Creeptica: Não olhe para cima (2021)

Cartaz de Não olhe pra cima

É possível fazer uma crítica sobre “Não Olhe para cima” (2021, Netflix) de muitas formas sem ser esnobe. 

Começando pela compreensão do filme pelo que ele é e quer ser, depois analisando o que ele é enquanto produção e de uma terceira forma como ele é como discurso artístico, político e até como utilitário de novas formas de edição, roteiro e direção focando na internet e redes sociais.

Chamar o filme de ruim ou de genial é exagero, tratar o filme como o supra sumo da crítica política ou como uma sátira sem profundidade é outro exagero.

“Não olhe para cima” é uma sátira que não faz questão de esconder que quer ser óbvia, quer ser transformada em meme e quer produzir o eco que produziu exatamente onde ele sustenta sua narrativa visual, seu roteiro e direção:  nas redes sociais.

Com um roteiro diretamente originado nas batalhas contra o negacionismo climático, científico,histórico, da pandemia, sobre a indústria do fumo, “Não olhe para cima” tem cem por cento de sucesso ao expor os negacionistas como eles são, da estupidez ao interesse puramente econômico ditando as decisões mais daninhas para humanidade.

Quase que uma gag visual alinhada com um discurso bem sacado embalando uma trama simples, “Não olhe pra cima” fala da descoberta assustadora feita por astrofísicos de um cometa capaz de destruir o planeta e a vida humana nele se dirigindo para a Terra e das reações da Presidenta dos EUA, dos bilionários financiadores de campanha, da mídia, da comunidade acadêmica, de inteligência,etc..

Toda a trama  é sobre a batalha da ciência avisando que vai dar uma merda monstro e interesses pouco responsáveis, que põe o lucro acima da vida, norteando a resposta da humanidade a algo que causará sua extinção.

Como retrato de nossa época, “Não olhe para cima” é  primoroso, inclusive por sua edição “de tik tok”, seus cortes feitos para serem facilmente absorvidos pelas gerações mais novas e sua pouca paciência com planos mais longos e com espaços, silêncios e imagens menos aceleradas e seu planejamento de produzir memes em escala indústrial.

Impossível não reconhecer no filme a relação da extrema-direita com a ciência, a pandemia, as mudanças climáticas, a história, ainda mais tendo ou estando sob governos como Trump e Bolsonaro e sua horda de bárbaros ensandecidos. 

E não é impossível apenas porque é um desenho bem feito, mas porque é um desenho bem feito e portador de setas indicativas, legendas e gritos que fariam até o mais desatento espectador ciente do que o filme quer dizer.

Por isso o início desse texto fala da necessidade de ter cuidado na análise, porque o filme é óbvio, não é nada sutil e não exige maior inteligência para sua compreensão, qualquer um entende. 

Análises feitas tentando dourar o filme como uma nova obra prima da cinematografia é uma tentativa meio pateta de fazer com que coisas boas só possam ser boas se forem hiper intelectualizadas, coisa que “Não lhe para cima” nunca foi.

Inclusive dá para gostar do filme sem achá-lo bom ou genial, porque há outras tantas sátiras feitas pelo cinema com mais sutileza e qualidade artística, sem prejudicar a compreensão da crítica.

Comparar “Não olhe para cima” com ‘Doutor Fantástico” é tipo comparar o Madureira de 2011 com a seleção brasileira de 1970, não dá.

Ambos são filmes que denunciam o sistema, a mentalidade irresponsável do capitalismo estadunidense, e não só, que explicitam relações internas daninhas, tem personagens extremamente caricatos e uma alegoria gritantemente óbvia, mas como cinema Kubrick faz cinema como gente grande, o que Adam Mckay não chega a fazer.

“Não olhe pra cima” é divertido, tem um roteiro bem sacado e inova bastante na edição e direção, inclusive pro utilizar bem os cortes dirigidos para novas percepções do audiovisual, mas é melhor como panfleto do que como filme.

Da duração excessiva pro tamanho da história até o exagero nos cortes e na produção de memes, o filme parece por vezes ter metas de inclusão de gags visuais para dar conta de exigências de um roteiro feito pro algoritmo. E esse é o ponto fraco de um filme que faz jus ao barulho que provocou na comunidade científica, histórica e nas pessoas de bom senso, especialmente os militantes contra as mudanças climáticas, mas que deixa muito a desejar como filme.

“Não olhe para cima” é um filme obrigatório, talvez histórico, mas não é uma obra prima do cinema. E dá para ser visto sem esperar um Bergman e se divertir com gags visuais bem sacadas.

“Não olhe para cima” está disponível na Netflix

O Socialismo precisa deixar de ser macho,adulto, cis,hetero e branco

Privilégio branco é uma categoria fundamental para ser discutida em partidos socialistas, inclusive a partir da métrica onde a maior parte da estrutura de pensamento que balança o berço de seus programas é resultado da escrita de homens brancos.

Além disso, a posição da identidade de gênero, orientação sexual e o peso etário é parte um debate fundamental que precisa por em xeque a hierarquia destas condições na construção de privilégios a partir do eixo do macho,adulto, branco, hétero e cis.

E por que essas questões? Porque o debate étnico-racial, de gênero e identidade de gênero são, junto com debate ambiental e questão etária, os pavimentadores de discursos belíssimos que não constroem alicerces dignos dos arabescos escritos e lidos em voz alta nas assembleias.

Em entrevista recente ao podcast Mano a Mano de Mano Brown, Lula se enrolou todo para responder sobre a posição do PT diante da ausência de um número relevante de pessoas pretas nos cargos de direção do partido. 

No PSOL, o debate sobre a negritude é tão insuficiente que só em seu sétimo congresso se chegou a uma resolução que formaliza cotas para igualdade racial e de gênero nas direções, e ainda há uma falta de representação indígena e LGBTQIA +.

Diante da paulatina conquista de peso político na marra por parte das minorias políticas, se faz mais que necessário o debate a respeito da posição no processo revolucionário de quem, como eu, faz o bingo da branquitude masculina cis heteronotmativa. 

Porque é provável que muitos de nós entendem que seu limite é o de sermos espectadores, da mesma forma que uns tão brancos quanto nos acusam de “síndrome de princesa Isabel” ou companheiros pretos e pretas, talvez com razão, de fazermos token com suas dores e trajetórias.

Só que a questão é mais objetiva e menos afeita à falta de razoabilidade de todos os ovos numa mesma cesta de ataques e confusões. Há homens brancos cis hetero na classe trabalhadora, e a não ser que se defenda uma tolice como a de seu extermínio, é preciso que estes estejam alinhados e aliados às lutas das minorias políticas.

Sim, amigos, amigas e amigues, não se fará revolução nenhuma sem gente branca, o que também não significa que essa gente branca,que é sim parte do problema, precise ser eterna protagonista da luta de classes e liderança natural dos processos decisórios,eleitorais, de formação,etc.

Há uma necessidade de abdicação coletiva de protagonismo pela branquitude masculina cis hetero normativa e construção ccncreta das alegorias e adereços do Carnaval de índios, LGBTQIA+, negros, mulheres e adolescentes.

Porque se “numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”, como escreveu a companheira Angela Davis,  também não basta ser “tolerante” à diversidade de gênero, identidade de gênero, de orientação sexual, de cultura. 

A tarefa da branquitude começa por sair da frente e assumir esse papel necessário de fazer o que é aparente se tornar uma regra. 

Não basta comemorar paridade de gênero e raça na bancada federal se as direções não compõem essa paridade nas suas composições, se os programas não se dobram à relevância dos debates teóricos e políticos de fora do mundo europeu e se os cargos majoritários (e a maioria dos proporcionais) são disputados sempre pro homens cis brancos e heteros.

Tem que ter Marx, Lênin e Trotsky na formação política? Claro, mas porque não ter Fanon, C. L. R. James, Mariátegui, Angela Davis e outros tantos, tantas e tantes que ocupam na marra seu espaço teórico de produção, mas cuja formação tradicional dos partidos políticos e correntes fazem com que os militantes que melhor se informam e formam não conheçam?

Quantas Revoluçẽos são discutidas sem uma menção à imensa Revolução Haitiana? Quantos sabemos das rebeliẽos africanas no Brasil?

Não há caridade ou senso de auto salvamento na defesa que faço aqui, pelo contrário, é o pragmatismo da obviedade que as condições objetivas da conjuntura nos impõe, ou é falso que a branquitude é o que dá lastro ao neoliberalismo fascista de Bolsonaro, Guedes e do PSDB?

A tristeza de perder Marielle produziu o fenômeno palpável, mensurável, da multiplicação de ocupação de mulheres e trans pretas no espaço político. Erika Hilton, Érica Malunguinho, Benny Briolli, Talíria Petrone, Renata Souza, Mônica Francisco, Luana Alves, Áurea Carolina, Karen Santos, são, todas e todes, parte de um fenômeno que faz com que a realidade se imponha como fato.

Esse fato nos obriga a pensar o papel da branquitude,masculina cis heteronormativa como liderança natural dos processos políticos e eleitorais empartidos socialistas sob pena do socialismo defendido sem o elemento crítico da questão étnico-racial, de gênero e identidade de gênero ser um socialismo supremacista branco.

A pena da não observação e discussão da questão, apelando pro discurso vazio e para “inglês ver”, é a ampliação do fosso entre companheiros de diversa tez, cultura, gênero ou identidade de gênero e permissividade que acaba num sectarismo interno e externo que reproduza a secessão que o racismo, a homofobia e misoginia estrutural já produzem no dia a dia.

Se não formos o partido que queremos ser,não poderemos ser a realidade socialista que desejamos construir.

Da Economia Moral da Multidão à Economia Moral dos Afetos

Há doze anos trabalhava como suporte técnico em uma empresa de informática e cursava com preguiça uma faculdade de História que achava que também não terminaria, como os cursos superiores que tentei antes. 

Há doze anos trabalhar era um penar, era como o mais desmotivado dos seres a caminho do abate, por melhor que o serviço fosse executado, bebia muito, vivia com uma raiva do mundo que mal me permitia afetos.

Até que recebi um convite para trabalhar com História, como consultor em patrimônio cultural, um dos muitos campos abertos pelos governos do PT e sua gestão da Cultura. Governos estes que desde 2003 recebia a oposição do partido, o PSOL,do qual faço parte.

Deste trabalho em diante, de 2009 para cá, a vida, a motivação, o horizonte, mudaram. Até o golpe em Dilma Rousseff de 2016, moro com uma companheira, me tornei pai de um filho autista, me formei, fiz mestrado, trabalhei até 2015 como consultor e ainda consegui uma das últimas bolsas disponíveis para mestrado durante o governo Temer. 

Do fim da bolsa, em 2019, para cá, o que veio foi desespero. Os cortes e a gestão desastrosa de Temer para a Cultura e a Educação parecem hoje um paraíso diante da conjuntura de desastre e eliminação de campos  inteiros da sociedade, da cultura e da economia sob Bolsonaro.

O que era esperança em 2009 e a conquista de uma maturidade que não havia, um sonho realizável, em 2021 o que temos é uma escuridão sem jeito, uma universalidade de trevas e dor.

Esse é o sentido na alma de quem viveu a política partidária e institucional de forma enfática e participante, de quem faz análise de conjuntura e tem tempo e até por questão de trabalho vive olhando os sinais com lupa. 

Essa é a memória de quem tem tempo e por ofício precisa ver os sinais das notícias, dos discursos, dos movimentos políticos, mas e a memória de quem mal tempo tem para sobreviver e respirar ao mesmo tempo?

É nesse sentido que precisamos tratar nas análises sobre a conjuntura, a economia, a política. É desse som que nossos ouvidos precisam se apropriar para entender o hoje e a ponte pro amanhã. 

E por que? Porque a economia moral da multidão oferece também uma economia moral dos afetos e das memórias onde o comer e o sorrir ganham significado parecido e onde o filho desempregado era o filho que entrava na faculdade, o primeiro da família.

Da esperança, mesmo uma esperança raivosa em 2013, que se entendia livre para dizer , que não era só por vinte centavos, à raiva rancorosa sem esperança de que se vinga de quem prometeu sonhos e não foi capaz de todos realizar, chegamos na desesperança desesperada e cujos sonhos voltam a aparecer possíveis no retorno de Dom Sebastião.

E não, não é uma crítica a Lula, pelo contrário, é um desenho de como os afetos da multidão migram da negação vingativa para afirmação da boa memória de um tempo onde comer era possível.

Comer, planejar uma carreira, sonhar com um lugar no mundo, tudo isso miou e virou cinzas sob chamas que queimam matas, cinematecas,museus, aldeias, que matam indígenas, que deixam por negligência uma montanha de cadáveres que tinham família, mãe, irmã, namorada e que poderiam estar vivas se Bolsonaro não fosse pelo menos omisso com ladrões de vacina.

Há no horizonte uma brecha pro sonho de comer e planejar o futuro, e esse poder da memória de um passado melhor, sob aquele que não é identificado com o PT que foi combatido em 2013, não pode ser negligenciado sob camadas de pensamento mágico que analisam uma retomada da economia que não passa pelos pobres e uma vacinação que não esconde os pais e filhos mortos, as mães e avós dizimadas por um governo genocida e que ria de quem morria de COVID.

Voto impresso, anticomunismo, tudo isso hoje é vinculado com quem dizia que não era coveiro enquanto as pessoas morriam de COVID. Falar de retomada da economia enquanto 19 milhões passam fome e 60% da população acha o presidente desonesto, mentiroso, incompetente e burro, é rir da inteligência da multidão.

E se não existe nenhum planejamento de retomada real da economia por investimento estatal, como se pode falar em retomada da economia? 

Se só o que se aponta são as malditas reformas econômicas, que empilhadas produziram o desgraçamento do país e o estrangulamento do estado, gerando zero emprego?

Como achar que haverá uma retomada real da economia, com crescimento real, abertura de postos de emprego, políticas de renda que vão além do aumento do Bolsa Família(que sem aumento da base recebedora tem efeito minúsculo no processo), se não há plano algum além de reformar mais o Estado?

E essas reformas são para gerar uma economia que só seria sentida na próxima década e ao custo de uma deterioração da capacidade de atendimento e investimento deste mesmo estado.

Enquanto isso, o pouco que o pobre recebe vai para comprar comida que aumenta muito mais que a inflação medida nos noticiários, e  quando o aquecedor ou o ventilador queimam ele precisa tirar o nada que recebe para comprar algo que aumentou mais de 100% em um ano, ou morrer de frio ou calor.

A Economia Moral da Multidão percebe a imoralidade cruel dessa lógica dos de cima, a Economia moral dos Afetos migra para quem aponta pro sentido cultural e pleno do comer, do sonhar, do amar, do sentir. 

E é por isso que fracassa o  dois ladismo, a falsa simetria, a canalhice de chamar de polarização a luta entre o nazi fascismo devorador de mundos e sonhos e a democracia pela esquerda de um projeto que entregou um país melhor do que recebeu.

Fracassa também o nazi fascismo em construir mais do que uma minoria de malditos canalhas que por misoginia, LGBTQIA+fobia,transfobia, racismo, xenofobia e masculinidade tóxica, pau pequeno físico e moral como resistência do que é a real salvação da civilização: a resistência anti opressão.

Talvez seja por isso que o mundo dos tempos expõe o ódio de classe de parte da suposta intelectualidade, do germe do fsascismo da imprensas dita liberal, que chama incêndio à estátua do Borba Gato de terrorismo e cala sobre a Cinemateca em chamas e monumentos à Marielle e Marighela sujos de tinta.

Porque os movimentos que põem para baixo as estátuas da supremacia masculina cis hetero adulta branca, expõem o pau pequeno moral de uma civilização que tem o focinho de porco de usar o fardo do Homem branco como álibi para destruição, são uma tsunami que ataca a longa duração. E da queda da Bastilha ao incêndio de Borba Gato tem muito mais ferramentas de onde saiu o movimento da vida que não quer e nem deixa que a vida seja sempre igual.

É a energia da transformação do desespero em sonho que vive a maldição de quem sustentou o nazi fascismo nos muitos poderes e é do desespero de quem se vê em queda que se alimentam sonhos de governos democráticos, para que sejam possíveis caminhos de debate das tantas formas de revoluções necessárias.

A Economia Moral da Multidão gera a Economia Moral dos Afetos, o entendimento econômico de onde investir sentimentos e energia que geram a produção mediada de novos campos dos sonhos. 

E nestes campos morre à míngua a indústria do ódio.

Nada se repete, nem o Sol

O movimento da vida não deixa que a vida seja sempre igual, já disse Gonzaguinha numa canção que remete a Heráclito de Éfeso.

Não precisamos, no entanto, ir à Éfeso da Antiguidade para conversarmos sobre o momento político e os movimentos de partidos, governo e oposição na conjuntura política do Brasil.

Primeiro precisamos entender os limites das ações dos partidos pró e contra Bolsonaro, do Exército e das forças armadas a partir do hoje e não a partir de um conjunto de exemplos e momentos históricos anteriores isolados numa caixinha de cristal que faz a história se repetir, e sem sequer ser como farsa.

Primeiro precisamos pensar no Exército e nas Forças Armadas como algo mais complexo do que sonha a vã análise política de quintal.

Talvez desde 1870, o Exército e as FA são compostas de frações que atuam politicamente de forma aberta. Já havia republicanos e abolicionistas em um Exército e Marinha dominados por monarquistas pró-escravidão no século XIX. 

A República foi declarada viva por um general monarquista que ironicamente se tornou o primeiro presidente da República, e parte do apoio à nascente República veio de senhores de escravos descontentes com o rumo que o Império deu à questão da compra e venda de gente preta. Não que o Imperador fosse santo, mas quando ele resolveu fazer uma mísera ação que prestasse,atendendo à crescente pressão abolicionista (E republicana), deu ruim pro Barba. 

Desde os primeiros anos da República o Exército e a Marinha, depois acompanhados pela FAB na segunda metade do século XX, foram atores fundamentais na política nacional. 

Desde a proclamação da República, depois com a Revolta da Armada, passando pela Revolução de 1924 e depois a Revolução de 1930, Tenentes, Jovens Turcos, República do Galeão, Golpe de 1964, Abertura, Anistia, Governo Temer e Bolsonaro, Exército e FA atuam e atuaram politicamente e forma aberta, e demonstra divergências em como essa atuação se dá.

Sempre ao lado dos donos de Terra, Senhores  de Engenho, Terras e Gentes, as Forças Armadas e o Exército jamais concordaram monolíticamente em como punham em prática seu governo platônico autoritário de Extrema Direita.

Essa divergência também contava com a ideia de como intervir no cenário político, jamais sobre não intervir. Da mesma forma, a compreensão da necessidade de alianças políticas com políticos tradicionais foi palco de divergências e ainda é, com maior ou menor aversão ao que hoje se organiza em torno do Centrão.

O tom reacionário dos governos defendidos pelas diversas frações das Forças Armadas nunca foi problema para nenhum membro delas, as FA são instituições de extrema-direita ou pelo menos ultra conservadoras (aqui e no mundo), mas não há uma concordância explícita sobre o caráter do governo que defendem. 

Há nas FA a mesma relação de entendimento ou aversão à necessidade de alianças com forças políticas de fora do campo quentinho de sua ideologia reacionária que há na esquerda como um todo. 

 Há nas Forças Armadas a mesma divisão entre práticos e idealistas que há no campo da esquerda, as diferença é que na esquerda a gente se encontra nas lutas, nas Forças Armadas o encontro se dá na disputa por meios de usar o Estado para receber um pagamento sobre um idealizado serviço público nos defender de nós mesmos através da sabotagem da nossa frágil democracia. 

A questão é que no Clube Militar ou no Campo dos Sonhos as bravatas militares são facilmente ecoadas pelos papagaios de pirata do governo perfeito,na prática a história é outra.

E aí é que entra o limite da realização dos planos militares e Bolsonaristas sobre o mundo da política. Porque do negacionismo da pandemia à satanização da ciência, passando pela tosqueira da ideia de economia e aos esquemas amadores de corrupção com estelionatários o que Bolsonaro tem é um governo militarizado, incompetente e sem salvação.

A um ano da eleição o Governo Bolsonaro torce para que o crescimento econômico seja uma salvação que junto a uma vacinação mal feita, sem plano sem vacina suficiente o ponham como competidor contra Lula, um cara cujos governos tiraram as pessoas do mapa da fome, pôs filhos e netos de gente pobre nas universidades, criou um mercado de cultura nacional, descentralizado e que nos pôs em um ciclo virtuoso de criação e empoderamento de mulheres pretas, de novos atores da canção e da música, gerou novas economias e mercados.

E o que Jair oferece? Nada. Mesmo o tal crescimento econômico que ele apregoa ter ignora o que é em si. Depois de uma queda de 9% da economia, o que se tem ao “crescer” não é crescimento, é retomada e sem política de emprego e renda, que não há, não chega na ponta. Pior, trata crescimento vegetativo como ganho.

Qual a saída dos militares? Ouro, ou melhor, mineração, numa lógica totoca que põe a maior economia da América do Sul como  dependente ainda de uma lógica que valoriza mais a extração de minérios e o agronegócio que a produção de dados, cultura e de diversificação da economia.

E o Guedes? Bem, ele tá lá para gerenciar fundos e privatizar,não tem a mais vagas ideia de como produzir qualquer política econômica, nem uma política econômica ruim.

Um governo sem rumo nenhum depende de muito mais que um PP mais interessado em crescer como dominante no parlamento que em gerir qualquer país.

E aí é que erra a análise que põe o PP no governo como a salvação do governo, no máximo estancar a sangria de um impeachment, torna mais difícil, e faz com que o partido dominante tenha meios de se viabilizar como um partido que engloba a votação parlamentar pró-Bolsonaro, o colocando como um grande player na Câmara em 2023.

Talvez fique difícil derrubar Bolsonaro em um impeachment, mas dificilmente o governo deixa de ser um governo zumbi sem uma franca e improvável virada econômica pela via de um programa de investimento estatal e de emprego e renda que dê,milagrosamente, resultado em um ano.

Aprovar Mendonça no STF é ruim, mas o número de boiadas que podem passar na Câmara se reduzem, se fortalece o apoio a uma realização das eleiçẽos em 2022, se estabelece uma mancha na quase morta imagem de outsider do ex-Capitão e põe o PP como um partido que buscará se viabilizar como vencedor nas eleições de deputados, em disputa com o PSD de Kassab pelo controle do Centrão.

Talvez seja até um plano coordenado de dois partidos importantes do Centrão, com movimentos para tanto enfraquecer a tal Terceira Via como para constituir um caminho com um pé em cada canoa importante das eleições no ano que vem.

Bolsonaro continua derretendo, mas agora a agenda da extrema-direita passa a ter um gerente competente para se viabilizar como uma tor perigoso no segundo cenário  mais perigoso para nós: o Congresso.

E o PP buscará ampliar seu domínio no Senado, especialmente com o Rio Grande do Sul a partir da candidatura Heinze, que ainda tem mais quatro anos de mandato.

Do outro lado do Centrão, o PSD se estabelece como ator para ser interlocutor do PT no segundo turno e num cada vez mais provável governo Lula.

Ou seja, os dois lados do coração do Congresso estão buscando por um lado ampliar seu papel na composição do parlamento, por outro anular qualquer campo que tente se intrometer na disputa entre PT e Bolsonaro.

E ambos os movimentos disponibilizam uma dedução verossímil: PP e PSD já entendem que Lula estará eleito, mas também entendem o peso ea necessidade de ter o Congresso nas mãos para controlar a agenda.

O papel da esquerda qual é? Primeiro organizar uma resistência que derrote Bolsonaro E o Bolsonarismo, agora, se possível com o impeachment, avançando na conquista de coraçẽos e mentes para derrubar uma tentativa de  hegemonia conservadora que tentou silenciar o crescimento da luta anti opressão. 

O segundo desafio é constituir um campo de poder no congresso capaz tanto de governar com Lula quanto de avançar com o futuro governo com pressão pela esquerda.

Há setores da esquerda que perdem tempo demais na periferia deste debate e da construção de alternativas, sem organizar um planejamento de ação que componha uma construção de campo real. 

No entanto há num cômputo geral ações importantes por parte do MTST, Boulos, campos do PSOL e do PT e que apontam para um investimento concreto, dentro e fora da institucionalidade, para fazer frente a esses dois difíceis desafios.

É fundamental avançar na percepção dos movimentos da vida para que o caminho se dê sem uma derrota antecipada, ou uma vitória de Pirro. 

O medo do Golpe precisa ser um ator menor na análise e  precisa existir uma construção real de meios de resistir a um campo conservador permanente no congresso que consiga meios até de inviabilizar um governo de centro-esquerda.

A ideia de que novos 1964 estão vindo é uma âncora, não porque a História se repita como farsa, mas porque nada se repete, nem o sol.

Uma Frente ampla não se resume ao presidente

Plenário da Câmara aprova, em votação simbólica, suspensão de decreto sobre sigilo de documentos.

Se você olhar a cor dos parlamentares no congresso nacional já percebe um dos problemas que a esquerda precisa superar.

Um bom olhar já deixa claro o tamanho de nossa crise de representatividade e as camadas da luta de classes dentro da institucionalidade.

Se aprofundarmos a observação e partirmos para uma análise da origem social, do tamanho do patrimônio, da base que sustenta cada mandato a coisa não melhora, piora.

Sem uma percepção global dos desafios que a conjuntura impõe para a população e com isso para a esquerda, não entenderemos completamente o processo dialético de resolução de nossos problemas políticos imediatos.

Por que essa observação? Porque dialética é uma palavra usada a torto e a direito pela esquerda, mas pouco compreendida como método, inclusive é colocada como base de teorias e não como uma metodologia que produziu teorias.

O processo dialético que Marx utilizou não difere da dialética Hegeliana, mas usa outras bases onde se aplica a dialética, e aqui mora o equívoco das analises e visões que se apropriam da superfície do marxismo, incorrendo no marxismo vulgar que Hobsbawn descreve em “Sobre a História”, e ignoram o coração do processo de aplicação da dialética pra por a prova o processo racional no plano da superestrutura ao teste da práxis, que é a análise colocada na prova dos nove da infra estrutura.

A partir dessa dialética qualquer percepção que foque em nomes para disputar eleições, seja para a presidência ou pra governos estaduais, esbarra na ausência de dois elementos cruciais: um programa que dispute a sociedade e um planejamento que dê conta da unidade de ação na busca do executivo com uma forte bancada que permita reverter reformas e ataques a direitos, que permitam reconstruir o país destruído sob Bolsonaro e o congresso e assembleias mais conservadores, pra não dizer fascistas, da história.

E onde tá a contradição dialética? Na apresentação de soluções ideais, praticamente cloroquinas ideológicas, para problemas práticos.

Quando nomes e um arremedo de programa, na prática uma carta de intenções, são postos como elementos de disputa de uma sociedade fortemente fragmentada por um genocídio pandêmico em curso, fome, desemprego recorde, violência política e crimes de ódio, oque se está colocando é uma busca de adequação da conjuntura em um plano ideal, vivido em uma bolha superestrutural que não tem lugar na prática cotidiana.

Não existe solução em tese pra fome, desemprego, ecocídio, genocídio e violência política, não existe responder a uma necessidade de refundar o país econômica, política e moralmente com cartas abstratas da auditoria da dívida, defesa do socialismo, defesa de uma democracia plebiscitária e moralismo contra a corrupção que no fundo pouco difere da análise rasa do lavajatismo mais torpe.

Não adianta falar em reverter as reformas sem pensar num programa que permita que elas sejam revertidas, que faça com que uma nova hegemonia política se crie, que estabeleça parâmetros programáticos passíveis de serem postos em prática.

Existem forcas políticas que falam sobre questões de gênero, étnico-raciais, ecossocialistas a partir de obviedades já amplamente conscientes nos campos onde os debates são feitos, e insistem nisso como “tese”ou “contribuições”, sem que uma linha sequer de programa real, prático, de defesa concreta das minorias políticas e de uma refundação ecológica da economia e da política entre em campo.

A luta ambiental e a defesa do meio ambiente nào se sustentam só com o necessário reconhecimento do aquecimento global, da necessidade de apoio aos povos originários e da defesa genérica de um ecossocialismo que repete como papagaio a defesa da agroecologia, mas não a integra nem a um planejamento democrático, menos ainda a um processo que englobe transição energética, de empregos, reversão de parâmetros centralizadores da política e da economia.

Existem exemplos práticos: em 2020 discutimos e disputamos eleições municipais, inclusive em Pelotas com quilombo e território indígena próximo, sem que uma linha de programa para os povos originários fosse discutido e sem que uma linha de programa que contemplasse a necessidade de uma percepção ecológica da cidade, e seu papel na transição energética, fosse defendida em público.

Coisas simples como parcerias com as universidades da cidade pra desenvolver um plano de transição energética pra energia solar em prédios públicos, passível e plausível e implementável, forma postos na mesa. Nem vou falar de projetos mundialmente colocados como o aquecimento em pontos de ônibus com base em energia solar, mas do simples pensar saídas de transição energética e no papel da cidade nisso.

Esse problema continua em outros campos temáticos e setoriais, mas o coração do problema, que envolve essa dificuldade, está na ausência de um programa partidário no PSOL que sustente um pensar programático duradouro e de longo prazo.

Sem um programa, toda a sustentação dos projetos políticos e eleitorais é feita no calor e na superfície de um cotidiano onde a reflexão é um crime.

Isso é muito útil para forças onde conscientemente a fragilidade na produção de metodologia e pensamento que enxergue o real com o máximo de plenitude possível é inversamente proporcional à força na imposição de hegemonia burocrática.

Se sua resposta aos desafios de cada contexto não podem ir além de uma palavra de ordem embrulhada em superficialidades programáticas, a saída é um conjunto de choques retóricos aliados à manobras pouco éticas como um tratamento de acusação ética contra divergências políticas, realizações de congresso e a saudável diversidade política.

A questão é que independente de eleições, mas incluindo-as, sem um programa que planeje resultados que incluam todo o PSOL, que abordem um crescimento que envolva as diversas forças e que contenha saídas programáticas pra um país sendo assassinado, sem um planejamento de crescimento parlamentar que organize uma intervenção no congresso que reverta os atrasos promovidos pelo fascismo e pelo neoliberalismo, toda a retórica é natimorta.

E sem esse planejamento, ou mais, um reforço consciente na transformação do partido em uma entidade forte, independente e capaz de influenciar programaticamente os debates com as demais forças políticas, permaneceremos no lugar quentinho que agrada seitas e conjuntos organizativos pouco afeitos aos desafios da democracia.

Sem um partido, tanto faz se a defesa ;e de uma mesa de construção de programa em busca de uma unidade que inclua unidade eleitoral ou o lançamento de candidatura própria, estaremos sempre correndo atrás do nosso próprio rabo enquanto o atraso avança suas boiadas no congresso e a sociedade nos enxerga com desconfiança, inclusive por parte da esquerda independente.

Sem um programa e um planejamento que não se restrinja a lançar João pra presidente e Maria pra governadora, mas que pense em uma chapa parlamentar e que forneça meios pra Fernanda, pro Fernando, pro Obdúlio conquistarem a Assembleia e a Câmara, que permita um abalo na estrutura dos discursos, que entenda a necessidade de HOJE agir pra causar a agitação e propaganda das ideias que construímos, que permita a formação de um programa coletivo, que envolva a sociedade, o que estamos fazendo é o jogo do contente do militante autocentrado.

Discursos podem parecer radicais, basta um entrelaçamento de palavras certas no tom exato, mas só o são quando fornecem ferramentas pra sociedade e pra classe trabalhadora sustentar uma resistência contra as opressões que os atingem.

Essa lição, de que a esquerda precisa disputar a sociedade para além do voto, dentro de uma perspectiva moral e de valores, é o centro do problema de uma esquerda que não enxerga a conjuntura em sua totalidade porque prescinde disso pra manter uma hegemonia de pouco espaço político, mas mantenedora do micro poder que só é revolucionário na garganta.

E é a partir dessa superação necessária, que precisa ser um debate maduro sobre programa, planejamento de inserção social, eleitoral e de valores, que precisa estar no debate sobre a constituição de frentes amplas de esquerda e que tenham meios de inserir um debate de fôlego na reconstrução de um país que vive em um genocídio em curso.

Quando estamos morrendo, é no mínimo saudável que o Rolando Lero que existe em nós tome tento.

A gestação da extrema direita e do negacionismo no poder começou na imprensa

Quando você puder assista a minissérie The Loudest Voice que conta a história da fox News e do principal responsável pelo seu sucesso e pela construção do esqueleto de sua linha editorial: Roger Ailes.

Não se preocupe se você não reconhece o nome ou seu papel na história estadunidense ous e a história da Fox News lhe parece distante do seu dia a dia, vocẽ ao assistir o primeiro episódio já vai entender o caminho que a emissora e o personagem tiveram na construção do que vocẽ vive hoje.

Claro, é só uma minissérie, não abarca a totalidade da realidade histórica em torno da ascensão de Trump e de uma lógica de extrema-direita que se organiza na negação de todo o conhecimento estabelecido e científico em nome da tese de que a verdade está em disputa, ou seja, que cada um tem sua verdade e que ela possui assim um peso idêntico, seja você um sujeito razoável que se liga nos limites mensuráveis do real, a ciência, ou você sendo um terraplanista que diz que a Terra é plana e que termômetros roubam sua senha do cartão de crédito.

Claro também que a minissérie revela a visão de autores de um roteiro, que se baseou em um livro que por sua vez é uma percepção que vive no contexto do tempo do autor e de suas relações afetivas, políticas,etc, mas todas as obras sobre todas as coisas precisam receber essa observação.

A visão descrita na minissérie tem todo o conhecimento do hoje sobre o ontem, e esse conhecimento se reflete na leitura da história da Fox e de Roger Ailes.

Só que o retratado na minissérie revela um projeto de linguagem de violência que constrói a narrativa de uma percepção branca, ultra conservadora, de extrema-direita, racista, misógina e homofóbica que evidentemente se relaciona com a ascensão de Trump, Bannon e seus filhotes pelo mundo como Bolsonaro.

E por que evidentemente? 

Porque são documentadas nas participações dos citados, em vídeo, a construção das narrativas, a participação desequilibrada de republicanos fundamentalistas em horários específicos da emissora e até a participação de Trump no pós Obama, quando o ultra conservador Ailes abre a caixa de ferramentas para promover sua agenda de combate ao presidente com requintes de crueldade racista e xenofóbica.

A narrativa, obviamente ficcional, não é um documento cristalino de uma época, nenhum documento na verdade é, mas indica as fontes de observação de processos complexos de paulatina desconstrução da própria ideia de verdade.

Vai aparecer quem diz que a culpa da flexibilização da verdade são dos “identitários”, dos “pós-modernos”, dos Incas Venusianos e de toda a ciência humana que percebe que há recortes de classe, etnia, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, etc, em toda a percepção do real? 

Vai, assim como aparecerão os que dirão que a culpa do crescimento do negacionismo científico e da razão é a da produção científica e seus gargalos de divulgação, mas convém ter mais percepção entendendo os processos políticos que produziram, por uma questão de embate e controle hegemônico, a reação à ciência como inimiga como parte de um processo de derrota de qualquer parco cheiro de combate às desigualdades, transformadas em socialismo e comunismo dos EUA à Pindorama.

A minissérie trata detalhadamente das opções de Roger Ailes na constituição de sua Fox News, desde a secundarização das mulheres a papéis de bibelôs de uma audiência que as vê como ajudantes dos âncoras homens até a criação do âncora antípoda aos liberais, munido do que há de pior nas ferramentas de retórica política, e empoderamento de usuários do site de extrema direita Breitbart.

Tá tudo ali. 

A partir da história da Fox News, Roger Ailes e do papel de Rupert Murdoch na constituição de uma frente de extrema-direita na imprensa e na mídia em geral, há todo o caminho para ser analisado e percebido de como esses atores e outros tantos, como os Think tanks liberais que produziram o MBL, influenciaram ondas intensas de desconstrução da democracia em nome da hegemonia branca, ultra conservadora, racista, misógina, LGBTfóbica,etc.

Bannon? Sardinha frita de um mar que começa a produzir tubarão nos anos 1960, faz dos anos 1980 até hoje um caminho de transformação definitiva da imprensa como partido da burguesia, mais ou menos nitidamente.

E é a partir deste tipo de viés e de opção e projeto político que  se fez vivente o negacionismo científico, climático, histórico (já existente na negação do holocausto, mas ampliado) e principalmente político, que trata a democracia, por permitir que opositores ao projeot de extrema-direita exista, como inimiga.

Todo o processo posterior que fez com que observadores menos atentos culpassem a esquerda, Papai Noel, a Cuca, as universidades, pela distância entre o pensamento e o povo, vão ao chão com a percepção de que o que houve e há é uma disputa desigual entre fontes de informação. 

Fontes de informação que sofrem com mecanismos de barragem do escoamento dela,desde os inícios desiguais das posições dos discursos até o grau de capacidade de comunicação a partir das posições de discursos.

As universidades e suas mídias e podcasts, a sociedade civil organizada ou não, disputam com conglomerados com enorme capacidade e equipe, estrutura de difusão da informação que tornam a ciência um pequeno guerreiro de desenho animado contra Gigantes de Marfim armados até os dentes.

Enquanto o conhecimento científico é divulgado nas revistas acadêmicas, que dialogam no interior da comunidade e são mal traduzidas quando passadas para mídia, ou por canais de divulgação científica que buscam traduzir a linguagem acadêmica pro grande público, as grandes emissoras, mesmo as em tese mais bem intencionadas, dão a mesma capacidade de divulgação de discurso pro Dráuzio Varela e pro Osmar Terra, sendo que só o primeiro zela pela honestidade intelectual para produzir conhecimento e informação.

Enquanto há inúmeras variações de debate nas diversas ciências, como a economia, você não vai ver na globonews, ou na CNN, nenhuma linha da economia que não seja a que trabalha com os paradigmas ultra liberais, tornando esse viés o único científico para uma gama enorme da população.

E há mais, há quem trate como normal discursos anticomunistas e trate , como quem mente quem aponta as ditaduras na América Latina ou Churchill como criminosos capitalistas e que promoveram genocídios, ou que apontam a escravidão como uma autoria liberal, capitalista e nao o inverso. 

O discurso anticomunista ganha palco em programas da grade que o comunismo que aponta que Stálin foi um ditador jamais teve e provavelmente terá.

Precisou Caetano Veloso provocar Bial para que algum nível de debate passasse a ocorrer e mesmo assim reduzindo toda a esquerda ao fã clube do ditador georgiano sem qualquer contraponto mais sério.

A construção do discurso que deu em Trump e Bolsonaro, gestado pela Fox News e por sua vez nascido no coração do Partido Republicano dos EUA (Ailes foi assessor do Nixon), tem uma raiz histórica que remete à própria transformação da televisão em uma disputa de nichos e porta voz de conservadorismos diferentes, formados por percepções mais ou menos radicais sobre o capitalismo no interior da lógica liberal. 

Essa raiz histórica, no entanto, não existe apenas no discurso mais negacionista, existe também na normalização do processo de igualar batata frita com Bóson de Higgs que as emissoras e jornais adotaram desde os anos 1990 para cá.

O modelo pode ser encontrado quando Kim Kataguri e Guilherme Boulos escreviam para a Folha ou Olavo de Carvalho para O Globo, Rodrigo Constantino para Veja ou hoje quando o Caio Coppola muge em diferentes níveis de tortura do bom senso contra adversários liberais moderados trocados a todo momento, sem jamais mudar o modelo de igualar os desiguais.

Qual o modelo? 

Tornar palatável dizer que um completo indigente intelectual ou um mentiroso patológico tem o mesmo grau de credibilidade que um sujeito responsável com seu discurso, os dados que emite e a forma de expô-los.

O espaço dado a Rodrigo Constantino e Olavo de Carvalho em O Globo e Veja pavimentou a naturalização de seus livros e  ataques assassinos ao bom senso e à ética pessoal porque serviram de armas contra o PT e a esquerda. 

Alinhar Kataguiri a Boulos, com só o segundo tendo a responsabilidade do espaço, ou Caio Coppola com quem quer que seja que não seja um canalha absoluto e tenha um mínimo de vergonha na cara, serve a um objetivo e este não é o de expor a diversidade de pensamentos na sociedade, até porque há conservadores com honestidade intelectual, política e moral.

E esse modelo nasceu em 1996 com a Fox News e seu projeto de conquista do coração da América em nome de um projeto de setores do Partido Republicano que conseguiram tornar Bush e o McCain figura palatáveis diante do absurdo imoral que se tornou o partido.

A ciência, as universidades, a esquerda, os movimentos, precisam sim aprimorar suas armas na desigual guerra de informação em curso, mas primeiro é preciso saber o peso dessa guerra, o tamanho dela, a desigual estruturação dos campos de batalha e das ferramentas disponíveis.

As universidades produzem conhecimento em larga escala e recebem a menor atenção possível da mesma mídia que se diz democrática e transforma mentira de discurso em defesa em suas capas.

A esquerda é tratada inteira como adversária estúpida, imoral e ilegal,o Pantanal queima e o Presidente da República acusa indígenas da autoria dos desmatamentos e queimadas que seus aliados produzem e a imprensa atua como amenizadora do impacto das vozes que destroem as bases mínimas do respeito ao outro e ao conhecimento.

Quando o Bial leva o Jean Wyllys para um programa com Olavo de Carvalho como voz do mesmo patamar e este último trata o comunismo, sob o silêncio cúmplice de Bial, como portador de discurso de ódio por si só, o mesmo Olavo que usa e abusa de racismo, misoginia, LGBTfobia,etc, o que parece democracia é um discurso e um discurso cujo viés nunca passou perto do Jean.

A imprensa é porta voz do que se tornou o establishment hoje, desde o jornalismo declaratório até o método Ailes de transformar desiguais em portadores do mesmo espaço, e não adianta vestir amarelo, fazer vídeo com dancinha e pedir “dízimo cívico” enquanto trata ataques genocidas e ecocidas como se fossem defesa.

O terraplanismo, para horror do iluminismo de salão cúmplice dele, é filho dileto de um método que todos os jornais e emissoras de Pindorama, ou não, adotaram em suas grades diárias.

A ciência que não cabe na opção ideológica das editoriais sendo tratada a pontapés ajudaria a não existir terraplanismo.

O espaço da crítica pela e para a esquerda é obviamente necessário, sem ela erraremos para sempre, mas o que se viu e vê não é crítica é ataque.

É a exposição de um lado contra outro, é atingir portadores de arco e flecha com canhões, naturalizando o que não pode ser naturalizado para fingir democracia onde há soterramento desqualificador.

Esse viés faz com que jornalistas supostamente arejados e antenados tratem um elogio a Lênin feito pela esquerda como se fosse um elogio a Stálin e sua ditadura.

Mas como explicar para quem se vê cercado de neutralizadores do discurso que comunismo é discurso de ódio que isso é uma estupidez? 

Como explicar para quem diz que a esquerda precisa apagar suas experiências e memórias porque isso, pasmem, “empodera o bolsonarismo” enquanto ignora, por tolice ou oportunismo, todo o passivo da ideologia que defende, mesmo quem finja ou ache que não, o liberalismo?

Engraçado, a esquerda tem trocentas alas que discutem entre si e fazem críticas e autocríticas públicas, tá no manual,desde pelo menos 1848. 

Provavelmente se você sabe patati patatá de todas as cagadas da URSS você viu primeiro numa publicação tão comunista quanto o alvo da crítica. 

Bakunin e Marx se xingaram de forma muito elegante, ou não, em textos maravilhosos, públicos, à disposição de qualquer leitor. 

Rosa brigou com Lênin, Lênin brigou com a Rosa, Trotski brigou com os dois e mais com Stálin e levou uma picaretada.

Ainda tinha Pannekoek brigando com todo mundo.

Todos os frágeis laços que unem a esquerda são embebidos em pancadaria institucionalizada e generalizada entre viés teóricos e organizativos, todos públicos, mas a imprensa insiste em tratar tudo isso e toda a sua complexidade como se fosse a mesma coisa.

E é tratando o diferente como se fosse a mesma coisa que chegamos até aqui.

É nesse caminho que se perdeu o bom senso e se transformou o serviço público em vagabundagem, as universidades em torre de marfim e  a democracia na latrina do negacionismo.

Agora falando sério…

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Eu queria poder construir a meu redor o sonho mais belo de todos e explicar que a Terra é um bom planeta e que tudo passará, mas não posso.

Queria poder cantar a cantiga bonita que se acredita que o mal espanta, queria poder deixar passar as derrotas antecipadas, a inexistência de bom senso que analisa processos em vez do insensato impressionismo superficial, queria superar o ranço que tenho do anticomunismo da esquerda liberal, que veste fraque no anticomunismo dos fascistas e os faz fazer trottoir mal escondendo o amor guardado pelo primeiro Dória que aparecer como única alternativa ao Bolsonarismo. 

Mas não posso.

Não posso porque hoje, mais que nunca, é preciso ter raiva. 

Porque a raiva dá para parar, para interromper, a fome não dá para interromper e a fome tem que ter raiva pra interromper.

Não é hora de ter a calma e a fleuma dos que se esquecem na teoria  o que abdicou do dia a dia e do concreto.

Se o movimento da vida não deixa que a vida seja sempre igual, o movimento das coisas não permite que as torres de marfim ainda insistam na suspensão da exigência de práxis para embasar ataques mal dissimulados.

É difícil discutir com cadáveres, mas é mais ainda discutir com doutos argumentadores que insistem que nada consegue derrotar a extrema-direita, principalmente a esquerda e que estamos todos na esquerda jogando truco no fim do mundo.

Também é difícil dialogar com quem nega movimentos visíveis dentro e fora da institucionalidade, o preço do Centrão, a contagem de corpos, os números de pesquisas e a popularidade de governo e presidente, que agora deixa de fazer sentido para quem há anos entendia que fazia sentido antes.

Porém o mais importante nem é exatamente essa tolice organizada, travestida de equilíbrio, mal amparada na face visível do ódio à uma esquerda que não abraçou programas liberais pouco progressistas no todo e que se mantinham numa busca de frágil sustentabilidade, vendendo terrenos na lua onde era necessário um programa de enfrentamento tanto ao neo-desenvolvimentismo anti ecológico quanto o fascismo galopante, mas se preferiu passear na sombra da voz das trevas mais abjetas por puro e cru antipetismo.

O mais importante hoje é uma ação prática, concreta, de enfrentamento ao necroliberalismo neo fascista, combater o imobilismo e a escrota ação de movimentos “progressistas” no patrocínio do imobilismo cravando derrotas antecipadas, ignorando processos internos, visíveis ou subterrâneos, de reconstrução e de avanço progressivo de formas de enfrentamento ao monstro que nos devora.

O automático enfrentamento ao necroliberalismo neo fascista é óbvio, mas infelizmente precisamos também enfrentar o não jogador “progressista” e nem é preciso ser um Narrador Onipresente usando o Benjamin para criticar o próprio uso do progresso como bandeira para entender o motivo: estamos morrendo.

O impeachment não é um processo dado, nada é, é uma necessidade e se é preciso explicar que ele não só é parte fundamental da luta e que tanto é pauta que obrigou Bolsonaro a comprar o Centrão, fodeu de vez. 

Também é fundamental entender o papel da citação a Marielle para além da preguiça conceitual de que Jair usa Marielle para reorganizar sua base. 

Dizer que Marielle só é citada por isso e não por ser de esquerda chega a ser um dupla ofensa, até tripla, ao bom senso, à inteligência alheia e à própria raiz do que sustenta Jair e sua base: o mesmo anticomunismo que veste fraque quando sai da boca de uma suposta “esquerda progressista”, liberal no talo, e que faz o diabo para ficar distante do resto da esquerda e atacá-la sempre que possível.

Em meio a uma batalha, porque política é luta, e ao enfrentamento que precisa ser feito ao fascismo de Jair Bolsonaro, dane-se com quem ele se junta para se salvar, quem se junta às hordas necro-fascistas para atacar a esquerda é inimigo igual.

Não dá mesmo para contar corpos, inclusive amigos, tempo, esforço e perder também tempo ouvindo babaquice de gente douta que se faz de idiota e despreza a inteligência alheia para ganhar seu troco de morador das nuvens ou de muros fétidos, ocupados por pássaros tropicais que resolveram acompanhar morcego.

Há provas convincentes de que tem gente que pensa e não vota no Boulos e sabe o lado que precisa ocupar para estar na batalha que precisa ser levada a cabo.

Preferir o lado que critica a esquerda não pelo que ela erra e faz, mas pelo que ela não tem como fazer, em nome de sei lá o que que agrada pastos e planícies de gente ou lerda ou babaca ou inútil ou tudo isso que tá confortável no seu lugar de fala que nada organiza é lamentável e nos dias de hoje não dá para proteger ou oferecer a face a quem quer que seja.

E sim, isso tudo ofende moral e politicamente, porque enquanto a esquerda tá lutando para juntar Lula, Ciro e FHC numa live, para dialogar com o campo democrático, mesmo com pregador no nariz, em propor saídas,  essa gente entojada com títulos que parecem não merecer age com uma capacidade de análise substituída pelo impressionismo mas vil para demarcar politicamente conosco, falseando o quanto nós, que estamos errando e acertando na luta cotidiana.

Somos a Geni desta porra.

Tem uma caralhada de coisa que a esquerda marxista, socialista, o caralho, erra, da formação de organicidade com gente avessa aos formatos dados em partidos ao diálogo com as forças progressistas, passando pela própria defasagem teórica de amplos setores com relação à luta indígena, ambiental,antirracista,etc, mas não, estar parada e não construir resistência e lutar pela condução de pautas não é um erro da esquerda.

Dói e cansa gente que lê lé com cré preferir o campo de nuvens do Dragon Ball Z para bater na esquerda, fingindo burrice em algumas horas,  e comparar uma produção de pautas com máquinas governamentais e parlamentares, parte da mídia, por omissão ou ação, e vasto contingente de financiamento de divulgação ilegal com a produção orgânica de comunicação que conta com mais mandatos de cerca de vinte parlamentares e uma vasta militância humana, pouco acesso à mídia e muito esforço, e que mesmo assim pauta o governo no congresso e fora dele, se insere nos discursos presidenciais,etc, para dizer que a Esquerda nada pauta, nada interfere e nada faz, no fim das contas. 

Porque isso é lorota, e não é crítica, é ataque. 

E é ataque porque faz esforço em ignorar desde as ações parlamentares aos movimentos de MTST e MST agindo diretamente em comunidades no país inteiro doando equipamentos de proteção individual, alimentos,etc, da APIB agindo para proteger os indígenas e resistir ao Bolsonarismo e os movimentos de comunidades e favela,s organizados de forma apartidária pro gente de esquerda, que se protegem e se politizam na mais profunda construção de consciência e atinge mídia,etc por um esforço sobre humano de ação orgânica.

Nem vou citar relatórios de inteligência de dados demonstrando que em todos os terrenos possíveis das redes sociais o Bolsonarismo perde para oposição, sem falar no combate múltiplo que obriga a construção de contra narrativas diárias pelo governo enquanto gente morre.

E citei as mortes em um dado final porque é o que mais irrita, e constrange, ter esse tipo de debates em redes sociais e fora delas: a nossa luta também é para informar a população, e com tudo o’que enfrentamos, estamos agindo e fazendo acontecer.

Tem gente morrendo, podemos chegar a milhões de mortos, e essa sub intelligentsia de zero práxis, coçadora de costas, babaca e arrogante prefere o ataque vil à esquerda, insinuando falta de luta e ação, incompetência quando apesar deles e suas Tábatas e Marinas conseguimos duramente por o arrombado do presidente da República na defensiva e tendo que negociar com o Centrão.

E sim, fomos nós,porque a agenda bolsonarista era o mar pros peixes da Câmara e isso mudou.

Tanto mudou que o que era de graça agora tem preço.

Agora falando sério… eu queria não falar nada que distraísse o sono difícil como acalanto, mas é preciso dar um chute no lirismo, um bico no cachorro , um tiro no sabiá porque não dá mais para ver a banda passar enquanto se espera que fadas sensatas nos salvem dos ogros e elas dançam a dança dos Reis da Ogrolândia.

E também por isso não farei o silêncio tão doente de vizinhos reclamar, porque enquanto houver espaço corpo tempo e algum modo de dizer não eu canto.

E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo

Quarta Internacional

 

Tenho o mal hábito da vaidade e o pior ainda da memória, além de provavelmente ser o sujeito que entendeu que seguir o coração, mandamento vindo de Oxumaré, é mais que perscrutar os subterrâneos do subconsciente e mais o sentir a dor no peito como métrica do caminhar.

Gostaria de ser mais calculistas e ter a métrica quantitativa das quantas vezes estive certo e apontei caminhos e fui ignorado. ou quantas vezes escrevi e produzi observações e contribuições que se provaram logo à frente interessantes para a percepção do caminhar, até que ficou tarde e virou um grito de Cassandra atropelada pelas conjunturas.

Esse blog tá lotado de profecias, e de equívocos em igual proporção. Também dá lá suas cacetadas na avaliação de conjuntura, embora tenha cometido o imensurável erro de não acreditar que uma elite econômica que nadava de braçada no lucro daria impeachment na Dilma apenas por ódio de classe e para ampliar o lucro ao custo de vidas, negócios, economia e grande parte da base econômica do país.

Se você não é banco, mineradora ou agronegócio,  você provavelmente está tendo prejuízo, se não estiver investindo no mercado financeiro e deixando sua empresa falir, fodendo trabalhadores.

Mas me perco em digressões enquanto o assunto aqui são as mudanças e o movimento.

Há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade, há tempos são os jovens que adoecem e há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção, já disse Renato russo, e uso estes versos como mantra do que sinto em relação à conjuntura, à política, ao PSOL e a meus caminhos trotskistas.

E se disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza e ter bondade é ter coragem, os rumos da vida que vivo me impõe a percepção da necessidade de ser coerente com a única coisa do universo que sempre esteve a meu lado independente de onde eu ia, e que sempre me cobrou mais do que qualquer crítico: meu coração.

Jamais fui pessimista, sou um incorrigível caminhante do mundo do bom combate e das lidas com os percalços como se fossem obstáculos temporários para a fundamental e necessária vitória. E é por isso que preciso sempre, algo que supere os rame rames do cotidiano medíocre e mediocrizante das políticas tatas que permeiam o mundo.

Mas estava sofrendo as pancadas da minha sufocante vida com outras tantas porradas tantas da vida política e sofrendo porque por mais que eu corrigisse meus passos haviam pedras e obstáculos que independem de mim e necessitavam de quem preferia mais pedras e mais obstáculos do que a limpeza conjunta do caminho para uma lida mais confortável com as tragédias das sombras que vivemos.

Me descobri trotskista aos 45 anos, e me identifiquei de vez com a IV Internacional e os escritos de Bensaid e Lowy há poucos anos a mais do que isso. Mas se antes respeitava os autores, hoje os entendo como elementos que fundamentalmente compõem minha visão de mundo, junto com Ginzburg, Thompson, Natalie Davis. Roger Chartier, Eduardo Silva, João José Reis, Sidney Chalhoub e Giovanni Levi, meus historiadores preferidos.

Gramsci, Rosa, Trotski permeiam hoje meu horizonte intelectual e até moral. E diante disso tudo entendo meus limites e busco a construção coletiva dentro do que eu posso e consigo fazer, mas aparentemente nas ruas da política partidária, construir o partido é menor que estar em um sindicato, que meu desemprego impede, ou em um DCE, que minha idade impede. 

Além disso, aparentemente o debate político ainda é situado em limites teóricos que fazem com que censuras prévias e silenciamentos, há pouca atenção para a  necessidade coletiva de análise de conjuntura compartilhando a conjuntura com contextos técnicos e políticos que hoje permitem que de Quixeramobim se enxergue a realidade pelotense e mais, que se junte com outras realidades e se construam percepções mais grandiosas do que muitas vezes quem tá do teu lado consegue enxergar.

E isso cansa, e limita, e o não aproveitamento coletivo de nossos talentos e compreensões, de nossa diversidade, de nosso tempo, de nossas habilidades e percepções se juntam a vetos conscientes e inconscientes que por divergências, por maiores que seja, se jogue fora a solidariedade.

Quando a extrema-direita ataca um adversário interno ela está nos atacando tanto quanto a ele, e por mais que a gente tenha uma enorme contrariedade com este adversário interno é fundamental lembrarmos aqui quem é o inimigo.

Divergir e criticar duramente não podem, jamais, ser impeditivos do  apoiar quem necessita de apoio e em momentos de guerra virtual fazendo parte do cotidiano a miopia é prima dileta da burrice quando nos omitimos de um combate porque divergimos de companheiros.

Por essa que entendo que hoje, no PSOL, meu caminho aponta para horizontes onde o trânsito pelos diferentes é mais salvo conduto para calma e tranquilidade no olhar de quem convive com abordagens teóricas e vontades práticas diferentes e não mais para a reivindicação das tradições que não se comportam mais na prática como a tradição exige que se comporte. 

Há tradições que se fazem órfãs de coerência no interior do partido. Há uma tolerância mais coletiva e ardente com o velho companheirismo acrítico que com a necessidade de espontânea e forte coerência teórica em perpétua renovação.

Ao mesmo tempo há tijolos com nomes que parecem ser até o de inimigos diretos e não de adversários internos que compõem uma história do PSOL que tem tantos equívocos graves quanto grandes ações que nos orgulham e nos fazem até hoje admirar sua força militante.

E se meu coração não se cansa de ter esperança, de um dia ser tudo o que quer, o movimento da vida não deixa que a vida seja sempre igual. E nada se repete, nem o sol.

Para mim é fundamental saber o gosto do lamber das línguas, o gozo e o sabor da festa, sem medo de sentir a dor de se fazer, que e tão prazer que nos amplia o renascimento da nossa força, nossa luz e fé.

E é nesse caminho que me distancio de onde estou e caminho independente no interior do PSOL. Entendendo as alianças necessárias para a luta antifascista, buscando sem preconceito ouvir velhos anarquistas, jovens comunistas, velhos/novos anarco fofos, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes….

Tudo é nosso, sempre esteve em nós, já diria Gonzaguinha, e preciso ir, porque tudo principia na própria pessoa.

Mas se me der um beijo, eu gosto, se me der um tapa, eu brigo.

“E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo

E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo”

Entre o otimismo da vontade e o pessimismo da razão

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O Governo Jair Bolsonaro expõe as tripas da direita e da elite em praça pública, mas também expõe o imobilismo e a incerteza de uma esquerda que ao mesmo tempo que se organiza no âmbito institucional se fragiliza no espaço público, na rua.

E isso ocorre porque esta mesma esquerda nos mais variados graus prefere se esconder em ambientes controlados do que arriscar a disputa pelas consciências na rua.

Esse fenômeno já ocorreu a partir de 2013, quando parte da esquerda, inclusive a dita esquerda radical (De PSOL a PCO), preferiu criminalizar arroubos de ação direta destrutiva a discutir e disputar essa galera que quebrava vidraça.

Se preferiu, do alto de uma razão irracional e negacionista dos movimentos históricos, por água no moinho da criminalização, de processos, despolitização e violência policial contra os mais radicais (Parte dos socialistas, anarquistas e autonomistas) apostando numa manutenção no poder por inércia de uma ex-querda cada vez mais social-democrata (pra ser gentil) que fazia acordos pornográficos com a extrema-direita entregando anéis e dedos achando que o lulismo sozinho sustentaria dinastias de democratas com pendores sociais no Planalto.

À criminalização pelos discurso se seguiu a criminalização pela justiça, pela polícia, especialmente depois da mal explicada morte do cinegrafista Santiago, com uma nova geração de esquerda vendo novas lideranças não alinhadas à esquerda partidária ser presa, processada, ver a vida ruir e seguir sendo transformada em pária por tentar mudar o mundo.

De Gilberto Maringoni (PSOL-SP) e parte das correntes do PSOL atacando autonomistas e anarquistas (FIP, etc) como “Vândalos protofascistas” até Tarso Genro e Agnello Queiroz (governadores do RS e DF, respectivamente, eleitos pelo PT) enviando suas polícias atrás de ativistas (entre eles ativistas do PSOL), a folha-corrida que mancha a trajetória das esquerdas, com as digitais no esvaziamento da rua pela esquerda com sua ocupação pela extrema-direita, é algo continuadamente omitido pelos mais simplórios e rasos emissores de “análise” sobre as conjunturas, e que hoje acham lindo eximir Dilma de culpa pelo seu ocaso.

Não à toa há um coro de animação histérica sobre revoltas mundo afora e que adora Cânticos dos cânticos da euforia alucinada que repete “Não passarão” para o fascismo, enquanto eles não só passam como dão ré. O problema é que esse coro não rima com o movimento.

O grau de organização e organicidade dos discursos de redes sociais é perto de zero, e mesmo com o crescimento de organização e organicidade de uma revolta palpável nos partidos de esquerda(difícil medir em organizações autonomistas e anarquistas, mas apostaria que também está alta a procura de organização), isso não tem se refletido numa mobilidade de ação que mantenha essa galera entusiasmada.

E parte do problema é que se vende sonho, não se vende o trabalho e a organização necessária para agir e transformar.

Não é um fato incomum para a esquerda o discurso que alimenta “primaveras” não ir além do conversê pra organizar essas primaveras.

Porque transformar exige tocar em vespeiros (homofobia, racismo, machismo estruturais, por exemplo), e ninguém quer tocar em vespeiro e arriscar perder voto, ou poucos topam o risco.

Mais seguro gravar com o Quebrando o Tabu.

As manifestações pela educação foram maiores do que as contra a Reforma da Previdência e pouco se tentou aprender com isso. Pior, pouco se tentou avançar no debate sobre educação em si, pouco fomos além do debate que discute o quanto a universidade precista ir mais pra rua e divulgar sua serventia.

A questão é que a educação atinge todos e especialmente atinge uma galera em formação que mesmo tendo sido pega pela perna pelo Novismo liberal, percebe que a vida não é filme, você não entendeu, e foi pra rua discutir e disputar a necessidade de universidades públicas, porque sentiu na pele e isso lhes deu experiência, experiência que é a base da formação de consciência.

Já a Previdência é um campo onde a disputa está com quem já está às vésperas de se aposentar ou é adulto e tem convicções menos flexíveis com relação a seu dia a dia e seu futuro, convicções que por vezes lhe são deletérias.

A aposentadoria é, pros mais jovens, uma utopia, um futuro, que hoje quase não mais existe.

E o bombardeio sobre o quanto a Deforma da Previdência era necessária, é algo que beira os vinte anos e buscando exatamente sua destruição. Qualquer opinião que revelasse ser uma manobra de opinião pública tinha oitocentas dizendo que a esquerda era negacionista.

Destruir o ensino público ninguém vai dizer às claras como disse que era preciso destruir a previdência. E mesmo assim não conseguiram passar a capitalização.

A questão é que o fôlego da resistência via educação parou, e por quê? Porque parte dos atores que estavam envolvidos na não construção concreta da resistência à Deforma da previdência percebeu que perderia o controle da indignação se continuasse a apoiar os movimentos contra o desmonte da educação, pior, ainda comemora como vitória a manobra do Desgovenro Bolsonaro de, a dois meses do fim do prazo para sua utilização sem que isso impactasse no exercício de 2020, liberar recursos cortados em março.

Mas parou o fôlego? Não exatamente, apenas se reduziu e agora precisa de mais esforço para reavivar a chama, especialmente quando é visível que o neoliberalismo está nas cordas por conta dos movimentos de resistência no Equador e Chile.

Mas como lidar com isso se a esquerda via de regra prefere agir como coro de contente em rede social do que segurar o rojão de organizar, filiar, agir para concretizar seu aumento nos espaços possíveis.

Há interessantes campanhas de filiação, ao PSOL por exemplo, mas isso basta?

Não, porque é preciso existir ações públicas cotidianas que façam as pessoas se sentirem úteis, é preciso também curso de formação abertos e didáticos, com o cuidado de jamais se tornarem cursos de doutrinação (não dá pra confundir formação com proselitismo de dogma), e são muito precisos meios de ação de convencimento para além de divulgação de atos e ações.

Isso tudo é uma ideia de construção de organização partidária, há outros caminhos possíveis, e é didático pra evitar que militância se confunda com a enojante mistura de culto à personalidade com discurso esfuziante de uma alegria militante que nada faz além de divulgar um “Não passarão!” sem práxis que impeça o fascismo de passar.

Porque é disso que faz parte da militância, que confunde a necessária ação contra o desânimo, focada na nossa memória e nos nossos fetos, com uma falsa felicidade estagnada que não constrói porra nenhuma e ainda fica saudosa de péssimas experiências porque hoje estamos literalmente fudidos na mão de um presidente com banca de miliciano.

Não, amigos, não estamos vencendo. Estamos perdendo de um time ruim por 7×1, o gol que fizemos foi de honra e o fato de outros times estarem virando o jogo, ou perto de iniciarem a virada, não faz da esquerda do Brasil mais do que observadora enquanto a extrema-direita vem de novo ameaçar nosso gol.

A mobilização do Chile está vencendo a extrema-direita, mas é lá, não é aqui e não estamos fazendo muito para trazer aquela indignação pra cá, além de comemorar e chorar vendo a foto dos outros, enquanto mugimos “saudades do meu ex” e achamos Maia democrata.

Com o Desgovenro Bolsonaro em derretimento acelerado e sendo questionado por elite e direita, sentamos em cima do gol de honra marcado em março com nossas mobilizações pela educação e achamos que tá bom porque dá pra esperar de um a três anos (dá?) pra demover Bolsonaro de sua cadeira que mancha de óleo nosso litoral e a vida de pescadores e povos originários, amplia o número de feminicídios e crimes de ódio, queima a Amazônia e avança sobre terras indígenas.

Não adianta pedir a queda de Salles e Weintraub se o chefe deles poderá nomear outros dois canalhas.

Não adianta ter medo de Mourão ignorando que a bola da queda de Jair tá quicando na nossa frente e a gente tá deixando Maia e Toffoli o manterem no poder enquanto as digitais do assassinato de Marielle, rachadinhas e aparelhamento criminoso do poder avançam sem suar.

O otimismo da vontade do nosso discurso é delusional e tenta calar o pessimismo da razão que explicita nossa imobilidade.

Sim, a imprensa liberal erra ao dizer que a esquerda está parada na institucionalidade, porque nessa ela não está, mas acerta, sem mirar lá, pra dizer que ela tá omissa na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé,

Com exceção dos indígenas, povos originários, Sem teto e Sem terra, o restante da esquerda tá olhando pra ontem, e em vez de ser pra revolução Russa tá olhando pros governo Lula como se fossem o Reino Encantado de Aruanda.

A gente precisa do pessimismo da razão, porque estamos perdendo e o fato do time de lá ser ruim e o juiz ter cansado de roubar não transforma o resultado uma vitória.

Mas também precisamos de um otimismo da vontade real, que faça com que, mesmo com todas as tretas, a gente levante no dia seguinte e faça acontecer as organizações, os atos, as produções de conhecimento e programa, as ações necessárias.

O otimismo da vontade não é um alento pro pessimismo da razão, mas o combustível pra, de forma realista, transformar a realidade que faz a razão ver tanto pessimismo.

É fundamental sairmos do transe que sonha com a volta de Lula como nosso Dom Sebastião de Garanhuns e pormos em prática movimentos de organização e organicidade que permitam que a conjuntura mude e que ele possa ser o Dom Sebastião de Garanhuns pra quem precisa de um homem pra chamar de seu.

Temos que pôr em prática movimentos que permitam que saibamos quem mandou matar Marielle e porque Jair, Flávio e Queiroz estão desde sempre produzindo canalhice e fake news sobre ela.

Pra sairmos do transe é preciso construir meios de irmos pra rua, é preciso fazer banquinha com material, discutir no cotidiano, filiar gente, chamar passeata, cobrar as lideranças porque não estamos agora gritando “Fora Bolsonaro!” e estamos tentando derrubar ministro.

Há um latifúndio para nosso otimismo da vontade ocupar e há uma conjuntura violenta que o pessimismo da razão precisa ver.

E pra vencermos é fundamental agirmos com o primeiro, enxergando com o segundo.

A queima da Amazônia não é uma crise, é um projeto de um Agro nada pop.

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Bolsonaro é a voz do capitalismo Brasileiro ecocida personificado no agronegócio. E quando abre a boca na maioria das vezes explicita um tipo de pensamento que está nas formas culturais que abraçam o agronegócio como base econômica.

Mesmo sustentando e sendo fundamental na eleição de Jair Bolsonaro, o Agro também é afetado pela crise econômica que insiste em acusar os governos petistas de terem produzido e ampliado, embora depois de três anos de Temer entrelaçado nas tramas do agro, e que se amplia sobre o governo Bolsonaro.

De janeiro até agora o setor acumula uma perda de 0,39% com relação ao PIB específico de seu setor. E mesmo assim insiste em medidas que expõe as fragilidades da percepção conjuntural e contextual do empresariado agro negociador brasileiro.

Ao empoderar Bolsonaro e insistir em uma dupla sócia atleta da percepção do setor sobre economia, cultura e ecologia, como Teresa Cristina e Ricardo Salles na Agricultura e Meio ambiente, etc, o agronegócio se torna sócio do próprio cadafalso que seus negócios passam a ocupar quando a Amazônia queima.

O Agro se torna pop na TV, e nas músicas e paradas de sucesso onde só toca top, porque sustenta parte fundamental da economia capitalista brasileira, representando cerca de 20% da economia brasileira, percentual nada desprezível, e com o seu peso no capital conseguiu traduzir sua forma de pensar o país em um compartilhamento de valores que perpassam a política, a economia, o amor e a sociabilidade.

Esse pop, que valsa nas canções do Sertanejo, traduz a percepção de família, romantismo, capital, vida. Há modelos de canção complicadas sob o ponto de vista da exposição de uma misoginia, de uma defesa da violência contra a mulher como saia para rompimentos, da exposição da mulher como fadada a ser sofrida por amar sem ser amada. Há um combo de transformações sociais explicitadas nas letras e que prega uma ideia de sociedade que rima com o Bolsonarismo, que é gordofóbica a ponto de pressionar Marília Mendonça a efetuar cirurgia bariátrica, e é fundamentalista evangélica a ponto de efetivamente Simone e Simaria se recusarem a mencionar o nome “Yemanjá” presente em canção do Natiruts que cantariam em um show no programa Música boa ao vivo do Multishow.

Esse peso econômico, essa força cultural se juntam a outros tantos fatores que se pretendem em um salto ornamental suprimir uma sociedade que se pretende diversa, classificada como “de esquerdas”, em nome de uma sociedade heteronormativa, com uma ideia de economia que exclui o meio ambiente e de política que exclui a democracia se esta ameaçar oque eles chamam de “valores da família”.

Essa matriz cultural entende que espaço com mata nativa é “sujo” e que é preciso ampliar sem eira nem beira o espaço de pasto para sua produção de carne e que contou com Bolsonaro pra sustentar essa medida a partir do desmonte feito nos organismos de fiscalização ambiental.

Essa matriz cultural entende que economia é algo que precisa de pouca regulação, que sem terras, quilombolas e indígenas são vagabundos e que mulher é uma posse, que LGBT são doentes e que meio ambiente é coisa de vegano.

Da lógica à prática precisou-se de oito meses para que o próprio Agro em sua confusa organização interna se visse diante da contradição entre sua percepção de estado e cultura e os custos disso para seus negócios.

O meio ambiente passou a importar quando a ala mais radical de sua percepção de país resolveu ampliar as queimadas e o desmatamento e que a desregulamentação ambiental que produziram permitiu que madeireiros e outros setores alinhados à mesma lógica pudessem fogo na Amazônia, expondo sua economia, seu PIB às perdas ainda maiores do que a já acumulada desde janeiro depois da União Europeia indicar que fará com que ocorram sanções econômicas ao país, afetando diretamente o agronegócio.

Até quando o mundo se espantava com as queimadas amazônicas, o Agro tentava no congresso ampliar o ataque aos povos indígenas com a tentativa de aprovação no CCJ PEC 343/2017 que interferia na autonomia dessas populações sobre os territórios demarcados para sua vivência, permitindo arrendamento via FUNAI para o agronegócio e mineração.

O eixo de sua base cultural, de seu pensamento econômico e político, organizou-se no Bolsonarismo e se pôs em marcha para implementar na marra, e com a maior truculência possível, um projeto de país cantado em verso e prosa por duplas e conjuntos de um sertanejo que exclui o caipira e mesmo no discurso mais “libertador” da mulher a coloca como quem sonha com um homem perfeito ou espera horas a fio por homens em motéis sem “precisar ligar”. Um sertanejo que acha que não precisa se preocupar com a homofobia e que praticamente informa que naqueles espaços é proibido ser LGBT e não tem vergonha de fazer blackface ou de fazer como o músico César Menotti em pleno Altas Horas da Rede Globo e declarar que “samba é música de bandido”, em um racismo explícito dada as origens étnicas do samba. E um sertanejo que é Agro e não tem vergonha de chamar áreas com mata nativa de “campos sujos”.

A ideia dos “Campos Sujos”,o conservadorismo comportamental, a própria ideia de poder político como um poder de exclusão e não de produção de relação é um coquetel que faz do incêndio na Amazônia a síntese de um país que por força de uma aversão à democracia e ao meio ambiente, identificando neles tudo o que é contrário à “família” e “à produção”, queima seu futuro e seus ativos de forma irracional.

Assim como parte da burguesia financeira não se preocupa com oque Bolsonaro faz até lhe dar prejuízo, vendo em sua eleição um meio de erradicar oque a ela se opõe e maximizar sua taxa de lucros, o Agro não pensou nos riscos ou se preocupou com Bolsonaro até o desmonte desejado da fiscalização ambiental gerar a ela prejuízo direto com as possíveis sanções econômicas que o G7 discutirá a partir de um repúdio à política ambiental de Bolsonaro.

A “escolha difícil” do Estadão no segundo turno de 2018, não foi difícil para o Agronegócio até agora, quando o fogo na amazônia expõe animais carbonizados, escurece o céu de São Paulo e faz a crise econômica chegar no setor que já estava sob a mira do planeta com a liberação sem critério de agrotóxicos.

O projeto de país evangélico, homofóbico, racista, ecocida que junta o Agro pop à parte da mídia e no governo Bolsonaro é exposto quando este governo começa a dar prejuízo e se torna rum pária até em sue continente.

Diante desse acúmulo de elementos que expõe o Agro ao mundo, com os prejuízos necessários,é fundamental apoiarmos um debate amplo sobre o peso de um setor econômico e que se tornou um setor de aprofundamento do conservadorismo racista de uma eite agrária que só modernizou sua gestão dos próprios negócios e seu contraponto através da defesa da agroecologia, das populações tradicionais e da agenda de combate à emergência climática atuando para não apenas a derrota do projeto em seu aspecto mais visível, mas ecologicamente ampliar a percepção do conjunto de erros que o empoderou mais do que nunca como meio de derrubar não apenas Bolsonaro, mas a agenda cultural, econômica e política que o fez ocupante do Palácio do Planalto.

Claro, não podemos ser inocentes com relação aos interesses imperialistas na Amazônia e na ação que usa a situação ali de álibi para evitar um acordo UE-Mercosul que interfere nos negócios agrícolas da Europa ou na defesa pelo Canadá e até EUA de sanções que atingem um dos principais concorrentes de ambos em vários negócios: o Brasil.

Só que não sermos inocentes não deve nos impedir de entender nesta brecha um caminho para uma ação ecossocialista de derrubada das vacas sagradas do neoliberalismo ruralista personificado por Bolsonaro e que é trilha sonora do Agro.

É preciso ampliarmos pela esquerda e com a esquerda mundial a cunha que se abre à nossa frente para pormos como protagonistas as falas e lutas dos povos indígenas e quilombolas, o combate à mineração e ao agronegócio monocultor, rediscutir produção de consumo de alimentos rumo a uma soberania alimentar que sobrevive na luta agroecológica e na agricultura familiar.

Em um momento onde uma produção de carne que supera em muito o consumo per capita do Brasil corre o risco de ficar presa em portos europeus é fundamental discutirmos as pegadas de carbono de nossa indústria de alimentos de nossa produção de commodities, da mineração que se assanha para entrar em terras indígenas e põe fogo na maior floresta tropical do planeta para facilitar sua entrada.

O projeto do Agro queima a Amazônia porque o Agro é pop e já sabemos que o pop não poupa ninguém.

Por isso cada ação de hoje em diante precisa ser uma ação transformadora ecossocialista que atinja o coração de uma lógica de capital que abraça o fundamentalismo religioso e o conservadorismo comportamental para queimar nossas vidas em holocausto a um Deus de morte.