Sobre os Black Bloc, professores e a miopia – Retratos de discussões no fervo

divu1Vou começar pelo início:

Não adiante escrever “Aos que se interessam pelo tema: o black bloc teve uma participação engajada, decidida, ativa e militante para criar as condições ideais que a polícia queria para reprimir e acabar com nossa manifestação” e depois dizer que não tá responsabilizando os BB, independente da ressalva feita antes, depois, durante, no meio, ou na transversal.

Se não quis dizer isso reescreva. Se não soube se expressar reescreva. Se não foi isso que quis dizer reescreva. É bastante simples, o resto é ou estar mais perdido que cego em tiroteio ou literalmente não entender patavinas ou ter a critica, ter escrito, culpar mesmo e não querer assumir com o ônus que isso acarreta.

Desculpem ser direto e reto, tem algumas questões que acho um tanto quanto complicado de estarem sendo ignoradas:

  1. O flagrante apoio que a base da categoria dos professores deu aos Black Bloc em assembleia com cinco mil pessoas no Rio.

  2. A quantidade de enquetes, esquetes, entrevistas, pesquisas que indicam que a população não tá recusando nada os BB.

  3. A quantidade de material problematizando os BB, seja em site, seja em artigo científico, etc.

sesc_festclown_2012-_palhaco_xuxuNão somos crianças discutindo no ginásio, somos militantes com responsabilidade política uns com os outros, com o partido, com os movimentos e ser simplista neste campo é levar ônus ao coleguinha do lado, ao partido e ao movimento e levar preços a quem não comete o mesmo tipo de equívoco/tem a mesma posição, etc.

Há uma nítida criminalização dos BB pela mídia/governos e tendo eco nos partidos da esquerda como PSTU/PSOL, sim, me desculpem, eu sei ler.

Retórica à parte, critica sobre a organização dos Black Bloc, fetiche de tática, etc, é uma coisa completamente diferente do que dar parabéns aos BB porque a polícia, essa entidade filha da puta de per si, mete a porrada, me desculpem. É como culpar o moleque de dez anos que chamou o totó que é um rotweiller com raiva pelo cachorro mordê-lo e à rua toda. A culpa é sempre, sempre, do dono do cachorro.

“A Origem histórica dos BB” é fundamental conhecer, é uma história e tem raízes em autonomistas marxistas na Alemanha dos anos 1970 e tem uma longa história e adaptações por onde passou e ao que parece aqui idem. Aqui inclusive tem mais organicidade do que o normal na Europa e se relaciona muito com as ocupações urbanas, conheço antropólogos que encontraram come elas em etnografias sobre ocupações urbanas.

downloadReduzir inclusive os BB às manifestações é equívoco, porque:

  1. Não são um grupo.

  2. Não funcionam somente em manifestações e tem relações menos com anarquistas, que os criticam, e mais com autonomistas marxistas.

  3. Criticar é necessário? Pra quem acha que deve ter crítica é, mas antes de mais nada criticar sem refinar é chutar tijolo.

  4. Tem de entender e tem de entender antes de mais anda que não é disputar com eles, mas disputá-los.

  5. E o problema médio das análises é exatamente a demarcação de diferença com eles como disputa com eles.

E ai me desculpa, vou pegar um dado de um amigo: análise de discurso no trabalho historiográfico me fazem ler com quase clareza absoluta a linhagem de uma declaração. É mais que “intelectualismo” é meu trabalho e o eixo do discurso de parte da esquerda do PSOL e de companheiros do PSTU é muito similar e sim, demarcam para estabelecerem locus político diferenciado, só que partem de uma série de equívocos e artifícios retóricos para estabelecerem estas diferenças menos por entendê-las e mais pela necessidade de disputa.

E sim, não adianta dizer que a culpa é da repressão, mas os BB provocam… esse é igual ao discurso da Maria do Rosário, igualzinho..

Falar de junho sem dizer que os BB participaram é piada. Dizer que “A direção do ato foi” é piada.

imagesPorque se a gente for tratar assim vou mais longe: como é que a gente situa junho fora das rebeliões indígenas de 2012 pra cá?

Como a gente situa Junho sem a Aldeia maracanã, detonada na ensecadeira do Xingu,etc?

Como a gente situa 2013 fora do esteio da ação direta do MST na Aracruz que detonou o laboratório? As rebeliões de favela, Resistência em Pinheirinho?

Como a gente situa junho, ontem, anteontem, Rio, SP, PA, Fortaleza, Recife, fora da ampliação da militarização das polícias, do aumento da morte da juventude negra, do aumento de mortes no campo, da maior precarização do trabalho dos jovens da periferia, do resultado dos primeiros formandos das universidades da Era Lula após a “inclusão” de milhões de jovens que esperavam uma vida melhor após se formarem na universidade?

O problema é a tática? O problema é a ação direta? o problema é o momento da ação direta ou o processo?

Gente, sem olhar o maldito processo histórico e pegando recuos de médio a longo prazo, analisando o hoje a partir do possível arco de influências prévio, da história da tática, do histórico da “direção” de movimentos, do papel e da inserção do PSOL, PSTU, PT, da crise de representatividade da esquerda como um todo, e não tô falando de mensalão e corrupção, a gente vai virar girando que nem peru pré-abate.

Sem olhar o processo histórico vamos fazer como aquele “Marxista” de galinheiro que diz que a greve dos professores é de direita porque contesta um governo “de esquerda” incapaz de resolver o problema da liquidação da educação para o mercado e que aliás concorre como sócio da privatização da educação não só como governo federal, mas como governo estadual e municipal.

Condenar os Black Bloc optando por uma busca frenética de diferenciação como tática de ocupação de um espaço cuja motivação de existência tá muito além da ação direta em si é como culpar o furacão por devastar uma cidade, cagando pro aquecimento global e pelo fato do uso de combustíveis fósseis ser diretamente influente na sua ampliação.

Pensemos amplo, pensemos além, saiamos do simples, do simplório, do que tá só agora.. Vamos ser Marxistas?

images (1)É fundamental ter menos fome de certezas e mais lidar com dúvidas constantes e elencar o maior número de quadros e dados possíveis no liquidificador do concreto abstrato para depois voltar pro cotidiano no tal movimento dialético e ver qualé. apostemos mais, apresentemos discordâncias, dúvidas. Digamos que não temos certeza se concordamos com a tática, mas entendemos o que leva a existir os BB e entendemos que o BB é mais resultado do que causa.

Se queremos mesmo revolução, quando ela vier vamos dizer que não compactuamos com depredações? Vamos reconhecê-la?

Solidariedade à Policiais militares? Passa amanhã

meninaA Policia Militar é uma organização filha da puta, desculpem o termo, mas é.

E mais, seus soldados ao serem cúmplices dos governantes e baterem em trabalhador tornam-se pior que cães amestrados.

Depois choram por solidariedade quando os seus morrem no combate à violência, a mesma violência que praticam usando farda, se igualando a bandidos. Não tem como ter solidariedade com quem nos violentas.

A diferença entre o bandido e o Policial violento é que o bandido não tem como obrigação zelar pelo cumprimento da lei, a ele não temos confiança, não lhes precisamos confiar, tampouco esperar que respeite nossos direitos.

O policial ao contrário, esperamos dele que zele por NOSSOS direitos e não pelo direito da propriedade, do lucro, de governantes ilegítimos.

Qual o que? O Policial militar além dos inúmeros casos de violência, corrupção, achaques, ainda nos violenta em nossas reivindicações mais legítimas, nos bate, nos joga spray de pimenta, gás lacrimogêneo, tudo sob o pretexto de “fazer cumprir a lei”, ou seja para “fazer cumprir a lei” a descumprem nos direitos fundamentais, fora que jamais “fazem cumprir a lei”, fazem cumprir a vontade de seus senhores.

E não citei aqui os assaltos cometidos por PMs, que não são isolados, os achaques, as duras em busca de migalhas do parco salário dos trabalhadores, o tapa na cara de adolescentes, especialmente negros, que ousam dizer que tem direitos, o assédio à mulheres por acaso detidas para averiguação, a organização de milícias para achacar a população sob o argumento mau caráter de “estamos combatendo o tráfico onde a lei não chega”….

Portanto caros soldados da Policia militar, eu lamento, mas não lamento quando vocês sofrem violência. Vocês são semeadores da barbárie, assassinos de direitos e também de vidas, é só olhar as estatísticas relacionadas à morte por ação da polícia, são assassinos do estado de direito, são tanto quanto s bandidos, agentes da barbárie.

Depois de ontem, especialmente depois de ontem, 28/09/2013, quando a PM invadiu a Câmara de vereadores do Rio de Janeiro e expulsou na porrada profissionais de educação, o policial militar é um inimigo do qual tenho tanto medo quanto tenho de bandidos. Evitar acionar a policia militar é mais que uma ordem íntima, evitar chamar, evitar contar com, e também não guardar solidariedade.

PMs ganham mal? é uma pena, mas como vocês optam por agredir quem luta também por melhorias de salários, acho que não precisam de nós, tampouco de nossa solidariedade: Vocês estão sozinhos.

A dimensão da utopia, a revolução e os novos Lênins

 Road_to_utopiaTratar de mudança política não é exatamente simples, tampouco receita de bolo. A dimensão da transformação tem tantas miríades de sentidos possíveis subjetivos a serem lidos em atos, palavras e movimentos, que a simplificação de um método ou de uma ideia de estado, ou de mesmo uma só ideia de revolução é delírio simplificador.

Se ler a realidade concreta fosse fácil e apontasse para um só sentido unitário não haveria desde sempre um mar de pensadores mundo e história afora, cada um com sua percepção de uma realidade, de uma verdade ou até da não-verdade.

A questão é que cada contexto histórico, cada conjuntura, aponta sinais identificáveis de novas formas que a multidão de gentes por vezes denominada “povo”, “massa”, “massona” ou “povão” (quase sempre por quem se aparta dela para defini-la com distância segura) interpreta se não o real a ruptura com o que entende como sistema ou peso opressivo de alguma realidade.

Cada contexto histórico traz suas insurgências, traz suas permanências, traz suas rupturas e conservações e é necessário que cada pensador ou militante que pretenda transformar este real lê-las, olhá-las nos olhos, preocupados menos com encontrar a verdade verdadeira única de todas as coisas e mais com antecipar minimamente uma tática de intervenção que consiga atrair o máximo de gente possível para oque defende como eixo de ações transformadoras.

É, amigão, to falando de convencer pessoas que tua tática revolucionária é o lance.

img_ju427-06bNeste contexto atual, por exemplo, o próprio questionamento da relação entre movimentos, partidos e ativistas com o cotidiano político é questionado. A própria relação entre os movimentos, as pessoas e a atividade política é jogada aos leões em busca de demolir concepções quadradas de vida, de militância, de relação com vidros, vidraças, mundo, ambiente, amor, mídia.

A dimensão contestatória não tá ai para fingir que não vê a frase maldita cheia de homofobia do sujeito que em tese diz que quer mudar o mundo.

A contestação, caras pálidas, não tá vestindo o fraque mediado do fanfarrão da esquina, tampouco o papo brabo de que “povão é assim”.

A contestação quebra vidraça do Itaú,a contestação arrebenta a secadora do Xingu, invade usina, ocupa Câmaras, derrete leninismos de salão querendo mais que conversinha nas terras Quilombolas, na avenida Paulista ou na praça onde Feliciano-RS prendem pessoas que se beijam em um espaço público ocupado por ele indevidamente em nome de uma só vertente de uma só fé, atropelando a laicidade do estado, atropelando a democracia de um estado cujo emblemático simbolismo de um Pastor Deputado (jamais um Deputado Pastor) chamando a polícia para reprimir lésbicas se beijando EM ESPAÇO PÚBLICO é eloquente.

street_art_24A contestação não trata a dimensão do sonho como um “Além da Imaginação”, uma “Twilight Zone” promovida por esquerdóides, amiguinhos. A contestação chegou à sala de aula, e não na cabeça de estudantes, mas na de professores precarizados em greve numa das principais cidades do país.

A contestação tá na rua derrubando um dos governadores centrais para a política do PT e para concepção de cidade mercadoria, de mundo mercadoria, de Brasil Grande neodesenvolvimentista com fome de petróleo, com fome de carbono, de escolas, de postos de saúde, de consumo que nos consome enquanto gentes a trabalhar doze, treze, quatorze horas para pagar os carnês das dívidas enquanto deixamos a vida no prelo.

A contestação pegou a dimensão do sonho gritando que não era por vinte centavos enquanto militantes amestrados pro revistas, blogs e sites de partidos acostumados com a cadeira acolchoada do poder dizia se tratar de Vândalos e Baderneiros.

imagesA dimensão do sonho voltou numa contestação mascarada que lei nenhuma vai desmascarar e enquanto isso ainda existem citadores compulsivos de Lênin procurando pelo em ovo pra justificar qualquer coisa em nome de mandatos acomodados, acostumados a pedir em vez de exigir, a criar espantalhos para a fome de moral e bons costumes de quem pede o fim da corrupção como se pedisse pães franceses na padaria mais próxima.

E enquanto a dimensão do sonho renasce com utopias múltiplas, dissonantes e polifônicas, como deve ser, a exigência de novos Lênins é clara, imensa, nítida. Mas exigem-se novos Lênins com menos fome por construir estacas fundadores de novos países e novos estados, mas canais para o fluxo contestatório passar derrubando represas.

São precisos Lênins que construam o diálogo, um diálogo amplo, que aprendam, que ensinem, que se joguem, que quebrem, que requebrem, que riam, que sambem, que ouçam a polifonia menos buscando a síntese perfeita e mais aprendendo que ruptura pode sim rimar com gostosura, com liberdade, com vontade e com verdades, sim com s, por muitas, imensas, gigantes, que nunca dorme, que se soltam noite afora quebrando tudo até a última ponta para derrubar Cabrais e outros ditadores mal-acostumados a achar que a voz das ruas é rouca, enquanto sempre foi doce.

images (3)São precisos novos Lênins prontos a divertirem-se recuperando a utopia, a dimensão do sonho em que Garibaldis, Bakunins, Marx, Engels fizeram a primavera dos povos.

Porque sempre precisamos de mais primaveras.

O julho Papal e a má fama de Cabral

Sérgio-Cabral-e-o-Papa-por-PelicanoO que significa o Papa Francisco I no Brasil neste mês de Julho?

Este texto não começa à toa com uma pergunta, pois se pretende menos uma afirmação e mais ser um provocador, um questionador, talvez para que as respostas sejam menos soluções e mais apontamentos.

Existem vários quadros possíveis para responder a esta pergunta e outras, alguns desenhos são cabíveis de serem feitos a partir de indagações no plano da política local, nacional, internacional, na relação entre religiões, entre a Igreja Católica e a mídia, entre o Governo brasileiro e o Vaticano, entre os megaeventos e os planos do estado e entre a população e os poderes.

Um deles diz respeito ao que foi projeto pelo Prefeito do Rio, Eduardo Paes, e pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, no que tange aos negócios que seriam/foram feitos em nome dos mega eventos como a Copa e a Olimpíada, e em menor grau a Jornada Mundial da Juventude, e o resultado final do impacto da JMJ no cotidiano de ambos e mais, na imagem da cidade/estado do Rio de Janeiro para com o mundo, preocupação número um dos governantes/gerentes do capital e cujos gabinetes tem sido chamados pela oposição, a meu ver com razão, de balcão de negócios.

Deu certo? O investimento em nome da venda da Cidade do Rio de Janeiro como cidade-evento, ou cidade-mercadoria, teve retorno? Fortaleceu a cidade enquanto marca? Fortaleceu a cidade enquanto infra-estrutura?

Acredito que as panes no sistema de transporte, na própria infra-estrutura erguida em Guaratiba e que sucumbiu à lama das chuvas, responde às perguntas e aponta para um caos maior em eventos com previsão de maior envergadura na exigência de transportes,etc. Aliás, um dado a se pensar é que o prefeito e o governador declaram feriados nos dias da JMJ, parciais ou não, e que para usar o Metrô o cidadão carioca que não tivesse passe especial era simplesmente barrado, e mesmo assim deu pane.

Outro quadro é da relação entre o povo carioca, em protesto quase diário pela queda de Cabral desde o fim de Junho, e os governantes diretos e indiretos, Eduardo Paes, Sérgio Cabral e Dilma Roussef.

A presença do Papa não arrefeceu ânimos protestantes, e se os protestos tinham menos gente, não era, ou foi, desprezível a quantidade de protestos com cerca de cinco mil participantes tanto na sede do governo do estado quanto nas proximidades da residência de Sérgio Cabral, e todos sendo recepcionados mais cedo ou mais tarde pela violência policial que atira bombas de gás lacrimogêneo em hospitais.

A relação entre protestos e violência policial, que Cabral usou tentando desviar denúncias contra si, atingiu um limite tão grande que levou o governador a criar uma comissão especial para investigar vandalismo, investindo na dicotomia Vandalismo x Policia, que teve de revogar ao fim de tantas denúncias de inconstitucionalidade.

Para completar o nível de perda de controle do governador por sobre as tropas e aliados, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, em entrevista exclusiva à Mídia Ninja, fez questão de se descolar do aliado mor, ou ex-aliado mor, Sérgio Cabral.

Cabral, ao fim e ao cabo, ao revogar o decreto que criava a CEIV (comissão especial de investigação sobre vandalismo) entregou às baratas o Secretário de Segurança do Rio e o comandante da Polícia militar como responsáveis diretos pela truculência policial, como se o comandante em chefe da Polícia, ele Cabral, não tivesse nada a ver com isso.

A truculência policial ocorreu também com o Papa no Rio, pra ampliar o grau de desmoralização do Governador, ou seja, como cidade mercadoria o Rio de Janeiro fracassou tanto na infra-estrutura para megaeventos quanto na habilidade de conter manifestações sem a proverbial truculência da polícia ainda militar do Rio de Janeiro.

Para agravar a situação o quadro expôs danos quase irreversíveis, a um ano da eleição, ao muro do outrora paraíso da popularidade de Dilma, Cabral e Paes e expôs também crises palacianas mal ditas pelo cotidiano de sorrisos e felicidades entre PT e PMDB.

As resposta de Cabral aos protestos ampliaram-nos e mais, derrubaram a popularidade dele, de Paes e de Dilma, que por razões de “governabilidade” não tem como descolar-se imediatamente do outrora primeiro aliado.

A lusitana roda ainda trouxe consigo o PT Carioca em profunda crise, já que o partido tinha membros entre os que filmavam os movimentos a partir da mídia alternativa, entre os próprios protestantes e entre quem condenava os protestos a partir de uma lógica delirante que os protestos contra Cabral, assim como todos os protestos de Junho para cá, eram no fundo um golpe armado contra a toda poderosa salve salve iluminação popular do Partido dos Trabalhadores em todos os níveis de governo, governabilidade e aliados.

Essa crise do PT não passa despercebida aos aliados ou adversários, e se reflete na lógica pressão para que o PT saia dos governos Cabral e Paes, e mais, ecoa na imagem de Dilma que tentou se construir como uma governante que “ouve as ruas” tentando ignorar a extrema inabilidade da mesma em responder aos protestos sem emprestar a Força Nacional a governadores, inclusive tucanos.

Aliás, essa crise do PT se reflete imediatamente na dicotomia entre estar nas ruas e nos governos, protestar contra Cabral enquanto sua presidente da república mantém um apoio explícito e tem em metade dos programas construídos no Rio como testes para uma plataforma nacional (UPPs, UPAs, Megaeventos) e mais, ser “esquerda” com políticas de direita, sendo secretário de direitos Humanos em um governo que os viola com sua polícia truculenta.

No plano da relação entre o Governo Brasileiro e o Vaticano a coisa fica um tanto mais enrolada.

Desde a assinatura entre o Governo Lula e o Vaticano de tratados que buscavam minimizar a aproximação oficial entre o PT e fundamentalistas religiosos ligados ao neo-pentecostalismo a partir do reforço do reconhecimento de instituições educacionais e de “caridade” vinculadas à Santa Sé, reforço na isenção tributária de igrejas,etc, o Governo do Brasil buscavam elementos simbólicos que deixassem clara que as relações entre o Governo do Brasil e evangélicos não seriam as únicas que o Partido dos Trabalhadores travariam para manter um grau de governabilidade e de laços e alianças políticas com as bancadas ligadas às religiões.

Ao fazê-los, os tratados, o Governo Brasileiro iniciou um processo de aproximação que com o governo Dilma Roussef e sua boa relação com o atual Papa Francisco I, ganhou fôlego.

Ao mesmo tempo a Igreja Católica precisava também do Brasil para focar sua ação “evangelizadora” e fazer uma demonstração de força ao mundo exatamente onde as igrejas protestantes mais cresciam. E a JMJ deu a ambos um meio de fortalecer laços e de demonstrar poder.

As reações dos Evangélicos fundamentalistas não tardaram a aparecer e isso pode ter um preço na costura da ampla rede de laços e alianças que o PT e o Governo travaram para manterem-se governando uma coalizão outrora poderosa, mas que diante da reação popular parece ruir a olhos vistos.

Outro elemento desta relação foi a aposta da principal rede de televisão do País, a Rede Globo, na transmissão da Jornada Mundial da Juventude como evento prioritário, invadindo inclusive ou outrora sagrado futebol de domingo e carro chefe da emissora.

A emissora, que estava se aproximando das lideranças fundamentalistas e buscando um contraponto à Rede Record, e outras emissoras que centravam fogo em programas voltados aos evangélicos neo-pentecostais, pela via do mercado Gospel, ao partir para a transmissão do evento católico como foco prioritário de sua programação optou deliberadamente por fazer parte da órbita da política do Vaticano de demonstração de força no principal País Católico do mundo, o Brasil, que via o avanço das igrejas evangélicas e de pastores como Marcos Feliciano dizendo que a igreja Católica era uma religião decadente.

Esta aposta se deu ao mesmo tempo em que a emissora mantinha-se como porta-voz da polícia militar e do governo do estado no que tange à manifestações populares, ó rompendo quando as imagens que circulavam via redes sociais impediam uma luta eterna contra o óbvio. A mesma relação se repetia na relação da JMJ e a cidade vendida pelo prefeito como pronta para megaeventos, só rompida quando as falhas no sistema de transporte se negaram a acompanhar a venda do mundo da fantasia.

Dá pra fazer mais relações entre a emissora mor do Reino e o principal partido no Brasil de hoje, o Prefeito Eduardo Paes e o Governador Sérgio Cabral, mas fica para outra hora, deixando apenas a sugestão de quem recebe mais verbas do Governo Federal entre emissoras e empresas de mídia.

Este julho Papal criou muitas dúvidas, apontou cenários, revelou fraturas e caminhos que muitas relações entre quadros podem se dar. Indicou falhas no Rio como mundo perfeito que vendiam para Inglês ver.

Nós que fomos um Rio da mais perfeita governabilidade, acordamos e somos um Rio que protesta com Papa e tudo.

Nós, que fomos um Rio que amava Dilma, Cabral e Paes, acordamos gritando a plenos pulmões que o Papa é BOPE.

Nós, que fomos um Rio pintado à mão pelos melhores publicitários, acordamos com um Papa e a ideia de que somos um Rio menso preparado, mais cheio de lama e gás lacrimogêneo do que supunha a vã filosofia do coro dos contentes.

Nós, que fomos um Rio de obras, agora somos um Rio que pergunta onde está Amarildo?

Não há luz após o túnel

SEM_AGUA_395825217O cotidiano do Carioca é iluminado por um sol escaldante, por balas escaldantes e por um calor que percorre ano a ano a cidade com requintes de crueldade pra quem não sofre o bafejar da brisa marítima full time em seu dia a dia.

O epíteto “cidade Maravilhosa” cantado em verso e prosa no ufanismo abestado de nosostros esconde omissões e ironias. Omissões dado que escondem que esta cidade maravilhosa representa o erguer da cidade aburguesada da Zona Sul-Centro por um Pereira Passos, que ao demolir as ruas de um Rio antigo em busca da superação da colônia, não só demoliu e “modernizou” a cidade, como enviou vagas e vagas de pobres às distâncias dos subúrbios, zonas rurais da época (atual zona oeste) ou encostas das quais historicamente estes pobres eram atingidos por deslizamentos, frutos das fortes chuvas anuais, e ainda eram culpados disso pelos veículos de comunicação e pelo poder público, como ainda são.

imagesEnquanto a mídia carioca bovinamente e bovinizantemente canta loas à sua “cidade maravilhosa” todo dia falta água, todo dia falta luz, como já dizia a piada histórica que o povo suburbano cantava em paródia à famosa marcha também chamada “Cidade Maravilhosa” ao dizer “Cidade Maravilhosa cheia de porcaria, de dia falta água, de noite falta energia”.

É claro que a crítica honesta e irônica do povo carioca, tradicional veia de resistência de quem tanto sofre/sofreu nas mãos de um poder público que emulava/emula a feitoria da época da escravidão, é bem vinda, só que essa ironia também esconde uma certa parcimônia com o lidar com os conflitos inerentes à ausência de serviços públicos dignos, nem cobro de qualidade apenas dignos, a toda a massa que além do túnel Rebouças repousa seu status de maioria da população em uma cidade aquilombada, abandonada e deixada à própria sorte da manha, da graça, da raça e dos dribles necessários à truculência da polícia, da milícia, do medo, da dor.

EnergiaEssa parcimônia não veio do nada, não veio de uma característica inata, “natural”, de um povo, nem tampouco é fruto do encanto pelo belo quadro geográfico que nos cerca, mas é fruto também de violências e sevícias históricas que um povo dolorido é submetido desde antes de uma Revolta da Vacina quase oculta da história.

images (1)Essa parcimônia é fruto da pesada carga de convencimento e malandragens da resistência cotidiana que em suas próprias regras e formas dá um jeito de subjugar o público em torno de negociações semi-privadas, ou de uma privatização coletiva e marginal, feitas em uma quase leitura popular do liberalismo histórico que cerca o projeto de cidade nascido com a República.

Se o poder é liberal em sua robusta política de Robin Hood ao contrário, construída em torno da privatização da res publica em prol de sua transformação em síndico da zona sul sociológica, o povo é liberal na tradução de uma única forma real de combate a seu abandono: cria-se leis próprias que abraçam a coletividade em torno de gatos, de fechamentos de rua, de festas barulhentas, de fogos, de kombis e vans, de mutretas, de malandragens, de controle social comunitário da vida cotidiana.

sergio-cabralEssa tradução do liberalismo do poder é óbvio que não cabe apenas em boas iniciativas, também alimenta o ilegal e violento esporte das milícias e tráficos. Também alimenta clientelismos, trocas, fisiologismos. Essa tradução torna o Rio de Janeiro uma cidade bárbara, que alimenta a morte de Traficantes Matemáticos como se fosse troco de bala, e assassinatos de líderes comunitários, crianças, como efeito colateral da necessidade de manutenção da máquina de uma (in) segurança protetora das fronteiras da orla e cuja lei naturalizada pós-túnel Rebouças repousa no altar do “é assim mesmo”.

Enquanto isso a cidade convive com a considerável piora do já imenso descaso de serviços públicos como Light, Net, CEDAE com o lado que menos importa da cidade, o lado que turista não vê.

images (4)Enquanto isso o prefeito se esconde, o Governador se omite, a sociedade assiste sem reação à manipulação cotidiana de suas principais emissoras de TV, dos principais jornais, mas todos gritam em uníssono “imagina a festa”.

Não há luz no fim do túnel, não há luz após o túnel, nem água, nem dignidade possível, nem transporte, nem escola, nem saúde, muito menos paz.

images (5)A pacificação prometida é ocupação, a modernização prometida não é para o nosso bico.

Há parques, mas não há água. Há parques, mas não há energia e pra festa, desculpem, não fomos convidados.

Quem vigia os financiadores de campanha?

Marcelo Odebrecth, nomeado pela revista Isto é, como construtor da copa
Marcelo Odebrecth, nomeado pela revista Isto é, como construtor da copa

A frase tomada como título a este texto é prima do epíteto que Alan Moore usou como mote para sua obra-prima Watchmen e que consistia na frase em inglês “Who Watch the Watchmen?”, que vem a Ser “Quem vigia os vigilantes?”.

Tomo emprestado o epíteto como uma forma de refletir sobre quem toma conta das necessidades de cidadãos em um país loteado desde as privatizações primevas feitas pelos tucanos entre empreiteiras, teles e empresas que tornaram-se sócias dos governos que se seguiram no gerenciamento cada vez mais capacitado do capitalismo.

Metro_RioTeles, empreiteiras, proprietárias de redes inteiras de transporte rodoviário, aeroviário, sobre trilhos, barcas, fornecedores de energia elétrica são, especialmente no paraíso neoliberal brasileiro chamado Rio de Janeiro, livres de qualquer regulação real e são quase que entidades inimputáveis no quadro da dita república federativa do Brasil.

Experimente viver fora das bolhas de prosperidades das grandes cidades, como a Zona Sul Carioca, vá para o subúrbio das grandes cidades e se dê conta de como é precário o atendimento das empresas de telefonia, água, energia, transporte e como o descaso das “concessionárias” é nítido, criminoso até, e contando com a omissão do governo e agências reguladoras, chega a ser um escárnio.

superviaQuaisquer reclamações efetuadas com as agências reguladoras tendem a serem tratadas como nada, nenhuma multa, nenhuma suspensão de concessão, nada é feito, tudo ocorre em um movimento simplesmente burocrático, pró-forma, sem nenhuma ação direta de punição à cobrança por serviços jamais prestados, seja pelas NETs, pelas Lights, pelas Supervias ou pelo Metrô.

netDesde que passei a morar em Oswaldo Cruz as faltas de energia são semanais, a NET age como se estivesse doando gratuitamente o sinal de internet e telefone e como se o que pagamos fosse uma doação feliz. Água? Conte com a CEDAE para uma falta de fornecimento por mês mais ou menos. Transporte? Além das máfias de ônibus e vans contamos com a ineficiência dos trens, que lotados conseguem não respeitar nem o próprio regime de intervalo vendido pela concessionária como a nova panaceia para a resolução de todos os nosso problemas.

Os ônibus são velhos e os motoristas entendem mesmo que estão fazendo um belíssimo favor de parar para o trabalhador/estudante/idoso que está ali no ponto para se deslocar para algum lugar que obviamente atrapalha seu passeio diário pelos subúrbios do Rio. E olhem que não estou falando do pior quadro de serviço da cidade, estou falando das proximidades do Parque de Madureira, menina dos olhos do alcaide Eduardo Paes, que obviamente no pós-campanha voltou a seu posto de gerente de balcão de negócios e esqueceu que tem de governar a cidade e encarar de forma dura o mau uso das concessões que o município entregou.

E quando chove temos um quadro absolutamente nítido do desgoverno desta cidade que é a menina dos olhos do país no que tange ao projeto de ocupação urbana, transporte e modelo de negócios baseado em cidades-mercadoria. Tudo para! Trem, ônibus, metrô, telefonia, TV, internet, energia e por vezes água. Se na menina dos olhos do projeto de cidades-mercadoria isso acontece, imagina as cidades com menos recursos, menos mídia, menos holofote? Pois é, imagina na copa.

Logo Preferencial 2010 1 (1)E se olharmos os proprietários dos serviços citados o que achamos? OAS, Odebrecht, CCR, Globo, CEMIG e por ai vai. Depois um exercício bacana é comparar a lista das empresas que obtêm concessão para os serviços essenciais com a lista dos doadores para as campanhas de Dilma Roussef e Lula, Eduardo Paes, Sérgio Cabral, Aécio Neves, Márcio Lacerda, Haddad, Serra, Eduardo Campos, tirando como exemplos os principais quadros partidários dos principais partidos do país. Fazendo este cruzamento o que achamos? Opa, pois é, não é uma linda coincidência encontrar em listas diferentes nomes similares? E o mais legal é que a matriz ideológica dos diversos candidatos não inibe ninguém de doar, não, mano. a doação não entra no Fla x Flu que Tucanos e Petistas, aliados e oposição, fingem existir.

jslzpvComo dizia Plinio de Arruda Sampaio: empresa não doa, investe! E esse investimento parece bom, porque as mesmas empresas doam para todos e “coincidentemente” conquistam lucrativas concessões, como a da Supervia cujo governo do estado do Rio de Janeiro concede o serviço de trens urbanos e compra trens urbanos para a empresa concessionária, não é lindo? Cabral é um bom amigo de seus amigos, Eike tá ai pra não me deixar mentir.

CCR-Ponte-Cameras-1E por isso devemos nos perguntar quem vigia os financiadores e mais, quem financia os financiadores, pois um dos adágios contra o financiamento público de campanha dito e repetido pelo senso comum é o “Não vou gastar meu dinheiro público pra eleger safado!”. Ah, é? Ok, então você não vê que já faz isso ao eleger A ou B que tem sua campanha financiada por empresa A ou B que posteriormente recebem recursos públicos para efetuar serviço A ou B?

A matemática não é tão difícil e temos exemplos: Olhem quem financia as campanhas, olhem seus contratos com o poder público, olhem o quanto recebem do BNDES e tirem suas conclusões. Um exemplo bacana é o Maracanã, quem reconstruiu, quem vai recebê-lo quase que como doação para lucrar pro mais de 30 anos e quais as relações de todos entre si, seja como doadores/concessionários, seja como receptores/poder público. São todos muito amigos, tutti buona gente.

imagesE você povo? Como fica? Provavelmente pegando trens lotados, que passam em intervalos de tempo abusivo, ônibus que deviam ser jogados como sucata, água que falta sempre, luz que falta sempre, internet e telefone de péssima qualidade que é preciso um gasto de tempo que muito pouca gente tem para encher o saco e obter a manutenção adequada, e cai bem processos cíveis também , que são pra poucos, para deixar claro que o cliente não é, ou não deveria ser, gado.

supervia2Enquanto isso o dinheiro público, que parte do povo acha que não deve ser usado pra financiar campanha, é gasto em reformas de estádios  como o Maracanã cujas reformas de 1997 para cá custam, se somadas, quase que dois bilhões de reais, e nesses estádios o povo não terá como pagar pela entrada, aquisição de trens para concessionárias que o chicoteiam, obras faraônicas que funcionam por seis meses e depois voltam a estado de caos que ao pobre é tão familiar que ele entuba como se fosse da vida e por ai vai.

Quer entender como funciona o jogo político e quem é o culpado pela sua falta de luz, internet e telefone? Siga o dinheiro. Ele vai revelar que o culpado tá muito longe de ser o péssimo e mal pago atendente da operadora, mas talvez seu amigo vereador, deputado, prefeito, governador, presidente que você elegeu e cuja campanha foi paga por um dinheiro privado que o doador vai receber com juros via obras públicas.

E isso não vai mudar enquanto o financiamento público de campanha não for resolvido, enquanto os serviços públicos não forem realmente fiscalizados e terem de forma transparente seu exercíco à disposição da população.

images (1)Mas não espere que isso mude através de Dilma, Aécio, Eduardo Campos, Paulo Bernardo, Serra, Haddad, Eduardo Paes, Sérgio Cabral, Lindbergh, eles não vão mexer nos seus sócios, seus financiadores, eles não são loucos.

A Ética Protestante, o espírito do capitalismo e a cidade-mercadoria

images7Feliciano fez muita coisa pra levantar bundas das cadeiras da militância virtual. Na trajetória na direção da conquista da CDHM da Câmara, que li outro dia que foi o maior cargo assumido pelo PSC na história da república, o Pastor dublê de deputado pisou em muitas mãos, acordos, noções, sensos, entendimentos, culturas, minorias e bom senso.

Se à primeira vista Feliciano conquistou algum sucesso ao catalisar todo o arcabouço de intolerância reacionária sobre seu nome, alegrando os demais fundamentalistas de seu partido que miraram ai o sucesso eleitoral arrastando outros iguais, em um segundo momento a falta de mediação do Deputado-pastor levaram a um recuo de setores conservadores que entenderam que limites estavam sendo ultrapassados até pra eles.

imagesO que parecia ser um alento para que escoasse o chorume racista e homofóbico da sociedade brasileira traduzido em votos começou a exalar o cheiro de uma podridão que tradicionalmente é colocada em formatos mais próximos à educação alimentada com gagau de uma elite branca afeita a maneirismos europeus decorada com consumismo estadunidense. E este mal cheiro incomoda as festas dos Cowntries, das cervejarias que tocam Paula Fernandes e às quadras de Squash.

financesSe Noé amaldiçoou Cam na Bíblia, a repetição ad infinitum disto como arma para a atração do conservadorismo para suas urnas deu a Feliciano uma maldição do cão ao colocar em seu pescoço o cartaz da insatisfação que percorreu os setores médios da sociedade e não convenceram aos setores mais pobres que aquela menção a Noé não era racismo. Feliciano virou mais que um defensor da Família, virou o estereótipo boquirroto do sujeito que chuta a santa, do que humilha a mãe do aluno cotista ao fazê-la entrar no elevador de serviço.

Esta ausência de senso, de cálculo político, não garante que Feliciano e seu PSC não tenham sucesso nas urnas, mas restringem o tamanho destes no âmbito da possibilidade de ocupação de posições na institucionalidade. Pra ir além de mandatos de deputado é preciso distensionar radicalismos e avançar em mediações e o PSC age como seita à direita, ocultando-se no gueto obscurantista, como um PCO com sinal contrário. Vejam onde está o PCO e tirem suas conclusões. Se isso não garante nem 2014 que o PSC perca seu papel ainda funcional nos arcos de alianças do poder, a insistência nesta fórmula tende a fazê-lo no futuro.

images5Outras questões também surgem no caso Feliciano e para outros aspectos do campo ideológico da política Brasileira e uma das mais importantes é a da dificuldade de entendimento do problema como um problema político de espectro variado e não só um “desvio da fé verdadeira”.

A esquerda tradicionalmente tem dificuldade de lidar com as religiões, as militâncias de Gênero e LGBT mais ainda, dado que são as vítimas prioritárias do ódio religioso fundamentalistas. Ao juntar o “Religião é o ópio do povo” com a reação dos atacados, a bomba atômica que se gera tem efeitos bastante danosos na construção de uma resistência duradoura ao avanço conservador.

A primeira coisa que assusta é o entendimento da teologia da prosperidade para além dos preconceitos que a envolvem e da tradição protestante. Ao comprar a dicotomia alimentada pelas próprias denominações protestantes em sua disputa intestina sobre o domínio da “pureza da verdadeira fé”, parte dos ativistas acaba comprando a briga da desqualificação de uma teologia sobre a outra e um lado numa disputa que se é aceitável como tática política anti-obscurantista não pode se tornar um hábito que contamine a análise e impeça o entendimento da legitimidade de qualquer viés teológico enquanto parte da fé.

puritanosSe a teologia da prosperidade é diferente de teologias mais libertárias e portanto é um elemento teológico conservador que isso seja dito sem no entanto reduzir sua legitimidade enquanto teologia como menos pura em comparação com outras vertentes. Se a Teologia da Prosperidade é alinhada com o avanço conservador que seja combatida politicamente pelo ataque ao estado laico e não porque é dispare teologicamente com relação a outras vertentes.

A teologia da prosperidade tem tanta legitimidade quanto a teologia da libertação, lados opostos da interpretação teológica do cristianismo, e esta legitimidade é dada primeiramente pelos fiéis que as adotam e também pela própria liberdade de interpretação das escrituras conquistados no pós-reforma e que até ao Vaticano influenciou.

MaxWeber2A teologia da prosperidade inclusive é claramente uma adequação ao mundo capitalista de hoje da ética protestante presente no espírito do capitalismo conforme apontado por Weber. Se Weber não previu que a teologia da prosperidade seria uma feroz defensora do consumismo e do sucesso aparente, da felicidade como um dado que deve transparecer, ele também não havia previsto que o conjunto de valores que sustentam o capital se transformaria em uma nova lógica publicitária, especulativa. Weber aliás não previu nada, analisou o mundo à sua época e percebeu a vinculação direta entre Capitalismo e Protestantismo.

A própria lógica de ocupação de cargos públicos e atuação para que a lógica protestante, seja neopentecostal ou não, seja um dado absorvido pelo estado tá ali e tá no destino manifesto, na predestinação protestante ao sucesso,que hoje com roupa nova embarcam na teologia da prosperidade. Ou seja, a teologia da prosperidade avança numa leitura da fé e numa “linhagem,” ideológica vinculada à religião não exatamente fora do que o Calvinismo pregava.

Como já escrevi em outro texto: A teologia da Prosperidade é uma leitura do capitalismo de hoje a partir da fé, como antes o mesmo protestantismo foi uma leitura pelo capitalismo e esteio ideológico deste no âmbito da fé, dos aparatos de dominação e hegemonia ideológica. A teologia da Prosperidade é pro capitalismo de hoje o que os puritanos estadunidenses forma na formação das treze colônias. Não à toa os ramos que formaram o neopentecostalismo vieram dos EUA.

tio-patinhasAssim a Teologia da Prosperidade tem o mesmo valor teológico que o Anglicanismo ou o Luteranismo ou o Presbiterianismo, não pode ser colocada como uma fé menor ou distorcida, o que não significa que não possa ser combatida. Só que combater a teologia da prosperidade não muda o fato que é uma manifestação pela fé de uma lógica ideológica fundada no sistema capitalista, ancorada nele. Torná-la “ilegitima” ou “distorcida”, não muda o fato dela ser um elemento de aglutinação e doutrinação ideológica capitalista. Usar outras denominações para colocá-la como “ilegítima” e “distorcida” não muda o eixo que pouco interessa politicamente de desqualificação intestina e briga por uma “verdade” e “pureza” que só interessa e funciona dentro dos que acredita naquele conjunto de normas e valores chamado religião protestante.

Combater a teologia da prosperidade a partir do plano teológico e valorativo, dando a ela o valor de teologia ruim, só é repetir com sinal inverso o acirramento surdo-mudo que Feliciano faz, o mesmo preconceito. Atribuir a uma forma pensamento a pecha de “ilegítima” e isso porque “pede dinheiro aos fiéis”, ignorando que os fiéis conscientemente, sem estarem drogados ou hipnotizados, entendem aquilo como legítimo, se baseando na noção de legitimidade de denominações religiosos “adversárias” não ajuda a compreender a estrutura de construção POLÍTICA daquele aparato de reprodução de ideologia chamado religião pelo viés da teologia da prosperidade, configura o assumir de um preconceito de outrem e pouco auxilia ao combate a ela.

images6Se o combate à teologia da prosperidade fosse feito através do eixo da reprodução de preconceitos que ela o faz, e quando o faz, e pela via LAICA, ou seja, abrindo mão do uso valorativo da outras vertentes teológicas para desqualificá-la, mas usando o âmbito do direito para a discussão, o combate paulatinamente muda de figura e tende a conquistar adeptos até dentro do eixo da teologia da prosperidade.

Ao deixar de assumir discurso alheio de transformação da teologia da prosperidade em todos os males do mundo, mas entendendo-a como um elemento legítimo do mundo e que se alinha POLITICAMENTE à ala mais reacionária do contexto político Brasileiro, colocamos nas mãos e ombros dos próprios teólogos da prosperidade a responsabilidade sobre a guinada conservadora que parte deles faz, os responsabilizamos por isso, dando a eles parte da conta que Feliciano produz em suas declarações.

images3A legitimidade ou não da Teologia da Prosperidade deixa de ser a questão, deixa de aglutinar em apoio à teologia o mar de complexidade que a compõe e tensiona-a internamente, colocando em discussão interna a eles todo o espectro de responsabilidades que deve ser dividido pro todos eles e que nem sempre é assumida como verdade por todos eles. Ou seja, a IURD pró-aborto e claudicante no combate à homossexualidade passa a ser alinhada à mais feroz misoginia e homofobia do PSC, dos Felicianos. Ela o quer? Duvido.

Tomar uma posição e um juízo de valor enquanto posição pessoal não pode contaminar a análise, não pode cegar às responsabilidades do que dizemos e pensamos, da tática para combater o avanço conservador, sob pena de desqualificar a luta como um todo e diminuir o problema estrutural que gera a Teologia da Prosperidade.

images8Tratar com preconceito com sinal trocado a fé alheia não ajuda a combater o preconceito contra orientação sexual, raça ou gênero. Ao colocar um juízo de valor, o julgamento, de que uma teologia é “distorcida”, “Falsa”, qual a diferença que criamos com quem trata orientação sexual como “moda” ou algo que pode “transformar nossos filhos em gays”?. Tratar uma denominação religiosa como “Falsa”, “feita de estelionatários” também não é desprezar o tamanho e o peso, numérico até, dos que a abraçam e optar por erguer um muro maior do que o que já há entre nós e eles, impedindo qualquer tipo de construção de uma cunha no conservadorismo que ali brota?

images2Ignorar que a teologia da prosperidade mobiliza milhões e chamá-la de falsa não é ignorar também que estes milhões se sentem atingidos por estas adjetivações assim como todo ativista libertário se sente ofendido pelos absurdos de Feliciano? Esse sentimento não ajuda a diminuir a possibilidade de convencimento da sociedade Brasileira, composta pro um grande número de evangélicos e com maioria deles parte de denominações relacionadas com a Teologia da Prosperidade? Ao tratar toda a Teologia da Prosperidade como falsa, e como feita de Felicianos, que tipo de diálogo se põe para os setores médios destas denominações? Colocar todos no mesmo balaio não me parece sábio.

Até porque a opção de tornar o palco religioso como o palco principal do festival garante um belo espantalho para todo o resto do eixo de combate contra o avanço do conservadorismo, que não é só religioso e comportamental, mas também econômico, ambiental e legal.

Enquanto combatemos exclusivamente a teologia da prosperidade os Blairo Maggies assumem as comissões de meio ambiente do Senado, o pau come contra índios na aldeia Maracanã e o capitalismo, pai dileto da Teologia da Prosperidade, continua com suas remoções, sua política de segurança racista,etc. Além disso, a homofobia disfarçada da política do Governo Dilma, segue em seu misto de recuo com omissão enquanto satanizamos a teologia da prosperidade e segue a aliança entre a máquina estatal e o ruralismo concedendo migalhas ao fundamentalismo religioso como artifício de divisão dos movimentos sociais que centrando suas energias num ponto deixam correr solta a política de pau no lombo dos que ainda se levantam pra combater Belos Montes.

images4É claro que o combate a Feliciano deve continuar, mas indo além, combatendo também quem o pôs lá e não só o PT, mas a aliança entre PT e o Ruralismo, Bolsonaros, todos os que fazem parte de uma base de sustentação não do Governo, mas de um projeto de capitalismo que se faz presente na lógica de cidade mercadoria e de Estado como secretário de empreiteira.

Para que esse combate se amplie precisamos xingar menos o fiel da assembleia de Deus, que é removido da favela ou que faz parte do MST, de idiota, ilegítimo e distorcida, e procurar mostrar pra ele o quanto o pastor dele de alguma forma, mesmo sem querer, ajuda a manter a lógica econômica que o tira de casa, da terra e lhe deixa só com seu Deus pra resolver os problemas.

Brasil: Um País de esqueletos no armário #desarquivandoBR

tumblr_m2clmrKfeC1qejpkbo1_500A história do Brasil é repleta de esqueletos no armário, do impedimento do encontro das muitas faces da verdade ocultadas em armários, gabinetes, medos e pavores dos que comandam a pátria mãe tão distraída.

Da Abolição a Canudos, do Contestado à Revolta da Vacina, da Revolta da Chibata à Vargas, de Vargas a 64, de 64 até 2013, o número de esqueletos no armário só aumenta, fazendo com que o país necessite de muitas comissões da verdade para extirpar as manchas indeléveis que permanecem nítidas em sua história e são reproduzidas no cotidiano da sociedade através das eras.

Charge 1As torturas nas delegacias de hoje são frutos da reprodução das práticas das tantas ditaduras ou do passado escravista onde o outro devia ser reduzido pela dor à uma peça obediente para que o controle social fosse efetivo?

As mortes cotidianas de jovens negros são fruto da política das ditaduras sendo mantidas com as mesmas táticas e diretrizes ou da criminalização de negros e pardos como pobres, e portanto criminosos, que se iniciou ainda no pré-abolição?

imagesA secessão entre pobres e ricos, as restrições de protestos, as restrições de expressão, a violência cotidiana com relação a direitos das minorias majoritárias, a manutenção na porrada dos padrões de comportamento em uma disciplina social ferrenha, autoritária e violenta são fruto dos resquícios da ditadura de 64 ou dos muros invisíveis erguidos para justificar a escravidão e manter o controle social sobre escravos, pretos, pobres e mulheres por uma sociedade escravista onde o macho adulto branco não fazia a menor questão de não reivindicar seu lugar no topo da cadeia alimentar?

São muitas as perguntas e nenhuma das respostas deveria ignorar que cada esqueleto guardado no armário torna o Brasil um país com uma das sociedades mais injustas do mundo, e que não só não resolve seus problemas do passado como se esforça para alimentar o faminto armário de mais esqueletos para a manutenção da nódoa de lama e sangue a qual nomeia História.

images3A manutenção dos ossos no armário não permite o reconhecimento da história do Morro da Providência e a presença fundamental daquela população onde está para manutenção da memória dos primeiros atingidos pelas inúmeras reformas urbanas do Rio de Janeiro e pela memória da guerra do Paraguai e Canudos.

A manutenção dos esqueletos no armário permitiu que João Cândido morresse na miséria, sendo mantido pela marinha como criminoso, mesmo tendo sido um herói da luta antirracismo naquela força armada.

jt11_ditaduraA fome do armário de ossos também mantém a lógica de resistência a uma fictícia guerra entre comunistas e a “nação” que produz Bolsonaros e Felicianos e também mantém Canudos e Contestado como anátemas para um exército acostumado e pisar na cabeça da população que cisma em fugir de uma ordem platônica erguida pela corporação e cujo lema Ordem e Progresso não se furta a atropelar peles pretas e pobres que por acidente estejam em seu caminho.

militaresarquivosditaduOs esqueletos no armário também mantém até um governo, onde boa parte de seus membros é vinculado diretamente à resistência contra a ditadura de 1964, refém de um pragmatismo torpe e cúmplice da manutenção dos esqueletos dos mortos e desaparecidos pela ditadura militar ocultos sob camadas e camadas de arquivos fechados e cujo teatro da Comissão Nacional da Verdade nem de leve pensa em remover o pó que os oculta, um pó repleto da tradicional injustiça de nosso Estado, de nossa Pátria, que devia ser fratria e nem mátria é.

ditadura1Enquanto os homens exercem seus podres poderes o armário permanece alimentado de esqueletos, alguns muito antigos, e o país rico, que se pretende sem pobreza, segue batendo em índios, negros, gays e mulheres. Segue mantendo a injustiça e prosseguindo sob uma lenga lenga de “Mudamos a vida das pessoas” deixando os rastros de sangue de uma ausência de qualquer mediação entre a violência conservadora do status quo e os inúmeros atingidos pelo seu voraz caminho de enriquecimento dos barões e amigos do rei.

esqueleto limparEnquanto os homens exercem seus podres poderes e buscamos fazer renascer nosso carnaval o grito de “Apesar de você” segue preso numa garganta acostumada a romper o silêncio da paz de cemitérios que é nosso país na marra, na rua, numa raça que só quem possui a estranha mania de ter fé na vida poderia ter.

Os arquivos são muitos, os esqueletos são muitos e serão mantidos fechados enquanto não entendermos que a morte dos Juvenais e Raimundos, de tantos Julios de Santana, se refletem no Xingu, em Belo Monte, na Providência, em Manguinhos, no Capão Redondo, em Porto Alegre, no Mato Grosso, na Avenida Paulista.

frase-se-voce-nao-se-pode-livrar-do-esqueleto-que-esta-no-seu-armario-e-melhor-que-o-ensine-a-george-bernard-shaw-154307Para amanhã ser outro dia é preciso que entendamos quem manda na chave dos armários onde os esqueletos estão guardados, é preciso que entendamos quem se mantém guardando os esqueletos desde o Império e ainda hoje, em um governo do ex-Partido dos Trabalhadores, possui o poder para continuar alimentando-o com novos ossos.

ditaduraÉ preciso que lembremos sempre a memória de tempos onde lutar por seu direito era um defeito que mata, e para isso é preciso que lembremos o tamanho do armário de ossos, os tantos ossos ali ocultos, que lembremos quem guarda a chave, para que o abramos e deixemos sair nossos heróis que não morreram de overdose, mas de História, e nos aguardam para que os façamos ver o sol nascer a nosso lado, como memória, como verdade, como justiça.

Post participante da VII Blogagem Coletiva #desarquivandoBR..

Falta mais que água no Rio de Janeiro

f_118488Qualquer historiador meia boca que tenha contato com a história do Rio de Janeiro sabe que falta de água é um problema gigantesco, antigo e perpetuado na cidade. Apesar das obras de Carlos Lacerda terem minimizado o problema ao efetuar a construção do complexo do Guandu, os problemas não foram interrompidos, especialmente na ampla área territorial que compreende as zonas norte e oeste.

Nos últimos vinte anos, no entanto, o crescimento da cidade ampliou o problema e a ineficiência na gestão da CEDAE pelo governo do estado, com a cumplicidade omissa dos diversos mandatos que passaram pela prefeitura, foi também ampliando.

Desde os (des) governos Garotinho e Rosinha a CEDAE passou por um processo de transformações que, mesmo com a renomeação para nova CEDAE, não só não alterou o quadro de problemas no abastecimento de água como apontam para uma preocupante lógica de desmonte com precarização que classicamente precedem a privatização dos serviços de água e esgoto do Estado.

EduardoPaes2A partir da lógica privatizante clássica do neoliberalismo maquiado pelos (des) governos aliados do social liberalismo petista, os serviços de abastecimento de água e esgoto pioraram demais nos últimos anos.

É naturalizada a falta de água no subúrbio e na zona oeste, assim como são naturalizadas as práticas de descaso completo com o atendimento das reclamações e com explicações a respeito da falta de água.

Com as obras das Trans (Transcarioca, Transoeste) o problema aumentou e sem nenhum tipo de explicação por parte dos órgãos públicos e concessionária. Há informações de interrupção do fornecimento de água entre dez horas da manhã e onze horas de noite, cotidianamente, para desespero da população que sofre para tomar um mísero banho, especialmente no alto verão da cidade.

S_rgio_CabralPara completar o descaso a falta de energia virou um hábito nas zonas norte e oeste, com a Light, concessionária (ir)responsável por este serviço, atuando de maneira incompetente e de forma até insidiosa buscando a partir de registros individuais de ocorrência categorizar os problemas como de foro individual, casa a casa, quando na maioria das vezes é regional, atingindo de quatro a oito quadras até mesmo a bairros inteiros destas regiões.

Assim nem o hábito do uso de bombas d’água pelos moradores, calejados na situação de falhas de abastecimento, consegue dar conta desta tragicomédia cotidiana.

imagesAlém da gravidade óbvia do péssimo serviço a omissão das autoridades é gritante. Não se vê o recém reeleito prefeito Eduardo Paes, eleito capitaneando um amplo consórcio eleitoral com dezenove partidos, ter qualquer tipo de ação que atue de forma a exigir que os habitantes da cidade não sejam expostos a tal descaso. Menso ainda se vê, lê ou ouve qualquer fala do atual (des) governador Sérgio Cabral diante da óbvia incompetência e desrespeito da concessionária que pretende privatizar no que tange ao atendimento da população.

imag7esTalvez por estarem mais interessados na venda da cidade, na privatização dos serviços e no atendimento dos interesses de amigos empresários como Eike Batista e de empresas como a Delta, a CCR (Afiliada Odebrecht), os atuais mandatários prefiram ignorar a população que majoritariamente os elegeu e manter o lucrativo plano de responsabilização da Copa do Mundo e das Olimpíadas pelas ações que interessam a seus parceiro$$ e que tornam a cidade mais palatável ao visitante estrangeiro e à ciranda lucrativa que com lenços na cabeça zombam do trabalhador que diariamente sofre com sua interessada omissão.

images2Diante disso o que esperar das agências reguladoras que atuam menos no sentido de promoverem ações e mais no sentido teatral de fazerem cena, escada, para a permanência da lucratividade de concessionárias incompetentes?

O que esperar do consórcio presidencial, também sócio de prefeitura e governo do estado, que se diz voltado à “transformação da vida dos mais pobres” e que se cala diante do descalabro que está em curso no Rio de Janeiro?

Absolutamente nada.

sergio-cabral-filho-0001Sócios do sitiamento da cidade pela Odebrecht-CCR, concessionária que atua em todos os modais de transporte de massa se não diretamente via metrô/Trem/Barcas como concessionárias dos pedágios do estado; sócios dos interesses de Eike Batista e Fernando Cavendish; sócios eleitorais e econômicos dos interesses de empreiteiras e bancos que os financiam nas eleições, e que são regiamente pagos por obras de extensão da tripa chamada metrô, Belo Monte,etc, os atuais governantes preferem calar-se e manter menos a governança que protegeria os mais pobres e mais a roda da fortuna atendida por suas ações.

25set2012---o-prefeito-do-rio-de-janeiro-e-candidato-a-reeleicao-eduardo-paes-pmdb-visitou-a-escola-municipal-andre-urani-na-comunidade-da-rocinha-1348581444786_956x500E diante deste quadro o que resta à esquerda é organizar a população e buscar resistir ao trator das reformas urbanas que só atendem os lucros e expõem a população a falta de água, à falta de luz, ao descasos dos transportes, ao avanço das remoções, ao tempo perdido em ônibus cheios e mal aparelhados, ao tempo onde é jogado como sardinha em lata nos vagões superfaturados de trens e metrôs.

Falta mais que água no Rio de Janeiro, falta muito mais.

images4Nos cabe enquanto isso lembrar ao Prefeito e governador que a memória popular, ao contrário do que diz o mantra despolitizado e conservador, se mantém viva, e costuma vaiar em blocos quando o sorriso cínico aparece no carnaval.

Omissões e assassinatos

Por Gilson Moura Junior

 

DILMA/SUPERSIMPLESEscolhas políticas tem peso dois na vida humana. E esta última entre opções políticas e vidas  se refletem cotidianamente.

Escolher o projeto do PMDB no Rio de Janeiro resulta em última análise em cumplicidade com o ônus e o bônus dos governos deste partido. Se o PMDB foi o partido que atuou na governança que em algum grau esteve presente nas tragédias das chuvas de 2010 e 2012, no estado e no município, as mortes advindas destas tragédias tem a impressão digital destes governos e deste partido.

Da mesma forma o homicídio contumaz, pra não dizer genocídio, de jovens negros e pobres nas grandes cidades têm a impressão digital dos governos que comandam as políticas destes estados e que não atuaram na transformação do papel das polícias que de capitã do mato virou agente de repressão da população pobre e negra com metodologia não muito diferente dos primeiros perseguidores de escravos fujões.

Lançamento do plano Agrícola e pecuário - Foto Wenderson Araujo (52)Se os governantes não puxam o gatilho ao menos são omissos quanto ao combate do papel exercido pela polícia que comandam.

Porém não basta culpar os governantes do PMDB ou do PSDB por uma característica quase inata ao que representam estes partidos, atores eleitos pela elite como porta-vozes de suas convicções e concepção de estado, é preciso estender a responsabilização aos neófitos na arte da representação da concepção de estado da elite que são os partidários do Partido dos Trabalhadores, outrora um partido de esquerda.

Usina-UHE-Estreito-do-Maranhão-Hidrelétrica-no-Tocantins-inauguração-da-UHE-Estreiro-presidente-Dilma-Rousseff-Siqueira-Campos-José-SarneyAlém disso, é preciso também entender que quem opta conscientemente por uma política de blindagem dos governos do PT, de qualquer esfera de estado (Municipal, Estadual e Federal) tem uma relação de cumplicidade última com o apoio ao latifúndio, ao agronegócio e com os ataques aos povos indígenas, quilombolas, às minorias LGBT e às mulheres. Ocultar os recuos do governo federal e governos estaduais e municipais em todas as questões que se relacionam com Reforma Agrária, LGBT, Quilombolas, povos originários e mulheres é ser cúmplices das ações destes governos.

12534111Ao omitir-se diante do envio das polícias para bater em professores na Bahia ou em Sergipe os apoiadores dos governos do PT são cúmplices da mão policial que empreendeu a repressão. Ao omitir-se de ações veementes com relação a uma crítica contundente quanto ao nítido recuo dos governos do PT ( Dilma só assentou mais que Collor, o pior até então) com relação à reforma agrária e com opção nítida pelo agronegócio, os apoiadores dos governos do PT tornam-se corresponsáveis pelo avanço da violência no campo a partir do crescimento do poder do latifúndio.

images (1)Ao optar por blindar os Governos do PT, o MST optou também por omitir-se diante do nítido avanço do papel dos ruralistas no governo que apoiam. O MST critica corretamente Katia Abreu e a vincula com Serra, a quem a senadora apoiou em 2010, mas ao omitir-se de efetuar uma avaliação crítica das relações carnais entre Dilma e Katia Abreu (E porque não dizer do PT) e o agronegócio, o MST contribui pelo engessamento da luta pela terra e para a exposição de lutadores e lutadoras ao avanço do ruralismo, do latifúndio, e este nunca avançou sem sangue.

images (3)Ao fingir não saber que a opção pelo agronegócio por parte do governo federal, que inclusive cogita nomear a senadora Katia Abreu para um ministério, o MST toma a esquerda e sua base por míopes. Em nome da opção pelo apoio e pela blindagem do governo do PT o movimento finge não ver a aproximação acelerada com o PSD que leva inclusive à presença entre os ministeriáveis de Afif Domingos, atual vice-governador do mesmo estado de São Paulo cujo governador é Geraldo Alckmin do “inimigo declarado” PSDB, o mesmo partido do “satã” José Serra. Além dos indícios acima a cogitação do PT-SP apoiar Gilberto Kassab para o senado em 2014 não é desconhecida dos meandros políticos, rifando Eduardo Suplicy.

imagesAo omitir-se diante do avanço nítido do agronegócio para a gerência do estado brasileiro com a cumplicidade do PT, gerência essa materializada pela aproximação com Katia Abreu, o MST se torna cúmplice do latifúndio pela via da omissão.

A cereja do bolo da contradição absurda de fingir não ver as relações carnais entre ruralistas e o desenvolvimentismo petista é o movimento usar a partir de um assessor seu o termo “invasor’ para se referir a sem terras ocupantes do instituto Lula em nome da blindagem do governo.

1507-3Ao usar “invasor” o movimento reproduziu o ataque do qual foi alvo durante toda sua existência e tendo sido a opção por uma mistura de partidarismo com resistência à ver seu nome, e suas relações, manchadas por uma ação de dissidência, o uso do termo torna-se ainda mais grave dado que sua utilização se fez a partir de uma atitude de baixa política.

images (2)Ao vincular a ocupação ao PSOL o movimento ainda optou pelo desvio de foco da questão grave que é o fato da ocupação ter sido feita a partir da ameaça de despejo do Assentamento Mílton Santos (assentado pelo INCRA durante o governo, Lula daí a opção pela ocupação do Instituto do ex-presidente) em um estado onde já tivemos Pinheirinho e useiro e vezeiro da utilização de feroz violência para expulsar ocupantes.

images (4)Neste contexto o assassinato do lutador Cícero Guedes, líder do MST, em Campos, Norte Fluminense, é um triste lembrete dos limites das concessões e blindagens, dado que a mão pesada do capital e do latifúndio não faz concessões aos oprimidos. Em meio à cálculos políticos, vítimas fatais seguem sendo feitas. Em meio à escolhas de cúpula, lideranças locais morrem. Enquanto a burocracia do movimento oculta às suas bases que o Governo federal é no mínimo cúmplice por omissão da opressão que as vitima, os latifúndio é estimulado a expandir-se, enquanto o recuo da reforma agrária, patente e escandaloso, é presenteado pela blindagem do maior movimento de luta pela reforma agrária.

Neste momento de solidariedade com todos os sem terra, em especial os companheiros assentados do assentamento Zumbi dos Palmares, que ocupam a Usina Cambahyba em Campos , não podemos esquecer de que poucos dias antes outros sem terra, que podem também serem vítimas da mão pesada do capital, foram vítimas da legitimação do rótulo de “invasores”, que tanto usa a mídia empresarial aliada do latifúndio, pelo próprio Movimento dos trabalhadores Sem Terra que pela sua inegável legitimidade os deveria defender.

Se não podia ou queria legitimar a ocupação, que a crítica não contivesse a desqualificação que a mídia busca ininterruptamente gravar nas mentes e corações da opinião pública como relacionada ao MST. Ao optar pela desqualificação que antigamente recebia, e em nome da blindagem do Governo do PT, o MST cruzou seu rubicão.

Lider_do_MST_Cicero_GuedesA solidariedade para com os companheiros do MST que perderam mais uma liderança neste cotidiano de luta contra o latifúndio não pode esquecer que mais mortes ocorrerão enquanto perdurar a omissão do maior movimento de luta pela terra no que tange ao combate ao imobilismo consciente do governo Dilma e do Partido dos Trabalhadores quanto à reforma agrária.

Escolhas políticas tem peso dois na vida humana, e muitas escolhas causam morte. Para evitá-las é preciso que a solidariedade não se torne muda, acrítica e perdure na sustentação de omissões.