Bolsonaro e Stephen King

Há um lugar comum nas histórias de Stephen King que é o mal que surge e age de forma insidiosa nas sociedades até corrompê-la ou ameaçá-la de forma fatal.

 

Quem normalmente surge para enfrentar este mal insidioso e que se revela mortal é na maioria das vezes heróis da classe trabalhadora, clubes de perdedores formados por gordos, mulheres,negros, gagos, LGBTs, judeus e outras minorias políticas.

 

Seja em “It-A coisa” ou “A Dança da morte”, “Christine” ou “Carrie, a estranha”, o mal sempre é algo contido em uma série de fetiches ou perversões ocultas das sociedades ou de partes dela.

Este mal também está em “Zona morta’”, em que um político demagogo e popular é percebido por um vidente como o causador da destruição da humanidade pelo uso de armas nucleares. 

 

A luta contra o mal envolve professores, escritores, frentistas de postos de gasolina, bibliotecários,músicos, escritores, agricultores e outros tantos que percebem que o mal se insinua nas ruas, escolas, supermercados, no motorista que olha pro lado quando um jovem é esfaqueado ou um edifício finge que não vê abuso infantil.

 

No Brasil de 2022, a história real se assemelha àquela dos livros ficcionais de King, porque Bolsonaro encarna o resultado  do mal insidioso, que penetra nas famílias, igrejas, escritórios, escolas, universidades e apodrece o que toca.

 

Quem resiste a ele voltam a ser os heróis da classe trabalhadora, não só Lula, mas professores, frentistas, enfermeiros, escritores, artistas, gordinhas e gordinhos, negros e negras, LGBTs,mulheres, trans, judeus, hipocondríacos e outros tantos que entenderam o mal no interior de suas famílias,na perda de pais na pandemia.

 

Nestas eleições o clube dos perdedores venceu Bolsonaro, fez o Palhaço Parcimonioso gritar ao toque da coragem liderada por um ex-torneiro Mecânico presidente,por sem tetos e sem terras, por feministas, trans, lgbtqia+, negros e negras, indígenas que gritaram que não têm medo de Jair e seus truques de circo de horrores que chega com as pessoas de inverno. 

Os comensais da morte viram indígenas,pretos e pretas, LGBTQIA+, trans e trabalhadores sem teto e sem terra foram eleitos para ocuparem lugares antes impeditivos pra quem não latisse a gramática do fascismo.

 

Na marcha contra o ataque dos palhaços assassinos e genocidas, nossa canção os fez mexer seu saco de truques e tirar monstros do armário, mataram muitos, feriram orgulhos, dificultaram a vitória dos professores contra os assassinos,mas eles permanecem sangrando.

E se eles sangram eles morrem.

 

Ao contrário dos livros de King, nesta batalha nossos amigos jornalistas estão tendo setores grandes atrapalhando mais que ajudando ao enviesar a aposta analítica, dizendo que quando um dos nossos impõe uma distância de oito milhões de votos contra A Coisa, somos nós quem perdemos.

 

Não podemos cair nessa, temos que sair  na direção dos pântanos para mostrar pr’A Coisa que nossa unidade é nossa arma,nosso amor é nossa arma, nossa coragem é nossa arma,pois somos fortes juntos.

Isolados somos presa,juntos somos predadores.

Nossas armas são o amor e a inteligência.

Não podemos apontar com a mão, porque quem aponta com a mão esqueceu o rosto de seu pai.

Temos que apontar e atirar com a mente e não com a mão, porque quem atira com a mão esquece o rosto de seu pai.

Não podemos matar com as armas, porque quem mata com as armas esqueceu o rosto de seu pai, temos que matar com o coração.

Da Economia Moral da Multidão à Economia Moral dos Afetos

Há doze anos trabalhava como suporte técnico em uma empresa de informática e cursava com preguiça uma faculdade de História que achava que também não terminaria, como os cursos superiores que tentei antes. 

Há doze anos trabalhar era um penar, era como o mais desmotivado dos seres a caminho do abate, por melhor que o serviço fosse executado, bebia muito, vivia com uma raiva do mundo que mal me permitia afetos.

Até que recebi um convite para trabalhar com História, como consultor em patrimônio cultural, um dos muitos campos abertos pelos governos do PT e sua gestão da Cultura. Governos estes que desde 2003 recebia a oposição do partido, o PSOL,do qual faço parte.

Deste trabalho em diante, de 2009 para cá, a vida, a motivação, o horizonte, mudaram. Até o golpe em Dilma Rousseff de 2016, moro com uma companheira, me tornei pai de um filho autista, me formei, fiz mestrado, trabalhei até 2015 como consultor e ainda consegui uma das últimas bolsas disponíveis para mestrado durante o governo Temer. 

Do fim da bolsa, em 2019, para cá, o que veio foi desespero. Os cortes e a gestão desastrosa de Temer para a Cultura e a Educação parecem hoje um paraíso diante da conjuntura de desastre e eliminação de campos  inteiros da sociedade, da cultura e da economia sob Bolsonaro.

O que era esperança em 2009 e a conquista de uma maturidade que não havia, um sonho realizável, em 2021 o que temos é uma escuridão sem jeito, uma universalidade de trevas e dor.

Esse é o sentido na alma de quem viveu a política partidária e institucional de forma enfática e participante, de quem faz análise de conjuntura e tem tempo e até por questão de trabalho vive olhando os sinais com lupa. 

Essa é a memória de quem tem tempo e por ofício precisa ver os sinais das notícias, dos discursos, dos movimentos políticos, mas e a memória de quem mal tempo tem para sobreviver e respirar ao mesmo tempo?

É nesse sentido que precisamos tratar nas análises sobre a conjuntura, a economia, a política. É desse som que nossos ouvidos precisam se apropriar para entender o hoje e a ponte pro amanhã. 

E por que? Porque a economia moral da multidão oferece também uma economia moral dos afetos e das memórias onde o comer e o sorrir ganham significado parecido e onde o filho desempregado era o filho que entrava na faculdade, o primeiro da família.

Da esperança, mesmo uma esperança raivosa em 2013, que se entendia livre para dizer , que não era só por vinte centavos, à raiva rancorosa sem esperança de que se vinga de quem prometeu sonhos e não foi capaz de todos realizar, chegamos na desesperança desesperada e cujos sonhos voltam a aparecer possíveis no retorno de Dom Sebastião.

E não, não é uma crítica a Lula, pelo contrário, é um desenho de como os afetos da multidão migram da negação vingativa para afirmação da boa memória de um tempo onde comer era possível.

Comer, planejar uma carreira, sonhar com um lugar no mundo, tudo isso miou e virou cinzas sob chamas que queimam matas, cinematecas,museus, aldeias, que matam indígenas, que deixam por negligência uma montanha de cadáveres que tinham família, mãe, irmã, namorada e que poderiam estar vivas se Bolsonaro não fosse pelo menos omisso com ladrões de vacina.

Há no horizonte uma brecha pro sonho de comer e planejar o futuro, e esse poder da memória de um passado melhor, sob aquele que não é identificado com o PT que foi combatido em 2013, não pode ser negligenciado sob camadas de pensamento mágico que analisam uma retomada da economia que não passa pelos pobres e uma vacinação que não esconde os pais e filhos mortos, as mães e avós dizimadas por um governo genocida e que ria de quem morria de COVID.

Voto impresso, anticomunismo, tudo isso hoje é vinculado com quem dizia que não era coveiro enquanto as pessoas morriam de COVID. Falar de retomada da economia enquanto 19 milhões passam fome e 60% da população acha o presidente desonesto, mentiroso, incompetente e burro, é rir da inteligência da multidão.

E se não existe nenhum planejamento de retomada real da economia por investimento estatal, como se pode falar em retomada da economia? 

Se só o que se aponta são as malditas reformas econômicas, que empilhadas produziram o desgraçamento do país e o estrangulamento do estado, gerando zero emprego?

Como achar que haverá uma retomada real da economia, com crescimento real, abertura de postos de emprego, políticas de renda que vão além do aumento do Bolsa Família(que sem aumento da base recebedora tem efeito minúsculo no processo), se não há plano algum além de reformar mais o Estado?

E essas reformas são para gerar uma economia que só seria sentida na próxima década e ao custo de uma deterioração da capacidade de atendimento e investimento deste mesmo estado.

Enquanto isso, o pouco que o pobre recebe vai para comprar comida que aumenta muito mais que a inflação medida nos noticiários, e  quando o aquecedor ou o ventilador queimam ele precisa tirar o nada que recebe para comprar algo que aumentou mais de 100% em um ano, ou morrer de frio ou calor.

A Economia Moral da Multidão percebe a imoralidade cruel dessa lógica dos de cima, a Economia moral dos Afetos migra para quem aponta pro sentido cultural e pleno do comer, do sonhar, do amar, do sentir. 

E é por isso que fracassa o  dois ladismo, a falsa simetria, a canalhice de chamar de polarização a luta entre o nazi fascismo devorador de mundos e sonhos e a democracia pela esquerda de um projeto que entregou um país melhor do que recebeu.

Fracassa também o nazi fascismo em construir mais do que uma minoria de malditos canalhas que por misoginia, LGBTQIA+fobia,transfobia, racismo, xenofobia e masculinidade tóxica, pau pequeno físico e moral como resistência do que é a real salvação da civilização: a resistência anti opressão.

Talvez seja por isso que o mundo dos tempos expõe o ódio de classe de parte da suposta intelectualidade, do germe do fsascismo da imprensas dita liberal, que chama incêndio à estátua do Borba Gato de terrorismo e cala sobre a Cinemateca em chamas e monumentos à Marielle e Marighela sujos de tinta.

Porque os movimentos que põem para baixo as estátuas da supremacia masculina cis hetero adulta branca, expõem o pau pequeno moral de uma civilização que tem o focinho de porco de usar o fardo do Homem branco como álibi para destruição, são uma tsunami que ataca a longa duração. E da queda da Bastilha ao incêndio de Borba Gato tem muito mais ferramentas de onde saiu o movimento da vida que não quer e nem deixa que a vida seja sempre igual.

É a energia da transformação do desespero em sonho que vive a maldição de quem sustentou o nazi fascismo nos muitos poderes e é do desespero de quem se vê em queda que se alimentam sonhos de governos democráticos, para que sejam possíveis caminhos de debate das tantas formas de revoluções necessárias.

A Economia Moral da Multidão gera a Economia Moral dos Afetos, o entendimento econômico de onde investir sentimentos e energia que geram a produção mediada de novos campos dos sonhos. 

E nestes campos morre à míngua a indústria do ódio.

Mais que um golpe, o Brasil corre risco de colombianização

É bastante corrente em textos na imprensa, blogs e de analistas políticos o risco de golpe pró Bolsonaro em 2022.

Nas redes sociais o golpe substitui o fim do mundo na placa do velhinho americano que anda pelas ruas de Nova York anunciando “O FIM DO MUNDO ESTÁ PRÓXIMO!”, e pululam medos a partir de ameaças cada vez mais vazias de Forças Armadas e Bolsonaro.

Já escrevi algumas vezes a respeito porque meu palpite é o de que golpe se constrói, mas só se dá quando há força para isso e a força da ala das Forças Armadas mais arraigadamente pró-Bolsonaro se foi. E com os dados disponíveis nos artigos acadêmicos e na imprensa é difícil se perceber algo além de palpites que corroborem ou desmintam o meu.

Por que diferencio alas pró-Bolsonarismo das Forças Armadas? Porque entendo que esteja bastante explícito que não há essa unidade toda no interior das FA, como via de regra não há em campo social nenhum, tampouco uma unidade política global que o Bolsonarismo catalisa.

Como eu entendo isso? A partir de percepções que a gente vê da enorme diferença entre blocos do próprio Exército e entre as Forças Armadas pela História, coisas que vão desde como interferir na política até a concepção de composição étnico-racial de cada Força.

Há literatura e pesquisa de militares contra a ditadura de 1964, das divisões das FA desde 1954 a respeito da intervenção na política, sobre as distintas interpretações, pela direita, entre Jovens Turcos e Tenentes, a divisão entre militares nacionalistas e pró-EUA durante a transição pós ditadura Vargas e por aí vai.

A gente pode de saída distinguir qualquer grande campo social ou corporação a partir da ideia de que todo coletivo humano complexo contém dissidências. Mas pelas características implícitas nas Forças Armadas fica difícil mensurar o grau de diversidade e diferença de concepções em seu interior. E isso se complica mais ainda quando falamos das polícias militares, porque elas são mais diversas entre si e contemplam uma complexa rede de micropoderes que não respondem de forma orgânica a comandos centrais, além do fato de como todo organismo social de variada composição ter o germe da diferença e da divergência em seu interior.

Esse preâmbulo todo é para discutir aqui a potencialidade de um golpe em um cenário onde o governo derrete, ass Forças Armadas tem um apoio cada vez menor e tem digitais em toda a crise envolvida na pandemia e no vacinoduto.

Além disso, 51% da população brasileira declara ter medo das polícias.

Ou seja, se as Forças Armadas, mesmo gozando ainda de prestígio, vêem  este apoio popular derreter pela adesão ao bolsonarismo, as polícias mais ainda, como grandes forças de opressão à maior parte da população, recebem apoio da cada vez menor classe média de de uma classe alta que sempre adorou apoiar as forças de repressão a pretos e pobres que protegem seu patrimônio contra as hordas bárbaras que produzem sua riqueza.

Mas além da perda de apoio, para cada militar que arrota golpe, outros tantos sinalizam que preferem desembarcar do golpismo para tentar a sorte em outra canoa. Por amor ao país? Não, por medo da lama na cueca.

A fala de militares ameaçando as instituições são para atiçar o cagaço monumental que especialmente a esquerda tem das Forças Armadas, mas inspiram pouca confiança na própria força e alertam mais para sua fragilidade.

A ocupação em massa de militares do Exército em cargos de confiança no governo exṕlica a desenvolvura golpista de parte das Forças Armadas, mas as dissensões públicas dos comandos em episódio recente, a visita do comandante do Exército ao Piratini e até o corajoso discurso do general sem tropa presidente do STM ameaçando golpe se Lula for eleito explicam mais o mato sem cachorro que as FA vivem do que o contrário.

Pujol e cia lá atrás saíram para tirar o próprio da reta, mas significaram que vários tiraram o seu da reta com eles, o foco do golpismo e do bolsonarismo ficou com os militares da reserva e da ativa que bancaram Pazuello e escreveram uma notinha contra o Senador Aziz ontem.

Mas o mais importante é que golpe não só se constrói, mas se dá. quem pode dar golpe dá o golpe, quem ameaça quer ganhar tempo, e tudo o que o Bolsonarismo e as Forças Armadas pró-Bolsonaro não têm é tempo.

Para começar a elite empresarial e a imprensa já escolheram seu campeão: Eduardo Leite.

E com um campeão, com mais de um ano para construí-lo, o que se busca é primeiro ocupar o espaço que Bolsonaro deixará e em segundo lugar é ameaçar Lula à vera com a ampliação das dificuldades de acordo deste com a elite econômica.

E haverá espaço para ocupar o lugar de Bolsonaro? Será uma imensa surpresa se Bolsonaro chegar na eleição de 2022 capitaneando o vacinoduto que tem novos capítulos todos os dias e expõe inclusive as Forças Armadas à lama de uma corrupção que eles juravam que só a esquerda tinha em seu interior.

O recibo do Ministério da Defesa com uma ameaça de golpe para se defender das denúncias de corrupção que chegam cada vez mais perto de Braga Netto só faltou ter CPF na nota.

General também lê jornal, as tropas também vêem TV e tem que ter uma suspensão da descrença enorme para acreditar que ninguém sabia que às barbas milicas  dançavam pedidos de propina, e isso em um governo cujo presidente tem um histórico de denúncias de peculato a partir da rachadinha, funcionários fantasmas,etc.

Para piorar, família de soldado também morre de COVID, com cloroquina e tudo e com mais de 500 mil mortos é cada vez menos provável que as tropas passem ao largo da mortandade que causa o governo que não compra vacina, mas quer ganhar propina em cada compra.

O resultado catastrófico na economia, que só beneficia os muito ricos e a possibilidade nada remota de derrota no primeiro turno em 2022, a ponto do campo neoliberla achar que dá para Leite entrar no jogo, fecham a tampa do processo que provavelmente chegará ao impeachment de Jair.

Isso tudo explica o derretimento de Bolsonaro, a ausência de condições objetivas para um golpe, a falsa unidade militar em torno do governo e a incapacidade de tornar os 25% que ainda apoiam Bolsonaro uma força capaz de dar um golpe de estado.

Mas existe o problema real que os 25% que apoiam Jair podem protagonizar a partir do momento em que se percebe a derrota. E não, não é uma invasão ao Congresso nos moldes trumpista,s isso ai seria a burrice mor que nem o mais estúpido Heleno é capaz de cometer, mas a colombianizaão do Brasil, com acirramento dos ataque à esquerda, a lutadores e avitistas do meio ambiente, direitos humanos e liderançãs populares, inclusive as da direita.

Porque o processo de aumento da violência política não existe nem a unidade das Forças Armada,s menos ainda as das política,s não faltam soldados das cada vezs mais espalhadas nacionalmente e presentes milícias para agir em nome de um projeto de poder que sempre parte da ausência de ordem e é sócio atleta da desestabilização.

É no domínio da arte da desestabilização, da violência política e da construção do caos que Bolsonaro e o Bolsonarismo prosperam.

Não reconhecer a derrota em 2022 é um problema cada vez menor, sendo que a possibilidade de Jair não ser candidato é cada vez maior. Da mesma forma o potencial de derretimento de uma candidatura Bolsonarista torna a derrota no primeiro turno menos dependente dele e mais do desempenho de Eduardo Leite, cuja candidatura tem o mesmo programa econômico bolsonarista, mas ataca na prática os pontos frágeis do programa lulista: a questão LGBT, por exemplo.

Diante disso as forças Bolsonaristas podem optar por agir dentro de um projeto que tem menos preocupação com a eleição em sie mais na construção de um golpe real e concreto que independe de eleições e de seus resultados. Nesse sentido é menor a capacidade de organização de um golpe nos moldes bolivianos e maior a capacidade e potencialidade de desestabilização do fazer política em si, tornando o atuar no mundo democrático um risco de vida.

As ameaças cotidianas de morte a parlamentares da esquerda, em especial os do PSOL, o próprio feminicídio político de Marielle Franco, tudo isso aponta para uma rede de desestabilização que pode nos colocar em um cenário de violência política nos moldes colombianos e mexicanos para as próximas décadas.

As redes de ataque não precisam ser financiadas às claras ou correndo riscos de investigação direta e podem inclusive usar o know how da ditadura que usava financiamento empresarial para clusters clandestinos de tortura, e que espalhou pros esquadrões da morte, e hoje milícias, a forma política das máfias com um projeot político anticomunista, racista, machista e LGBTFóbico histórico.

Golpes nos moldes clássicos já foram abandonados pelas próprias elites e forças Armadas para derrubar Dilma e isso não foi à toa.

 Sem apoio externo, com cláusulas democráticas nos principais acordos comerciais, qualquer movimento golpista com tanques na rua põe em risco modelos econômicos inteiros, em que economias complexas como a nossa não podem enveredar sob risco imenso de perda de mercados.

Em um quadro que o próprio bolsonaro desestruturou a economia com uma política ecocida, genocida, com zero investimento público e sem a menor ideia de como fazer política, mesmo indireta e liberal, de fomento, é cada vez menor a margem de manobra golpista clássica em um ambiente onde o mercado já sofre sançẽos públicas, diretas ou indiretas, com perda substancial de espaço internacional.

Para piorar o cenário pro campo bolsonarista golpista, a conjuntura exige um modelo econômico de fomento ao consumo interno equilibrado com uma diplomacia presidencial , para que a economia devolva à própria elite uma manutenção da taxa de lucros que caiu com a aposta insensata no golpismo necroliberal que nos deu Bolsonaro.

Então até a aposta em Leite tem um significado de construção de uma força para além de 2022, capaz de pelo menos rivalizar economicamente com Lula e o PT. Ou seja, qualquer manobra precisa contemplar a desestabilização do cenário sem a explícita face das instituiçẽos armadas, porque a economia exige que os caminhos pro desenvolvimento dos negócios predatórios não seja mais feitos à luz do dia.

Neste cenário, o que frutifica é a lógica subterrânea da violência política com tintas milicianas e não um golpe nos moldes clássicos com tanque na rua. Esse modelo inclusive sequer precisa ter peso estratégico, ou seja, pode ser o de fundamentar mandatos parlamentares capazes de obter nichos de mercado e de domínio político que atrapalhem a democracia sme a necessidade de um golpe com um ditador lhe liderando.

É preciso atenção sim pras movimentações, mas pensando também nos modelos amplos que nos podem desestabilizar com maior potencial destrutivo que um golpe militar clássico.

O beijo de Tânato

Thanatos é a personificação da morte na mitologia grega, um filho da Noite (Nix) com a Escuridão (Érebo), filhos do Caos e entidades, todos, anteriores à própria família de divindades que habitavam o Olimpo. 

Thanatos é parte do mundo onde reina Hades, mas é mais antigo e perene que o Deus das profundezas, do mundo inferior, dos mortos e dos mistérios.

Hades reina um mundo onde Thanatos vive e perambula, mas Thanatos permanece, Hades não, porque até os deuses morrem.

Todo este preâmbulo é mais que um nariz de cera, é um ensaio pro discurso sobre a pulsão de morte que a sociedade brasileira libertou quando elegeu Jair Bolsonaro.

Eu sei, você já leu aqui mesmo neste blog, escrito por mim mesmo, que há aspas nessa “sociedade brasileira”, pois há, Bolsonaro foi eleito por de trinta e nove por cento do total de eleitores. Mesmo assim ele foi eleito com apoio considerável da sociedade e ainda é, na prática, apoiado por gente demais.

Isso não o torna popular como parte da narrativa da imprensa empresarial, da direita e da esquerda masoquista curte repetir todo dia, mas faz com que seja óbvio que a pulsão de morte seja imperativa para parte considerável da sociedade brasileira, e essa pulsão encarna na aparência, discurso e canalhice pérfida e fétida de Jair Bolsonaro.

Ainda mais quando essa ala que aceita existir no mesmo universo que Bolsonaro controla parte da economia, e não se enganem, é aí que mora o terço, menos que isso, que ainda apoia Jair com amor.

O fato é que por obrigação, necessidade, desespero ou por ter um foda-se irresponsável ligado, a sociedade acha que a vida é assim, a pandemia acabou e a morte nos os tocará.

Porque juntando isso tudo a um Presidente da República dos mais vis que já habitaram esse planeta e à covardia unânime da imprensa empresarial e parte da esquerda que faz de conta que é prioritário mais repetir velhos jargões e acusar o amiguinho de radical e temos o caldo completo do suco de maça azeda do culto tanatológico.

Essa ala da esquerda, e que merece aspas, que vive sonhando com aquela Revolução pacífica que existe menos que Papai Noel ou com a conciliação utópica com uma direita e centro que apertaram 17 com força e querem mais que cada um de nós morra, trabalha na surdina por um projeto de descolamento da realidade sustentado numa ideia de desenvolvimento que ignora a crise sistêmica, climática, ecológica, moral, cívica e de rebolado que o universo vive em 2020.

Enquanto isso o mar de gente sem máscara, acreditando na força do desejo, do pensamento positivo, do anjo torto, do Deus maluco, do Jeová assassino do mal, do Exu Caveira de férias, do Oxalá tolerante demais para ser verdade ou do Buda Nagô da vez perambula aos beijos com Tânato achando que é Hipnos (Irmão gêmeo da personificação da morte, mas personificação do sono).

Só que na hora de dar boa noite pro parceiro vai ter é “Boa noite, Cinderela!”.

Qualquer debate que perambule pelo realismo precisa encarar o beijo de Tânato que parte da sociedade curtiu fazer, seja pelo compromisos direot com a pulsão de morte de Bolsonaro e companhia ou pela opção prefernecial pelo descolamento da realidade que promove o ecocício e o etnocídio, o genócidio negro, o alto número de feminicídios,etc, atacando quem centra forças nas lutas que buscam reverter essa desgraça como identitários. 

Sem encarar firmemente todo o centro do debate, do eixo econômico ecocida e etnocida, ao da segurança racialmente genocida, LGBTfóbico e misógino, passaremos para história como aqueles que não beijaram Tânatos, mas deixaram ele passar a mão na bunda.

Há a necessidade sim de apontar nossos gordos dedos para quem foi cúmplice dessa desgraça geral onde um presidente da República diz que não vai tomar vacina incitando canalhocratas e patetas genocidas a recuarem a imunização contra o COVID, que é um dever coletivo pelas vidas e pela economia.

Há a necessidade de apontarmos nossos gordos dedos na fuça de pais mãe, irmãs, tia, primos, primas, parceiros, amigos, ex-amigos, deputados, do Rodrigo Maia, da Globo, Folha, estadão, Vera Magalhães, Nalu Gaspar e demais povos e povas que permitiram por ação e omissão que o Desgraçado Mor da Nação parambulasse com sua fétida egrégora pelos salões principais da sociedade brasileira com no máximo reprimendas broxas contra os ataques diários ao bom senso, à moral, à sexualidade, à vida humana.

Porque parte da merda colossal em que nos metemos e nos meteram desde 2016 nasceu da covardia institucional em fazer com que torturadoras, patrocinadores de torturadores, seus comandantes, presidentes e as próprias instituições militares pagassem, pelo menos moralmente pelos crimes cometidos contra o país e sua população a partir de 1964, na ditadura comandada por generais incompetentes que reduziram uma década perdida na economia e duas décadas perdidas na educação, ecologia e direitos humanos e que por não terem sido cobrados dessa primeira coleção de cagadas agora resolveram patrocinar outra coletividade de desgraças.

A crise sistêmica que o Brasil vive desde 2016 é uma oportunidade (sacou o meme de auto ajuda?) para finalmente passarmos a limpo nossa pulsão coletiva de morte que existe desde que aprisionamos e exploramos pretos e pretas, africans ou crioulos, num sistema que permitiu a acumulação primitiva de capitla e o nsscimento das riquezas brasileiras durante os 300 anos de escravidão e 500 anos de racismo.

Não é só o desejo de vingança contra Bolsonaro e o que ele simboliza, mas uma necessidade de nos refundarmos como civilização. 

Uma civilização brasileira pode existir com base no que produzimos de vida, nos baticuns das casas de bamba, nos cantos das três raças, nos sonhos sonhados, nos testamentos de partideiros, nos bois vermelhos e caprichosos, nos sonhos da Amazônia, nas cantorias sertanezas, nos sons do violero, tocando em frente pelas manhas e pelas manhãs ao sabor das massas e das maçãs.

Só que essa refundação da Civilização Brasileira existe que seja feito algo, pois para isso é fundamental tocarmos em frente pela vida, mas a vida que se orgulha de tocar nas feridas, nos nervos, nos fios, nos olhos dos homens de olhos sombrios e ali sabe que foi e será feliz.

Porque o beijo de Tânatos pode ser sensual se for tido como nato, natural de uma ideia de finitude real que existe para nos ensinar o caminho correto das vidas que querem mais, nem que todos os barcos recolham-se ao cais, e não para uma pulsão irresponsável que se pretende hedonista sem saborear o gosto da comida, sem sentir o cheiro do vento do universo.

A Morte como ente é uma boa companhia quando a vida se enxerga como trajetória e não como mergulho suicida ao Caos, pois o Caos a tudo devora sem dar-nos a chance de sermos, pois abdicarmos do existir em nome do desejo irrefutável pelo fim como se ao fim o pulso nos desse a chama do heroísmo, quando ele nos presenteia quando assim fazemos, com a infâmia da mediocridade.

Tânatos pode ser um bom parceiro, uma vida inteira de parceria nos ensinando que bater com a cabeça na parede pode prejudicar aquele plano em encontrar com o contatinho quando tudo isso passar, mas péssimo quando ele bebe mais que a gente num bar fechado, sem máscara, sendo que só ele é imortal.

O beijo de Tânato,e ssa pulsão de morte que sorri sem alegria, gargalha sem felicidade, trepa sem saber gozar, bebe sem sentir o gosto, é o beijo que negligencia o sentir, o amar, o saber. 

Essa negligência medíocre, vingativa por ser inepta, brocha e insalubre, é parte de uma sociedade que nasce e vive, antes silenciosamente, como uma pústula na alma de tudo o que o Brasil produziu de bom, dos gols de Pelé ao som de Pixinguinha.

Venceremos, mas precisamos correr para salvar muita gente do pior beijo de Tânatos, o composto de ódio.

Bolsonaro e o limite do sub humano

Discutir qualquer coisa que reflita sobre o que ocorre hoje a partir da pandemia do Coronavírus é um exercício não só de percepção, mas também de estômago.

Não apenas para lidar com os aspectos mais dramáticos de uma pandemia que acomete o planeta, o transforma de forma definitiva e atua fortemente para termos milhòes de mortos, mas principalmente para lidar com a liderança tóxica de Jair Bolsonaro e a capacidade de suplantar os limites do mais baixo nível de humanismo, caráter e respeito ao outro.

Porque o que vimos hoje em dia não é mais apenas a manifestação de uma ideologia autoritária, mas a manifestação de uma ideologia genocida e que nos obriga a pensar não apenas no líder tóxico Jair Bolsonaro, ams na sustentação política que ele exibe a partir de seus eleitores.

Bolsonaro sempre foi tóxico, e mesmo assim foi eleito com 57 milhões de votos em um segundo turno onde quem alega que havia uma escolha difícil trata  uma dúvida entre um candidato de um partido contestado e tido como corrupto por parte da população e um potencial ditador autoritário, necro-liberal e potencialmente genocida constituísse em dúvida razoável.

Não, não dava para em 2018 fingir ignorância sobre o que era Bolsonaro. Salvo o percentual de pessoas com baixo grau de captação de informação e acesso, a grande maioria dos eleitores com alta informação, nível intelectual e de educação formal sabia exatamente o que via pela frente.

Então quem votou ou anulou no segundo turno de 2018 e não é anarquista ou foi autor ou cúmplice do cadafalso que vivemos hoje, com um potencial nas mãos de milhòes de mortos pela ação consciente do governo Federal em apostar com a vida das pessoas em nome de uma imunidade de manada, em que obviamente Jair e seus asseclas acreditam ser bom morrer frágeis, idosos, pretos e pretas.

Quem anulou ou votou no segundo turno e se arrepende não merece abraço, merece ser tolerado como o cúmplice que foi, por mais que o PT não merecesse crédito, porque dar poder a um celerado amante de Brilhante Ustra e louvador da ditadura militar é irresponsável por qualquer ângulo que se enxergue. 

E aqui também se incluem os que demoraram a apoiar Haddad no segundo turno ou que forma para Paris e seus seguidores que anularam no segundo turno por qualquer motivo que seja a não recusa peremptória de participar do processo desde o início, como fazem os anarquistas.

A questão é que ainda existe algo pior, uma malta de canalhas que apoiou e apoia Bolsonaro com louvor, fome e a raiva de qualquer alteridade mesmo em meio e que não se intimida com qualquer derretimento de popularidade ou desmoralização das teses de que uma pandemia que nos tirará milhões era uma “gripezinha”e seria curada pela “cloroquina”.

Essa gente amplia o grau de exposição à luz do dia do mais baixo nível do humano, gente que agride profissional de saúde para que não escreva em certidão de óbito que um ente querido foi vítima do COVID-19, faz carreata para romper o isolamento social e ou não se importa ou em meio a uma ilusão autoritária e exterminista pouco se importa se há contradição entre sua prática e a salvação de milhares e até milhòes.

Bolsonaro e seus filhos utilizam o máximo de armas que o desespero de um derretimento acelerado lhes permite para nublar a percepção de cerca de um terço da população que ainda o apoia, da constante desqualificação da imprensa ao uso de robôs e insistência na truculência e no uso da máquina para cometer crime contra a saúde pública, a questão é que quem o segue não está apenas acreditando me uma figura pública, está via de regra sendo co-autor de crime contra a humanidade.

Porque estamos agora diretamente responsáveis uns pelos outros de forma definitiva. Sempre fomos na verdade, há um grau de comprometimento da existência em sociedade com o outro queiramos ou não, mas agora definitivamente a vida de nossa coletividade está em nossas mãos e setores da população literalmente ligou o foda-se para isso e ataca a saúde coletiva em nome da manutenção de uma guerra ideológica contra a esquerda.

E essa guerra ideológica contra a esquerda também é contra a ciência, sempre foi, como se vê diariamente na desqualificação de todo e qualquer contraponto científico que demande a destruição da narrativa genocida de Bolsonaro, Trump e outros canalhas, mas que era óbvia antes com Weintraub e Salles sendo porta-vozes de um negacionismo que se fartou de atacar o meio ambiente e a educação e produção científica pública.

Uma guerra contra a ciência e a esquerda que hoje vira uma guerra contra a humanidade, sendo classificados todos os que resistem aos delírios autoritários e genocidas do descomandante em chefe das forças desalmadas. 

Mas desta vez os corpos não serão ocultos pela escolha muito difícil de setores da imprensa hegemônica que tratavam a ausência de planejamento e programa de governo organizada em torno de uma plataforma de saque aos cofres públicos e desmonte do estado, com venda barata de ativos e subsídio aos grandes empresários e bancos e zero de esforço para melhora de saúde, educação e emprego. Desta vez os quase vinte mil infectados e os mais de mil mortos logo ganharão a companhia de mais que milhares, de colapso do sistema público de saúde, e não só do público, e com a inexorável presença do que a ciência exibe quando lê bem o concreto: a matemática da expansão de contágio de um vírus como o COVID-19 não se abate com discursos estúpidos.

O que fazer, então com os convictos genocidas do Bolsonarismo, começando por Jair e filhos? Bem, primeiro removê-los do poder, depois juntar a todos e punir pelo crime contra a humanidade que praticam.

 E me perdem os anti punitivistas, mas sim, é preciso punir. Com cadeia, porque tem gente morrendo que nem mosca e morrerão mais, e não dá para esperar que nada aconteça com um pito público. Ustra mostra que desmoralizar não basta. 

O limite do sub humano de Bolsonaro e quem o segue, no entanto, merecerá mais que um processo de crime contra a humanidade, é preciso o escracho diário, a exposição da canalhice que sustenta parte de nossa sociedade, o opróbrio, o ostracismo, o isolamento negativo, a apropriação de bens, o que puder ser feito para tornar quem tornou essa desgraça possível alvo do que fez com a sociedade.

O sub humano por vontade própria, coletiva, auto orgulhosa, negacionista, misógina, LGBTfóbica e racista, não tem o direito de ficar impune.

A oposição não precisa de messias. Lula pode aglutinar mobilização, mas Messias é da extrema direita.

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Há nas redes sociais um sério problema de avaliação da conjuntura e uma extrapolação de determinados campos de análise que mereciam aspas.

De youtubbers academicamente equivocados dispostos a carteiradas sem base real a jornalistas profundamente descolados do bom senso, há um extrapolação do papel de Lula aliado a uma subestimação do efeito Luiz Ignácio para a ampliação do papel da oposição a Jair Messias Bolsonaro, passando por uma percepção desrespeitosa que avalia que por ter um impacto menos efetivo, inclusive por seu tamanho, a oposição a Bolsonaro feita por PSB, PCdoB e PSOL tava jogando biriba até agora.

Não, Lula não vai fazer revolução, a oposição não começa agora, embora tenha ganho um fôlego enorme, e Lula não é messias algum, Messias é o Jair, mas é a maior liderança popular brasileira desde o fim do século XX e felizmente tá do nosso lado, o da democracia.

Embora parte da imprensa, sendo profundamente desonesta nesse sentido, insista em comparar Jair Bolsonaro, o Ustra Boy suspeito de estar envolvido no assassinato de Marielle Franco e que ameaça anunciantes da Folha, com Lula, crítico da imprensa por sua óbvia escolha difícil em favor de Jair e que trata o ex-operário como um criminoso, embora o processo que o condenou seja mais viciado que o Keith Richards dos anos 1970, não existe comparação possível entre Lula e Jair.

Criticar a imprensa, por mais que doa a ela, faz parte do jogo, mas Luiz Ignácio jamais tentou fechar jornal ou ameaçou TVs de não renovação de concessões, embora a Globo, por exemplo, tenha um histórico de apoio à ditadura e de evidente manipulação contra Lula, uma delas reconhecida, como foi feito no debate entre Lula e Collor em 1989.

Da mesma forma compreender que Lula é um enorme reforço à oposição não o faz Deus criador de uma.

A oposição que tem uma atuação corajosa desde primeiro de janeiro, sofrendo ameaças de morte por isso (como sofrem Talíria Petrone, Manoela D’ávila e David Miranda, pelo menos, e Jean Wyllis), conseguiu inclusive com diálogo com o centro impor derrotas a Jair Bolsonaro e vem expondo cotidianamente seu governo e seus ministros em convocações, audiências públicas, atua na CPMI das Fake News e conseguiu construir com Rodrigo Maia uma frente de defesa da ciência, tecnologia e educação que assinou uma carta com todos os líderes do congresso.

Ignorar tudo isso é, no mínimo, uma sacanagem. Pode ser um equívoco, pode ser uma canalhice, pode ser o uso oportunista do óbvio acréscimo que Lula traz pra oposição pra ganhar mais popularidade em redes sociais, pode ser burrice, pode ser tudo isso, mas, com certeza, é uma puta sacanagem.

Outra questão é que Lula e sua capacidade de mobilização são notórios, em dois dias ele já ferveu o kissuco da conjuntura e levou milhares às ruas de São Bernardo.

Vão ter que condená-lo rápido em terceira instância pra impedi-lo de mover fortemente as águas pro moinho da esquerda e sua diversidade.

A liberdade de Lula pode ampliar a mobilização para descobrirmos os mandantes do assassinato de Marielle, e isso é pressão sobre os Bolsonaro, que podem estar concretamente implicados, pelo menos, em tentar impedir a descoberta de quem é o mandante, tendo parte fundamental em indícios de agirem na adulteração de provas e até obstrução da justiça.

Acaba agora a ausência de uma maior visibilidade do discurso que expõe os ataques do governo Jair Bolsonaro sobre a população.

Porque a mesma imprensa que se diz isenta optou por apoiar Guedes e silenciar a oposição em suas críticas.

Também agiu criando um eco de desqualificação do dissenso em relação à plataforma econômica do governo e sendo no mínimo omissa diante dos cotidianos ataques de Bolsonaro à democracia. Insistindo em falsas simetrias tentando igualar Bolsonaro a um Lula que jamais fez um décimo do que fez Jair com relação à oposição e a imprensa.

Um jornalista alinhado ao Bolsonarismo ataca Glenn Greenwald a tapas e socos e a visibilidade se resumiu às redes sociais, sem repúdio de toda a imprensa em editoriais de jornais e ainda houve editor que optou pela manchete calhorda “jornalistas trocam socos”.

Essa imprensa jura que é isenta? Pois é. Não é, nunca foi, nenhuma é.

As linhas editoriais são tão isentas quanto eu torcendo pro Fluminense.

Se há jornalistas com apuração plural e matérias sérias em todos os jornais, há uma linha editorial e jornalistas que tem ecos de um discurso que não tem isenção nenhuma, tem lado e nenhuma vergonha de fazer uma escolha muito difícil de desqualificar o PT e até apoiar em silêncio o autocrata Jair Bolsonaro para derrotar o ex-socialista Partido dos Trabalhadores.

Enquanto Jair ataca a democracia e Guedes os direitos sociais, propondo um AI-5 na economia, travestido de “Pacto Federativo”, jornais acham que destroçar qualquer colchão de proteção social a título de “reforma de Estado” é um caminho certo, mesmo que isso resulte na ampliação da desigualdade, da fome e do sofrimento da população, desde que gere lucro pra camada social à qual pertencem seus donos.

Em nome desse lucro não me parece que as cúpulas do jornalismo (donos, editores, colunistas e jornalistas alinhados à linha editorial) estejam, muito preocupados com a democracia.

E aqui é fundamental o papel de Lula para romper a bolha de silenciamento da oposição, e anabolizar seu impacto.

Lula é tão importante e causa tanto pânico que cada linha dos seus discursos recentes serviram para realinhar jornalistas que rompiam com o Bolsonarismo em nome da falsa simetria de fazer de ambos elementos iguais (E Lula sabia disso quando fez os discursos e atacou a Globo).

A coisa mais certa que Lula fez foi levar o peso de sua retórica para a reacomodação do cenário político, com os preços das contradições do campo da extrema-direita recaindo sobre quem foi com sede demais ao pote das escolas muito difíceis.

Quem agora tentar voltar ao campo da situação pode ter surpresas, quem achar que Lula ajuda Bolsonaro idem.

Cabe à esquerda mais crítica a Lula se adequar no sentido de entender seu peso, ampliar a pressão pela radicalização programática em nome da retomada de ações de esquerda nos governos e parlamentos, entender determinado grau de diálogo e conciliação do PT e de Lula (são seus limites) e constituir sua plataforma nos espaços que tem garantidos e ampliá-los.

Lula não vai vir à esquerda do PSOL, e nem o PSOL precisa ir à direita de si mesmo pra abraçar o Lulismo, mas é possível dialogar e compor uma oposição que produz nas ruas o efeito que se constrói na institucionalidade.

Uma força da natureza em oposição a Bolsonaro é um alento, não um problema.

Isso não faz da esquerda uma linha de transmissão do Lulismo se ela não quiser, nem nos faz acríticos ao PT e suas contradições, mas amplia fortemente o peso e o significado de nossas figuras públicas e programas.

Também não faz de todas as divergências na construção de unidade eleitoral um campo aberto e resolvido.

O importante é ampliar a unidade na luta, construir as unidades possíveis na institucionalidade, abrir diálogos para ampliação do campo democrático e minar o campo de radicalidade neoliberal e amante da ditadura e sim, por medo nos canalhas, estejam eles nos gabinetes ou nas redações.

Cada falsa simetria hoje é um alimento de nossa crítica e uma desqualificação de quem nunca foi isento, honesto ou moderado, apenas adorava o peso da retórica pra anabolizar o neoliberalismo pinochetiano que nos esfola.

Entre o otimismo da vontade e o pessimismo da razão

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O Governo Jair Bolsonaro expõe as tripas da direita e da elite em praça pública, mas também expõe o imobilismo e a incerteza de uma esquerda que ao mesmo tempo que se organiza no âmbito institucional se fragiliza no espaço público, na rua.

E isso ocorre porque esta mesma esquerda nos mais variados graus prefere se esconder em ambientes controlados do que arriscar a disputa pelas consciências na rua.

Esse fenômeno já ocorreu a partir de 2013, quando parte da esquerda, inclusive a dita esquerda radical (De PSOL a PCO), preferiu criminalizar arroubos de ação direta destrutiva a discutir e disputar essa galera que quebrava vidraça.

Se preferiu, do alto de uma razão irracional e negacionista dos movimentos históricos, por água no moinho da criminalização, de processos, despolitização e violência policial contra os mais radicais (Parte dos socialistas, anarquistas e autonomistas) apostando numa manutenção no poder por inércia de uma ex-querda cada vez mais social-democrata (pra ser gentil) que fazia acordos pornográficos com a extrema-direita entregando anéis e dedos achando que o lulismo sozinho sustentaria dinastias de democratas com pendores sociais no Planalto.

À criminalização pelos discurso se seguiu a criminalização pela justiça, pela polícia, especialmente depois da mal explicada morte do cinegrafista Santiago, com uma nova geração de esquerda vendo novas lideranças não alinhadas à esquerda partidária ser presa, processada, ver a vida ruir e seguir sendo transformada em pária por tentar mudar o mundo.

De Gilberto Maringoni (PSOL-SP) e parte das correntes do PSOL atacando autonomistas e anarquistas (FIP, etc) como “Vândalos protofascistas” até Tarso Genro e Agnello Queiroz (governadores do RS e DF, respectivamente, eleitos pelo PT) enviando suas polícias atrás de ativistas (entre eles ativistas do PSOL), a folha-corrida que mancha a trajetória das esquerdas, com as digitais no esvaziamento da rua pela esquerda com sua ocupação pela extrema-direita, é algo continuadamente omitido pelos mais simplórios e rasos emissores de “análise” sobre as conjunturas, e que hoje acham lindo eximir Dilma de culpa pelo seu ocaso.

Não à toa há um coro de animação histérica sobre revoltas mundo afora e que adora Cânticos dos cânticos da euforia alucinada que repete “Não passarão” para o fascismo, enquanto eles não só passam como dão ré. O problema é que esse coro não rima com o movimento.

O grau de organização e organicidade dos discursos de redes sociais é perto de zero, e mesmo com o crescimento de organização e organicidade de uma revolta palpável nos partidos de esquerda(difícil medir em organizações autonomistas e anarquistas, mas apostaria que também está alta a procura de organização), isso não tem se refletido numa mobilidade de ação que mantenha essa galera entusiasmada.

E parte do problema é que se vende sonho, não se vende o trabalho e a organização necessária para agir e transformar.

Não é um fato incomum para a esquerda o discurso que alimenta “primaveras” não ir além do conversê pra organizar essas primaveras.

Porque transformar exige tocar em vespeiros (homofobia, racismo, machismo estruturais, por exemplo), e ninguém quer tocar em vespeiro e arriscar perder voto, ou poucos topam o risco.

Mais seguro gravar com o Quebrando o Tabu.

As manifestações pela educação foram maiores do que as contra a Reforma da Previdência e pouco se tentou aprender com isso. Pior, pouco se tentou avançar no debate sobre educação em si, pouco fomos além do debate que discute o quanto a universidade precista ir mais pra rua e divulgar sua serventia.

A questão é que a educação atinge todos e especialmente atinge uma galera em formação que mesmo tendo sido pega pela perna pelo Novismo liberal, percebe que a vida não é filme, você não entendeu, e foi pra rua discutir e disputar a necessidade de universidades públicas, porque sentiu na pele e isso lhes deu experiência, experiência que é a base da formação de consciência.

Já a Previdência é um campo onde a disputa está com quem já está às vésperas de se aposentar ou é adulto e tem convicções menos flexíveis com relação a seu dia a dia e seu futuro, convicções que por vezes lhe são deletérias.

A aposentadoria é, pros mais jovens, uma utopia, um futuro, que hoje quase não mais existe.

E o bombardeio sobre o quanto a Deforma da Previdência era necessária, é algo que beira os vinte anos e buscando exatamente sua destruição. Qualquer opinião que revelasse ser uma manobra de opinião pública tinha oitocentas dizendo que a esquerda era negacionista.

Destruir o ensino público ninguém vai dizer às claras como disse que era preciso destruir a previdência. E mesmo assim não conseguiram passar a capitalização.

A questão é que o fôlego da resistência via educação parou, e por quê? Porque parte dos atores que estavam envolvidos na não construção concreta da resistência à Deforma da previdência percebeu que perderia o controle da indignação se continuasse a apoiar os movimentos contra o desmonte da educação, pior, ainda comemora como vitória a manobra do Desgovenro Bolsonaro de, a dois meses do fim do prazo para sua utilização sem que isso impactasse no exercício de 2020, liberar recursos cortados em março.

Mas parou o fôlego? Não exatamente, apenas se reduziu e agora precisa de mais esforço para reavivar a chama, especialmente quando é visível que o neoliberalismo está nas cordas por conta dos movimentos de resistência no Equador e Chile.

Mas como lidar com isso se a esquerda via de regra prefere agir como coro de contente em rede social do que segurar o rojão de organizar, filiar, agir para concretizar seu aumento nos espaços possíveis.

Há interessantes campanhas de filiação, ao PSOL por exemplo, mas isso basta?

Não, porque é preciso existir ações públicas cotidianas que façam as pessoas se sentirem úteis, é preciso também curso de formação abertos e didáticos, com o cuidado de jamais se tornarem cursos de doutrinação (não dá pra confundir formação com proselitismo de dogma), e são muito precisos meios de ação de convencimento para além de divulgação de atos e ações.

Isso tudo é uma ideia de construção de organização partidária, há outros caminhos possíveis, e é didático pra evitar que militância se confunda com a enojante mistura de culto à personalidade com discurso esfuziante de uma alegria militante que nada faz além de divulgar um “Não passarão!” sem práxis que impeça o fascismo de passar.

Porque é disso que faz parte da militância, que confunde a necessária ação contra o desânimo, focada na nossa memória e nos nossos fetos, com uma falsa felicidade estagnada que não constrói porra nenhuma e ainda fica saudosa de péssimas experiências porque hoje estamos literalmente fudidos na mão de um presidente com banca de miliciano.

Não, amigos, não estamos vencendo. Estamos perdendo de um time ruim por 7×1, o gol que fizemos foi de honra e o fato de outros times estarem virando o jogo, ou perto de iniciarem a virada, não faz da esquerda do Brasil mais do que observadora enquanto a extrema-direita vem de novo ameaçar nosso gol.

A mobilização do Chile está vencendo a extrema-direita, mas é lá, não é aqui e não estamos fazendo muito para trazer aquela indignação pra cá, além de comemorar e chorar vendo a foto dos outros, enquanto mugimos “saudades do meu ex” e achamos Maia democrata.

Com o Desgovenro Bolsonaro em derretimento acelerado e sendo questionado por elite e direita, sentamos em cima do gol de honra marcado em março com nossas mobilizações pela educação e achamos que tá bom porque dá pra esperar de um a três anos (dá?) pra demover Bolsonaro de sua cadeira que mancha de óleo nosso litoral e a vida de pescadores e povos originários, amplia o número de feminicídios e crimes de ódio, queima a Amazônia e avança sobre terras indígenas.

Não adianta pedir a queda de Salles e Weintraub se o chefe deles poderá nomear outros dois canalhas.

Não adianta ter medo de Mourão ignorando que a bola da queda de Jair tá quicando na nossa frente e a gente tá deixando Maia e Toffoli o manterem no poder enquanto as digitais do assassinato de Marielle, rachadinhas e aparelhamento criminoso do poder avançam sem suar.

O otimismo da vontade do nosso discurso é delusional e tenta calar o pessimismo da razão que explicita nossa imobilidade.

Sim, a imprensa liberal erra ao dizer que a esquerda está parada na institucionalidade, porque nessa ela não está, mas acerta, sem mirar lá, pra dizer que ela tá omissa na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé,

Com exceção dos indígenas, povos originários, Sem teto e Sem terra, o restante da esquerda tá olhando pra ontem, e em vez de ser pra revolução Russa tá olhando pros governo Lula como se fossem o Reino Encantado de Aruanda.

A gente precisa do pessimismo da razão, porque estamos perdendo e o fato do time de lá ser ruim e o juiz ter cansado de roubar não transforma o resultado uma vitória.

Mas também precisamos de um otimismo da vontade real, que faça com que, mesmo com todas as tretas, a gente levante no dia seguinte e faça acontecer as organizações, os atos, as produções de conhecimento e programa, as ações necessárias.

O otimismo da vontade não é um alento pro pessimismo da razão, mas o combustível pra, de forma realista, transformar a realidade que faz a razão ver tanto pessimismo.

É fundamental sairmos do transe que sonha com a volta de Lula como nosso Dom Sebastião de Garanhuns e pormos em prática movimentos de organização e organicidade que permitam que a conjuntura mude e que ele possa ser o Dom Sebastião de Garanhuns pra quem precisa de um homem pra chamar de seu.

Temos que pôr em prática movimentos que permitam que saibamos quem mandou matar Marielle e porque Jair, Flávio e Queiroz estão desde sempre produzindo canalhice e fake news sobre ela.

Pra sairmos do transe é preciso construir meios de irmos pra rua, é preciso fazer banquinha com material, discutir no cotidiano, filiar gente, chamar passeata, cobrar as lideranças porque não estamos agora gritando “Fora Bolsonaro!” e estamos tentando derrubar ministro.

Há um latifúndio para nosso otimismo da vontade ocupar e há uma conjuntura violenta que o pessimismo da razão precisa ver.

E pra vencermos é fundamental agirmos com o primeiro, enxergando com o segundo.

Como enfrentar o fascismo, Jair Bolsonaro e spoilers de IT – A coisa

Mobilização nacional antifascista contra a conferência neonazi

Há anos a cada postura de algum movimento, partido ou figura pública de esquerda chovem repúdios a esta ação, postura ou política. E com ele chovem também essencialismos, com se não fosse possível uma esquerda eleitoreira ser tão esquerda quanto uma esquerda antieleição.

Da mesma forma quando surgem notícias ou falas de policiais antifascistas, o mesmo movimento que elogia o surgimento em instituições tão violentas e avessas à democracia, fãs do fascismo mesmo, surgem críticas essencialistas que informam a todos nós, pobres idiotas, que é impossível um policial, que até outro dia era uma pessoa, ser antifascista, num suposto essencialismo que cola na pessoa que optou por ser policial um DNA fascista.

Freixo e Sâmia gravaram vídeo com Janaína Paschoal e Kim Kataguri? Traíram o movimento. O PSOL é mais institucionalidade que rua? Ex-querda.

Ok, é do jogo, faz parte do dissenso inclusive a estupidez. O que incomoda é a ausência, via de regra, de soluções que construam sob o ponto de vista de quem taca a pedra, o que eles colocam como alternativa.

Tacar a pedra é fundamental para que olhemos pra Freixo e Sâmia e coloquemos o quanto é limitada essa aproximação com setores liberais que propagam uma tolerância ao intolerante que eu, pessoalmente, não embarcaria para participar, mas jamais pra dizer para eles e quem quer que entenda ser possível esse tipo de ação, por índole, práxis ou desejo oportunista, que seja, que não façam porque é trair o movimento.

Trair o movimento, a esquerda, etc é votar a favor da Reforma da Previdência ou se omitir diante de um canalha que diz que discurso de ódio tá ok se o alvo for um comunista, isso é trair o movimento.

Qualquer movimento de diálogo, e diálogo não é conchavo, não é trair nada,é só um movimento, e um diálogo. E diálogo expõe a ambos os interlocutores ao escrutínio público e com isso expõe a este mesmo público a possibilidade de saber o que é cada um e que a prática é o critério da verdade.

Da mesma forma atacar como “eleitoreiro” quem historicamente tem um perfil de atuação mas institucional que de rua e de capilarização via núcleo, como o PSOL, por ser, pasmem, mega institucionalidade e com eixo político rolando em torno de suas figuras públicas, mesmo que sim tenha mais rua que a maioria de movimentos e partidos de esquerda é no máximo dizer o óbvio, mas e a construção de rua e do que se deseja ser o principal vetor de movimentos, é tarefa apenas de um partido? Se ele não é o que tu queres que ele seja o que se organiza como alternativa além do papo?

E sim, estou dizendo o óbvio: pouca coisa é mais impotente do que o sommelier de como outros partidos/movimentos são sem construí-los ou construir alternativas ou construir alternativas que não tem, lamento, capilaridade e peso institucional ou de rua compatível com a indignação sobre o outro.

Da mesma forma os ataques aos policiais antifascistas é lamentável, porque é uma recusa a organização de dentro de instituições de resistência a ethos que compõe a cultura delas. Essa lógica é prima irmã da que trata religiosos como idiotas irrecuperáveis ou que essencializam o ser de esquerda com alguém fora do mundo, angelical, portador da razão, guia genial dos povos.

Cada policial antifascista é menos um policial fascista, viu? E os caras sofrem retaliação, sem contar, em forças de segurança cada vez mais milicianas, estão sob risco REAL de morte.

O interessante de tudo isso é que todos tem uma receita de como reagir e resistir ao fascismo, como combater Bolsonaro, spoilers de IT – A coisa e a contratação de Oswaldo de Oliveira, mas ninguém, olha só, faz CONCRETAMENTE, porra nenhuma pra expor isso de forma real, diária, cotidiana e visível.

Sua organização ou você já puxou no teu bairro rua, padaria, cidade o Fora Bolsonaro ou se movimenta pra isso? Tentou se organizar em um movimento/partido/clube do Bolinha que construa algo assim, mesmo correndo o rico de ser minoritário? Porque é disso que a gente tá precisando, de mais gente, pros contrapontos estarem na rua, no chão se opondo inclusive aos discursos que norteiam partidos como o PSOL, do qual faço parte e não de grilos falantes impotentes, diletantes e estagnados que pouco fazem além de torrar o saco.

O Freixo tem boas relações com o Frota, que faz bullying gordofóbico com a Sâmia? Acho que ela e ele são adultos e tem capacidade concreta de construírem entre si,, sem a nossa tutela, a crítica e autocrítica necessária diante disso e que a Sâmia, olha só, seja adulta e capaz de defender a si mesma sem a tutela de um macho.

Os Policiais Antifascistas são membros de forças de segurança racistas e fascistas? Eles não só são como têm consciência disso e se arriscam a ir contra a maré.

O PSOL luta mais na institucionalidade que na rua e foca mais nas eleições que na organização diária? Meia verdade total, tem rua e tem eleição, tem mais institucionalidade que deveria, mas tem diariamente construção coletiva de resistência país afora em mobilização que se constrói para além de voto, mesmo visando o voto. Mas é sim um partido com forte teor eleitoral e institucionalista, só que, olha só tem outros partidos, viu? Tem movimentos autônomos, anarquistas, budisto-maoístas, fãs de Doctor Who e de Midhunter, cosplay de Naruto, etc. Organiza-te neles, constrói a alternativa!

A questão é reduzir a TUA solução de luta a uma solução que PRECISA SER universal. Não, não é, nunca será.

Mas não pode criticar, Gafanhoto? Pode, pode pra caralho, o que não pode é criticar a Tartaruga por ter casco e a Tartaruga que tira o casco por ter tirado.

A crítica a Freixo por conciliar, coisa que ele ASSUMIDAMENTE faz, declara, discursa, anos a fio, inclusive conciliação de classe, mesmo dizendo que quem governa pra todos tá mentindo pra alguém (No que ele acerta), é criticar a Tartaruga por ter casco.

Freixo, PSOL, Sâmia, Bakunin, Senhor Myiagi, todos tem seus limites e características que compõe o caminho deles e os deixa expostos a nosso julgamento.

Dá, ao saber que obviamente Freixo é um conciliador, que não é revolucionário, optar conscientemente por tratá-lo como o inimigo que ele não é?

Da mesma forma tratar policiais antifascistas como a mesma coisa que o policial que mata a Ágatha é de uma estupidez atroz. Qualquer cunha de resistência dentro de institucionalidades autoritárias, racistas e de forte ethos fascista é fundamental para tentar movê-las para outro caminho.

Ou alguém tem a ilusão que com uma exceção de conjuntura revolucionária real vamos acabar com a polícia?

A ideia de que há uma solução única pra combater o fascismo, Bolsonaro e spoilers de IT – A coisa é, ela em si, autoritária e interditadora de discursos. Não, não há. A realidade é complexa demais, há trocentas coisas para mudarmos, há oitocentas estruturas a serem derrubadas e erguidas outras ou não. Há coisa demais a ser feita que uma só percepção é, ela em si, censória.

Há uma necessidade atroz de forte oposição parlamentar, de forte oposição eleitoral, de forte ação de rua, de forte ação de capilarização de esquerda, de enorme contingente de esforços dentro e fora das institucionalidades de transformação da cultura como um todo.

O que não dá é confundir a necessidade de oposição em todos os aspectos com uma uniformidade acrítica, nem transformar a crítica em ação de destroçamento de uma oposição que tu discorda de como é feita.

Bolsonaro tem enorme impopularidade, por exemplo, e precisa de gente na rua convencendo quem votou nele que ele é um câncer, mas também precisamos de parlamentares pra dizer isso na Câmara e policiais pra dizerem isso na delegacia.

Você acha que o policial que vê a gente dizer que policias e moradores das periferias morrem em igual número e que o governador que chama ele de herói não vai dar aumento pra ele e tá pouco se fodendo com a várzea emocional que a guerra aos pobres causa nas forças policiais da mesma forma que vê quem diz que o policial tem que morrer mesmo?

Não, o policial não deve morrer, nem matar, e mesmo que eu, pessoalmente, tenha uma enorme dificuldade em me solidarizar com a morte de policiais, que em sua maioria nunca esconderam que são partícipes, cúmplices, da política genocida de governos. Essa dificuldade minha não torna em ela correta, longe de ser uma culpa cristã essa afirmação, nem a ideia de que o policial deixa de ser vítima do genocídio que pratica, os que praticam.

Policiais historicamente se isolam, pedem transferência, trabalham longe de casa e da família pra fugir de grandes concentrações de adeptos de esquemas, assassinos, esquadrões da morte,etc. Policiais são gente pra caraba, um enorme contingente, e convivem nele genocidas e pessoas honestas. Não sabemos a quantidade, podemos até dizer que a maioria é de canalha, mas é fundamentalmente importante defender quem resiste.

É fundamental que entendamos que situações complexas exigem soluções complexas, polifônicas, multifacetadas.

Menos apocalipticismo que paga de fodão ao dizer o óbvio, que, por exemplo, Jair Bolsonaro fez na ONU discurso pra alimentar o foro interno (Ignorando que ali ele também dialogou com Sauditas, Orban, Trump, Vox e outros fã de Bannon), e mais ação.

E ação significa também modular o discurso, produzir o combate ir menos na veia de quem tá do lado e mais na veia do fascismo.

Construir matrizes de padrão negativo nas métricas de redes sociais envolvendo fascistas é tão importante quanto construir núcleos na periferia, de preferência sem tratar a periferia de forma colonialista.

Da mesma forma é mais importante atacar democratas que se omitem em detrimento do ataque a democratas que resistem. Como é fundamental entender que qualquer brecha aberta no discurso e na imagem de gente autoritária que tá tentando reposicionamento de marca pra se descolar de Bolsonaro é muito bem-vinda.

Não há uma fórmula única de combate ao fascismo, a Bolsonaro e aos spoilers de IT – A coisa, inclusive porque no cotidiano, na realidade, no processo dialético do real, não há fórmula única nenhuma.

Estamos em crise climática, civilizacional, com a democracia internacionalmente sob ataque, em avanço do genocídio de pobres em nome da guerra às drogas, então sim, de Sanders a Freixo, passando por autonomistas, anarquistas, okupas e movimentos de combate à carreira musical do Sambô, todos os movimentos que põem as civilizações em combate à barbárie são bem-vindos.

A dialética não precisa realmente de síntese, a polofonia que reage à antítese é uma bem-vinda sonoridade que rima com a diversidade, e a biodiversidade, dos espectros políticos que agem em prol da vida.

Nesse momento a unidade que precisamos é menos a uniformidade acrítica e mais a compreensão que nessa trincheira é extremamente importante sabermos quem somos e nos respeitarmos por isso.

It’s the end of the world as we know it and I feel fine

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O grande segredo de qualquer valentão como Jair Bolsonaro é transformar seus grunhidos e blefes em verdade a partir de um conjunto de elementos que se engalfinham para transformarem-se na tempestade perfeita de sustentação que aparentemente o mantém firme no poder.

Um período bem longo e sem vírgulas que meio que resume a conjuntura atual do governo Bolsonaro, pela tensão que provoca, pela estrutura que organiza uma leitura sem fôlego, pelo impressionismo, o raio que o parta.

Há matérias no jornal que relatam como fomos vítimas de um golpe militar em potencial e fomos protegidos pelo grande herói Toffoli. Há mais e mais violência organizada pelo discurso presidencial em meio a uma queda vertiginosa de nossa economia, sem nenhuma previsão de sonho de recuperação, uma deterioração do ambiente político com a esquerda sob ameaça institucional enquanto a direita tenta sair das cordas em que foi posta por si mesma e é mantida como refém por uma extrema-direita fraca, mas eloquente.

Isso tudo é lido por metade mais um de nossa esquerda como um quadro de derrota, e eu só consigo me lembrar daquele time do Fluminense de 1995.

Há ventos e confianças que saem do âmago da Terra, que saem da marca do sangue de nossos mortos e da certeza de luta de nossos vivos.

Gramsci falava do otimismo da vontade equilibrado pelo pessimismo da razão, e concordo com ele, mas em tempos de duras lutas contra inimigos que se proclamam devastadores do viver eu recomendo a fúria otimista da raiva, da necessidade de vitória a qualquer custo porque é da vida que estamos falando. A vida na terra, pra ser mais exato.

E não, não estou falando otimismo do sonho, mas do otimismo da raiva, que dá pra parar, pra interromper, mas apenas com a fome de interromper e construir a interrupção do que nos viola.

Pra isso precisamos destrinchar a farda do valentão e dizer a ele que sim, ele é o fim de nosso mundo como o conhecemos, mas nos sentimos bem com isso, porque é da destruição desse mundo que nascerá o nosso.

Bolsonaro se sustenta sobre uma equação de fácil resolução e que aponta pra sua queda a qualquer momento.

Havia um golpe sob o comando do General Villas Bôas? Olha, com todo respeito do Ministro Toffoli do STF, mas se alguém quer dar um golpe pra por alguém no poder e tem condições de fazê-lo ele não precisa do STF manter o adversário preso para fazê-lo. Ah, mas ele queria aparência de democracia? Amigão, com TVs, jornais, STF, o cacete a favor de não soltar Lula, como se viu, se quisessem pro um Camelo de Tanga como presidente poriam e com aparência de democracia porque nossos grito seria, como é, tratado com desprezo.

O fato é que setores amplos da burguesia empoderaram Bolsonaro e os militares de Villas Bôas porque erma parte de um golpe institucional que começou em 2016 e foi dado em nome de um programa ultraliberal em curso., não em nome de Bolsonaro. Jair era só o boneco certo no tabuleiro do jogo da vida naquele momento. Não é mais faz tempo.

Os militares são tão fortes que um pseudofilósofo escatológico, portador de uma bandeira de extrema-direita de tamanho discutível e empoderado pelos Bolsonaro faz o que quer com eles.

Ah, mas Bolsonaro tem hegemonia na baixa patente! A mesma que foi desconsiderada na Reforma da Previdência dos militares que ampliou o fosso salarial entre baixa e alta patente?

Ah, mas Bolsonaro tem o apoio do oficialato de alta patente? O mesmo que vê generais sendo tratados como lixo e não promoveu os militares mais próximos de Jair a Generais de quatro e cinco estrelas, optando por outros? Os mesmos que já se fazem ouvir que é necessário desvincular o exército do governo para evitar respingos na instituição? Entendi.

Ah, mas tem o apoio do Centrão? Do STF? Da população? Olha, metade mais um do congresso é qualquer coisa, mas não é apoiador de Jair e sua trupe. Nem o governador do RJ, eleito pelos Bolsonaro e com fortes ligações com a milícia, segue na banca do cabra. O STF temo Toffoli mantendo o apoio acrítico, os demais estão há meses dando derrotas ao governo, a população o rejeita em maioria, embora não apoie a esquerda e tenha um enorme antipetismo arraigado, que é mais problema do PT que da esquerda.

O fato é que há uma ação concreta do governo no avanço da destruição o mais rápido possível, e do aumento do saque, na aposta do risco de manter os 30% que o apoiam porque a oposição, de direita e esquerda, está dividida, mas esse quadro vem se construindo de alternativas que o valentão começa a não ter pra onde ir, porque queimou as caravelas e tem contra si hoje várias burocracias de Estado que se sentem traias ou confrontadas em sua existência por seu governo.

Basta uma faísca pro celeiro pegar fogo, e há muitos interesses em acendê-la.

O fim está próximo, o confronto entre Moro e Jair indicam mais um racha, Frota ser expulso foi uma estupidez que abre outras brechas, e quando Dória se esforça para trazê-lo ao PSDB é indicativo de um campo se aproximação com garrafas vazias pra vender.

E pela esquerda? Há tramas e tranças a caminho, há idas e vindas e alternativas se construindo. E 2020 será interessante.

Repito: sim é o fim do mundo como o conhecemos, e nos sentimos bem porque é sobre as ruínas deste mundo que ergueremos o nosso.

A voz do outro que há dentro de mim

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Um dos aspectos mais irritantes da cultura política liberal é a transformação da política em um jogo lúdico onde o movimento sexy das classes em embate é quase transformado na subordinação da luta às regras do bom senso cavalheiresco, com VAR e o diabo.

Difícil manter um mínimo de controle diante da bazófia média de falsas simetrias, arrogâncias doutas e outros mil problemas que fazem com que o que eles pregam como diálogo seja submissão e saída seja a adequação.

Mas em quadros conjunturais onde o inimigo é infame a ponto de fazer com que a luta de classes seja parcialmente posta em segundo plano, maomeno, pra dar lugar a uma luta pela democracia,é de bom tom um debate aberto com os liberais, liberais “progressistas’, sociais-democratas, esquerda-namastê com baixo carboidrato,etc.

E isso porque o bicho tá pegando e tem gente morrendo enquanto a falsa simetria do “E o PT?”, a redução da esquerda às legendas, do mundo ao “Lula Livre” e da esperança à que Bolsonaro se civilize não ajudam muito na produção de boa vontade mútua. E a gente precisa sempre lembrar que tem gente morrendo.

Foi mal, desculpa te deprimir, e eu sei que te deprime, mas tem gente morrendo, gente sem conseguir pagar aluguel, gente desempregada e sem parente rico pra acolher, gente com filho doente, gente com filho autista doente, o caralho. E a saída tá longe de ampliar a ajuda humanitária interna ao país, porque isso ajuda praca, mas não resolve.

A gente precisa tirar o homem do poder, pra ontem.

Não, não vamos nos abraçar depois, vocês não acreditam no fim do capitalismo, acham que é maluquice de gente bêbada resistir à reforma da previdência, entendem Marx como ultrapassado enquanto louvam a metafísica neoliberal, que requenta de forma ruim o liberalismo já metafísico de Ricardo e Smith, que lutar pelo meio ambiente é usar sacola de plástico reciclado e que todo socialismo/comunismo é Stalinista, ignorando sei lá, sessenta ou mais anos de trotskismo, anarquia,etc.

Nós não achamos que o capitalismo que beneficiou tua classe, que te deu os privilégios,os cursos de inglês, o banho de cultura na Europa, quando a gente no máximo chega no Jardim Europa ou na Praça Paris, que detona a Amazônia, as baleias, os pretos, pobres e LGBT, as minas, os manos, seja solução pra nada, a gente quer ecossocialismo e planejamento democrático, a gente quer uma vibe queer antirracista, contra o patriarcado, que escrache o privilégio e nos imponha a autocrítica como valor fundamental e a solidariedade pra além do abraço e da ciranda.

Então, amor, sim, no minuto seguinte que o fascismo for atropelado a gente vai cair na porrada, a paz dos cemitérios que vocês desejam não virá, nós não daremos trégua, nós faremos greve, nós chamaremos vocês de brancos ricos que usam camisa de solidariedade a Cuba e ignoram o Haiti.

A gente vai lembrar todo dia que o branco rico é privilegiado e que seu amor no coração e merda é a mesma coisa quando a gente tem que parar de comer pra pagar a conta de luz.

Mas a gente ou derrota o fascismo ou morre, com a esquerda indo primeiro, sem deixar de incluir boa parte da burguesia e pequena burguesia que mete “E o PT?”, achando que há uma escolha difícil entre um fascista e o outro lado, composto de mais gente e de democratas do que o PT consegue compor internamente em sua legenda, e de gente que foi e é oposição ao PT até hoje.

E antes da esquerda já tem índio morrendo, pretos e pretas, bebês, LGBTs, o número de mulheres assassinadas em feminicídios aumenta a olhos vistos e um canalha vestindo faixa presidencial, eleito pela ação ou omissão de muita gente supostamente civilizada, tá no poder e precisa sair dali antes que o número de corpos aumente.

O meio ambiente tem um grau de devastação que remete ao início do XX e o planeta em um grau de sobrecarga que não nos permite mantermos um comportamento omissão diante disso, e Bolsonaro é uma parte, crucial, do problema.

Então mantenhamos nossas disputas e divergências, porque é delas que se alimenta a democracia, mas já passou da hora de sairmos construindo a defesa do impeachment de Bolsonaro e de uma repactuação democrática para que o país não mande pro inferno décadas de organização de políticas de estado que melhoram a vida da população.

Uma dica: uma repactuação democrática atrasa revoluções, ao menos por algum tempo. Pode ser interessante para sua pregação de paz na Terra aos homens com boa vantagem.

O lance é que a hora é agora, o momento é já. A resistência de qualquer princípio democrático é fundamental até para que a construção de nossas formações políticas civilizatórias se dê não em um ambiente de sobrevivência, mas de vivência e crescimento.

Até pra derrubar o capitalismo é preciso democracia.