Pelotas, a UFPEL e o diabo que mora nos detalhes dos discursos

Desde que tenho memória, há nela alguma relação com universidades. Quando era criança pequena lá em Guadalupe, um pequeno longínquo bairro da mui leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, convivia com a vida universitária de meu pai, trabalhador da segurança pública que resolveu virar “dotô” aos quase quarenta anos. “Seu” Gilson se orgulhava muito de ter se tornado bacharel em direito pela UFRJ aos quarenta e um anos, mais do que ser Detetive-inspetor da polícia civil do Rio de Janeiro, e lidava com isso com o mesmo orgulho que eu lido hoje por ter a chance de ser um doutorando em história pela Universidade Federal de Pelotas. 

Porque nem a graduação dele, nem meu quase doutorado foram conquistados no kinder ovo, ainda mais sendo em uma universidade federal. Além disso, talvez nós cariocas tenhamos um defeito enorme de respeitar para caramba termos uma universidade federal em nossa cidade, o mais estranho é que os niteroienses também se orgulham de sua UFF, e os capixabas que conheci se orgulhavam de sua UFES ou os meus amigos mineiros de Belo Horizonte ou de Montes claros se orgulham de sua UFMG e UNIMONTES. Outras pessoas insanas são os porto-alegrenses e seu orgulho da UFRGS.

Já os pelotenses, os médios ou não, tem um problemaço com a UFPEL e eu desconfio que é porque ela representa a chance de quem se forma ou se torna mestre ou doutor por ela sair de Pelotas, mas isso é uma dedução advinda do ITdK, ou Instituto Tirei do Karma (é outro nome, mas proibido neste horário), a questão real é que há uma rejeição de discussão do papel da universidade na cidade, mesmo ela sendo central para vida econômica, social e cultural do município.

Qualquer debate em torno dos problemas da UFPel se transforma numa atrapalhação de planos que nunca são feitos, em qualquer partido, em qualquer lugar, o tom é quase sempre o mesmo. Praticamente só quem se importa com os rumos da UFPel são os discentes, docentes e servidores Técnico-administrativos em Educação,mesmo sendo um caso onde o orçamento da universidade tenha um peso gigante direto e indireto na sobrevivência desta ex rica cidade esquecida pelo Deus do desenvolvimento.

Com um orçamento de cerca de 70 milhões, a UFPEL está longe de ter o peso da UFRJ, a maior universidade do país e que em 2021 tinha um peso de 31 milhões mensais, gastos em serviços, salários,etc e que geraram uma circulação econômica para cidade do Rio considerável, mesmo sendo uma capital com orçamento bilionário, mas o impacto da UFPEL na economia de Pelotas é tão considerável que mexe com o mercado imobiliário e de consumo diretamente.

Em 2015, a UFPEL tinha  18,4 mil alunos e 2,6 mil servidores, fora os professores, e todos impactam a economia da cidade, consomem na cidade, gastam energia elétrica na cidade, pegam Uber ou ônibus na cidade, gastam gasolina, tomam seu cafezinho, ainda mais com uma população que gira em torno da universidade e que está perto de ser em torno de 1% da população total de Pelotas.

Falta aumentar a integração entre Universidade e o Município? Falta. Falta uma campanha para reitoria que pense nisso e uma campanha para prefeito que identifique isso? Falta, mas é estranho que os debates nos fóruns políticos de pelotas sejam feitos ignorando a contribuição da universidade e como os efeitos de seus rumos políticos interferem nos rumos políticos da cidade.

Os governos do PSDB e do PP que destroem a cidade não ocorrem por acaso, ocorrem pro uma cultura que nega a necessária construção de uma relação entre município e universidade como dois companheiros de uma viagem em que a população exige e necessita que uma harmonia e simbiose entre ambos forneça a produção de dias melhores para todos.

Desde convênios na saúde a projetos com a Engenharia, é enorme a quantidade de meios que outros estados e municípios deixam como exemplo para nós, especialmente a esquerda, e o que fazemos com isso?

A experiência como militante do PSOL e agora do PT em Pelotas não é auspiciosa. E em contato com companheiros de outros partidos de esquerda não é incomum ouvir a mesma coisa: a companheirada, e parte significativa da população, rejeita a universidade em seus discursos e falas.

Claro, o elitismo que cerca o meio universitário é refletido nessa relação, mas ele também existe nas universidades do país todo e a população tem uma relação com isso de forma diferente, sabendo diferenciar a tolice do elitista da necessidade de ter uma universidade.

Um caso clássico dessa relação de valorização pelo povo de suas universidades é a UERJ sendo respeitada e defendida por deputados de direita na ALERJ pelo eco negativo de suas impopulares tentativas de fechá-la, obrigando os nobres parlamentares miliciano-fascistas a arrumarem meios alternativos de destruí-la, como aparelhar a universidade em esquemas de corrupção.

O mesmo ocorre na USP ou na UNIFESP, ou na UFES, na UFC, mas em Pelotas não. O mesmo orgulho que perambula sorrisos quando um filho vira “bixo” some nos papos de boteco e cafeterias. Nos fóruns virtuais a virulência é maior, nos jornais a UFPel só entra quando assunto é polêmico. E nos debates partidários muitas vezes a UFPel é mencionada como um embate que atrapalha até a ausência de debates.

Não é pouco o problema, ainda mais quando se vê que em todo canto é prioritário para esquerda debater desde a participação ou não na UNE até as disputas da reitoria e DCE, em Pelotas não. 

A naturalização da desimportância de algo tão importante ou até de uma espécie de elefante na sala de um município que tem uma jóia, mas cisma em achar que não precisa dela, é um fenômeno raro para observadores mais atentos.

Diante de uma crise que envolve os três setores que compõe a universidade, ignorar o impacto político de cerca de 1% da população consumidora da cidade em pé de guerra por questões políticas internas da universidade, mas que também impacta internamente o campo da esquerda e pode gerar problemas em nosso confronto contra o fascismo, é tipo não tratar um câncer de pele porque acredita no uso de babosa.

É um caso clássico de negacionismo político e histórico, é como pregam os anti-racistas Morgan Freeman (Se não falar sobre algo ele desaparece), só que não adianta ignorar algo que é inerentemente impactante no dia a dia político da cidade e das cidades, e tem reflexo direto na forma como a juventude enxerga a política e os partidos políticos, em como a população percebe o cotidiano político e em como nós vamos lidar uns com os outros daqui a três meses, que é perto para caramba das eleições municipais.

Às vezes os discursos são apenas hipérboles ou slogans, mas às vezes eles significam a semeadura de desastres, e por vezes o que ninguém diz é uma forma eloquente de expressão.

Diante dos conflitos que estão acontecendo nas eleições para a reitoria, o que estamos realmente dizendo para a cidade, para a esquerda e para nós mesmos?

Não é uma pergunta para saber quem tem razão, mas uma pergunta para saber quem e o que vai sobreviver politicamente depois do processo.

O PSOL precisa apresentar um programa pros desafios do Brasil e não um nome para cabeça de chapa

Sem um debate sobre programa, a discussão sobre Lula ou Gláuber é inócua. E qual o motivo de ser inócua? Porque a centralidade da ltua antifascista vai muito além do nome que vá encabeçar uma chapa presidencial para 2022.

O mundo passa por uma emergência climática, o Brasil é central neste debate, e o impacto desta emergẽncia nas populações mais pobre,s indígena,s pretos e pretas, especialmente mulheres, é enorme.

O desmonte do estado, da ciência, das políticas ambientais, do Bolsa Família, tudo concentra uma série de desafios que a esquerda precisa responder e não importa se lula ou Gláuber ou Papai noel são os mais indicados para enfrentar estes desafios,o que importa é como nós vamos interferir no debate para enfrentar estes desafios.

Como o PSOL entende que o país deve enfrentar estas questões? Como o PSOL acha que a esquerda precisa agir nestes casos,que propostas lutaremos para que o próximo governo organize sua intervenção nestes temas?

É algo inconcebível que a esquerda ainda se prenda em um debate paternalista e tutelador querendo salvar o PSOL de si mesmo e não enfrenta o debate concreto que paira sobre nossas cabeças: enfrentamento da fome, da devastação ambiental, da violência política, da necessidade de uma reconstrução do país e da marca do PSOL nela.

Porque ao mesmo tempo em que a conjuntura nos obriga a discutir seriamente se vamos excluir conscientemente o partido do enfrentamento concreto ao fascismo nas urnas e ruas através da unidade, pagando um altíssimo preço junto à população, ela nos impõe o método para esse enfrentamento.

Enquanto o mundo explode estamos discutindo como se constrói diretório municipal, que já deveria estar sendo empossado a partir do resultado do congresso, mas se preferiu adiar o processo, produzindo retrabalho, perda de tempo e atrasando mais e mais um debate que poderia ser franco, unindo nossos consensos possíveis independente do resultado das convençẽos em 2022.

Enquanto se garimpa osso em metrópoles enfrentamos o silenciamento que sequer pôs em prática uma avaliação coletiva do processo congressual e produza debates guias coletivos em torno da conjuntura.

O PSOL falha miseravelmente, em Pelotas, e não só em Pelotas, mas ainda exige meios de corrigir o rumo guiando a militância para um debate coletivo sobre nossos desafios e produzindo mecanismos onde a militância não seja feita apenas a partir de compartilhamento de mensagens via Whatsapp.

Nossas divergências  não deveriam ser entraves para a produção de um debate que precisa ser mais amplo do que em Pelotas: a necessidade de enfrentamento de uma conjuntura onde precisamos liderar a resistência ao fascismo sem sectarismo, sem a luta entre projetos de luta contra a fome, sem o desenxabido silêncio diante da necessidade de sermos um partido e não um conjunto fratricida de correntes em auto construção.

E se não armamos nossos companheiros de militância de ferramentas para enfrentar a conjuntura, sob o álibi de sermos adversários internos em relação às nossas concepçẽos de partido e programa, como acreditamos realmente sermos capazes de liderar processos políticos mais amplos, seja uma eleição ou uma Revolução?

O país em chamas, o fascismo sob profundo ataque e sentindo os golpes, dobrando suas apostas na violência polícia, a mensagem dos lutadores socialistas sendo cada vez mais explícitas, de Marielle à Marighela e vice-versa,a fome vitimando nossos companheiros sendo visível nos containers contando sempre com alguém tentando achar comida entre o lixo e o que fazemos? Reuniões de corrente, conversas aleatórias sobre cozinhas Solidárias e outras cozinhas que não chegam?

E todos somos culpados desse imobilismo que não põe o PSOL na rua, que se restringe à ação dos mandatos, que não mobiliza nossos setoriais e núcleos para irmos além da institucionalidade e pelo menos por o PSOL na rua, com a militância minimamente organizada em banquinhas, em tarefas de arrecadação de comida, ou pelo menos em debates públicos sobre isso.

Nossa militância é mega ativa, mas se organiza sem uma direção tática e estratégica definida do partido e se coloca muitas vezes como porta-voz de divergências de interesses exclusivos das correntes das quais participa sem uma visão global da conjuntura ou até de seus próprios campos.

Resolver isso não é complicado, começa com um debate sério sobre o que estamos vivendo em plenárias, sobre a produção de um dever político coletivo de convivência que supere divergências entre correntes e se lembre que o partido não pode ser um condomínio de correntes onde a informação é uma arma que exclui quem é independente ou de correntes “rivais”.

Se nosso partido é menor que nossa causa, nossas correntes também são, mas todos eles são cruciais pro enfrentamento da tarefa de armar a população, e nossa militância, de ferramentas para conhecermos, discutirmos, entendermos a realidade e como enfrentar os desafios que ela coloca em nosso colo.

Precisamos reunir nossa militância e começar apensar que programa nós do PSOL queremos que seja defendido por quem representar o partido em 2022, mas antes precisamos discutir, coletivamente e para além de nossas divergências, como é a conjuntura atual, para permitir que nossos companheiros entendam conosco o mundo ao nosso redor, nossas tarefas, responsabilidades e capacidades de enfrentamento.

O Socialismo precisa deixar de ser macho,adulto, cis,hetero e branco

Privilégio branco é uma categoria fundamental para ser discutida em partidos socialistas, inclusive a partir da métrica onde a maior parte da estrutura de pensamento que balança o berço de seus programas é resultado da escrita de homens brancos.

Além disso, a posição da identidade de gênero, orientação sexual e o peso etário é parte um debate fundamental que precisa por em xeque a hierarquia destas condições na construção de privilégios a partir do eixo do macho,adulto, branco, hétero e cis.

E por que essas questões? Porque o debate étnico-racial, de gênero e identidade de gênero são, junto com debate ambiental e questão etária, os pavimentadores de discursos belíssimos que não constroem alicerces dignos dos arabescos escritos e lidos em voz alta nas assembleias.

Em entrevista recente ao podcast Mano a Mano de Mano Brown, Lula se enrolou todo para responder sobre a posição do PT diante da ausência de um número relevante de pessoas pretas nos cargos de direção do partido. 

No PSOL, o debate sobre a negritude é tão insuficiente que só em seu sétimo congresso se chegou a uma resolução que formaliza cotas para igualdade racial e de gênero nas direções, e ainda há uma falta de representação indígena e LGBTQIA +.

Diante da paulatina conquista de peso político na marra por parte das minorias políticas, se faz mais que necessário o debate a respeito da posição no processo revolucionário de quem, como eu, faz o bingo da branquitude masculina cis heteronotmativa. 

Porque é provável que muitos de nós entendem que seu limite é o de sermos espectadores, da mesma forma que uns tão brancos quanto nos acusam de “síndrome de princesa Isabel” ou companheiros pretos e pretas, talvez com razão, de fazermos token com suas dores e trajetórias.

Só que a questão é mais objetiva e menos afeita à falta de razoabilidade de todos os ovos numa mesma cesta de ataques e confusões. Há homens brancos cis hetero na classe trabalhadora, e a não ser que se defenda uma tolice como a de seu extermínio, é preciso que estes estejam alinhados e aliados às lutas das minorias políticas.

Sim, amigos, amigas e amigues, não se fará revolução nenhuma sem gente branca, o que também não significa que essa gente branca,que é sim parte do problema, precise ser eterna protagonista da luta de classes e liderança natural dos processos decisórios,eleitorais, de formação,etc.

Há uma necessidade de abdicação coletiva de protagonismo pela branquitude masculina cis hetero normativa e construção ccncreta das alegorias e adereços do Carnaval de índios, LGBTQIA+, negros, mulheres e adolescentes.

Porque se “numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”, como escreveu a companheira Angela Davis,  também não basta ser “tolerante” à diversidade de gênero, identidade de gênero, de orientação sexual, de cultura. 

A tarefa da branquitude começa por sair da frente e assumir esse papel necessário de fazer o que é aparente se tornar uma regra. 

Não basta comemorar paridade de gênero e raça na bancada federal se as direções não compõem essa paridade nas suas composições, se os programas não se dobram à relevância dos debates teóricos e políticos de fora do mundo europeu e se os cargos majoritários (e a maioria dos proporcionais) são disputados sempre pro homens cis brancos e heteros.

Tem que ter Marx, Lênin e Trotsky na formação política? Claro, mas porque não ter Fanon, C. L. R. James, Mariátegui, Angela Davis e outros tantos, tantas e tantes que ocupam na marra seu espaço teórico de produção, mas cuja formação tradicional dos partidos políticos e correntes fazem com que os militantes que melhor se informam e formam não conheçam?

Quantas Revoluçẽos são discutidas sem uma menção à imensa Revolução Haitiana? Quantos sabemos das rebeliẽos africanas no Brasil?

Não há caridade ou senso de auto salvamento na defesa que faço aqui, pelo contrário, é o pragmatismo da obviedade que as condições objetivas da conjuntura nos impõe, ou é falso que a branquitude é o que dá lastro ao neoliberalismo fascista de Bolsonaro, Guedes e do PSDB?

A tristeza de perder Marielle produziu o fenômeno palpável, mensurável, da multiplicação de ocupação de mulheres e trans pretas no espaço político. Erika Hilton, Érica Malunguinho, Benny Briolli, Talíria Petrone, Renata Souza, Mônica Francisco, Luana Alves, Áurea Carolina, Karen Santos, são, todas e todes, parte de um fenômeno que faz com que a realidade se imponha como fato.

Esse fato nos obriga a pensar o papel da branquitude,masculina cis heteronormativa como liderança natural dos processos políticos e eleitorais empartidos socialistas sob pena do socialismo defendido sem o elemento crítico da questão étnico-racial, de gênero e identidade de gênero ser um socialismo supremacista branco.

A pena da não observação e discussão da questão, apelando pro discurso vazio e para “inglês ver”, é a ampliação do fosso entre companheiros de diversa tez, cultura, gênero ou identidade de gênero e permissividade que acaba num sectarismo interno e externo que reproduza a secessão que o racismo, a homofobia e misoginia estrutural já produzem no dia a dia.

Se não formos o partido que queremos ser,não poderemos ser a realidade socialista que desejamos construir.

Nada se repete, nem o Sol

O movimento da vida não deixa que a vida seja sempre igual, já disse Gonzaguinha numa canção que remete a Heráclito de Éfeso.

Não precisamos, no entanto, ir à Éfeso da Antiguidade para conversarmos sobre o momento político e os movimentos de partidos, governo e oposição na conjuntura política do Brasil.

Primeiro precisamos entender os limites das ações dos partidos pró e contra Bolsonaro, do Exército e das forças armadas a partir do hoje e não a partir de um conjunto de exemplos e momentos históricos anteriores isolados numa caixinha de cristal que faz a história se repetir, e sem sequer ser como farsa.

Primeiro precisamos pensar no Exército e nas Forças Armadas como algo mais complexo do que sonha a vã análise política de quintal.

Talvez desde 1870, o Exército e as FA são compostas de frações que atuam politicamente de forma aberta. Já havia republicanos e abolicionistas em um Exército e Marinha dominados por monarquistas pró-escravidão no século XIX. 

A República foi declarada viva por um general monarquista que ironicamente se tornou o primeiro presidente da República, e parte do apoio à nascente República veio de senhores de escravos descontentes com o rumo que o Império deu à questão da compra e venda de gente preta. Não que o Imperador fosse santo, mas quando ele resolveu fazer uma mísera ação que prestasse,atendendo à crescente pressão abolicionista (E republicana), deu ruim pro Barba. 

Desde os primeiros anos da República o Exército e a Marinha, depois acompanhados pela FAB na segunda metade do século XX, foram atores fundamentais na política nacional. 

Desde a proclamação da República, depois com a Revolta da Armada, passando pela Revolução de 1924 e depois a Revolução de 1930, Tenentes, Jovens Turcos, República do Galeão, Golpe de 1964, Abertura, Anistia, Governo Temer e Bolsonaro, Exército e FA atuam e atuaram politicamente e forma aberta, e demonstra divergências em como essa atuação se dá.

Sempre ao lado dos donos de Terra, Senhores  de Engenho, Terras e Gentes, as Forças Armadas e o Exército jamais concordaram monolíticamente em como punham em prática seu governo platônico autoritário de Extrema Direita.

Essa divergência também contava com a ideia de como intervir no cenário político, jamais sobre não intervir. Da mesma forma, a compreensão da necessidade de alianças políticas com políticos tradicionais foi palco de divergências e ainda é, com maior ou menor aversão ao que hoje se organiza em torno do Centrão.

O tom reacionário dos governos defendidos pelas diversas frações das Forças Armadas nunca foi problema para nenhum membro delas, as FA são instituições de extrema-direita ou pelo menos ultra conservadoras (aqui e no mundo), mas não há uma concordância explícita sobre o caráter do governo que defendem. 

Há nas FA a mesma relação de entendimento ou aversão à necessidade de alianças com forças políticas de fora do campo quentinho de sua ideologia reacionária que há na esquerda como um todo. 

 Há nas Forças Armadas a mesma divisão entre práticos e idealistas que há no campo da esquerda, as diferença é que na esquerda a gente se encontra nas lutas, nas Forças Armadas o encontro se dá na disputa por meios de usar o Estado para receber um pagamento sobre um idealizado serviço público nos defender de nós mesmos através da sabotagem da nossa frágil democracia. 

A questão é que no Clube Militar ou no Campo dos Sonhos as bravatas militares são facilmente ecoadas pelos papagaios de pirata do governo perfeito,na prática a história é outra.

E aí é que entra o limite da realização dos planos militares e Bolsonaristas sobre o mundo da política. Porque do negacionismo da pandemia à satanização da ciência, passando pela tosqueira da ideia de economia e aos esquemas amadores de corrupção com estelionatários o que Bolsonaro tem é um governo militarizado, incompetente e sem salvação.

A um ano da eleição o Governo Bolsonaro torce para que o crescimento econômico seja uma salvação que junto a uma vacinação mal feita, sem plano sem vacina suficiente o ponham como competidor contra Lula, um cara cujos governos tiraram as pessoas do mapa da fome, pôs filhos e netos de gente pobre nas universidades, criou um mercado de cultura nacional, descentralizado e que nos pôs em um ciclo virtuoso de criação e empoderamento de mulheres pretas, de novos atores da canção e da música, gerou novas economias e mercados.

E o que Jair oferece? Nada. Mesmo o tal crescimento econômico que ele apregoa ter ignora o que é em si. Depois de uma queda de 9% da economia, o que se tem ao “crescer” não é crescimento, é retomada e sem política de emprego e renda, que não há, não chega na ponta. Pior, trata crescimento vegetativo como ganho.

Qual a saída dos militares? Ouro, ou melhor, mineração, numa lógica totoca que põe a maior economia da América do Sul como  dependente ainda de uma lógica que valoriza mais a extração de minérios e o agronegócio que a produção de dados, cultura e de diversificação da economia.

E o Guedes? Bem, ele tá lá para gerenciar fundos e privatizar,não tem a mais vagas ideia de como produzir qualquer política econômica, nem uma política econômica ruim.

Um governo sem rumo nenhum depende de muito mais que um PP mais interessado em crescer como dominante no parlamento que em gerir qualquer país.

E aí é que erra a análise que põe o PP no governo como a salvação do governo, no máximo estancar a sangria de um impeachment, torna mais difícil, e faz com que o partido dominante tenha meios de se viabilizar como um partido que engloba a votação parlamentar pró-Bolsonaro, o colocando como um grande player na Câmara em 2023.

Talvez fique difícil derrubar Bolsonaro em um impeachment, mas dificilmente o governo deixa de ser um governo zumbi sem uma franca e improvável virada econômica pela via de um programa de investimento estatal e de emprego e renda que dê,milagrosamente, resultado em um ano.

Aprovar Mendonça no STF é ruim, mas o número de boiadas que podem passar na Câmara se reduzem, se fortalece o apoio a uma realização das eleiçẽos em 2022, se estabelece uma mancha na quase morta imagem de outsider do ex-Capitão e põe o PP como um partido que buscará se viabilizar como vencedor nas eleições de deputados, em disputa com o PSD de Kassab pelo controle do Centrão.

Talvez seja até um plano coordenado de dois partidos importantes do Centrão, com movimentos para tanto enfraquecer a tal Terceira Via como para constituir um caminho com um pé em cada canoa importante das eleições no ano que vem.

Bolsonaro continua derretendo, mas agora a agenda da extrema-direita passa a ter um gerente competente para se viabilizar como uma tor perigoso no segundo cenário  mais perigoso para nós: o Congresso.

E o PP buscará ampliar seu domínio no Senado, especialmente com o Rio Grande do Sul a partir da candidatura Heinze, que ainda tem mais quatro anos de mandato.

Do outro lado do Centrão, o PSD se estabelece como ator para ser interlocutor do PT no segundo turno e num cada vez mais provável governo Lula.

Ou seja, os dois lados do coração do Congresso estão buscando por um lado ampliar seu papel na composição do parlamento, por outro anular qualquer campo que tente se intrometer na disputa entre PT e Bolsonaro.

E ambos os movimentos disponibilizam uma dedução verossímil: PP e PSD já entendem que Lula estará eleito, mas também entendem o peso ea necessidade de ter o Congresso nas mãos para controlar a agenda.

O papel da esquerda qual é? Primeiro organizar uma resistência que derrote Bolsonaro E o Bolsonarismo, agora, se possível com o impeachment, avançando na conquista de coraçẽos e mentes para derrubar uma tentativa de  hegemonia conservadora que tentou silenciar o crescimento da luta anti opressão. 

O segundo desafio é constituir um campo de poder no congresso capaz tanto de governar com Lula quanto de avançar com o futuro governo com pressão pela esquerda.

Há setores da esquerda que perdem tempo demais na periferia deste debate e da construção de alternativas, sem organizar um planejamento de ação que componha uma construção de campo real. 

No entanto há num cômputo geral ações importantes por parte do MTST, Boulos, campos do PSOL e do PT e que apontam para um investimento concreto, dentro e fora da institucionalidade, para fazer frente a esses dois difíceis desafios.

É fundamental avançar na percepção dos movimentos da vida para que o caminho se dê sem uma derrota antecipada, ou uma vitória de Pirro. 

O medo do Golpe precisa ser um ator menor na análise e  precisa existir uma construção real de meios de resistir a um campo conservador permanente no congresso que consiga meios até de inviabilizar um governo de centro-esquerda.

A ideia de que novos 1964 estão vindo é uma âncora, não porque a História se repita como farsa, mas porque nada se repete, nem o sol.

Mais que um golpe, o Brasil corre risco de colombianização

É bastante corrente em textos na imprensa, blogs e de analistas políticos o risco de golpe pró Bolsonaro em 2022.

Nas redes sociais o golpe substitui o fim do mundo na placa do velhinho americano que anda pelas ruas de Nova York anunciando “O FIM DO MUNDO ESTÁ PRÓXIMO!”, e pululam medos a partir de ameaças cada vez mais vazias de Forças Armadas e Bolsonaro.

Já escrevi algumas vezes a respeito porque meu palpite é o de que golpe se constrói, mas só se dá quando há força para isso e a força da ala das Forças Armadas mais arraigadamente pró-Bolsonaro se foi. E com os dados disponíveis nos artigos acadêmicos e na imprensa é difícil se perceber algo além de palpites que corroborem ou desmintam o meu.

Por que diferencio alas pró-Bolsonarismo das Forças Armadas? Porque entendo que esteja bastante explícito que não há essa unidade toda no interior das FA, como via de regra não há em campo social nenhum, tampouco uma unidade política global que o Bolsonarismo catalisa.

Como eu entendo isso? A partir de percepções que a gente vê da enorme diferença entre blocos do próprio Exército e entre as Forças Armadas pela História, coisas que vão desde como interferir na política até a concepção de composição étnico-racial de cada Força.

Há literatura e pesquisa de militares contra a ditadura de 1964, das divisões das FA desde 1954 a respeito da intervenção na política, sobre as distintas interpretações, pela direita, entre Jovens Turcos e Tenentes, a divisão entre militares nacionalistas e pró-EUA durante a transição pós ditadura Vargas e por aí vai.

A gente pode de saída distinguir qualquer grande campo social ou corporação a partir da ideia de que todo coletivo humano complexo contém dissidências. Mas pelas características implícitas nas Forças Armadas fica difícil mensurar o grau de diversidade e diferença de concepções em seu interior. E isso se complica mais ainda quando falamos das polícias militares, porque elas são mais diversas entre si e contemplam uma complexa rede de micropoderes que não respondem de forma orgânica a comandos centrais, além do fato de como todo organismo social de variada composição ter o germe da diferença e da divergência em seu interior.

Esse preâmbulo todo é para discutir aqui a potencialidade de um golpe em um cenário onde o governo derrete, ass Forças Armadas tem um apoio cada vez menor e tem digitais em toda a crise envolvida na pandemia e no vacinoduto.

Além disso, 51% da população brasileira declara ter medo das polícias.

Ou seja, se as Forças Armadas, mesmo gozando ainda de prestígio, vêem  este apoio popular derreter pela adesão ao bolsonarismo, as polícias mais ainda, como grandes forças de opressão à maior parte da população, recebem apoio da cada vez menor classe média de de uma classe alta que sempre adorou apoiar as forças de repressão a pretos e pobres que protegem seu patrimônio contra as hordas bárbaras que produzem sua riqueza.

Mas além da perda de apoio, para cada militar que arrota golpe, outros tantos sinalizam que preferem desembarcar do golpismo para tentar a sorte em outra canoa. Por amor ao país? Não, por medo da lama na cueca.

A fala de militares ameaçando as instituições são para atiçar o cagaço monumental que especialmente a esquerda tem das Forças Armadas, mas inspiram pouca confiança na própria força e alertam mais para sua fragilidade.

A ocupação em massa de militares do Exército em cargos de confiança no governo exṕlica a desenvolvura golpista de parte das Forças Armadas, mas as dissensões públicas dos comandos em episódio recente, a visita do comandante do Exército ao Piratini e até o corajoso discurso do general sem tropa presidente do STM ameaçando golpe se Lula for eleito explicam mais o mato sem cachorro que as FA vivem do que o contrário.

Pujol e cia lá atrás saíram para tirar o próprio da reta, mas significaram que vários tiraram o seu da reta com eles, o foco do golpismo e do bolsonarismo ficou com os militares da reserva e da ativa que bancaram Pazuello e escreveram uma notinha contra o Senador Aziz ontem.

Mas o mais importante é que golpe não só se constrói, mas se dá. quem pode dar golpe dá o golpe, quem ameaça quer ganhar tempo, e tudo o que o Bolsonarismo e as Forças Armadas pró-Bolsonaro não têm é tempo.

Para começar a elite empresarial e a imprensa já escolheram seu campeão: Eduardo Leite.

E com um campeão, com mais de um ano para construí-lo, o que se busca é primeiro ocupar o espaço que Bolsonaro deixará e em segundo lugar é ameaçar Lula à vera com a ampliação das dificuldades de acordo deste com a elite econômica.

E haverá espaço para ocupar o lugar de Bolsonaro? Será uma imensa surpresa se Bolsonaro chegar na eleição de 2022 capitaneando o vacinoduto que tem novos capítulos todos os dias e expõe inclusive as Forças Armadas à lama de uma corrupção que eles juravam que só a esquerda tinha em seu interior.

O recibo do Ministério da Defesa com uma ameaça de golpe para se defender das denúncias de corrupção que chegam cada vez mais perto de Braga Netto só faltou ter CPF na nota.

General também lê jornal, as tropas também vêem TV e tem que ter uma suspensão da descrença enorme para acreditar que ninguém sabia que às barbas milicas  dançavam pedidos de propina, e isso em um governo cujo presidente tem um histórico de denúncias de peculato a partir da rachadinha, funcionários fantasmas,etc.

Para piorar, família de soldado também morre de COVID, com cloroquina e tudo e com mais de 500 mil mortos é cada vez menos provável que as tropas passem ao largo da mortandade que causa o governo que não compra vacina, mas quer ganhar propina em cada compra.

O resultado catastrófico na economia, que só beneficia os muito ricos e a possibilidade nada remota de derrota no primeiro turno em 2022, a ponto do campo neoliberla achar que dá para Leite entrar no jogo, fecham a tampa do processo que provavelmente chegará ao impeachment de Jair.

Isso tudo explica o derretimento de Bolsonaro, a ausência de condições objetivas para um golpe, a falsa unidade militar em torno do governo e a incapacidade de tornar os 25% que ainda apoiam Bolsonaro uma força capaz de dar um golpe de estado.

Mas existe o problema real que os 25% que apoiam Jair podem protagonizar a partir do momento em que se percebe a derrota. E não, não é uma invasão ao Congresso nos moldes trumpista,s isso ai seria a burrice mor que nem o mais estúpido Heleno é capaz de cometer, mas a colombianizaão do Brasil, com acirramento dos ataque à esquerda, a lutadores e avitistas do meio ambiente, direitos humanos e liderançãs populares, inclusive as da direita.

Porque o processo de aumento da violência política não existe nem a unidade das Forças Armada,s menos ainda as das política,s não faltam soldados das cada vezs mais espalhadas nacionalmente e presentes milícias para agir em nome de um projeto de poder que sempre parte da ausência de ordem e é sócio atleta da desestabilização.

É no domínio da arte da desestabilização, da violência política e da construção do caos que Bolsonaro e o Bolsonarismo prosperam.

Não reconhecer a derrota em 2022 é um problema cada vez menor, sendo que a possibilidade de Jair não ser candidato é cada vez maior. Da mesma forma o potencial de derretimento de uma candidatura Bolsonarista torna a derrota no primeiro turno menos dependente dele e mais do desempenho de Eduardo Leite, cuja candidatura tem o mesmo programa econômico bolsonarista, mas ataca na prática os pontos frágeis do programa lulista: a questão LGBT, por exemplo.

Diante disso as forças Bolsonaristas podem optar por agir dentro de um projeto que tem menos preocupação com a eleição em sie mais na construção de um golpe real e concreto que independe de eleições e de seus resultados. Nesse sentido é menor a capacidade de organização de um golpe nos moldes bolivianos e maior a capacidade e potencialidade de desestabilização do fazer política em si, tornando o atuar no mundo democrático um risco de vida.

As ameaças cotidianas de morte a parlamentares da esquerda, em especial os do PSOL, o próprio feminicídio político de Marielle Franco, tudo isso aponta para uma rede de desestabilização que pode nos colocar em um cenário de violência política nos moldes colombianos e mexicanos para as próximas décadas.

As redes de ataque não precisam ser financiadas às claras ou correndo riscos de investigação direta e podem inclusive usar o know how da ditadura que usava financiamento empresarial para clusters clandestinos de tortura, e que espalhou pros esquadrões da morte, e hoje milícias, a forma política das máfias com um projeot político anticomunista, racista, machista e LGBTFóbico histórico.

Golpes nos moldes clássicos já foram abandonados pelas próprias elites e forças Armadas para derrubar Dilma e isso não foi à toa.

 Sem apoio externo, com cláusulas democráticas nos principais acordos comerciais, qualquer movimento golpista com tanques na rua põe em risco modelos econômicos inteiros, em que economias complexas como a nossa não podem enveredar sob risco imenso de perda de mercados.

Em um quadro que o próprio bolsonaro desestruturou a economia com uma política ecocida, genocida, com zero investimento público e sem a menor ideia de como fazer política, mesmo indireta e liberal, de fomento, é cada vez menor a margem de manobra golpista clássica em um ambiente onde o mercado já sofre sançẽos públicas, diretas ou indiretas, com perda substancial de espaço internacional.

Para piorar o cenário pro campo bolsonarista golpista, a conjuntura exige um modelo econômico de fomento ao consumo interno equilibrado com uma diplomacia presidencial , para que a economia devolva à própria elite uma manutenção da taxa de lucros que caiu com a aposta insensata no golpismo necroliberal que nos deu Bolsonaro.

Então até a aposta em Leite tem um significado de construção de uma força para além de 2022, capaz de pelo menos rivalizar economicamente com Lula e o PT. Ou seja, qualquer manobra precisa contemplar a desestabilização do cenário sem a explícita face das instituiçẽos armadas, porque a economia exige que os caminhos pro desenvolvimento dos negócios predatórios não seja mais feitos à luz do dia.

Neste cenário, o que frutifica é a lógica subterrânea da violência política com tintas milicianas e não um golpe nos moldes clássicos com tanque na rua. Esse modelo inclusive sequer precisa ter peso estratégico, ou seja, pode ser o de fundamentar mandatos parlamentares capazes de obter nichos de mercado e de domínio político que atrapalhem a democracia sme a necessidade de um golpe com um ditador lhe liderando.

É preciso atenção sim pras movimentações, mas pensando também nos modelos amplos que nos podem desestabilizar com maior potencial destrutivo que um golpe militar clássico.

Uma Frente ampla não se resume ao presidente

Plenário da Câmara aprova, em votação simbólica, suspensão de decreto sobre sigilo de documentos.

Se você olhar a cor dos parlamentares no congresso nacional já percebe um dos problemas que a esquerda precisa superar.

Um bom olhar já deixa claro o tamanho de nossa crise de representatividade e as camadas da luta de classes dentro da institucionalidade.

Se aprofundarmos a observação e partirmos para uma análise da origem social, do tamanho do patrimônio, da base que sustenta cada mandato a coisa não melhora, piora.

Sem uma percepção global dos desafios que a conjuntura impõe para a população e com isso para a esquerda, não entenderemos completamente o processo dialético de resolução de nossos problemas políticos imediatos.

Por que essa observação? Porque dialética é uma palavra usada a torto e a direito pela esquerda, mas pouco compreendida como método, inclusive é colocada como base de teorias e não como uma metodologia que produziu teorias.

O processo dialético que Marx utilizou não difere da dialética Hegeliana, mas usa outras bases onde se aplica a dialética, e aqui mora o equívoco das analises e visões que se apropriam da superfície do marxismo, incorrendo no marxismo vulgar que Hobsbawn descreve em “Sobre a História”, e ignoram o coração do processo de aplicação da dialética pra por a prova o processo racional no plano da superestrutura ao teste da práxis, que é a análise colocada na prova dos nove da infra estrutura.

A partir dessa dialética qualquer percepção que foque em nomes para disputar eleições, seja para a presidência ou pra governos estaduais, esbarra na ausência de dois elementos cruciais: um programa que dispute a sociedade e um planejamento que dê conta da unidade de ação na busca do executivo com uma forte bancada que permita reverter reformas e ataques a direitos, que permitam reconstruir o país destruído sob Bolsonaro e o congresso e assembleias mais conservadores, pra não dizer fascistas, da história.

E onde tá a contradição dialética? Na apresentação de soluções ideais, praticamente cloroquinas ideológicas, para problemas práticos.

Quando nomes e um arremedo de programa, na prática uma carta de intenções, são postos como elementos de disputa de uma sociedade fortemente fragmentada por um genocídio pandêmico em curso, fome, desemprego recorde, violência política e crimes de ódio, oque se está colocando é uma busca de adequação da conjuntura em um plano ideal, vivido em uma bolha superestrutural que não tem lugar na prática cotidiana.

Não existe solução em tese pra fome, desemprego, ecocídio, genocídio e violência política, não existe responder a uma necessidade de refundar o país econômica, política e moralmente com cartas abstratas da auditoria da dívida, defesa do socialismo, defesa de uma democracia plebiscitária e moralismo contra a corrupção que no fundo pouco difere da análise rasa do lavajatismo mais torpe.

Não adianta falar em reverter as reformas sem pensar num programa que permita que elas sejam revertidas, que faça com que uma nova hegemonia política se crie, que estabeleça parâmetros programáticos passíveis de serem postos em prática.

Existem forcas políticas que falam sobre questões de gênero, étnico-raciais, ecossocialistas a partir de obviedades já amplamente conscientes nos campos onde os debates são feitos, e insistem nisso como “tese”ou “contribuições”, sem que uma linha sequer de programa real, prático, de defesa concreta das minorias políticas e de uma refundação ecológica da economia e da política entre em campo.

A luta ambiental e a defesa do meio ambiente nào se sustentam só com o necessário reconhecimento do aquecimento global, da necessidade de apoio aos povos originários e da defesa genérica de um ecossocialismo que repete como papagaio a defesa da agroecologia, mas não a integra nem a um planejamento democrático, menos ainda a um processo que englobe transição energética, de empregos, reversão de parâmetros centralizadores da política e da economia.

Existem exemplos práticos: em 2020 discutimos e disputamos eleições municipais, inclusive em Pelotas com quilombo e território indígena próximo, sem que uma linha de programa para os povos originários fosse discutido e sem que uma linha de programa que contemplasse a necessidade de uma percepção ecológica da cidade, e seu papel na transição energética, fosse defendida em público.

Coisas simples como parcerias com as universidades da cidade pra desenvolver um plano de transição energética pra energia solar em prédios públicos, passível e plausível e implementável, forma postos na mesa. Nem vou falar de projetos mundialmente colocados como o aquecimento em pontos de ônibus com base em energia solar, mas do simples pensar saídas de transição energética e no papel da cidade nisso.

Esse problema continua em outros campos temáticos e setoriais, mas o coração do problema, que envolve essa dificuldade, está na ausência de um programa partidário no PSOL que sustente um pensar programático duradouro e de longo prazo.

Sem um programa, toda a sustentação dos projetos políticos e eleitorais é feita no calor e na superfície de um cotidiano onde a reflexão é um crime.

Isso é muito útil para forças onde conscientemente a fragilidade na produção de metodologia e pensamento que enxergue o real com o máximo de plenitude possível é inversamente proporcional à força na imposição de hegemonia burocrática.

Se sua resposta aos desafios de cada contexto não podem ir além de uma palavra de ordem embrulhada em superficialidades programáticas, a saída é um conjunto de choques retóricos aliados à manobras pouco éticas como um tratamento de acusação ética contra divergências políticas, realizações de congresso e a saudável diversidade política.

A questão é que independente de eleições, mas incluindo-as, sem um programa que planeje resultados que incluam todo o PSOL, que abordem um crescimento que envolva as diversas forças e que contenha saídas programáticas pra um país sendo assassinado, sem um planejamento de crescimento parlamentar que organize uma intervenção no congresso que reverta os atrasos promovidos pelo fascismo e pelo neoliberalismo, toda a retórica é natimorta.

E sem esse planejamento, ou mais, um reforço consciente na transformação do partido em uma entidade forte, independente e capaz de influenciar programaticamente os debates com as demais forças políticas, permaneceremos no lugar quentinho que agrada seitas e conjuntos organizativos pouco afeitos aos desafios da democracia.

Sem um partido, tanto faz se a defesa ;e de uma mesa de construção de programa em busca de uma unidade que inclua unidade eleitoral ou o lançamento de candidatura própria, estaremos sempre correndo atrás do nosso próprio rabo enquanto o atraso avança suas boiadas no congresso e a sociedade nos enxerga com desconfiança, inclusive por parte da esquerda independente.

Sem um programa e um planejamento que não se restrinja a lançar João pra presidente e Maria pra governadora, mas que pense em uma chapa parlamentar e que forneça meios pra Fernanda, pro Fernando, pro Obdúlio conquistarem a Assembleia e a Câmara, que permita um abalo na estrutura dos discursos, que entenda a necessidade de HOJE agir pra causar a agitação e propaganda das ideias que construímos, que permita a formação de um programa coletivo, que envolva a sociedade, o que estamos fazendo é o jogo do contente do militante autocentrado.

Discursos podem parecer radicais, basta um entrelaçamento de palavras certas no tom exato, mas só o são quando fornecem ferramentas pra sociedade e pra classe trabalhadora sustentar uma resistência contra as opressões que os atingem.

Essa lição, de que a esquerda precisa disputar a sociedade para além do voto, dentro de uma perspectiva moral e de valores, é o centro do problema de uma esquerda que não enxerga a conjuntura em sua totalidade porque prescinde disso pra manter uma hegemonia de pouco espaço político, mas mantenedora do micro poder que só é revolucionário na garganta.

E é a partir dessa superação necessária, que precisa ser um debate maduro sobre programa, planejamento de inserção social, eleitoral e de valores, que precisa estar no debate sobre a constituição de frentes amplas de esquerda e que tenham meios de inserir um debate de fôlego na reconstrução de um país que vive em um genocídio em curso.

Quando estamos morrendo, é no mínimo saudável que o Rolando Lero que existe em nós tome tento.

Dos cansaços, da velocidade e do tempo

Fotografia de alta velocidade troca distância por tempo

Um dos meus cansaços com a política é o que parte dos pressupostos das velocidades das comunicações como superiores ao tempo das decisões.

Parece bobagem e é muitas vezes chamado de infantilidade e falta de maturidade quando é o mínimo cuidado com um debate prévio para nada ser irrefletido.

Em um sistema partidário onde todos os partidos tem algum déficit democrático, outros juntam a esse déficit um problema crônico de organização, com figuras públicas, dos mais diversos tamanhos, tomando decisões apressadas sobre temas complexos e os comunicando aos demais, toda pressa  é fatalmente inimiga do bom senso.

Há decisões de apoio óbvias neste segundo turno de 2020, mas é fundamental ter um mínimo de reflexão antes de ir a público ignorando os sentimentos coletivos das bases partidárias.

Há maneiras de deixar claro sua preferência sem intimar partidos ou expor seus militantes ou atropelá-los com decisões que podiam ter sido mais sábias.

Tarcísio Motta no Rio e Júlio Domingues em Pelotas informaram suas preferências, sem atropelar seus companheiros e deixando claro que a decisão ia ser partidária, mesmo quando diziam que se inclinava para corroborar com a opção deles.

Para quem chega na política entendendo que ela se resume à “festa da democracia”, talvez o ritmo do ragatanga das decisões comunique bem para si e para um público afeito à política como espetáculo, mas para quem tem um conjunto de experiências que tangencia também problemas históricos, e até recentes, com outros partidos que exigem ser apoiados, a coisa toda muda de figura.

Por isso é fundamental entender que mesmo um apoio óbvio precisa de liturgias, precisa do tempo correto do debate e não do desespero que atribui aos 12 dias entre o primeiro e segundo turno o pó mágico da ausência de bom senso. 

Há um mínimo de compostura que passa pela defesa do programa. A não ser para quem o programa é irrelevante, basta um símbolo, uma logo, um slogan e tudo bem.

Meu cansaço passa pela repetição de atropelamentos com base numa política de chantagem e de medo, passa pelo atropelamento até dos sentimentos, com acusações de não alinhamento com lutas contra opressão e até descaso com a população a quem só quer, pasmem, discutir como vai apoiar uma chapa.

Nem vou passar por aqui pela discussão dos inúmeros problemas que há em apoios a partidos que há poucos anos nos tratavam como vagabundos e apoiaram que policiais militares nos esmagasse sob suas botas e nos atiram balas de borracha, nos acusam de quinta coluna da burguesia e nos culpam por um golpe dado pelo vice presidente escolhido pela maior liderança deles e membro do partido com o qual forma aliados até onde foi possível.

O cansativo é entender que tudo pode, a autorização a todos para seguirem o ritmo do bumba meu boi da manada é mais importante e suprema que a autorização de quem diz que isso ultrapassa o limite e o grau coletivo de desrespeito ao partido e militantes como eu tem que parar.

O cansativo é ser uma espécie de corno político, o último a saber das decisões que o partido não tomou, mas que é pressionado a tomar não pela saudável decisão coletiva via instância,s mas pelo clamor, e dane-se como.

Dos limites que eu tenho o do cansaço e o do saber por último o que figuras públicas farão é o que eu mais tempo me bato contra. Não importa o tamanho das figuras públicas e tampouco de onde vêm ou estão, se elas tomam decisões à revelia do partido, não há condicional possível para reduzir a importância do erro.

O tempo é sempre senhor da razão e as escolhas tem seu preço. quando quem nunca foi aliado de primeira hora e inaugura isso no segundo turno de SP nos exige que atropelemos o que somos e nossos debates para fazer coro de contente o que ele ganhará do coletivo eu não sei, mas de mim ganha a desmobilização.

E há mais que isso no universo, muito mais, precisamos entender como esquerda que diabos é essa sanha.

Lula: reforço na oposição a Bolsonaro, o neostalinismo e o desnecessário alinhamento automático ao PT.

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A libertação de Lula trouxe novos e velhos desafios à esquerda brasileira, mas em especial à esquerda que se construiu sendo oposição aos governos do PT pela esquerda.

O principal desafio é não cair no alinhamento automático confundindo unidade com uniformidade e construção de combate a Bolsonaro com aliancismo acrítico.

Lula é um óbvio reforço à oposição a Bolsonaro, mas alianças com o PT podem inclusive enfraquecer qualquer construção coletiva de resistência se não for acompanhada com a devida reflexão do ganho político imediato para a transformação de qualquer peso eleitoral, quando essa aproximação trouxer, em saldo organizativo pra uma oposição antifascista brasileira.

Lula é uma voz potente de oposição, mas ao iniciar colocando um respeito supostamente republicano à eleição de Bolsonaro com suas enormes tintas de fraude e disposição para ampliar a desestabilização política do país se fosse derrotado, disposição que permanece, é um tiro no pé.

Primeiro que Bolsonaro foi eleito com base em uma óbvia e documentada manobra de ampliação do golpe de 2016 e que organizou a depredação de reputações, o aprisionamento do primeiro colocado à eleição de 2018 com base em um inquérito no mínimo distorcido, pra não dizer falseado e fraudado. Segundo que nada na elite política e na mídia se dá no respeito à República e às instituições, pelo contrário, a escolha muito difícil de Estadão e companhia permanece em curso e patrocina até debates sobre destroçamento de cláusula pétrea para garantir a prisão de Lula novamente. Terceiro que o país em pleno destroçamento institucional, ambiental, moral, ético e político sob o governo Bolsonaro não tem garantia alguma de aguentar mais um ano que seja sob um governo criminoso e com digitais em vários crimes, não só de responsabilidade, incluindo entre eles suspeitas de participação no feminicídio político de Marielle.

Poderíamos escrever uma tese sobre os problemas da escolha de Lula, inciando pela tolice de achar que ele não partindo pra defesa da remoção de Bolsonaro seria tratado como algo palatável por quem quer que seja na mídia e elite, tanto que não foi, ma só principal é enxergar o motivo da fala, que nunca foi o cuidado dom a imagem, mas o apelo à conciliação, de novo.

Em um vinte de novembro que foi precedido por um deputado do PSL quebrando uma placa com um cartum que denunciada o genocídio do povo preto e outro do mesmo partido dizendo que negros são mais assassinados pela polícia porque tem mais criminosos entre eles, ambos contando com a proverbial covardia de Rodrigo Maia e das instituições, é sintomático deixar claro que a opção de Lula e do PT, que desde o início do ano explicitaram que tem como objetivo ver Bolsonaro sangrar, é um erro, como tantos outros.

Então o reforço na oposição o fogo cerrado nas políticas de paulo Guedes é um acerto, nos impõe a necessária crítica sobre até que ponto esse reforço se constitui de “um camisa dez em campo” como infantilmente declarou o presidente do PSOL em entrevista ao UOL.

A não ser que Juliano Medeiros esteja falando de um camisa dez estilo Ganso em um time do Guardiola, estamos cometendo um equívoco que se fosse pessoal estaria de boa, mas me parece ser coletivo, vide o anúncio de Freixo de que seria o candidato à prefeitura do RJ com o apoio do PT, sem consultar suas bases.

Freixo e Juliano tem todo direito de explicitar suas preferências, mas com o cuidado de se lembrarem que ainda fazem parte de um partido que não decidiu ainda publicamente se os vai acompanhar ou não, especialmente porque a não ser que eles entendam sua militância como meros entregadores de panfleto, ainda se precisam fazer congresso e conferências para decidir o que eles querem impor como fato consumado.

A questão mor é que temos problemas a resolver com o PT que perpassam por mais do que a autocrítica sobre a corrupção que jornalões exigem do partido. Isos lá é problema deles, PT e jornais.

Nosso problema é sobre as autocríticas necessárias às omissões e ações do partido com relação às questões ambientais, sobre direitos indígenas quilombolas, sobre a questão de gênero, sobre os direitos LGBT e de transgêneros; sobre o empoderamento de Bolsonaro, Feliciano e o PSC na CDHM; sobre o uso de uma militância digital pra assassinar reputações (inclusive as de Freixo e Jean) indo da homofobia ao racismo que até o surgimento das milícias bolsonaristas eram as mais rápidas do mercado.

E mais precisamente hoje, sobre o alinhamento de Camilo e Rui Costa no Ceará ena Bahia com o discurso da necropolítica. Somos oposição ao PT e parte importante do país, fazemos como?

E no RJ, o PT que foi base fundadora e mantenedora de Cabral e cia até os 49 do segundo tempo, com Quaquá e Benedita sustentando essa graciosidade, vai ser solenemente empoderado com o esforço coletivo do PSOL carioca em ir na contramão dos amores do PT com Cabral e Paes, sendo escorraçado, chamado de nazifascista por blogueiros a soldo do petismo?

Não é mágoa de caboclo não, é entender como a gente explica na ponta o atropelo da cúpula.

Em Porto Alegre vamos explicar pra nossa própria militância e base que adoraremos receber o apoio do PT de Tarso Genro que persegui companheiros nossos com a brigada militar até suas casas em 2013?

Vamos achar bonito em Pelotas sairmos abraçados com o PT que com Marcola é sidekick, quase um Robin desnutrido, de um PSDB abraçado ao Bolsonarismo? Vamos achar que Marroni patrocinador de Marcola, é a última bolacha do pacote?

Poderia listar aqui onde começam os problemas e terminam as soluções por horas a fio, mas ficou entendido como é um problema a aliança acrítica. E aqui entra a motivação do debate sobre neostalinismo neste texto.

A ideia de uma causa soberana que atropela todas as outras, essa centralização decisória censória e silenciadora, de cima pra baixo à direita de quem está na esquerda, é a fuça do stalinismo redivivo pela conjuntura, mas vivente desde que Dirceu e cia resolveram perder na política interna para eleger o presidente da república.

Porque é a cara do stalinismo de galinheiro o revisionismo histórico pra vender uma narrativa, vai de quem trata a Coreia do Norte coof arol do socialismo e nega a existência do Massacre da Praça da Paz celestial como quem trata Lula como esquerda radical e revolucionária e produtor de um Estado de bem-estar social que ele nem implementou e nem avançou para além do mínimo, a ponto de permitir que TODAS as suas medidas positivas fossem revertidas em menos de dez anos.

Sim, o governo Lula foi o melhor da história do país, especialmente por ter sido um democrata em uma democracia, mas esteve aquém, mas muito aquém de bom sob o ponto de vista da esquerda.

Ah, mas não se governa sem ceder ao status quo? Esse é o agá revisionista mais escroto de todos os tempos, porque era possível discutir e dialogar com MDB e outras forças democratas sem cooptar e absorver a direita no interior do PT e empoderá-la nos estados e municípios. Vide a queda de participação do PT na câmara a cada eleição, e perda também de governos de estado e municípios também a cada eleição.

E não, não é coincidência, quando você opta por fortalecer menos sua base orgânica que caciques de oligarquias antigas do país pra assegurar uma base artificial que na primeira crise te passará a perna é exatamente o que acontece.

E foi o que aconteceu em 2016, porque o limite da conciliação, avisado pelo menos desde 2006 pelo PSOL e demais membros da esquerda, ia chegar, chegou e era disso que nosso pedido de autocrítica deveria falar aqui.

Corrupção? Efeito colateral.

O neostalinismo se reforça em um ambiente onde a louvação sebastianista ao ídolo supera a necessária análise da forte figura pública e a teoria perde espaço pra hagiografia (estudo da história de santos sob o ponto de vista da fé).

Lula é um ser controverso, mas é o nosso ser controverso, com isso ele é de suma utilidade como força de oposição ao fascismo e um ambiente em que a unidade NA LUTA ANTIFASCISTA se faz necessária, mas isso não pode ser transformado de forma acrítica em um processo de alianças eleitorais, especialmente em um quadro de diversidade orgânica e organizacional.

Nós temos problemas sérios de divergências programáticas com o PCdoB e o PT e não são na perfumaria.

O PCdoB votou a favor do acordo EUA-Brasil de uso da base de alcântara, atacando direitos de quilombolas e indígenas, nós somos frontalmente contra e nos alinhamos com a luta dos povos originários.

O PT tem em seus governos de estado um alinhamento com o discurso da necropolítica na segurança pública, vide Rui Costa e policiais assassinos tratados como “artilheiros em frente ao gol” depois de uma chacina de gente preta.

Em 2018 o PT-RJ não apenas lançou Márcia Tiburi à governadora do estado, como além de a abandonar aos ventos fortes da canalhice ainda o fez por quadros seus apoiarem na surdina Eduardo Paes, do DEM. Quaquá ainda fez a gracinha de dizer que apoiaria o PSOL se o candidato fosse Freixo, como se ele na posição de destruidor do partido dos trabalhadores no RJ tivesse em posição de exigir qualquer cosia do partido de esquerda que mais cresceu no estado. O PT ainda usou de um artifício de confundir Chico Alencar com Lindbergh Farias como se fosse uma chapa que ajudou a eleger Flávio Bolsonaro e Arolde oliveira. E agente nem precisa falar aqui da participação do PT no empoderamento de milicianos com a filiação dos Irmãos Babu a partir da militância ligada à Benedita da Silva.

Ter em mente que onde for possível é interessante a unidade das lutas também se ruma unidade eleitoral tem um oceano de distância de tratar Lula como camisa dez de um tine que joga com uma organização ofensiva que parte da ponta esquerda e não do centro.

Lula pode ser um Gérson, jogando no meio cadenciando o jogo, mas o PSOL joga como Canhoteiro, avançando acelerado pela esquerda e driblando até chegar no gol, nosso jogo é rápido, de transição ofensiva, e não um jogo que devagar tenta envolver o adversário até a bola entrar na rede, esse necessário envolvendo a direita.

Precisamos de menos recursos pirotécnicos pra inventar uma unidade que não foi construída de baixo pra cima, sob pena de em caso de vitória ela ser de Pirro, e mais de um debate aberto, com menos culto à personalidade e mais programa, com menos revisionismo histórico e mais análise, com menos preocupação com a perfumaria da mitologia e mais com a compreensão histórica da conjuntura.

Um debate aberto sobre a unidade da esquerda é fundamental, mas enquanto não envolver o conjunto da militância construindo a resistência para além do voto e estabelecendo pontos de ação na prática cotidiana para além das campanhas eleitorais, o que estamos vendo é a redução da esquerda a um fã clube de figuras públicas. E isso não dura.

A conjuntura de hoje exige que enfrentemos duras batalhas, mas elas precisam partir da rua pro voto.

Não temos garantia alguma de que as eleições serão limpas, também precisamos enfrentar demandas atuais e concretas de resistência que são impostas pela conjuntura, desde o genocídio do povo preto à devastação ambiental, e precisamos fazer dessa luta uma produtora de saldo organizativo.

Agora, neste momento, estamos atrasados e Lula não vai ajudar nessa construção, pois não somos do PT.

O apoio a Freixo é o movimento óbvio, mas apoios à Sâmia ou a Fernanda Melchiona não são tão óbvios e podem não vir a ocorrer, mesmo nem PT nem o PCdoB terem em SP candidato competitivo e a Manuela ser competitiva, mas tendo uma base orgânica de construção menor que a do PSOL em PoA.

No RJ é mole ter “unidade” em torno de Freixo, só os oportunistas que buscavam cargos no suposto governo Paes ignoraram isso em 2018, menos interessados em construir resistência que poupança, mas que unidade é essa? Que custo terá?

Em Pelotas a presença do Marroni no palanque de Lula quando ele siau da prisão nos envolve em um debate se queremos estar do lado de quem foi franco patrocinador de uma política covarde de oposição ao PSDB na cidade.

Em uma cidade onde o único nome competitivo é o PSOL, o partido, vamos fazer policial washing no Partido dos Trabalhadores que desde o começo diz que tirar Bolsonaro é ruim porque nos daria Mourão de presidente?

O PSOL precisa discutir claramente e de baixo pra cima suas práticas e táticas relacionadas à sua ideia de unidade. Porque senão vamos de camisa dez das antigas em um time que precisa jogar em velocidade e pela esquerda.

A oposição não precisa de messias. Lula pode aglutinar mobilização, mas Messias é da extrema direita.

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Há nas redes sociais um sério problema de avaliação da conjuntura e uma extrapolação de determinados campos de análise que mereciam aspas.

De youtubbers academicamente equivocados dispostos a carteiradas sem base real a jornalistas profundamente descolados do bom senso, há um extrapolação do papel de Lula aliado a uma subestimação do efeito Luiz Ignácio para a ampliação do papel da oposição a Jair Messias Bolsonaro, passando por uma percepção desrespeitosa que avalia que por ter um impacto menos efetivo, inclusive por seu tamanho, a oposição a Bolsonaro feita por PSB, PCdoB e PSOL tava jogando biriba até agora.

Não, Lula não vai fazer revolução, a oposição não começa agora, embora tenha ganho um fôlego enorme, e Lula não é messias algum, Messias é o Jair, mas é a maior liderança popular brasileira desde o fim do século XX e felizmente tá do nosso lado, o da democracia.

Embora parte da imprensa, sendo profundamente desonesta nesse sentido, insista em comparar Jair Bolsonaro, o Ustra Boy suspeito de estar envolvido no assassinato de Marielle Franco e que ameaça anunciantes da Folha, com Lula, crítico da imprensa por sua óbvia escolha difícil em favor de Jair e que trata o ex-operário como um criminoso, embora o processo que o condenou seja mais viciado que o Keith Richards dos anos 1970, não existe comparação possível entre Lula e Jair.

Criticar a imprensa, por mais que doa a ela, faz parte do jogo, mas Luiz Ignácio jamais tentou fechar jornal ou ameaçou TVs de não renovação de concessões, embora a Globo, por exemplo, tenha um histórico de apoio à ditadura e de evidente manipulação contra Lula, uma delas reconhecida, como foi feito no debate entre Lula e Collor em 1989.

Da mesma forma compreender que Lula é um enorme reforço à oposição não o faz Deus criador de uma.

A oposição que tem uma atuação corajosa desde primeiro de janeiro, sofrendo ameaças de morte por isso (como sofrem Talíria Petrone, Manoela D’ávila e David Miranda, pelo menos, e Jean Wyllis), conseguiu inclusive com diálogo com o centro impor derrotas a Jair Bolsonaro e vem expondo cotidianamente seu governo e seus ministros em convocações, audiências públicas, atua na CPMI das Fake News e conseguiu construir com Rodrigo Maia uma frente de defesa da ciência, tecnologia e educação que assinou uma carta com todos os líderes do congresso.

Ignorar tudo isso é, no mínimo, uma sacanagem. Pode ser um equívoco, pode ser uma canalhice, pode ser o uso oportunista do óbvio acréscimo que Lula traz pra oposição pra ganhar mais popularidade em redes sociais, pode ser burrice, pode ser tudo isso, mas, com certeza, é uma puta sacanagem.

Outra questão é que Lula e sua capacidade de mobilização são notórios, em dois dias ele já ferveu o kissuco da conjuntura e levou milhares às ruas de São Bernardo.

Vão ter que condená-lo rápido em terceira instância pra impedi-lo de mover fortemente as águas pro moinho da esquerda e sua diversidade.

A liberdade de Lula pode ampliar a mobilização para descobrirmos os mandantes do assassinato de Marielle, e isso é pressão sobre os Bolsonaro, que podem estar concretamente implicados, pelo menos, em tentar impedir a descoberta de quem é o mandante, tendo parte fundamental em indícios de agirem na adulteração de provas e até obstrução da justiça.

Acaba agora a ausência de uma maior visibilidade do discurso que expõe os ataques do governo Jair Bolsonaro sobre a população.

Porque a mesma imprensa que se diz isenta optou por apoiar Guedes e silenciar a oposição em suas críticas.

Também agiu criando um eco de desqualificação do dissenso em relação à plataforma econômica do governo e sendo no mínimo omissa diante dos cotidianos ataques de Bolsonaro à democracia. Insistindo em falsas simetrias tentando igualar Bolsonaro a um Lula que jamais fez um décimo do que fez Jair com relação à oposição e a imprensa.

Um jornalista alinhado ao Bolsonarismo ataca Glenn Greenwald a tapas e socos e a visibilidade se resumiu às redes sociais, sem repúdio de toda a imprensa em editoriais de jornais e ainda houve editor que optou pela manchete calhorda “jornalistas trocam socos”.

Essa imprensa jura que é isenta? Pois é. Não é, nunca foi, nenhuma é.

As linhas editoriais são tão isentas quanto eu torcendo pro Fluminense.

Se há jornalistas com apuração plural e matérias sérias em todos os jornais, há uma linha editorial e jornalistas que tem ecos de um discurso que não tem isenção nenhuma, tem lado e nenhuma vergonha de fazer uma escolha muito difícil de desqualificar o PT e até apoiar em silêncio o autocrata Jair Bolsonaro para derrotar o ex-socialista Partido dos Trabalhadores.

Enquanto Jair ataca a democracia e Guedes os direitos sociais, propondo um AI-5 na economia, travestido de “Pacto Federativo”, jornais acham que destroçar qualquer colchão de proteção social a título de “reforma de Estado” é um caminho certo, mesmo que isso resulte na ampliação da desigualdade, da fome e do sofrimento da população, desde que gere lucro pra camada social à qual pertencem seus donos.

Em nome desse lucro não me parece que as cúpulas do jornalismo (donos, editores, colunistas e jornalistas alinhados à linha editorial) estejam, muito preocupados com a democracia.

E aqui é fundamental o papel de Lula para romper a bolha de silenciamento da oposição, e anabolizar seu impacto.

Lula é tão importante e causa tanto pânico que cada linha dos seus discursos recentes serviram para realinhar jornalistas que rompiam com o Bolsonarismo em nome da falsa simetria de fazer de ambos elementos iguais (E Lula sabia disso quando fez os discursos e atacou a Globo).

A coisa mais certa que Lula fez foi levar o peso de sua retórica para a reacomodação do cenário político, com os preços das contradições do campo da extrema-direita recaindo sobre quem foi com sede demais ao pote das escolas muito difíceis.

Quem agora tentar voltar ao campo da situação pode ter surpresas, quem achar que Lula ajuda Bolsonaro idem.

Cabe à esquerda mais crítica a Lula se adequar no sentido de entender seu peso, ampliar a pressão pela radicalização programática em nome da retomada de ações de esquerda nos governos e parlamentos, entender determinado grau de diálogo e conciliação do PT e de Lula (são seus limites) e constituir sua plataforma nos espaços que tem garantidos e ampliá-los.

Lula não vai vir à esquerda do PSOL, e nem o PSOL precisa ir à direita de si mesmo pra abraçar o Lulismo, mas é possível dialogar e compor uma oposição que produz nas ruas o efeito que se constrói na institucionalidade.

Uma força da natureza em oposição a Bolsonaro é um alento, não um problema.

Isso não faz da esquerda uma linha de transmissão do Lulismo se ela não quiser, nem nos faz acríticos ao PT e suas contradições, mas amplia fortemente o peso e o significado de nossas figuras públicas e programas.

Também não faz de todas as divergências na construção de unidade eleitoral um campo aberto e resolvido.

O importante é ampliar a unidade na luta, construir as unidades possíveis na institucionalidade, abrir diálogos para ampliação do campo democrático e minar o campo de radicalidade neoliberal e amante da ditadura e sim, por medo nos canalhas, estejam eles nos gabinetes ou nas redações.

Cada falsa simetria hoje é um alimento de nossa crítica e uma desqualificação de quem nunca foi isento, honesto ou moderado, apenas adorava o peso da retórica pra anabolizar o neoliberalismo pinochetiano que nos esfola.

Entre o otimismo da vontade e o pessimismo da razão

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O Governo Jair Bolsonaro expõe as tripas da direita e da elite em praça pública, mas também expõe o imobilismo e a incerteza de uma esquerda que ao mesmo tempo que se organiza no âmbito institucional se fragiliza no espaço público, na rua.

E isso ocorre porque esta mesma esquerda nos mais variados graus prefere se esconder em ambientes controlados do que arriscar a disputa pelas consciências na rua.

Esse fenômeno já ocorreu a partir de 2013, quando parte da esquerda, inclusive a dita esquerda radical (De PSOL a PCO), preferiu criminalizar arroubos de ação direta destrutiva a discutir e disputar essa galera que quebrava vidraça.

Se preferiu, do alto de uma razão irracional e negacionista dos movimentos históricos, por água no moinho da criminalização, de processos, despolitização e violência policial contra os mais radicais (Parte dos socialistas, anarquistas e autonomistas) apostando numa manutenção no poder por inércia de uma ex-querda cada vez mais social-democrata (pra ser gentil) que fazia acordos pornográficos com a extrema-direita entregando anéis e dedos achando que o lulismo sozinho sustentaria dinastias de democratas com pendores sociais no Planalto.

À criminalização pelos discurso se seguiu a criminalização pela justiça, pela polícia, especialmente depois da mal explicada morte do cinegrafista Santiago, com uma nova geração de esquerda vendo novas lideranças não alinhadas à esquerda partidária ser presa, processada, ver a vida ruir e seguir sendo transformada em pária por tentar mudar o mundo.

De Gilberto Maringoni (PSOL-SP) e parte das correntes do PSOL atacando autonomistas e anarquistas (FIP, etc) como “Vândalos protofascistas” até Tarso Genro e Agnello Queiroz (governadores do RS e DF, respectivamente, eleitos pelo PT) enviando suas polícias atrás de ativistas (entre eles ativistas do PSOL), a folha-corrida que mancha a trajetória das esquerdas, com as digitais no esvaziamento da rua pela esquerda com sua ocupação pela extrema-direita, é algo continuadamente omitido pelos mais simplórios e rasos emissores de “análise” sobre as conjunturas, e que hoje acham lindo eximir Dilma de culpa pelo seu ocaso.

Não à toa há um coro de animação histérica sobre revoltas mundo afora e que adora Cânticos dos cânticos da euforia alucinada que repete “Não passarão” para o fascismo, enquanto eles não só passam como dão ré. O problema é que esse coro não rima com o movimento.

O grau de organização e organicidade dos discursos de redes sociais é perto de zero, e mesmo com o crescimento de organização e organicidade de uma revolta palpável nos partidos de esquerda(difícil medir em organizações autonomistas e anarquistas, mas apostaria que também está alta a procura de organização), isso não tem se refletido numa mobilidade de ação que mantenha essa galera entusiasmada.

E parte do problema é que se vende sonho, não se vende o trabalho e a organização necessária para agir e transformar.

Não é um fato incomum para a esquerda o discurso que alimenta “primaveras” não ir além do conversê pra organizar essas primaveras.

Porque transformar exige tocar em vespeiros (homofobia, racismo, machismo estruturais, por exemplo), e ninguém quer tocar em vespeiro e arriscar perder voto, ou poucos topam o risco.

Mais seguro gravar com o Quebrando o Tabu.

As manifestações pela educação foram maiores do que as contra a Reforma da Previdência e pouco se tentou aprender com isso. Pior, pouco se tentou avançar no debate sobre educação em si, pouco fomos além do debate que discute o quanto a universidade precista ir mais pra rua e divulgar sua serventia.

A questão é que a educação atinge todos e especialmente atinge uma galera em formação que mesmo tendo sido pega pela perna pelo Novismo liberal, percebe que a vida não é filme, você não entendeu, e foi pra rua discutir e disputar a necessidade de universidades públicas, porque sentiu na pele e isso lhes deu experiência, experiência que é a base da formação de consciência.

Já a Previdência é um campo onde a disputa está com quem já está às vésperas de se aposentar ou é adulto e tem convicções menos flexíveis com relação a seu dia a dia e seu futuro, convicções que por vezes lhe são deletérias.

A aposentadoria é, pros mais jovens, uma utopia, um futuro, que hoje quase não mais existe.

E o bombardeio sobre o quanto a Deforma da Previdência era necessária, é algo que beira os vinte anos e buscando exatamente sua destruição. Qualquer opinião que revelasse ser uma manobra de opinião pública tinha oitocentas dizendo que a esquerda era negacionista.

Destruir o ensino público ninguém vai dizer às claras como disse que era preciso destruir a previdência. E mesmo assim não conseguiram passar a capitalização.

A questão é que o fôlego da resistência via educação parou, e por quê? Porque parte dos atores que estavam envolvidos na não construção concreta da resistência à Deforma da previdência percebeu que perderia o controle da indignação se continuasse a apoiar os movimentos contra o desmonte da educação, pior, ainda comemora como vitória a manobra do Desgovenro Bolsonaro de, a dois meses do fim do prazo para sua utilização sem que isso impactasse no exercício de 2020, liberar recursos cortados em março.

Mas parou o fôlego? Não exatamente, apenas se reduziu e agora precisa de mais esforço para reavivar a chama, especialmente quando é visível que o neoliberalismo está nas cordas por conta dos movimentos de resistência no Equador e Chile.

Mas como lidar com isso se a esquerda via de regra prefere agir como coro de contente em rede social do que segurar o rojão de organizar, filiar, agir para concretizar seu aumento nos espaços possíveis.

Há interessantes campanhas de filiação, ao PSOL por exemplo, mas isso basta?

Não, porque é preciso existir ações públicas cotidianas que façam as pessoas se sentirem úteis, é preciso também curso de formação abertos e didáticos, com o cuidado de jamais se tornarem cursos de doutrinação (não dá pra confundir formação com proselitismo de dogma), e são muito precisos meios de ação de convencimento para além de divulgação de atos e ações.

Isso tudo é uma ideia de construção de organização partidária, há outros caminhos possíveis, e é didático pra evitar que militância se confunda com a enojante mistura de culto à personalidade com discurso esfuziante de uma alegria militante que nada faz além de divulgar um “Não passarão!” sem práxis que impeça o fascismo de passar.

Porque é disso que faz parte da militância, que confunde a necessária ação contra o desânimo, focada na nossa memória e nos nossos fetos, com uma falsa felicidade estagnada que não constrói porra nenhuma e ainda fica saudosa de péssimas experiências porque hoje estamos literalmente fudidos na mão de um presidente com banca de miliciano.

Não, amigos, não estamos vencendo. Estamos perdendo de um time ruim por 7×1, o gol que fizemos foi de honra e o fato de outros times estarem virando o jogo, ou perto de iniciarem a virada, não faz da esquerda do Brasil mais do que observadora enquanto a extrema-direita vem de novo ameaçar nosso gol.

A mobilização do Chile está vencendo a extrema-direita, mas é lá, não é aqui e não estamos fazendo muito para trazer aquela indignação pra cá, além de comemorar e chorar vendo a foto dos outros, enquanto mugimos “saudades do meu ex” e achamos Maia democrata.

Com o Desgovenro Bolsonaro em derretimento acelerado e sendo questionado por elite e direita, sentamos em cima do gol de honra marcado em março com nossas mobilizações pela educação e achamos que tá bom porque dá pra esperar de um a três anos (dá?) pra demover Bolsonaro de sua cadeira que mancha de óleo nosso litoral e a vida de pescadores e povos originários, amplia o número de feminicídios e crimes de ódio, queima a Amazônia e avança sobre terras indígenas.

Não adianta pedir a queda de Salles e Weintraub se o chefe deles poderá nomear outros dois canalhas.

Não adianta ter medo de Mourão ignorando que a bola da queda de Jair tá quicando na nossa frente e a gente tá deixando Maia e Toffoli o manterem no poder enquanto as digitais do assassinato de Marielle, rachadinhas e aparelhamento criminoso do poder avançam sem suar.

O otimismo da vontade do nosso discurso é delusional e tenta calar o pessimismo da razão que explicita nossa imobilidade.

Sim, a imprensa liberal erra ao dizer que a esquerda está parada na institucionalidade, porque nessa ela não está, mas acerta, sem mirar lá, pra dizer que ela tá omissa na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé,

Com exceção dos indígenas, povos originários, Sem teto e Sem terra, o restante da esquerda tá olhando pra ontem, e em vez de ser pra revolução Russa tá olhando pros governo Lula como se fossem o Reino Encantado de Aruanda.

A gente precisa do pessimismo da razão, porque estamos perdendo e o fato do time de lá ser ruim e o juiz ter cansado de roubar não transforma o resultado uma vitória.

Mas também precisamos de um otimismo da vontade real, que faça com que, mesmo com todas as tretas, a gente levante no dia seguinte e faça acontecer as organizações, os atos, as produções de conhecimento e programa, as ações necessárias.

O otimismo da vontade não é um alento pro pessimismo da razão, mas o combustível pra, de forma realista, transformar a realidade que faz a razão ver tanto pessimismo.

É fundamental sairmos do transe que sonha com a volta de Lula como nosso Dom Sebastião de Garanhuns e pormos em prática movimentos de organização e organicidade que permitam que a conjuntura mude e que ele possa ser o Dom Sebastião de Garanhuns pra quem precisa de um homem pra chamar de seu.

Temos que pôr em prática movimentos que permitam que saibamos quem mandou matar Marielle e porque Jair, Flávio e Queiroz estão desde sempre produzindo canalhice e fake news sobre ela.

Pra sairmos do transe é preciso construir meios de irmos pra rua, é preciso fazer banquinha com material, discutir no cotidiano, filiar gente, chamar passeata, cobrar as lideranças porque não estamos agora gritando “Fora Bolsonaro!” e estamos tentando derrubar ministro.

Há um latifúndio para nosso otimismo da vontade ocupar e há uma conjuntura violenta que o pessimismo da razão precisa ver.

E pra vencermos é fundamental agirmos com o primeiro, enxergando com o segundo.