Política, performance, Temer e eleições 2018

Laerte

 

Alexandre de Moraes e Serra serão responsáveis pela inviabilização de Temer. Serra pra fora, Moraes pra dentro.

A tática de Moraes de meter mais armas e menos inteligência não funciona, o país não é SP.

Serra é um incidente diplomático atrás do outro e Macri não tem interesse nenhum em ser parceiro de Temer se pode ser concorrente em acordos com Uruguai e até com a Venezuela.

Lembrem-se, Macri tem um país pra tocar e essa agenda é mais importante pra ele que manter Temer, que nem o próprio Brasil quer.

As chances de Bolzonaro são mínimas, e caem a cada dia.

As chances do PSDB idem, podem tentar inflar à vontade, ainda mais depois do apoio direto a Temer e vinculação por Anastasia do sucesso tucano ao sucesso de Temer.

Que alternativas da direita existem? Ciro Gomes e Marina Silva, isso mesmo.

Ciro Gomes virou o queridinho de parte da esquerda porque fez o óbvio, se colocou tanto contra o PT e sua corrupção (Foi além, fez o discurso que o PT “aparelhava o estado”) quanto denunciou o golpe parlamentar que removeu Dilma e de lambuja ainda atacou o PMDB como antro de ladrões.

Ciro ainda caminha no tênue fato que foi ministro de Lula e de FHC, paga de terceira via.

Marina já defendia o programa neoliberal em 2014, deve manter a defesa com críticas ao tamanho da austeridade de Temer.

Além disso, tem pautas liberais e ecocapitalistas apetecíveis pras classes médias urbanas abraço na Lagoa e política enquanto performance pra exibição de consciência política amestrada.

Marina é favorita,mas Ciro pode vir a crescer, ainda mais com as prováveis quedas de Aécio ou Alckmin e com Bolzonaro mantendo-se no teto clássico da extrema-direita brasileira (algo entre 4% e 10%).

O PT pode ter em Lula uma alternativa, tem enorme popularidade, que se mantém mesmo com todos os incidentes e o impeachment, e mesmo enfrentando uma enorme resistência de parte da população deve se beneficiar por mudanças de ideia de parte desta mesma população com o provável aumento do desgaste de Temer e seu pacote de destruição da CLT, SUS e uber austeridade pros pobres e aumento de benefícios aos ricos.

A política externa fanfarrona de Temer deve cobrar seus preços no comércio exterior, e a política de tiro, porrada de bomba de Moraes deve ampliar o já altíssimo grau de violência nas grandes cidades, onde as vítimas são em sua maioria pobre e preta.

Nesse cenário o PT deve retomar parte do apoio popular que perdeu, até porque todos os movimentos feitos pelo PT receberam apoio de boa parte da esquerda partidária e da esquerda ex-partidária independente que foi muito competente em brandir as bandeiras de golpe e “fora Temer” de forma acrítica e performática, ampliando a propaganda eleitoral antecipada pra o PT 2018.

Acrescente a esta receita a divisão entre a própria direita entre Bolsonaro, Aécio e até Temer, a atração de Marina, que deve atrair os liberais e sociais liberais com seu programa (Pode atrair até parte do petismo mais favorável ao neoliberalismo com tintas sociais) e temos um bom caldeirão pro PT ir bem nas eleições e disputá-las com Marina.

Neste quadro até sem Lula o PT tende a ir bem, inclusive porque perde a rejeição enorme que Lula tem por parte da população.

O PSOL depende demais do resultado das eleições municipais, sem um a dois prefeitos a tendência é ficar nos mesmos 2% de sempre.

Com a eleição de Freixo e/ou Luciana Genro ambos podem vir a ser candidatos, com Freixo sendo o mais popular e qualificado e podendo crescer nos flancos do PT e da REDE.

Erundina também é uma alternativa, se a filiação democrática do RAIZ permanecer.

Freixo pode ir além dos 2%,mas é uma incógnita que aceite, mesmo se for prefeito do Rio, porque depende demais de seus interesses imediatos mais que dos interesses do partido.

Luciana é mais partidária, digamos assim, que Freixo, mas tem menos punch e já foi candidata, e não tem exatamente enorme simpatia interna.

Erundina tem tudo pra ser uma candidata de fôlego e juntar o melhor de dois mundos, fazendo ainda ponte com o movimento raiz que pode ser uma alternativa de esquerda mais orgância que o PSOL e com ideias mais ou menos novas.

O problema é que até lá Temer, com Moraes e Serra, devem ter destruido CLT e SUS.

Apenas se a crise conseguir piorar e Temer se tornar um empecilho, e por isso vir a ser removido via TSE, podemos ter um 2017 menos caótico, porém é um cenário bem improvável.

Sem CLT e SUS, e todo o debate em torno de candidaturas e movimentos que vem sendo feito, aqui e na política cotidiana, com todos os atores da institucionalidade se movendo em torno das eleições pra presidente, a vida da população vai piorar muito.

Em um ano Temer pode ter o efeito de uma catátrofe natural pro país.

E as ruas estão vazias.

A maior parte dos movimentos de resistência que vem sendo feitos não são de membros de partidos e da maior parte da esquerda, empenhada em eleger vereadores e ampliar suas chances pra eleição pra presidente.

Só que o cerol não para, a câmara não para, as leis são votadas, os projetos encaminhados, as universidades públicas vão sendo inviabilizadas e a treva se aproxima.

O que vamos fazer até lá?

A direita e a esquerda desenham esse quadro que desenhei todo dia, várias vezes.

Analisa-se com detalhes as chances eleitorais de cada um, mas enquanto isso as pessoas morrem, ficam desempregadas, direitos caem e o que faz-se? Performance.

Direita e esquerda ignoram o real a seu redor e a construção de ferramental de leitura do real para transformá-lo, ou aprimorá-lo no caso dos defensores do status quo, mas focam todos os seus esforços na performance.

Não interessa debater a sério entre esquerda e direita a questão da exploração do trabalho.

Dane-se se a esquerda tem claro que o trabalho é explorado com apropriação de mais valia pelo patrão e a direita liberal tanto sabe que o trabalho é explorado que toda empresa e faculdade de administração tem o departamento e a discussão de Recursos Humanos.

Porque trabalho, gente, são recursos a serem explorados, mesmo pra direita liberal.

Claro que recursos humanos é um enfoque diferente do trabalho sendo explorado enquanto apropriação de mais valia, só que ambos os casos são enfoques diferentes a partir de suas matrizes ideológicas.

E o que direita e esquerda fazem com isso? Banalizam o debate, não se busca mais investigar as concepções de cada um para aprimorar percepções,mas vencer o debate, e ai morre o diálogo e nasce a performance retórica.

Construir o argumento de forma sofismática e espetacular é mais importante que construir um argumento com o estabelecimento de fundamentos firmes e fortes, letra a letra, frase a frase, percebendo uma centelha de realidade, revelando-a.

Vencer é mais importante que entender.

Claro que o diálogo colocado aqui não é o da mediação e do acordo, mas o do embate onde as teorias fluem e se tornam transformadoras.

Por essas e outras que direita e esquerda perderam o humanismo, abrem espaço pra novos fascismos e stalinismos e tornam-se cada vez mais hordas de imbecis performáticos incapazes de uma leitura mais complexa da realidade.

Quantos liberais se sentem representados por quaisquer candidatos da dita direita e quantos socialistas se percebem representados pela esquerda?

Qualquer ambientalista sério se esforça demais na construção de ilusões para ver-se em alguma candidatura, seja o ambientalista de direita ou esquerda, se for honesto consigo mesmo e analisar a agenda ecológica de cada um.

Porque a performance é substituta direta da política, e é prima-irmã da ascensão dos novos fascismos.

As fotos de Moro, o “Fora Temer”, o “Tchau Querida!”, a “Nova Política” a “Primavera Carioca!” são todos elementos de performance enquanto política, com mais imagens e sons que argumento.

Tudo é produto, tudo é marketing, tudo é a captação do espectro anímico da população e nenhuma ação de debate a sério sobre a sociedade e o que fazer com sua relação com o estado.

Os ministros agem, e agiam, como pantomimeiros. Cada declaração é uma frase feita, dane-se ao que e a quem atingem.

É Moraes e “Pesquisa-se demais, precisamos de mais armas!” e Serra chamando o embaixador do Uruguai às falas por uma acusação de corrupção feita contra ele mesmo (Big Stick versão SBT) de um lado e Dilma “Não fazemos propaganda de opção sexual!” de outro.

E são tantas emoções e outros exemplos que nem vos conto.

E as propostas para as cidades?

Zero de Tarifa Zero, nada de programa de erradicação dos combustíveis fósseis, nada sobre VLTs ou transportes limpos.

Nada de rever a produção de alimento a nível local reduzindo preços e pegadas de carbono.

Nada, nadinha de debate sobre conselhos municipais de governo, de orçamento participativo, nada.

O que há é uma cacetada de proposta vazia, mas boas de performance.

Uma delas é a de “maior participação popular” que gira em torno de plebiscito e formulação de leis, nenhuma proposta séria de construção de governo democrático via conselhos, ampliados e deliberativos.

Mas tá tudo bem, esquerda e direita estão nas performances, tá tudo teatralizado e programado pra emocionar.

Anarquistas e autonomistas nas ruas e nos debates chamam pras ações,mas provavelmente não são bem vindos nas casas legalistas do partidarismo equestre.

E CLT e SUS morrendo junto com as públicas.

Mas não desliguem, hoje tem espetáculo!

Tá tendo golpe!

fai

Em tempos de manifestação com transmissão ao vivo e polícia a favor é fundamental tratarmos do dito Golpe contra “a esquerda” e dos pavores noturnos que povoam o imaginário e o cotidiano de boa parte dos apoiadores dos últimos governos, de suas linhas auxiliares e da esquerda partidária como um todo.

Porque golpe tá tendo sim, já teve e permanecerá tendo, não exatamente como a narrativa busca vender, mas como o contexto político e a conjuntura permitem perceber.

Tá tendo golpe já em 2002 com a “carta ao povo Brasileiro”. Desde 2003 tá tendo golpe, desde antes da reforma da previdência tá tendo golpe.

Tá tendo golpe desde quando o neodesenvolvimentismo do PT, apoiado por CUT e PCdoB, deu as caras no país usando o BNDES para financiar o avanço do capitalismo brasileiro mundo afora.

Tá tendo golpe desde quando o neodesenvolvimentismo achou de bom tom retomar processos de construção de megaempreendimentos hidrelétricos engedrados pela ditadura militar na Amazônia, iniciando por Belo Monte, atingindo o meio ambiente e todas as nações indígenas que residem ali, auxiliando a expansão da fronteira agrícola e com ela as balas das milícias ruralistas.

Tá tendo golpe desde quando os governos do PT frearam a titulação de terras quilombolas e indígenas, permitiram o avanço da PEC 215 e ameaçam direitos indígenas e quilombolas país afora, pouco ou nada protegendo nações inteiras do extermínio pelas mãos do mesmo agronegócio da ministra Kátia Abreu e de Bumlai, amigo do Lula.

Tá tendo golpe desde quando os governos do PT sequestraram o MST e o MTST, boa parte do MAB e a maioria dos movimentos sociais organizados e que viviam nas franjas do PT, em nome de um processo de domesticação que atacou o coração das lutas e da mobilização popular.

Tá tendo golpe desde que os governos do PT desapropriaram menos terras que FHC.

Tá tendo golpe desde que os movimentos e governos do PT fizeram eco à criminalização da pobreza e dos movimentos sociais para construírem a “Copa das Copas”, removendo pessoas de suas casas, prendendo manifestantes e ativistas, cassando seus direitos constitucionais, oferecendo tiro, porrada e bomba a quem apontava os superfaturamentos, as violações de DH promovidas pelos tantos governos.

Tá tendo golpe desde quando os governos do PT promoveram e/ou apoiaram a ocupação militar das favelas.

Tá tendo golpe desde que os governos do PT abraçaram os do PSDB criminalizando o MPL, autonomistas, anarquistas e qualquer um que não estivesse no campo aceito pela ordem.

Tá tendo golpe desde que os militantes do PT fundaram seu ethos discursivo, sua práxis, na destruição do outro, tornando tudo o que não batia bumbo pro avanço de sua versão de gerência do capital, de forma distorcida chamada de “de esquerda”, de “fascismo”.

Tá tendo golpe desde que praticamente toda a esquerda virou linha auxiliar desse governo genocida, etnocida, ecocida.

Tá tendo golpe sim, e um golpe que afastou toda a resistência das ruas, com base em tiro, porrada, bomba e processos judiciais e as deu à direita.

Tá tendo um golpe urdido pelo PT e continuado pela direita que o PT fingiu combater enquanto se aliava a ela em um clube de negócios que os iludiu a ponto de acharem que faziam parte do quadro social permanente.

A resistência a esse golpe (promovido pelo PT de 2003 pra cá e continuado pela trupe de Temer, Aécio, Cunha, Bolsonaro, pelo MBL e seus movimentos protofascistas) pode ocorrer e ocorrerá, já está ocorrendo, mas não pelos vitupérios da milícia boquirrota do petismo, e sim pelas mãos de quem ocupa escola.

Resta saber se o PT vai continuar apoiando o golpe ou vai dar uma reviravolta e apoiar a resistência. Duvido que ocorra.

Nota de Repúdio às arbitrariedades cometidas pelo Estado no ato em apoio aos profissionais da educação #issonãoésobreoblackbloc

images (3)

O Rio de Janeiro passou nesta terça, 15 de outubro, por mais uma mobilização em apoio aos profissionais da educação. O ato em defesa da educação pública, marcado para o dia do professor, reuniu dezenas de milhares de pessoas. No final da passeata, na Cinelândia, quando ainda restavam cerca de cinco mil manifestantes, iniciou-se um grave ataque por parte da polícia. Grande parte das pessoas foi atingida de surpresa pelas bombas de gás lacrimogêneo e demais armamentos. As forças de repressão do Estado agiram com violência e arbitrariedade contra os/as manifestantes, de forma absolutamente desproporcional.

Segundo a nota da assessoria de imprensa da Polícia Civil, divulgada pelo globo.com no dia 16 de outubro, 190 pessoas foram conduzidas para oito delegacias da capital, sendo 57 adolescentes. De acordo com advogados/as que assistiram os manifestantes, esse número passou de 200 e não havia motivos de ordem técnica para os detidos serem levados para delegacias de outras regiões, se tratando de um expediente para dificultar a defesa jurídica dos/as acusados/as. Ainda segundo a nota, foram presos 64 adultos/as e 20 adolescentes apreendidos/as. Desse total, várias pessoas foram autuadas com base na nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013), aprovada em agosto desse ano, um mecanismo de criminalização das grandes manifestações deflagradas a partir de junho em todo o país.  

Ao menos um manifestante foi atingido por tiros de arma de fogo. Rodrigo Gonçalves Azoubel, de 18 anos, relatou que participava do ato na Avenida Rio Branco, quando percebeu que os braços estavam sangrando. Segundo o hospital, ele passou por cirurgia e está bem. Além disso, o acampamento ‘Ocupa Câmara’, que estava há cerca de dois meses pacificamente na escadaria da Câmara de Vereadores, foi destruído pela PM e os pertencens jogados num caminhão da COMLURB. Há relatos de muita violência na dispersão do acampamento, onde manifestantes que estavam parados no local foram cercados por grande efetivo de policiais de diversos batalhões, incluindo BOPE, CHOQUE e Operações com Cães. Os manifestantes foram revistados e detidos em massa de modo arbitrário.

Consideramos a ação da polícia na manifestação pela educação uma severa afronta aos direitos da população. Os governantes, em lugar de dialogar, tratam com violência e arbitrariedade a luta por direitos. Vale lembrar que o Rio tem uma das polícias mais violentas do mundo. Assassinatos pela polícia e desaparecimentos forçados continuam, como exemplifica o caso de Amarildo de Souza. Atualmente, as forças de repressão atuam com uma forte política de militarização e controle armado do cotidiano da cidade. O Estado não acaba com o controle territorial das milícias, especialmente na Zona Oeste, enquanto nas áreas valorizadas se utiliza da ocupação militar dos territórios a partir das UPPs e reprime com violência a todos que não se enquadram na ordem estabelecida pelos interesses dos grandes negócios: população em situação de rua, trabalhadores/as ambulantes, manifestantes etc.

Na cidade que sediará grandes eventos mundiais, a população está coagida a não ir para as ruas reivindicar seus direitos, mesmo perdurando uma realidade em que a educação pública é precária, acomodada a uma estrutura de desigualdade social e racial. O Estado se nega a dialogar com a população ao mesmo tempo em que adquire cada vez mais armamentos, consumindo recursos significativos do orçamento público. Um exemplo disso é a previsão da ampliação do uso das armas “não letais” pelos agentes do Choque de Ordem a partir de 2014, o que foi barrado liminarmente na 22ª Câmara Cível, dada a inconstitucionalidade da medida. Não precisamos de uma cidade cada vez mais armada, seja por caveirões, fuzis, balas de borracha, teaser, gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Nossos problemas sociais só se resolverão quando a população tiver seus direitos respeitados. Armas não garantem direitos, pelo contrário, têm gerado violência, mortes e arbitrariedades, fazendo nos lembrar os não tão distantes tempos de ditadura civil-militar.

Apesar da truculência policial e autoritarismo dos governos Cabral e Eduardo Paes, mais uma vez a história mostra que lutar vale a pena. Após as mobilizações, o Supremo Tribunal Federal concedeu uma liminar ao SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro) que impede o desconto de greve nos salários dos profissionais da rede estadual. O governo estadual ficou proibido de efetuar o corte dos vencimentos dos grevistas e a decisão valerá pelo menos até 22 de outubro, quando haverá uma nova audiência entre o governo e o sindicato. Além disso, o Tribunal Regional do Trabalho de Brasília concedeu uma liminar suspendendo a cassação do registro sindical do SEPE, outra ameaça que o sindicato sofria frente às mobilizações. 

Apoiamos a luta dos profissionais da educação e daqueles e aquelas que lutam por seus direitos. A violência de Estado sistemática que vivemos no Rio precisa ter fim e nossas reivindicações, com milhares de pessoas nas ruas, respeitadas e atendidas! Chega de autoritarismo dos governos e truculência policial no Rio de Janeiro!

 

CAMTRA – Casa da Mulher Trabalhadora

ASDUERJ – Associação de Docentes da UERJ

DCE – UFRJ

CEVIS – Coletivo de Estudos sobre Violência e Sociabilidade/UERJ

Cidadania e Imagem/UERJ

Círculo Palmarino Rio

CMP – Central de Movimentos Populares

COLIG – Coletivo Ilha do Governador

Comitê Popular Copa e Olimpíadas – RIO

CZOII – Coletivo de Resistência Popular Zona Oeste II

DDH – Instituto de Defensores dos Direitos Humanos

Fórum de Juventudes RJ

Fórum Social de Manguinhos

Growroom

Grupo de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola

IFHEP – Instituto de Formação Humana e Educação Popular

Laboratório Cidades/PPCIS-UERJ

LeMetro/IFCS-UFRJ – Laboratório de Etnografia Metropolitana

Mandato do Deputado Federal Chico Alencar (PSOL/RJ)

Mandato do Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL/RJ)

Mandato do Vereador Renato Cinco (PSOL/RJ)

Mandato do Vereador Eliomar Coelho (PSOL/RJ)

Mandato do Vereador Paulo Pinheiro (PSOL/RJ)

MLM – Movimento pela Legalização da Maconha

MNLM – Movimento Nacional de Luta pela Moradia

Núcleo Anticapitalista 1º de Maio

Núcleo de Direitos Humanos – PUC/RJ

Núcleo de Estudos Constitucionais – PUC/RJ

Núcleo PSOL Largo do Machado

Núcleo Socialista de Campo Grande

Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ)

Organização de Direitos Humanos Justiça Global

PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul

PCB – Partido Comunista Brasileiro

Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência

 

Mais assinaturas enviar para: contato@global.org.br

Sobre os Black Bloc, professores e a miopia – Retratos de discussões no fervo

divu1Vou começar pelo início:

Não adiante escrever “Aos que se interessam pelo tema: o black bloc teve uma participação engajada, decidida, ativa e militante para criar as condições ideais que a polícia queria para reprimir e acabar com nossa manifestação” e depois dizer que não tá responsabilizando os BB, independente da ressalva feita antes, depois, durante, no meio, ou na transversal.

Se não quis dizer isso reescreva. Se não soube se expressar reescreva. Se não foi isso que quis dizer reescreva. É bastante simples, o resto é ou estar mais perdido que cego em tiroteio ou literalmente não entender patavinas ou ter a critica, ter escrito, culpar mesmo e não querer assumir com o ônus que isso acarreta.

Desculpem ser direto e reto, tem algumas questões que acho um tanto quanto complicado de estarem sendo ignoradas:

  1. O flagrante apoio que a base da categoria dos professores deu aos Black Bloc em assembleia com cinco mil pessoas no Rio.

  2. A quantidade de enquetes, esquetes, entrevistas, pesquisas que indicam que a população não tá recusando nada os BB.

  3. A quantidade de material problematizando os BB, seja em site, seja em artigo científico, etc.

sesc_festclown_2012-_palhaco_xuxuNão somos crianças discutindo no ginásio, somos militantes com responsabilidade política uns com os outros, com o partido, com os movimentos e ser simplista neste campo é levar ônus ao coleguinha do lado, ao partido e ao movimento e levar preços a quem não comete o mesmo tipo de equívoco/tem a mesma posição, etc.

Há uma nítida criminalização dos BB pela mídia/governos e tendo eco nos partidos da esquerda como PSTU/PSOL, sim, me desculpem, eu sei ler.

Retórica à parte, critica sobre a organização dos Black Bloc, fetiche de tática, etc, é uma coisa completamente diferente do que dar parabéns aos BB porque a polícia, essa entidade filha da puta de per si, mete a porrada, me desculpem. É como culpar o moleque de dez anos que chamou o totó que é um rotweiller com raiva pelo cachorro mordê-lo e à rua toda. A culpa é sempre, sempre, do dono do cachorro.

“A Origem histórica dos BB” é fundamental conhecer, é uma história e tem raízes em autonomistas marxistas na Alemanha dos anos 1970 e tem uma longa história e adaptações por onde passou e ao que parece aqui idem. Aqui inclusive tem mais organicidade do que o normal na Europa e se relaciona muito com as ocupações urbanas, conheço antropólogos que encontraram come elas em etnografias sobre ocupações urbanas.

downloadReduzir inclusive os BB às manifestações é equívoco, porque:

  1. Não são um grupo.

  2. Não funcionam somente em manifestações e tem relações menos com anarquistas, que os criticam, e mais com autonomistas marxistas.

  3. Criticar é necessário? Pra quem acha que deve ter crítica é, mas antes de mais nada criticar sem refinar é chutar tijolo.

  4. Tem de entender e tem de entender antes de mais anda que não é disputar com eles, mas disputá-los.

  5. E o problema médio das análises é exatamente a demarcação de diferença com eles como disputa com eles.

E ai me desculpa, vou pegar um dado de um amigo: análise de discurso no trabalho historiográfico me fazem ler com quase clareza absoluta a linhagem de uma declaração. É mais que “intelectualismo” é meu trabalho e o eixo do discurso de parte da esquerda do PSOL e de companheiros do PSTU é muito similar e sim, demarcam para estabelecerem locus político diferenciado, só que partem de uma série de equívocos e artifícios retóricos para estabelecerem estas diferenças menos por entendê-las e mais pela necessidade de disputa.

E sim, não adianta dizer que a culpa é da repressão, mas os BB provocam… esse é igual ao discurso da Maria do Rosário, igualzinho..

Falar de junho sem dizer que os BB participaram é piada. Dizer que “A direção do ato foi” é piada.

imagesPorque se a gente for tratar assim vou mais longe: como é que a gente situa junho fora das rebeliões indígenas de 2012 pra cá?

Como a gente situa Junho sem a Aldeia maracanã, detonada na ensecadeira do Xingu,etc?

Como a gente situa 2013 fora do esteio da ação direta do MST na Aracruz que detonou o laboratório? As rebeliões de favela, Resistência em Pinheirinho?

Como a gente situa junho, ontem, anteontem, Rio, SP, PA, Fortaleza, Recife, fora da ampliação da militarização das polícias, do aumento da morte da juventude negra, do aumento de mortes no campo, da maior precarização do trabalho dos jovens da periferia, do resultado dos primeiros formandos das universidades da Era Lula após a “inclusão” de milhões de jovens que esperavam uma vida melhor após se formarem na universidade?

O problema é a tática? O problema é a ação direta? o problema é o momento da ação direta ou o processo?

Gente, sem olhar o maldito processo histórico e pegando recuos de médio a longo prazo, analisando o hoje a partir do possível arco de influências prévio, da história da tática, do histórico da “direção” de movimentos, do papel e da inserção do PSOL, PSTU, PT, da crise de representatividade da esquerda como um todo, e não tô falando de mensalão e corrupção, a gente vai virar girando que nem peru pré-abate.

Sem olhar o processo histórico vamos fazer como aquele “Marxista” de galinheiro que diz que a greve dos professores é de direita porque contesta um governo “de esquerda” incapaz de resolver o problema da liquidação da educação para o mercado e que aliás concorre como sócio da privatização da educação não só como governo federal, mas como governo estadual e municipal.

Condenar os Black Bloc optando por uma busca frenética de diferenciação como tática de ocupação de um espaço cuja motivação de existência tá muito além da ação direta em si é como culpar o furacão por devastar uma cidade, cagando pro aquecimento global e pelo fato do uso de combustíveis fósseis ser diretamente influente na sua ampliação.

Pensemos amplo, pensemos além, saiamos do simples, do simplório, do que tá só agora.. Vamos ser Marxistas?

images (1)É fundamental ter menos fome de certezas e mais lidar com dúvidas constantes e elencar o maior número de quadros e dados possíveis no liquidificador do concreto abstrato para depois voltar pro cotidiano no tal movimento dialético e ver qualé. apostemos mais, apresentemos discordâncias, dúvidas. Digamos que não temos certeza se concordamos com a tática, mas entendemos o que leva a existir os BB e entendemos que o BB é mais resultado do que causa.

Se queremos mesmo revolução, quando ela vier vamos dizer que não compactuamos com depredações? Vamos reconhecê-la?

Os Black Bloc, a ladainha e o chatolino

downloadBem, sob pena de ser chato e repetitivo: Os Black Bloc não são um movimento. Sem nenhuma tentativa de ironizar ou desqualificar o interlocutor: Me surpreende a dificuldade que parte da esquerda tem de entender que os Black Bloc não são um movimento e não possuem táticas que visem acúmulo pras lutas.

Além disso, os Black Bloc não necessariamente são os mesmos que quebram Bancos, pontos de ônibus e MacDonalds, embora em Seattle e Genova esse tipo de protesto tenha ocorrido por uma parte das pessoas que se organizavam no bloco preto, que é o que na verdade são os black bloc.

black-blocBlack Bloc é uma identificação externa de um bloco dentro de uma manifestação que se organiza de forma defensiva, de forma a impedir o avanço dos choques. A tática de movimento é ocasional, é organizarem-se a cada manifestação de forma a defenderem o resto do ato dos avanços das polícias. A lógica começou nos anos 1970 por autonomistas alemães, a maioria marxistas, e ganhou na Europa outras cores com adesão de anarquistas, anarco punks e punks, muitas vezes organizados também nas ocupações urbanas.

Nas manifestações antiglobalização dos anos 90/2000 se espalharam mundo afora e no Brasil começaram a aparecer.

À rigor os Black Bloc não tem diferença tática de queimar pneu em avenida ou quebrar cabine de pedágio ou ocupar terra ou ocupar edifício. E não tem nenhum tipo de acúmulo imediato pra luta. Qual o acúmulo pra luta teve a ação da via campesina em quebrar o laboratório da Aracruz ou dos índios do Xingu detonarem a ensecadeira do Rio Xingu na obra de Belo Monte? E como se define “Acúmulo pra luta”?

3d8facd6f2c20f669666e55e5ccc81b3_500A luta não é um banco onde só ações táticas diretas ganhas a partir do contrato adquirido pós-greve se acumulam na acumulação primitiva de capital político.

Na luta aspectos simbólicos se juntam com aspectos objetivos do cotidiano e da luta política e o que se busca aqui, no imediatismo que nos toma, talvez nos cegue para o que se ganha lá na frente.

E antes de mais nada o primeiro grande acúmulo pras lutas que os Black Bloc nos deram é nos tirar do imobilismo analítico e estanque, que aponta a ação direta como um câncer para um processo revolucionário amorfo e mezzo idílico que na maioria das vezes não passa de fantasia.

Educação para professar a mudança

black-bloc-rio-de-janeiro-20130812-30-size-598O ar é sólido, irrespirável, arde, arde em quem está nas praças e em quem assiste de casa.

O ar é pesado, é duro, é nitidamente absurdo, concreto.

Essa é a sensação do desgoverno autoritário que vivemos no Rio de Janeiro, do desgoverno abraçado à Abril Educação, Fundação Roberto Marinho, acobertado pela mídia, pela covardia do PT local e nacional, pelas alianças, pelas amizades, pelas empreiteiras, pelas ânsias, pelas máquinas.

Essa é a sensação de quem vê governos optando por pagar ao professor quase o mesmo que pagam em cada bomba de gás lançadas sobre manifestantes, educadores, merendeiras, e isso independente de serem agressivos espantalhos mascarados ou mulheres, homens, jovens ou não, professores acampados, pacificamente acampados e exercendo o direito constitucional de manifestarem-se.

Essa é a sensação de quem vê a omissão do ministério Público do Rio de Janeiro, do Ministério Público Federal, de lutadores e lutadores, ou ex-lutadores e ex-lutadoras, que optam conscientemente pelo cálculo eleitoral que sustenta esta máquina de absurdos que emulam ditaduras.

O ar é pesado, o ar é rígido, o ar é de luto e de luta, mas uma luta que cria raivas, raivas que separam, raivas que juntam.

caetano-veloso_black-blocJá disse o poeta Aldir Blanc: “A fome tem de ter raiva para interromper, a raiva é a fome de interromper, a raiva e a fome é coisa dos home”.

E é essa raiva que se espalha, nas velhas ruas vacinadas de revoltas, pelas velhas ruas vacinadas por baterem-se contra almofadinhas “modernizantes”, contra soldados, contra marmanjos fardados, contra vidigais, contra miliciais e sargentos.

“A fome tem de ter raiva para interromper” e a raiva cresce.

O chão da Cinelândia cheira a pimenta, pimenta que verte sangue e que no sangue verte força. Força que verte mudança e a cada mudança o grito ecoa.

Ouvimos as vozes que nos dizem que o Rei está nú e por isso é chegada a hora da reeducação de alguém.

Solidariedade à Policiais militares? Passa amanhã

meninaA Policia Militar é uma organização filha da puta, desculpem o termo, mas é.

E mais, seus soldados ao serem cúmplices dos governantes e baterem em trabalhador tornam-se pior que cães amestrados.

Depois choram por solidariedade quando os seus morrem no combate à violência, a mesma violência que praticam usando farda, se igualando a bandidos. Não tem como ter solidariedade com quem nos violentas.

A diferença entre o bandido e o Policial violento é que o bandido não tem como obrigação zelar pelo cumprimento da lei, a ele não temos confiança, não lhes precisamos confiar, tampouco esperar que respeite nossos direitos.

O policial ao contrário, esperamos dele que zele por NOSSOS direitos e não pelo direito da propriedade, do lucro, de governantes ilegítimos.

Qual o que? O Policial militar além dos inúmeros casos de violência, corrupção, achaques, ainda nos violenta em nossas reivindicações mais legítimas, nos bate, nos joga spray de pimenta, gás lacrimogêneo, tudo sob o pretexto de “fazer cumprir a lei”, ou seja para “fazer cumprir a lei” a descumprem nos direitos fundamentais, fora que jamais “fazem cumprir a lei”, fazem cumprir a vontade de seus senhores.

E não citei aqui os assaltos cometidos por PMs, que não são isolados, os achaques, as duras em busca de migalhas do parco salário dos trabalhadores, o tapa na cara de adolescentes, especialmente negros, que ousam dizer que tem direitos, o assédio à mulheres por acaso detidas para averiguação, a organização de milícias para achacar a população sob o argumento mau caráter de “estamos combatendo o tráfico onde a lei não chega”….

Portanto caros soldados da Policia militar, eu lamento, mas não lamento quando vocês sofrem violência. Vocês são semeadores da barbárie, assassinos de direitos e também de vidas, é só olhar as estatísticas relacionadas à morte por ação da polícia, são assassinos do estado de direito, são tanto quanto s bandidos, agentes da barbárie.

Depois de ontem, especialmente depois de ontem, 28/09/2013, quando a PM invadiu a Câmara de vereadores do Rio de Janeiro e expulsou na porrada profissionais de educação, o policial militar é um inimigo do qual tenho tanto medo quanto tenho de bandidos. Evitar acionar a policia militar é mais que uma ordem íntima, evitar chamar, evitar contar com, e também não guardar solidariedade.

PMs ganham mal? é uma pena, mas como vocês optam por agredir quem luta também por melhorias de salários, acho que não precisam de nós, tampouco de nossa solidariedade: Vocês estão sozinhos.

A dimensão da utopia, a revolução e os novos Lênins

 Road_to_utopiaTratar de mudança política não é exatamente simples, tampouco receita de bolo. A dimensão da transformação tem tantas miríades de sentidos possíveis subjetivos a serem lidos em atos, palavras e movimentos, que a simplificação de um método ou de uma ideia de estado, ou de mesmo uma só ideia de revolução é delírio simplificador.

Se ler a realidade concreta fosse fácil e apontasse para um só sentido unitário não haveria desde sempre um mar de pensadores mundo e história afora, cada um com sua percepção de uma realidade, de uma verdade ou até da não-verdade.

A questão é que cada contexto histórico, cada conjuntura, aponta sinais identificáveis de novas formas que a multidão de gentes por vezes denominada “povo”, “massa”, “massona” ou “povão” (quase sempre por quem se aparta dela para defini-la com distância segura) interpreta se não o real a ruptura com o que entende como sistema ou peso opressivo de alguma realidade.

Cada contexto histórico traz suas insurgências, traz suas permanências, traz suas rupturas e conservações e é necessário que cada pensador ou militante que pretenda transformar este real lê-las, olhá-las nos olhos, preocupados menos com encontrar a verdade verdadeira única de todas as coisas e mais com antecipar minimamente uma tática de intervenção que consiga atrair o máximo de gente possível para oque defende como eixo de ações transformadoras.

É, amigão, to falando de convencer pessoas que tua tática revolucionária é o lance.

img_ju427-06bNeste contexto atual, por exemplo, o próprio questionamento da relação entre movimentos, partidos e ativistas com o cotidiano político é questionado. A própria relação entre os movimentos, as pessoas e a atividade política é jogada aos leões em busca de demolir concepções quadradas de vida, de militância, de relação com vidros, vidraças, mundo, ambiente, amor, mídia.

A dimensão contestatória não tá ai para fingir que não vê a frase maldita cheia de homofobia do sujeito que em tese diz que quer mudar o mundo.

A contestação, caras pálidas, não tá vestindo o fraque mediado do fanfarrão da esquina, tampouco o papo brabo de que “povão é assim”.

A contestação quebra vidraça do Itaú,a contestação arrebenta a secadora do Xingu, invade usina, ocupa Câmaras, derrete leninismos de salão querendo mais que conversinha nas terras Quilombolas, na avenida Paulista ou na praça onde Feliciano-RS prendem pessoas que se beijam em um espaço público ocupado por ele indevidamente em nome de uma só vertente de uma só fé, atropelando a laicidade do estado, atropelando a democracia de um estado cujo emblemático simbolismo de um Pastor Deputado (jamais um Deputado Pastor) chamando a polícia para reprimir lésbicas se beijando EM ESPAÇO PÚBLICO é eloquente.

street_art_24A contestação não trata a dimensão do sonho como um “Além da Imaginação”, uma “Twilight Zone” promovida por esquerdóides, amiguinhos. A contestação chegou à sala de aula, e não na cabeça de estudantes, mas na de professores precarizados em greve numa das principais cidades do país.

A contestação tá na rua derrubando um dos governadores centrais para a política do PT e para concepção de cidade mercadoria, de mundo mercadoria, de Brasil Grande neodesenvolvimentista com fome de petróleo, com fome de carbono, de escolas, de postos de saúde, de consumo que nos consome enquanto gentes a trabalhar doze, treze, quatorze horas para pagar os carnês das dívidas enquanto deixamos a vida no prelo.

A contestação pegou a dimensão do sonho gritando que não era por vinte centavos enquanto militantes amestrados pro revistas, blogs e sites de partidos acostumados com a cadeira acolchoada do poder dizia se tratar de Vândalos e Baderneiros.

imagesA dimensão do sonho voltou numa contestação mascarada que lei nenhuma vai desmascarar e enquanto isso ainda existem citadores compulsivos de Lênin procurando pelo em ovo pra justificar qualquer coisa em nome de mandatos acomodados, acostumados a pedir em vez de exigir, a criar espantalhos para a fome de moral e bons costumes de quem pede o fim da corrupção como se pedisse pães franceses na padaria mais próxima.

E enquanto a dimensão do sonho renasce com utopias múltiplas, dissonantes e polifônicas, como deve ser, a exigência de novos Lênins é clara, imensa, nítida. Mas exigem-se novos Lênins com menos fome por construir estacas fundadores de novos países e novos estados, mas canais para o fluxo contestatório passar derrubando represas.

São precisos Lênins que construam o diálogo, um diálogo amplo, que aprendam, que ensinem, que se joguem, que quebrem, que requebrem, que riam, que sambem, que ouçam a polifonia menos buscando a síntese perfeita e mais aprendendo que ruptura pode sim rimar com gostosura, com liberdade, com vontade e com verdades, sim com s, por muitas, imensas, gigantes, que nunca dorme, que se soltam noite afora quebrando tudo até a última ponta para derrubar Cabrais e outros ditadores mal-acostumados a achar que a voz das ruas é rouca, enquanto sempre foi doce.

images (3)São precisos novos Lênins prontos a divertirem-se recuperando a utopia, a dimensão do sonho em que Garibaldis, Bakunins, Marx, Engels fizeram a primavera dos povos.

Porque sempre precisamos de mais primaveras.

O julho Papal e a má fama de Cabral

Sérgio-Cabral-e-o-Papa-por-PelicanoO que significa o Papa Francisco I no Brasil neste mês de Julho?

Este texto não começa à toa com uma pergunta, pois se pretende menos uma afirmação e mais ser um provocador, um questionador, talvez para que as respostas sejam menos soluções e mais apontamentos.

Existem vários quadros possíveis para responder a esta pergunta e outras, alguns desenhos são cabíveis de serem feitos a partir de indagações no plano da política local, nacional, internacional, na relação entre religiões, entre a Igreja Católica e a mídia, entre o Governo brasileiro e o Vaticano, entre os megaeventos e os planos do estado e entre a população e os poderes.

Um deles diz respeito ao que foi projeto pelo Prefeito do Rio, Eduardo Paes, e pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, no que tange aos negócios que seriam/foram feitos em nome dos mega eventos como a Copa e a Olimpíada, e em menor grau a Jornada Mundial da Juventude, e o resultado final do impacto da JMJ no cotidiano de ambos e mais, na imagem da cidade/estado do Rio de Janeiro para com o mundo, preocupação número um dos governantes/gerentes do capital e cujos gabinetes tem sido chamados pela oposição, a meu ver com razão, de balcão de negócios.

Deu certo? O investimento em nome da venda da Cidade do Rio de Janeiro como cidade-evento, ou cidade-mercadoria, teve retorno? Fortaleceu a cidade enquanto marca? Fortaleceu a cidade enquanto infra-estrutura?

Acredito que as panes no sistema de transporte, na própria infra-estrutura erguida em Guaratiba e que sucumbiu à lama das chuvas, responde às perguntas e aponta para um caos maior em eventos com previsão de maior envergadura na exigência de transportes,etc. Aliás, um dado a se pensar é que o prefeito e o governador declaram feriados nos dias da JMJ, parciais ou não, e que para usar o Metrô o cidadão carioca que não tivesse passe especial era simplesmente barrado, e mesmo assim deu pane.

Outro quadro é da relação entre o povo carioca, em protesto quase diário pela queda de Cabral desde o fim de Junho, e os governantes diretos e indiretos, Eduardo Paes, Sérgio Cabral e Dilma Roussef.

A presença do Papa não arrefeceu ânimos protestantes, e se os protestos tinham menos gente, não era, ou foi, desprezível a quantidade de protestos com cerca de cinco mil participantes tanto na sede do governo do estado quanto nas proximidades da residência de Sérgio Cabral, e todos sendo recepcionados mais cedo ou mais tarde pela violência policial que atira bombas de gás lacrimogêneo em hospitais.

A relação entre protestos e violência policial, que Cabral usou tentando desviar denúncias contra si, atingiu um limite tão grande que levou o governador a criar uma comissão especial para investigar vandalismo, investindo na dicotomia Vandalismo x Policia, que teve de revogar ao fim de tantas denúncias de inconstitucionalidade.

Para completar o nível de perda de controle do governador por sobre as tropas e aliados, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, em entrevista exclusiva à Mídia Ninja, fez questão de se descolar do aliado mor, ou ex-aliado mor, Sérgio Cabral.

Cabral, ao fim e ao cabo, ao revogar o decreto que criava a CEIV (comissão especial de investigação sobre vandalismo) entregou às baratas o Secretário de Segurança do Rio e o comandante da Polícia militar como responsáveis diretos pela truculência policial, como se o comandante em chefe da Polícia, ele Cabral, não tivesse nada a ver com isso.

A truculência policial ocorreu também com o Papa no Rio, pra ampliar o grau de desmoralização do Governador, ou seja, como cidade mercadoria o Rio de Janeiro fracassou tanto na infra-estrutura para megaeventos quanto na habilidade de conter manifestações sem a proverbial truculência da polícia ainda militar do Rio de Janeiro.

Para agravar a situação o quadro expôs danos quase irreversíveis, a um ano da eleição, ao muro do outrora paraíso da popularidade de Dilma, Cabral e Paes e expôs também crises palacianas mal ditas pelo cotidiano de sorrisos e felicidades entre PT e PMDB.

As resposta de Cabral aos protestos ampliaram-nos e mais, derrubaram a popularidade dele, de Paes e de Dilma, que por razões de “governabilidade” não tem como descolar-se imediatamente do outrora primeiro aliado.

A lusitana roda ainda trouxe consigo o PT Carioca em profunda crise, já que o partido tinha membros entre os que filmavam os movimentos a partir da mídia alternativa, entre os próprios protestantes e entre quem condenava os protestos a partir de uma lógica delirante que os protestos contra Cabral, assim como todos os protestos de Junho para cá, eram no fundo um golpe armado contra a toda poderosa salve salve iluminação popular do Partido dos Trabalhadores em todos os níveis de governo, governabilidade e aliados.

Essa crise do PT não passa despercebida aos aliados ou adversários, e se reflete na lógica pressão para que o PT saia dos governos Cabral e Paes, e mais, ecoa na imagem de Dilma que tentou se construir como uma governante que “ouve as ruas” tentando ignorar a extrema inabilidade da mesma em responder aos protestos sem emprestar a Força Nacional a governadores, inclusive tucanos.

Aliás, essa crise do PT se reflete imediatamente na dicotomia entre estar nas ruas e nos governos, protestar contra Cabral enquanto sua presidente da república mantém um apoio explícito e tem em metade dos programas construídos no Rio como testes para uma plataforma nacional (UPPs, UPAs, Megaeventos) e mais, ser “esquerda” com políticas de direita, sendo secretário de direitos Humanos em um governo que os viola com sua polícia truculenta.

No plano da relação entre o Governo Brasileiro e o Vaticano a coisa fica um tanto mais enrolada.

Desde a assinatura entre o Governo Lula e o Vaticano de tratados que buscavam minimizar a aproximação oficial entre o PT e fundamentalistas religiosos ligados ao neo-pentecostalismo a partir do reforço do reconhecimento de instituições educacionais e de “caridade” vinculadas à Santa Sé, reforço na isenção tributária de igrejas,etc, o Governo do Brasil buscavam elementos simbólicos que deixassem clara que as relações entre o Governo do Brasil e evangélicos não seriam as únicas que o Partido dos Trabalhadores travariam para manter um grau de governabilidade e de laços e alianças políticas com as bancadas ligadas às religiões.

Ao fazê-los, os tratados, o Governo Brasileiro iniciou um processo de aproximação que com o governo Dilma Roussef e sua boa relação com o atual Papa Francisco I, ganhou fôlego.

Ao mesmo tempo a Igreja Católica precisava também do Brasil para focar sua ação “evangelizadora” e fazer uma demonstração de força ao mundo exatamente onde as igrejas protestantes mais cresciam. E a JMJ deu a ambos um meio de fortalecer laços e de demonstrar poder.

As reações dos Evangélicos fundamentalistas não tardaram a aparecer e isso pode ter um preço na costura da ampla rede de laços e alianças que o PT e o Governo travaram para manterem-se governando uma coalizão outrora poderosa, mas que diante da reação popular parece ruir a olhos vistos.

Outro elemento desta relação foi a aposta da principal rede de televisão do País, a Rede Globo, na transmissão da Jornada Mundial da Juventude como evento prioritário, invadindo inclusive ou outrora sagrado futebol de domingo e carro chefe da emissora.

A emissora, que estava se aproximando das lideranças fundamentalistas e buscando um contraponto à Rede Record, e outras emissoras que centravam fogo em programas voltados aos evangélicos neo-pentecostais, pela via do mercado Gospel, ao partir para a transmissão do evento católico como foco prioritário de sua programação optou deliberadamente por fazer parte da órbita da política do Vaticano de demonstração de força no principal País Católico do mundo, o Brasil, que via o avanço das igrejas evangélicas e de pastores como Marcos Feliciano dizendo que a igreja Católica era uma religião decadente.

Esta aposta se deu ao mesmo tempo em que a emissora mantinha-se como porta-voz da polícia militar e do governo do estado no que tange à manifestações populares, ó rompendo quando as imagens que circulavam via redes sociais impediam uma luta eterna contra o óbvio. A mesma relação se repetia na relação da JMJ e a cidade vendida pelo prefeito como pronta para megaeventos, só rompida quando as falhas no sistema de transporte se negaram a acompanhar a venda do mundo da fantasia.

Dá pra fazer mais relações entre a emissora mor do Reino e o principal partido no Brasil de hoje, o Prefeito Eduardo Paes e o Governador Sérgio Cabral, mas fica para outra hora, deixando apenas a sugestão de quem recebe mais verbas do Governo Federal entre emissoras e empresas de mídia.

Este julho Papal criou muitas dúvidas, apontou cenários, revelou fraturas e caminhos que muitas relações entre quadros podem se dar. Indicou falhas no Rio como mundo perfeito que vendiam para Inglês ver.

Nós que fomos um Rio da mais perfeita governabilidade, acordamos e somos um Rio que protesta com Papa e tudo.

Nós, que fomos um Rio que amava Dilma, Cabral e Paes, acordamos gritando a plenos pulmões que o Papa é BOPE.

Nós, que fomos um Rio pintado à mão pelos melhores publicitários, acordamos com um Papa e a ideia de que somos um Rio menso preparado, mais cheio de lama e gás lacrimogêneo do que supunha a vã filosofia do coro dos contentes.

Nós, que fomos um Rio de obras, agora somos um Rio que pergunta onde está Amarildo?

Do Vintém à Vacina, da Vacina à Chibata, da Chibata ao Vinagre

Bonde

O País há cerca de vinte dias viu renascer sua tradição mais combativa, um impressionante e surpreendente ascenso de massas que se inicia em meio a uma modorra vinculada diretamente ao estatuto do fato consumado produzido pelas dinastias Tucanas e Petistas no poder há quase vinte anos.

O sentimento de que o caminho para a construção de um novo ascenso seria longo era quase que consensual na esquerda oposicionista, que jamais saiu das ruas, mas foi surpreendida pela feroz chegada à elas de novas gerações tão esperançosas quanto famintas de luta, assim como cansadas de velhos métodos, bandeiras e partidos.

Em dado momento parte da própria esquerda desentendeu-se com o que via e, muito pela ação organizada dos pequenos grupos fascistas, quase desistiu de voltar a seu palco natural. Porém mesmo esta logo apercebeu-se que é preciso ouvir as ruas, combater o fascismo (que não se discute, se destrói, como bem disse Coggiola) e avançar na disputa dessa massa imensa de gente multifacetada, diversificada e com pautas difusas, complexas e que devem ser entendidas.

Essa massa, que vem de uma longa doutrinação sobre sua característica passiva nunca comprovada por uma longa história de resistência e rebelião, sai às ruas e entende-se poderosa. E ao entender-se poderosa também entende-se consciente, se não como o tipo ideal de consciência de classe marxista, consciente de seus desejos de velocidade, de transformação e de poder.

Ao negar a doutrinação passivista, a massa reivindica a memória das revoltas anteriores e similar a elas, não se restringe aos desejos de paz que a elite através de seus jornais e TVs ecoa como se fosse um mantra didático, quando é um mantra apavorado pela perda de controle.

Assim como na revolta do Vintém, da Vacina, a revolta de hoje, apelidada como do Vinagre, contém em si a violência que vai muito além da provocação dos policiais infiltrados e da estética da violência dos grupamentos fascistas. Contém a violência entubada, engolida a seco por séculos de violências mil, policiais, econômicas e políticas que as populações sofrem cotidianamente na construção deste país inventado como Éden tropical em uma construção onde os alicerces se fizeram de sangue e ossos de negros, índios, mulheres e LGBTs, especialmente pobres e em geral pretos.

Essa violência cotidiana hoje se “democratizou” em parte ao assumir-se desfilante nas avenidas dos grandes centros, mas, como é claro, estava desde sempre nas periferias e favelas, e hoje, nesta mesma data de 25 de Junho de 2013, desfila com requintes de crueldade na Favela da Maré no Rio de Janeiro, onde a população sitiada recebe a visita do Estado em sua face ali mais conhecida: a da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que ali não usa balas de borracha.

Em resposta a essa violência oficial, a violência popular se parece com um pequeno veio, uma pequena parcela do que está guardado na memória de uma população tradicionalmente agredida e como uma resposta, ainda limitada ao arbítrio do Estado, o verdadeiro criminoso.

E é no meio deste ascenso que a própria periferia se ergue para além da Rio Branco, resistindo à sua forma em Campo Grande, Bangu e agora também na Rocinha e coloca o poder na parede. E estabelece pautas e faz mexer estruturas outrora guardadas no conforto da burocracia.

E exige o fim da PM, a reforma política, a reforma na saúde, na educação, a tarifa zero.

E se ergue e não para. Não adiantam paliativos a este cansaço, a este basta.

E é hora de estarmos a seu lado.