Alexandre de Moraes e Serra serão responsáveis pela inviabilização de Temer. Serra pra fora, Moraes pra dentro.
A tática de Moraes de meter mais armas e menos inteligência não funciona, o país não é SP.
Serra é um incidente diplomático atrás do outro e Macri não tem interesse nenhum em ser parceiro de Temer se pode ser concorrente em acordos com Uruguai e até com a Venezuela.
Lembrem-se, Macri tem um país pra tocar e essa agenda é mais importante pra ele que manter Temer, que nem o próprio Brasil quer.
As chances de Bolzonaro são mínimas, e caem a cada dia.
As chances do PSDB idem, podem tentar inflar à vontade, ainda mais depois do apoio direto a Temer e vinculação por Anastasia do sucesso tucano ao sucesso de Temer.
Que alternativas da direita existem? Ciro Gomes e Marina Silva, isso mesmo.
Ciro Gomes virou o queridinho de parte da esquerda porque fez o óbvio, se colocou tanto contra o PT e sua corrupção (Foi além, fez o discurso que o PT “aparelhava o estado”) quanto denunciou o golpe parlamentar que removeu Dilma e de lambuja ainda atacou o PMDB como antro de ladrões.
Ciro ainda caminha no tênue fato que foi ministro de Lula e de FHC, paga de terceira via.
Marina já defendia o programa neoliberal em 2014, deve manter a defesa com críticas ao tamanho da austeridade de Temer.
Além disso, tem pautas liberais e ecocapitalistas apetecíveis pras classes médias urbanas abraço na Lagoa e política enquanto performance pra exibição de consciência política amestrada.
Marina é favorita,mas Ciro pode vir a crescer, ainda mais com as prováveis quedas de Aécio ou Alckmin e com Bolzonaro mantendo-se no teto clássico da extrema-direita brasileira (algo entre 4% e 10%).
O PT pode ter em Lula uma alternativa, tem enorme popularidade, que se mantém mesmo com todos os incidentes e o impeachment, e mesmo enfrentando uma enorme resistência de parte da população deve se beneficiar por mudanças de ideia de parte desta mesma população com o provável aumento do desgaste de Temer e seu pacote de destruição da CLT, SUS e uber austeridade pros pobres e aumento de benefícios aos ricos.
A política externa fanfarrona de Temer deve cobrar seus preços no comércio exterior, e a política de tiro, porrada de bomba de Moraes deve ampliar o já altíssimo grau de violência nas grandes cidades, onde as vítimas são em sua maioria pobre e preta.
Nesse cenário o PT deve retomar parte do apoio popular que perdeu, até porque todos os movimentos feitos pelo PT receberam apoio de boa parte da esquerda partidária e da esquerda ex-partidária independente que foi muito competente em brandir as bandeiras de golpe e “fora Temer” de forma acrítica e performática, ampliando a propaganda eleitoral antecipada pra o PT 2018.
Acrescente a esta receita a divisão entre a própria direita entre Bolsonaro, Aécio e até Temer, a atração de Marina, que deve atrair os liberais e sociais liberais com seu programa (Pode atrair até parte do petismo mais favorável ao neoliberalismo com tintas sociais) e temos um bom caldeirão pro PT ir bem nas eleições e disputá-las com Marina.
Neste quadro até sem Lula o PT tende a ir bem, inclusive porque perde a rejeição enorme que Lula tem por parte da população.
O PSOL depende demais do resultado das eleições municipais, sem um a dois prefeitos a tendência é ficar nos mesmos 2% de sempre.
Com a eleição de Freixo e/ou Luciana Genro ambos podem vir a ser candidatos, com Freixo sendo o mais popular e qualificado e podendo crescer nos flancos do PT e da REDE.
Erundina também é uma alternativa, se a filiação democrática do RAIZ permanecer.
Freixo pode ir além dos 2%,mas é uma incógnita que aceite, mesmo se for prefeito do Rio, porque depende demais de seus interesses imediatos mais que dos interesses do partido.
Luciana é mais partidária, digamos assim, que Freixo, mas tem menos punch e já foi candidata, e não tem exatamente enorme simpatia interna.
Erundina tem tudo pra ser uma candidata de fôlego e juntar o melhor de dois mundos, fazendo ainda ponte com o movimento raiz que pode ser uma alternativa de esquerda mais orgância que o PSOL e com ideias mais ou menos novas.
O problema é que até lá Temer, com Moraes e Serra, devem ter destruido CLT e SUS.
Apenas se a crise conseguir piorar e Temer se tornar um empecilho, e por isso vir a ser removido via TSE, podemos ter um 2017 menos caótico, porém é um cenário bem improvável.
Sem CLT e SUS, e todo o debate em torno de candidaturas e movimentos que vem sendo feito, aqui e na política cotidiana, com todos os atores da institucionalidade se movendo em torno das eleições pra presidente, a vida da população vai piorar muito.
Em um ano Temer pode ter o efeito de uma catátrofe natural pro país.
E as ruas estão vazias.
A maior parte dos movimentos de resistência que vem sendo feitos não são de membros de partidos e da maior parte da esquerda, empenhada em eleger vereadores e ampliar suas chances pra eleição pra presidente.
Só que o cerol não para, a câmara não para, as leis são votadas, os projetos encaminhados, as universidades públicas vão sendo inviabilizadas e a treva se aproxima.
O que vamos fazer até lá?
A direita e a esquerda desenham esse quadro que desenhei todo dia, várias vezes.
Analisa-se com detalhes as chances eleitorais de cada um, mas enquanto isso as pessoas morrem, ficam desempregadas, direitos caem e o que faz-se? Performance.
Direita e esquerda ignoram o real a seu redor e a construção de ferramental de leitura do real para transformá-lo, ou aprimorá-lo no caso dos defensores do status quo, mas focam todos os seus esforços na performance.
Não interessa debater a sério entre esquerda e direita a questão da exploração do trabalho.
Dane-se se a esquerda tem claro que o trabalho é explorado com apropriação de mais valia pelo patrão e a direita liberal tanto sabe que o trabalho é explorado que toda empresa e faculdade de administração tem o departamento e a discussão de Recursos Humanos.
Porque trabalho, gente, são recursos a serem explorados, mesmo pra direita liberal.
Claro que recursos humanos é um enfoque diferente do trabalho sendo explorado enquanto apropriação de mais valia, só que ambos os casos são enfoques diferentes a partir de suas matrizes ideológicas.
E o que direita e esquerda fazem com isso? Banalizam o debate, não se busca mais investigar as concepções de cada um para aprimorar percepções,mas vencer o debate, e ai morre o diálogo e nasce a performance retórica.
Construir o argumento de forma sofismática e espetacular é mais importante que construir um argumento com o estabelecimento de fundamentos firmes e fortes, letra a letra, frase a frase, percebendo uma centelha de realidade, revelando-a.
Vencer é mais importante que entender.
Claro que o diálogo colocado aqui não é o da mediação e do acordo, mas o do embate onde as teorias fluem e se tornam transformadoras.
Por essas e outras que direita e esquerda perderam o humanismo, abrem espaço pra novos fascismos e stalinismos e tornam-se cada vez mais hordas de imbecis performáticos incapazes de uma leitura mais complexa da realidade.
Quantos liberais se sentem representados por quaisquer candidatos da dita direita e quantos socialistas se percebem representados pela esquerda?
Qualquer ambientalista sério se esforça demais na construção de ilusões para ver-se em alguma candidatura, seja o ambientalista de direita ou esquerda, se for honesto consigo mesmo e analisar a agenda ecológica de cada um.
Porque a performance é substituta direta da política, e é prima-irmã da ascensão dos novos fascismos.
As fotos de Moro, o “Fora Temer”, o “Tchau Querida!”, a “Nova Política” a “Primavera Carioca!” são todos elementos de performance enquanto política, com mais imagens e sons que argumento.
Tudo é produto, tudo é marketing, tudo é a captação do espectro anímico da população e nenhuma ação de debate a sério sobre a sociedade e o que fazer com sua relação com o estado.
Os ministros agem, e agiam, como pantomimeiros. Cada declaração é uma frase feita, dane-se ao que e a quem atingem.
É Moraes e “Pesquisa-se demais, precisamos de mais armas!” e Serra chamando o embaixador do Uruguai às falas por uma acusação de corrupção feita contra ele mesmo (Big Stick versão SBT) de um lado e Dilma “Não fazemos propaganda de opção sexual!” de outro.
E são tantas emoções e outros exemplos que nem vos conto.
E as propostas para as cidades?
Zero de Tarifa Zero, nada de programa de erradicação dos combustíveis fósseis, nada sobre VLTs ou transportes limpos.
Nada de rever a produção de alimento a nível local reduzindo preços e pegadas de carbono.
Nada, nadinha de debate sobre conselhos municipais de governo, de orçamento participativo, nada.
O que há é uma cacetada de proposta vazia, mas boas de performance.
Uma delas é a de “maior participação popular” que gira em torno de plebiscito e formulação de leis, nenhuma proposta séria de construção de governo democrático via conselhos, ampliados e deliberativos.
Mas tá tudo bem, esquerda e direita estão nas performances, tá tudo teatralizado e programado pra emocionar.
Anarquistas e autonomistas nas ruas e nos debates chamam pras ações,mas provavelmente não são bem vindos nas casas legalistas do partidarismo equestre.
E CLT e SUS morrendo junto com as públicas.
Mas não desliguem, hoje tem espetáculo!
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