Não adiante escrever “Aos que se interessam pelo tema: o black bloc teve uma participação engajada, decidida, ativa e militante para criar as condições ideais que a polícia queria para reprimir e acabar com nossa manifestação” e depois dizer que não tá responsabilizando os BB, independente da ressalva feita antes, depois, durante, no meio, ou na transversal.
Se não quis dizer isso reescreva. Se não soube se expressar reescreva. Se não foi isso que quis dizer reescreva. É bastante simples, o resto é ou estar mais perdido que cego em tiroteio ou literalmente não entender patavinas ou ter a critica, ter escrito, culpar mesmo e não querer assumir com o ônus que isso acarreta.
Desculpem ser direto e reto, tem algumas questões que acho um tanto quanto complicado de estarem sendo ignoradas:
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O flagrante apoio que a base da categoria dos professores deu aos Black Bloc em assembleia com cinco mil pessoas no Rio.
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A quantidade de enquetes, esquetes, entrevistas, pesquisas que indicam que a população não tá recusando nada os BB.
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A quantidade de material problematizando os BB, seja em site, seja em artigo científico, etc.
Não somos crianças discutindo no ginásio, somos militantes com responsabilidade política uns com os outros, com o partido, com os movimentos e ser simplista neste campo é levar ônus ao coleguinha do lado, ao partido e ao movimento e levar preços a quem não comete o mesmo tipo de equívoco/tem a mesma posição, etc.
Há uma nítida criminalização dos BB pela mídia/governos e tendo eco nos partidos da esquerda como PSTU/PSOL, sim, me desculpem, eu sei ler.
Retórica à parte, critica sobre a organização dos Black Bloc, fetiche de tática, etc, é uma coisa completamente diferente do que dar parabéns aos BB porque a polícia, essa entidade filha da puta de per si, mete a porrada, me desculpem. É como culpar o moleque de dez anos que chamou o totó que é um rotweiller com raiva pelo cachorro mordê-lo e à rua toda. A culpa é sempre, sempre, do dono do cachorro.
“A Origem histórica dos BB” é fundamental conhecer, é uma história e tem raízes em autonomistas marxistas na Alemanha dos anos 1970 e tem uma longa história e adaptações por onde passou e ao que parece aqui idem. Aqui inclusive tem mais organicidade do que o normal na Europa e se relaciona muito com as ocupações urbanas, conheço antropólogos que encontraram come elas em etnografias sobre ocupações urbanas.
Reduzir inclusive os BB às manifestações é equívoco, porque:
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Não são um grupo.
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Não funcionam somente em manifestações e tem relações menos com anarquistas, que os criticam, e mais com autonomistas marxistas.
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Criticar é necessário? Pra quem acha que deve ter crítica é, mas antes de mais nada criticar sem refinar é chutar tijolo.
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Tem de entender e tem de entender antes de mais anda que não é disputar com eles, mas disputá-los.
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E o problema médio das análises é exatamente a demarcação de diferença com eles como disputa com eles.
E ai me desculpa, vou pegar um dado de um amigo: análise de discurso no trabalho historiográfico me fazem ler com quase clareza absoluta a linhagem de uma declaração. É mais que “intelectualismo” é meu trabalho e o eixo do discurso de parte da esquerda do PSOL e de companheiros do PSTU é muito similar e sim, demarcam para estabelecerem locus político diferenciado, só que partem de uma série de equívocos e artifícios retóricos para estabelecerem estas diferenças menos por entendê-las e mais pela necessidade de disputa.
E sim, não adianta dizer que a culpa é da repressão, mas os BB provocam… esse é igual ao discurso da Maria do Rosário, igualzinho..
Falar de junho sem dizer que os BB participaram é piada. Dizer que “A direção do ato foi” é piada.
Porque se a gente for tratar assim vou mais longe: como é que a gente situa junho fora das rebeliões indígenas de 2012 pra cá?
Como a gente situa Junho sem a Aldeia maracanã, detonada na ensecadeira do Xingu,etc?
Como a gente situa 2013 fora do esteio da ação direta do MST na Aracruz que detonou o laboratório? As rebeliões de favela, Resistência em Pinheirinho?
Como a gente situa junho, ontem, anteontem, Rio, SP, PA, Fortaleza, Recife, fora da ampliação da militarização das polícias, do aumento da morte da juventude negra, do aumento de mortes no campo, da maior precarização do trabalho dos jovens da periferia, do resultado dos primeiros formandos das universidades da Era Lula após a “inclusão” de milhões de jovens que esperavam uma vida melhor após se formarem na universidade?
O problema é a tática? O problema é a ação direta? o problema é o momento da ação direta ou o processo?
Gente, sem olhar o maldito processo histórico e pegando recuos de médio a longo prazo, analisando o hoje a partir do possível arco de influências prévio, da história da tática, do histórico da “direção” de movimentos, do papel e da inserção do PSOL, PSTU, PT, da crise de representatividade da esquerda como um todo, e não tô falando de mensalão e corrupção, a gente vai virar girando que nem peru pré-abate.
Sem olhar o processo histórico vamos fazer como aquele “Marxista” de galinheiro que diz que a greve dos professores é de direita porque contesta um governo “de esquerda” incapaz de resolver o problema da liquidação da educação para o mercado e que aliás concorre como sócio da privatização da educação não só como governo federal, mas como governo estadual e municipal.
Condenar os Black Bloc optando por uma busca frenética de diferenciação como tática de ocupação de um espaço cuja motivação de existência tá muito além da ação direta em si é como culpar o furacão por devastar uma cidade, cagando pro aquecimento global e pelo fato do uso de combustíveis fósseis ser diretamente influente na sua ampliação.
Pensemos amplo, pensemos além, saiamos do simples, do simplório, do que tá só agora.. Vamos ser Marxistas?
É fundamental ter menos fome de certezas e mais lidar com dúvidas constantes e elencar o maior número de quadros e dados possíveis no liquidificador do concreto abstrato para depois voltar pro cotidiano no tal movimento dialético e ver qualé. apostemos mais, apresentemos discordâncias, dúvidas. Digamos que não temos certeza se concordamos com a tática, mas entendemos o que leva a existir os BB e entendemos que o BB é mais resultado do que causa.
Se queremos mesmo revolução, quando ela vier vamos dizer que não compactuamos com depredações? Vamos reconhecê-la?
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