governo Dilma.

O ativismo judiciário de Moro e seus blues caps, além do de Gilmar Mendes, também recebeu fortes críticas de seus próprios pares.

Ou seja, há um cenário de arrefecimento do impeachment, e nada mais bacana que em meio a esse processo e às reações de boa parte da esquerda contra a instrumentalização da luta pela democracia pelo governismo o PSDB tenha resolvido despencar ladeira abaixo com a judicialização dos discursos pedindo a prisão de Boulos, que inclusive esperava isso.

Nada melhor pra manter o fogo da ilusão de uma esquerda desesperada e perdida taticamente e sem estratégia nenhuma de transformação social e sistêmica que contar com a fanfarronice histérica do sublúmpem da direita tucana desesperada com a perda paulatina de chances de ocupar ministérios.

Só que enquanto isso é hora sim de questionar a esta esquerda porque o discurso contra a criminalização e pedindo solidariedade não veio acompanhado da devida autocrítica com relação ầ sua participação na criminalização dos presos da copa.

Porque se o silêncio permanecer a esquerda partidária permanecerá sendo cúmplice.

E continuará fingindo que se aliar à Katia Abreu foi como a aliança entre Mao e Chiang Kai Shek.

A Dilma, a Folha, o ISIS e “grupos criminosos”

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E Dilma escreveu um artigo para a Folha, seção Tendências e Debates, falando dos refugiados sírios e das medidas que o Brasil toma e vai tomar.

O artigo é bonitinho até, e passaria em branco como perfumaria fofa, se: Não tivesse sido assinado pela Presidente da República e não contivesse uma “confusão” entre o ISIS e “Grupos Criminosos”.

ISIS é a sigla do grupo chamado Estado Islâmico ou DAESH, que vem a ser um grupo fundamentalista islâmico armado que atua no Iraque e Síria, chamado de terrorista pelo ocidente/OTAN, mídia,etc, e combatido pelos Curdos Libertários do PKK, YPG e que vivem no também chamado Curdistão Livre da Síria.

Grupos Criminosos são mais simplórios, como Comando Vermelho (CV), Terceiro Comando (TC), Amigos dos Amigos (ADA), Milícias como a “Liga da justiça”, pegando os que atuam no RJ, e atuam com fim lucrativo, parte violenta da economia informal,e alimentadores da economia formal via bancos como o HSBC. Confundi-los é um erro, ainda mais em tempos de aprovação da Lei antiterrorismo (Lei 2016/15 ) que permite inclusive encaixar ativismo e manifestações entre violações à lei e tratando-os como “terroristas”.

Essa “confusão” seria normal, problema de má formação, informação, excesso de senso comum, caso o autor não fosse a Presidência da República na figura de sua atual ocupante, Dilma Vana Rousseff.

Além da liturgia do cargo, a quebra da formalidade reservada à palavra do ocupante da Presidência da República pode ser mais que um equívoco, mas abertura de perigoso precedente interpretativo de uma lei que já possui brechas demais.

Brechas de uma lei que permite seu uso para classificação do jovem que quebra vidraça de banco como tão “terrorista” quanto o jovem que arranca a cabeça de um jornalista em frente às câmaras, que escravizam e estupram mulheres, sob pretexto de exercer sua fé islâmica, para horror da maioria dos muçulmanos que sofrem com os orientalismos e a classificação racista, sectária, de sua fé como cúmplice destes atos.

Comparar grupos fundamentalistas com tinturas de uma espécie de fascismo religioso com grupos criminosos amplifica a ação policial trabalhada na psicologia e ética da guerra, a velha guerra aos pobres travestida de guerra às drogas, que alimenta recordes de assassinato da juventude negra brasileira.

E não é o deputado irresponsável ou o jornalista sensacionalista que diz, escreve, isso, mas a chefe do estado maior das forças armadas.

Ao fazer a tenebrosa comparação do ISIS com “Grupos Criminosos”, Dilma Vana Rousseff ultrapassa uma fronteira que não traz nada de bom: Se foi um equívoco alimenta o pior da sociedade com argumentos, se foi um ato falho revela um desejo oculto em relação à ação contra grupos criminosos usando a lei antiterrorismo e se foi consciente é melhor corrermos para as montanhas.

A coisa toda só piora se considerarmos a origem política e partidária da Presidenta, acusada ela mesma de terrorismo de forma arbitrária, truculenta, ditatorial e criminosa no passado.

Em tempos de prisões arbitrárias sob pano de “proteção à democracia”, de chacinas como “política de segurança”, de ocupação militar da periferia como “combate ao crime” e de tortura e morte de Amarildo, Cláudia, Eduardo e Cristian, uma comparação entre ISIS e “Grupos Criminosos” é gasolina numa fogueira que assa a carne preta, a mais barata do mercado.

Ainda mais escrevendo o artigo para a Folha de São Paulo, a mesma que emprestava kombis pra Operação Bandeirante, a OBAN.

A criminalização do raciocínio

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Acabo de ouvir uma gravação da CBN onde uma senhora chamada Viviane Mosé afirma, entre outras coisas, que “diante das manifestações, adote seu filho antes que um professor de história ou filosofia o adote”, a chamada do comentário no site vai mais longe e afirma que “No Rio de Janeiro, professores do Ensino Médio instigam uma luta nas ruas com o uso de violência”.

Participam desta pequena peça tragicômica a “educadora” Viviane Mosé e o “jornalista” Carlos Heitor Cony, e no programa afirma que professores de história e filosofia contribuem para formar “baderneiros terroristas” e o anarquismo bakuniano é “demodê”.

O alcance dos comentários seria só cômico se não fosse feito por uma emissora de rádio, recebendo concessão pública para serviço também público e não uma ação de propaganda criminalizadora de disciplinas inteiras e do direito à livre manifestação.

Em dado momento a “educadora” afirma que “tiramos Collor, um presidente da república sem o uso da violência”. Talvez na sua formação o ensino de história não tenha sido bom, por isso a ojeriza, o que pode tê-la levado a ignorar um elemento fundamental para a compreensão da diferença entre o Fora Collor e as atuais manifestações: a ausência no primeiro do estado na sua ação mais violenta, a criminosa ação da polícia militar de diversos estados como ação repressiva prévia de qualquer manifestação.

A “educadora” talvez tenha optado por ignorar solenemente a criminosa ação da polícia militar do Rio de Janeiro no dia 20 de junho de 2013, quando sem nenhuma ação violenta reprimiu cerca de dois milhões de pessoas perseguindo manifestantes até o Catete, retirando pessoas na base do gás lacrimogêneo de bares na Lapa. Pouco depois, um dia depois, outra ocorrência talvez tenha passado batida aos olhos da “educadora”, como o lançamento de gás lacrimogênio dentro de hospital no centro. Dias depois, 12 de julho de 2013, a policial militar reprimiu ato de professores à frente do Palácio das Laranjeiras inclusive lançando de novo gás lacrimogêneo em um hospital. Tudo isso, toda essa escalada de violência policial foi solenemente ignorada pela “educadora” e pelo “jornalista”, claro, violência só existe a partir de manifestante, jamais pela via da polícia, correto?

Também passou ao largo dos comentaristas a ação da polícia militar no dia da final da copa do mundo,  o estado de sítio na praça Saens Pena, o que nos leva a pergunta: Quem é terrorista?

Claro que o “jornalista” e a “educadora” não ignoram que servem como reprodutores de uma ideologia, assim como todos nós, e que ao acusarem apenas aos professores de utilizarem sua função como reprodução da ideologia em que acreditam e constroem-se como transformadores da sociedade fingem que eles, “jornalista” e “educadora” não são também reprodutores de ideologia, são “isentos”, são “neutros”, procuram “o melhor para a sociedade”.

A tática é antiga, inclusive Cony foi alvo dela quando foi perseguido pela ditadura militar que atribuía a ele o que ele e a “educadora” atribuem a professores de história e filosofia.

O interessante é pegarmos algumas das funções da disciplina de História segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC, como por exemplo:

Na perspectiva da educação geral e básica, enquanto etapa final da formação de cidadãos críticos e conscientes, preparados para a vida adulta e a inserção autônoma na sociedade, importa reconhecer o papel das competências de leitura e interpretação de textos como uma instrumentalização dos indivíduos, capacitando-os à compreensão do universo caótico de informações e deformações que se processam no cotidiano. Os alunos devem aprender,conforme nos lembra Pierre Vilar, a ler nas entrelinhas. E esta é a principal contribuição da História no nível médio”.

Será que o problema do ensino de história é que os alunos ao invés de serem cooptados ou “adotados” por um professor aprendem a ler nas entrelinhas dos jornais, dos discursos, das palavras de educadores e jornalistas e por isso o medo/pânico que determinadas facções da nova direita “intelectual” do país tem destes profissionais?

É uma pergunta que devemos levar a sério dada a agressiva campanha desta nova direita no que tange à criminalização de professores, em especial de disciplinas ligadas às ciências humanas. Essa ação não é isolada, não é pequena e nem nova, vem desde manifestações ridicularizadas antes pelas redes sociais como a “escola sem partido”, participa do discurso de Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino (este último colega de organizações Globo da “educadora” e do “jornalista”) , além de ser parte de um projeto de lei do Vereador Bolsonaro na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Ou seja, a CBN é só mais um veículo a tomar esta política como regra e ação.

Esse discurso não é isolado do discurso do Instituto Millenium, instituto esse que atua de forma agressiva nas redações e nos projetos educacionais, inclusive com parcerias com universidades.

A quem serve essa ideologia mascarada e que atua com seu dedurismo para um ataque frontal à reputação de juízes que zelam pelo estado democrático de direito, ativistas, professores e advogados, tentando legitimar processos ilegais levados a cabo com base em testemunhos no mínimo questionáveis?

Bem, se analisarmos um pouco quem mantém e financia o trabalho do instituto talvez tenhamos algumas pistas.

Será que interessa ao grupo Abril professores e alunos autônomos que ameacem seu braço educacional questionando suas apostilas e lendo nas entrelinhas da relação entre seus negócios, publicações e ações políticas?

Será que interessa ao grupo Suzano alunos críticos que entendam que o discurso de sustentabilidade que mantém em suas publicações é lamentavelmente lorota e que sua indústria de papel e celulose usa o latifúndio monocultor de eucalipto como meio de Greenwash de emissões de carbono sem no entanto ser sustentável ou as reduzir concretamente?

Duvido.

Mas provavelmente o maior medo da “educadora” e do “jornalista” seja o mesmo da ditadura militar que, ao reduzir em sua reforma da educação o ensino de ciências humanas, buscou concretamente reduzir o custo do estado na formação de indivíduos críticos. Esse medo é o medo da contestação do status quo.

Porque esse é um dos papéis do ensino de história no ensino médio conforme os Parâmetros curriculares nacionais do MEC:

Nessa perspectiva, a História para os jovens do Ensino Médio possui condições de ampliar conceitos introduzidos nas séries anteriores do Ensino Fundamental, contribuindo substantivamente para a construção dos laços de identidade e consolidação da formação da cidadania.

O ensino de História pode desempenhar um papel importante na configuração da identidade, ao incorporar a reflexão sobre a atuação do indivíduo nas suas relações pessoais com o grupo de convívio, suas afetividades, sua participação no coletivo e suas atitudes de compromisso com classes, grupos sociais, culturas, valores e com gerações do passado e do futuro. “

Ou seja, ao formar cidadania crítica, cidadãos que refletem sobre seu cotidiano a história é mesmo uma vilã, dado que ao refletir sobre o dia a dia é natural que o aluno, ao adotar a razão, o critique diante da enorme injustiça deste mundo.

E é esse o medo, não é? Do raciocínio.

O raciocínio, esta arma que falta à repressão em suas buscas de prenderem Sófocles ou Bakunin anos depois de mortos, é perigosíssimo.

Ao agir como os policiais trapalhões que atacam reputações e querem prender Bakunin, a “educadora” e o “jornalistas” tornam-se candidatos a funcionários do mês das organizações Globo, mas incorrem num equivoco que reflete a ausência em ambos de formação intelectual adequada: Pedem que se adotem seus filhos antes que professores de História os adotem. Confusão natural entre conservadores que entendem a escola como uma grande creche, mas equivocada. Professores são profissionais que atuam na área de ensino, e não substitutos dos pais. Talvez o que falte a seus filhos seja a presença paterna sim, e de forma democrática, dialogando com os jovens e não uma lógica de imposição ideológica agressiva, autoritária e estúpida.

E se é preciso que vocês adotem seus próprios filhos sugiro revisão da relação entre pais e filhos, ela desandou. Ou seria melhor pô-los concretamente para a adoção, talvez eles consigam pais melhores. Até porque criminalizar o raciocínio não resolve o problema.

A copa que não teve e a repressão como legado #copapraquem #naovaitercopa

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Sim, eu tenho problemas em sair de casa, confesso. Sempre tive, odeio.

Gosto de sair com pouca gente na rua, sair rápido, voltar rápido, sem ver pessoas, sem esbarrar em gente, sem ser detido com as ruas lotadas.

Não é de hoje, não é síndrome do pânico, é uma misantropia latente que vem comigo desde há muito.

Acho as pessoas, aqui e fora, estúpidas de um modo geral, lentas, pouco eficientes, pouco objetivas, em geral movendo-se de forma lenta, sem inteligência, ocupando mal o espaço,etc e tal.

Sim, isso é uma impressão tacanha da minha parte, é uma idiossincrasia tola minha, confesso. É algo que me acompanha faz tempo e me dá a tendência de tentar sempre ir morar numa cidade menor e com menos gente. O problema é meu, não é do mundo.

Não vou a manifestações em geral pela conjunção ou alternância desse sentimento com dificuldades crônicas de grana. Além disso, depois que “casei” o cuidar do meu moleque (que não é um moleque, mas não vem ao caso) em conjunção com a companheira me pesa, se não tanto quanto deveria nas tarefas, com o sentimento de responsabilidade interno (Mesmo achando que cumpro esta responsabilidade de forma meia boca).

Em resumo me sinto por muitos motivos preso em casa, e não reclamo exatamente disso, acho que consigo cumprir tarefas com estas limitações, embora acho que deveriam ser mais respeitadas e as ações não físicas mais valorizadas, mas não vem ao caso.

Só que com o avanço da repressão a sensação que tenho é de terror. Um terror imenso e um terror que é causado pela nítida sensação de que é só o começo.

É só o começo de algo maior, de uma repressão sem tamanho em uma democracia, só comparável aos anos de chumbo nosso na ditadura ou talvez co os anos de chumbo de democracias como na Alemanha, Itália, Inglaterra e EUA nos anos 1960/1970.

A repressão da copa não parará nela, duvido que pare.

A repressão da copa é o “legado” maior que o PT deixa pra o país, um “legado” que talvez o PT, o MST, a Marcha das mulheres e outros movimentos sociais não se toquem que tem tudo pra virar contra eles quando o PT deixar o poder, e sim, isso ocorrerá em algum momento, ou até mesmo antes.

Perdemos demais, demais com essa copa e nem mensuramos direito o quanto.

E não é hora de sermos republicanos, me desculpe. A república em geral nos legou no Brasil muita repressão. E é importante lembrar o que a república fez fora do Brasil, como a repressão à comuna de Paris, aos movimentos contestadores nos EUA nos anos 1970 (Tem ativista processado até hoje, Angela Davis presa,etc), aos socialistas na Itália e Alemanha nos anos 1970 (Sabem onde foi criada a tática black bloc? Isso, na Alemanha neste período e não sem motivo), tudo muito republicano, tudo muito opressor.

Quando achamos por bem alimentar demônios que nos possuem e violentam por “republicanismo” perdemos o norte contestatório das ruas. Enquanto gabinetes são republicanos, o cassetete republicano violenta as ruas.

Pois é, com tudo isso o horizonte da repressão não me parece um passeio de leiteiro ou um piquenique no parque. Deixaram a polícia gostar de reproduzir nas praças centrais da cidade o que fazem nas periferias e é deveríamos sempre saber que não é bom alimentar os animais com carne humana, eles costumam gostar e priorizar esta caça, não só abundante como bem fácil de caçar. O homem urso que o diga.

Desculpem a tristeza e o tem cataclísmico, mas a repressão venceu hoje e por mais de 7 x 1.

A verdade, o unilateralismo, a beleza, o índio, o negro e o black Bloc

images (1)Todo pensamento unilateral contém o inevitável autoritarismo. O entendimento de algo como uma verdade única, centrada em uma objetivação da realidade é automaticamente inibidor da diversidade e portanto da democracia.

Esta “ditadura” reflete-se na sociedade de muitas formas, desde a lógica do padrão de beleza unitário, que exclui gordas e negras do belo, até o entendimento da ideia de progresso como ligada intimamente ao aquecimento da economia, ao aumento de consumo, ao aumento e desenvolvimento das “forças produtivas”, como se fosse um ligar de uma locomotiva faminta e sem freios na direção do abismo.

201109070815340000004175Produzir significa acumular capital, conforme o pensamento hegemônico, produzir significa consumir matéria-prima e energia para que bens sejam construídos, consumidos em nome de um bem-estar intimamente ligado ao ter. Esta ideia de produção é o carro-chefe de uma ditadura de entendimento da realidade, de um pensamento único, que se vale da concepção que produzir, viver, ter, estar, morar são estados relacionados diretamente com a ideia de propriedade, com a ideia de economia com valoração de cada elemento ao redor do homem, inclusive ele, seja terra, ar, água, bichos, plantas, como se todos tivessem um preço, como se o valor de uso e troca fosse natural, nascesse com cada item da realidade ao redor do homem, líder máximo de uma lógica onde o homem é o centro do universo.

la-pensee-uniqueEsse entendimento é complementado com a recusa de percepção de qualquer outra forma de entender a realidade, de qualquer percepção cultural divergente, como passível de alguma “razão” ou sentido. A concepção de etnias indígenas da terra como parte de um organismo vivo, como elemento fulcral da existência deles para além da economia, da produção, do valor continente no uso da terra, vira anátema, pois bate de frente com a lógica, o pensamento único em torno do qual se ergue a economia e a lógica de vida ocidental, cristã, branca.

Outro aspecto da ditadura do pensamento único é a ótica do que é bom ou não para segmentos inteiros da população. Pobre morar na favela? Não pode e jamais passa na cabeça das pessoas a possibilidade urbanizar a favela, de que favela seja cidade. Greve? Atrapalha o trânsito. Proibir carro no centro das cidades? Atrapalha o direito individual da posse do automóvel, dane-se se o transporte coletivo permanece secundarizado em nome do individualismo egoísta, consumidor de combustíveis fósseis que aceleram os efeitos do aquecimento global. Lutar pelo fim dos combustíveis fósseis? Maluquice, a economia EXIGE crescimento e isso EXIGE energia, EXIGE, o conforto individual, a matriz energética em uso é o petróleo e não se fala mais nisso, energia renovável e alternativa são caras demais!

20090207_non.pensamento.unico.grandeE palavra em torno de muitas destas questões é “custo”, é a centralidade do “custo”, do aspecto monetário sobre todo e qualquer entendimento relativo à lógica do bem viver como mudança dos paradigmas de civilização, para além da precificação da vida, das pessoas, das cidades, da terra, das matas, do existir. O “custo” das coisas é central, o “custo” das coisas é o eixo em torno do qual giram a lógica que prioriza, hierarquiza o que deve ou não ter a economia direcionada para realizá-lo, ou seja, o que é prioritário para a população e sociedade é decidido em torno de “custo”.

E quem decide? Como se dá o processo “democrático” de decisão? Há democracia? Se chega ao todo todas as informações, todos os meios de decidir, o que está em jogo?

imagesPoderíamos elencar também problemas relacionados ao processo de veto à homossexualidade, de repressão à orientações sexuais diversas, à transsexualidade, à ideia do papel da mulher, à lógica de respeito à diversidade étnica, ao racismo, ao racismo ambiental e tantos outros efeitos da ditadura do pensamento único, que parte de uma hegemonia cultural elitista e chega aos jornais e Tvs e é reproduzida, naturalizada, tornada como um elemento dado da vida cotidiana, imutável, asfixiante.

E todo pensamento contra hegemônico é crime, é criminalizado.

Todo método contra hegemônico é crime, é afastamento do povo das lutas, é afastamento da regra, da lei, do bom comportamento, dos bons modos, do bom senso.

E é por isso que toda criminalização dos Black Bloc tem um pouco de navio negreiro.