Quando Freixo chama a tática Black Bloc de violenta ele faz o mesmíssimo discurso, ipsi literis, da polícia mundo afora.
Freixo não é analfabeto, é professor de História, deputado, tem uma puta formação teórica, sabe pesquisar sobre os mais diversos tipos de dados e pesquisas sobre qualquer caralho que seja relacionado ao mundo político.
Há profundo material teórico a respeito de Black Blocs, no Brasil e no exterior, e não é possível que uma pessoa que se diz socialista e defensor dos direitos humanos não tenha batido o olho em David Graeber, Pablo Ortellado e outros tantos cientistas sociais, filósofos, jornalistas e historiadores pra ler sobre Black Blocs ou ignore se tratar de uma tática com origem nos autonomistas alemães e que desde Seattle em 1999 passou de não violência pacífica pra não violência ativa.
Não é possível que Freixo, com todo sua compreensão do mundo, não saiba diferenciar o discurso policial repressor do discurso teoricamente mais elaborado e preciso, ou que não compreenda a própria responsabilidade para com a sociedade e com ativistas, mesmo que discorde da tática, ao tornar uma tática de não violência ativa em tática violenta.
Não é possível que um historiador como Freixo ignore o poder do discurso, da simbologia e da representação e o poder da diferença terminológica inclusive saindo de uma figura pública, liderança da maior força de esquerda do RJ na ampliação da criminalização de jovens ativistas que adotam uma tática não violenta, tornada violenta pela retórica conservadora e agora pela retórica do líder da “primavera carioca”.
Não é possível que Freixo ignore o papel de sua entrevista ao Jornal o Dia onde ele diz “O PSOL precisa isolar os Black Bloc!” em 2014 na criminalização de movimentos sociais e na prisão dos 23 presos da Copa do Mundo (Sininho, Camila Jourdan, entre outros) E na prisão de Rafael Braga.
Não é possível que Freixo não consiga travar a relação simples entre sua participação nessa criminalização e o quanto isso reflete em TODOS OS MOVIMENTOS SOCIAIS, afinal fechar ruas, queimar pneus, ocupar fazendas e prédios também são táticas de luta não violentas que são transformadas em violentas na retórica tradicional policialesca.
Diante da figura pública, seu peso, sua inteligência, sua capacidade intelectual, sua força e a constatação óbvia que Freixo não é estúpido, tem formação política, teórica e acadêmica com riqueza suficiente pra entender tudo o que levantei acima, inclusive pra pesquisar a vasta obra a respeito da tática Black bloc, fica a ṕergunta: Por que Freixo defende que Black Bloc é violência?
Estupidez não é.
Preguiça não é.
Oportunismo?
Irresponsabilidade?
Jogar pra galera que adora um mediador?
Discurso senso comum pra ganhar votos?
Não sei, mas sei que é desonestidade intelectual e política.
Freixo e o PSOL repetem o filme da esquerda partidária com um elenco pior.
Na ânsia de ganhar eleições Freixo e o PSOL entregam a alma, a sutileza, a inteligência, a integridade.
Assim como Luciana Genro disse em debate que o estande de tiros da Guarda municipal era necessário (Defendendo por tabela que a Guarda municipal possuísse armas), Freixo disse em debate que não reestatizaria o Porto Maravilha, apenas dizendo que não daria propina pro Eduardo Cunha, afinal qual o problema da privatização de UM BAIRRO se não houver corrupção, não é mesmo?
Agora lança um site, isso mesmo um site, onde explica que não, Freixo não apoia os Black Bloc e explica: São violentos.
Já expliquei porque Freixo erra ao colocar isso, e expliquei porque tá além do equívoco, é linha política que já fez dois anos de aniversário.
Mas precisamos ir além disso.
Não basta nas cidades e eleições escolhermos quem criminaliza movimentos ou privatiza menos e melhor. Não basta escolhermos quem tem boa intenção ao armar a Guarda municipal ou quem tá apenas querendo ampliar a repressão policial nas cidades sem nenhum perfume de segurança pública real.
Não basta pra e na esquerda que fiquemos na superficialidade dos debates a mercê da opinião pública e não compreendamos o quanto é preciso discutir resistências e o quanto é canalha ou estúpido tratar resistência não violenta como violenta.
Uma esquerda que se propõe a transformar e reproduz discurso policialesco ou tá mentindo ou tá profundamente equivocada, mas me recuso a desprezar a inteligência alheia pra entrar numa de que é equívoco.
Freixo poderia e até deveria colocar que acha arriscado a tática Black Bloc, que a utilização dela permite erros como o que mataram Santiago, sem jamais entrar no discurso policialesco.
Capacidade tem,mas quer?
Duvido que queira ser mais do que um ator ilustrado e articulado na tática velha de guerra de tentar governar com a arrogância santificada das boas intenções que superam até os valores na sanha de ser o condutor iluminado das massas na conquista do executivo.
E por essa razão Freixo e o PSOL ,e toda a esquerda partidária são parte do problema e não da solução.
E sim, estou dizendo que a diferença entre Freixo e Crivela, no discurso e em geral é de gradação da opressão.
Freixo vai melhorar em relação às mulheres, LGBTs, Trans,etc? Depende da pressão.
Com pressão e se precisar Freixo vai dizer o óbvio: O PSOL precisa isolar os Black bloc.
A responsabilidade de quem vai além da retórica e da aparência é centrar fogo também em Freixo, lamento.
Quem defende criminalização de ativismo não merece nenhuma trégua.
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