É bastante corrente em textos na imprensa, blogs e de analistas políticos o risco de golpe pró Bolsonaro em 2022.
Nas redes sociais o golpe substitui o fim do mundo na placa do velhinho americano que anda pelas ruas de Nova York anunciando “O FIM DO MUNDO ESTÁ PRÓXIMO!”, e pululam medos a partir de ameaças cada vez mais vazias de Forças Armadas e Bolsonaro.
Já escrevi algumas vezes a respeito porque meu palpite é o de que golpe se constrói, mas só se dá quando há força para isso e a força da ala das Forças Armadas mais arraigadamente pró-Bolsonaro se foi. E com os dados disponíveis nos artigos acadêmicos e na imprensa é difícil se perceber algo além de palpites que corroborem ou desmintam o meu.
Por que diferencio alas pró-Bolsonarismo das Forças Armadas? Porque entendo que esteja bastante explícito que não há essa unidade toda no interior das FA, como via de regra não há em campo social nenhum, tampouco uma unidade política global que o Bolsonarismo catalisa.
Como eu entendo isso? A partir de percepções que a gente vê da enorme diferença entre blocos do próprio Exército e entre as Forças Armadas pela História, coisas que vão desde como interferir na política até a concepção de composição étnico-racial de cada Força.
Há literatura e pesquisa de militares contra a ditadura de 1964, das divisões das FA desde 1954 a respeito da intervenção na política, sobre as distintas interpretações, pela direita, entre Jovens Turcos e Tenentes, a divisão entre militares nacionalistas e pró-EUA durante a transição pós ditadura Vargas e por aí vai.
A gente pode de saída distinguir qualquer grande campo social ou corporação a partir da ideia de que todo coletivo humano complexo contém dissidências. Mas pelas características implícitas nas Forças Armadas fica difícil mensurar o grau de diversidade e diferença de concepções em seu interior. E isso se complica mais ainda quando falamos das polícias militares, porque elas são mais diversas entre si e contemplam uma complexa rede de micropoderes que não respondem de forma orgânica a comandos centrais, além do fato de como todo organismo social de variada composição ter o germe da diferença e da divergência em seu interior.
Esse preâmbulo todo é para discutir aqui a potencialidade de um golpe em um cenário onde o governo derrete, ass Forças Armadas tem um apoio cada vez menor e tem digitais em toda a crise envolvida na pandemia e no vacinoduto.
Além disso, 51% da população brasileira declara ter medo das polícias.
Ou seja, se as Forças Armadas, mesmo gozando ainda de prestígio, vêem este apoio popular derreter pela adesão ao bolsonarismo, as polícias mais ainda, como grandes forças de opressão à maior parte da população, recebem apoio da cada vez menor classe média de de uma classe alta que sempre adorou apoiar as forças de repressão a pretos e pobres que protegem seu patrimônio contra as hordas bárbaras que produzem sua riqueza.
Mas além da perda de apoio, para cada militar que arrota golpe, outros tantos sinalizam que preferem desembarcar do golpismo para tentar a sorte em outra canoa. Por amor ao país? Não, por medo da lama na cueca.
A fala de militares ameaçando as instituições são para atiçar o cagaço monumental que especialmente a esquerda tem das Forças Armadas, mas inspiram pouca confiança na própria força e alertam mais para sua fragilidade.
A ocupação em massa de militares do Exército em cargos de confiança no governo exṕlica a desenvolvura golpista de parte das Forças Armadas, mas as dissensões públicas dos comandos em episódio recente, a visita do comandante do Exército ao Piratini e até o corajoso discurso do general sem tropa presidente do STM ameaçando golpe se Lula for eleito explicam mais o mato sem cachorro que as FA vivem do que o contrário.
Pujol e cia lá atrás saíram para tirar o próprio da reta, mas significaram que vários tiraram o seu da reta com eles, o foco do golpismo e do bolsonarismo ficou com os militares da reserva e da ativa que bancaram Pazuello e escreveram uma notinha contra o Senador Aziz ontem.
Mas o mais importante é que golpe não só se constrói, mas se dá. quem pode dar golpe dá o golpe, quem ameaça quer ganhar tempo, e tudo o que o Bolsonarismo e as Forças Armadas pró-Bolsonaro não têm é tempo.
Para começar a elite empresarial e a imprensa já escolheram seu campeão: Eduardo Leite.
E com um campeão, com mais de um ano para construí-lo, o que se busca é primeiro ocupar o espaço que Bolsonaro deixará e em segundo lugar é ameaçar Lula à vera com a ampliação das dificuldades de acordo deste com a elite econômica.
E haverá espaço para ocupar o lugar de Bolsonaro? Será uma imensa surpresa se Bolsonaro chegar na eleição de 2022 capitaneando o vacinoduto que tem novos capítulos todos os dias e expõe inclusive as Forças Armadas à lama de uma corrupção que eles juravam que só a esquerda tinha em seu interior.
O recibo do Ministério da Defesa com uma ameaça de golpe para se defender das denúncias de corrupção que chegam cada vez mais perto de Braga Netto só faltou ter CPF na nota.
General também lê jornal, as tropas também vêem TV e tem que ter uma suspensão da descrença enorme para acreditar que ninguém sabia que às barbas milicas dançavam pedidos de propina, e isso em um governo cujo presidente tem um histórico de denúncias de peculato a partir da rachadinha, funcionários fantasmas,etc.
Para piorar, família de soldado também morre de COVID, com cloroquina e tudo e com mais de 500 mil mortos é cada vez menos provável que as tropas passem ao largo da mortandade que causa o governo que não compra vacina, mas quer ganhar propina em cada compra.
O resultado catastrófico na economia, que só beneficia os muito ricos e a possibilidade nada remota de derrota no primeiro turno em 2022, a ponto do campo neoliberla achar que dá para Leite entrar no jogo, fecham a tampa do processo que provavelmente chegará ao impeachment de Jair.
Isso tudo explica o derretimento de Bolsonaro, a ausência de condições objetivas para um golpe, a falsa unidade militar em torno do governo e a incapacidade de tornar os 25% que ainda apoiam Bolsonaro uma força capaz de dar um golpe de estado.
Mas existe o problema real que os 25% que apoiam Jair podem protagonizar a partir do momento em que se percebe a derrota. E não, não é uma invasão ao Congresso nos moldes trumpista,s isso ai seria a burrice mor que nem o mais estúpido Heleno é capaz de cometer, mas a colombianizaão do Brasil, com acirramento dos ataque à esquerda, a lutadores e avitistas do meio ambiente, direitos humanos e liderançãs populares, inclusive as da direita.
Porque o processo de aumento da violência política não existe nem a unidade das Forças Armada,s menos ainda as das política,s não faltam soldados das cada vezs mais espalhadas nacionalmente e presentes milícias para agir em nome de um projeto de poder que sempre parte da ausência de ordem e é sócio atleta da desestabilização.
É no domínio da arte da desestabilização, da violência política e da construção do caos que Bolsonaro e o Bolsonarismo prosperam.
Não reconhecer a derrota em 2022 é um problema cada vez menor, sendo que a possibilidade de Jair não ser candidato é cada vez maior. Da mesma forma o potencial de derretimento de uma candidatura Bolsonarista torna a derrota no primeiro turno menos dependente dele e mais do desempenho de Eduardo Leite, cuja candidatura tem o mesmo programa econômico bolsonarista, mas ataca na prática os pontos frágeis do programa lulista: a questão LGBT, por exemplo.
Diante disso as forças Bolsonaristas podem optar por agir dentro de um projeto que tem menos preocupação com a eleição em sie mais na construção de um golpe real e concreto que independe de eleições e de seus resultados. Nesse sentido é menor a capacidade de organização de um golpe nos moldes bolivianos e maior a capacidade e potencialidade de desestabilização do fazer política em si, tornando o atuar no mundo democrático um risco de vida.
As ameaças cotidianas de morte a parlamentares da esquerda, em especial os do PSOL, o próprio feminicídio político de Marielle Franco, tudo isso aponta para uma rede de desestabilização que pode nos colocar em um cenário de violência política nos moldes colombianos e mexicanos para as próximas décadas.
As redes de ataque não precisam ser financiadas às claras ou correndo riscos de investigação direta e podem inclusive usar o know how da ditadura que usava financiamento empresarial para clusters clandestinos de tortura, e que espalhou pros esquadrões da morte, e hoje milícias, a forma política das máfias com um projeot político anticomunista, racista, machista e LGBTFóbico histórico.
Golpes nos moldes clássicos já foram abandonados pelas próprias elites e forças Armadas para derrubar Dilma e isso não foi à toa.
Sem apoio externo, com cláusulas democráticas nos principais acordos comerciais, qualquer movimento golpista com tanques na rua põe em risco modelos econômicos inteiros, em que economias complexas como a nossa não podem enveredar sob risco imenso de perda de mercados.
Em um quadro que o próprio bolsonaro desestruturou a economia com uma política ecocida, genocida, com zero investimento público e sem a menor ideia de como fazer política, mesmo indireta e liberal, de fomento, é cada vez menor a margem de manobra golpista clássica em um ambiente onde o mercado já sofre sançẽos públicas, diretas ou indiretas, com perda substancial de espaço internacional.
Para piorar o cenário pro campo bolsonarista golpista, a conjuntura exige um modelo econômico de fomento ao consumo interno equilibrado com uma diplomacia presidencial , para que a economia devolva à própria elite uma manutenção da taxa de lucros que caiu com a aposta insensata no golpismo necroliberal que nos deu Bolsonaro.
Então até a aposta em Leite tem um significado de construção de uma força para além de 2022, capaz de pelo menos rivalizar economicamente com Lula e o PT. Ou seja, qualquer manobra precisa contemplar a desestabilização do cenário sem a explícita face das instituiçẽos armadas, porque a economia exige que os caminhos pro desenvolvimento dos negócios predatórios não seja mais feitos à luz do dia.
Neste cenário, o que frutifica é a lógica subterrânea da violência política com tintas milicianas e não um golpe nos moldes clássicos com tanque na rua. Esse modelo inclusive sequer precisa ter peso estratégico, ou seja, pode ser o de fundamentar mandatos parlamentares capazes de obter nichos de mercado e de domínio político que atrapalhem a democracia sme a necessidade de um golpe com um ditador lhe liderando.
É preciso atenção sim pras movimentações, mas pensando também nos modelos amplos que nos podem desestabilizar com maior potencial destrutivo que um golpe militar clássico.
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