Freixo: Mais do mesmo da esquerda cooptada que criminaliza quem não compreende.

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Quando Freixo chama a tática Black Bloc de violenta ele faz o mesmíssimo discurso, ipsi literis, da polícia mundo afora.

Freixo não é analfabeto, é professor de História, deputado, tem uma puta formação teórica, sabe pesquisar sobre os mais diversos tipos de dados e pesquisas sobre qualquer caralho que seja relacionado ao mundo político.

Há profundo material teórico a respeito de Black Blocs, no Brasil e no exterior, e não é possível que uma pessoa que se diz socialista e defensor dos direitos humanos não tenha batido o olho em David Graeber, Pablo Ortellado e outros tantos cientistas sociais, filósofos, jornalistas e historiadores pra ler sobre Black Blocs ou ignore se tratar de uma tática com origem nos autonomistas alemães e que desde Seattle em 1999 passou de não violência pacífica pra não violência ativa.

Não é possível que Freixo, com todo sua compreensão do mundo, não saiba diferenciar o discurso policial repressor do discurso teoricamente mais elaborado e preciso, ou que não compreenda a própria responsabilidade para com a sociedade e com ativistas, mesmo que discorde da tática, ao tornar uma tática de não violência ativa em tática violenta.

Não é possível que um historiador como Freixo ignore o poder do discurso, da simbologia e da representação e o poder da diferença terminológica inclusive saindo de uma figura pública, liderança da maior força de esquerda do RJ na ampliação da criminalização de jovens ativistas que adotam uma tática não violenta, tornada violenta pela retórica conservadora e agora pela retórica do líder da “primavera carioca”.

Não é possível que Freixo ignore o papel de sua entrevista ao Jornal o Dia onde ele diz “O PSOL precisa isolar os Black Bloc!” em 2014 na criminalização de movimentos sociais e na prisão dos 23 presos da Copa do Mundo (Sininho, Camila Jourdan, entre outros) E na prisão de Rafael Braga.

Não é possível que Freixo não consiga travar a relação simples entre sua participação nessa criminalização e o quanto isso reflete em TODOS OS MOVIMENTOS SOCIAIS, afinal fechar ruas, queimar pneus, ocupar fazendas e prédios também são táticas de luta não violentas que são transformadas em violentas na retórica tradicional policialesca.

Diante da figura pública, seu peso, sua inteligência, sua capacidade intelectual, sua força e a constatação óbvia que Freixo não é estúpido, tem formação política, teórica e acadêmica com riqueza suficiente pra entender tudo o que levantei acima, inclusive pra pesquisar a vasta obra a respeito da tática Black bloc, fica a ṕergunta: Por que Freixo defende que Black Bloc é violência?

Estupidez não é.

Preguiça não é.

Oportunismo?

Irresponsabilidade?

Jogar pra galera que adora um mediador?

Discurso senso comum pra ganhar votos?

Não sei, mas sei que é desonestidade intelectual e política.

Freixo e o PSOL repetem o filme da esquerda partidária com um elenco pior.

Na ânsia de ganhar eleições Freixo e o PSOL entregam a alma, a sutileza, a inteligência, a integridade.

Assim como Luciana Genro disse em debate que o estande de tiros da Guarda municipal era necessário (Defendendo por tabela que a Guarda municipal possuísse armas), Freixo disse em debate que não reestatizaria o Porto Maravilha, apenas dizendo que não daria propina pro Eduardo Cunha, afinal qual o problema da privatização de UM BAIRRO se não houver corrupção, não é mesmo?

Agora lança um site, isso mesmo um site, onde explica que não, Freixo não apoia os Black Bloc e explica: São violentos.

Já expliquei porque Freixo erra ao colocar isso, e expliquei porque tá além do equívoco, é linha política que já fez dois anos de aniversário.

Mas precisamos ir além disso.

Não basta nas cidades e eleições escolhermos quem criminaliza movimentos ou privatiza menos e melhor. Não basta escolhermos quem tem boa intenção ao armar a Guarda municipal ou quem tá apenas querendo ampliar a repressão policial nas cidades sem nenhum perfume de segurança pública real.

Não basta pra e na esquerda que fiquemos na superficialidade dos debates a mercê da opinião pública e não compreendamos o quanto é preciso discutir resistências e o quanto é canalha ou estúpido tratar resistência não violenta como violenta.

Uma esquerda que se propõe a transformar e reproduz discurso policialesco ou tá mentindo ou tá profundamente equivocada, mas me recuso a desprezar a inteligência alheia pra entrar numa de que é equívoco.

Freixo poderia e até deveria colocar que acha arriscado a tática Black Bloc, que a utilização dela permite erros como o que mataram Santiago, sem jamais entrar no discurso policialesco.

Capacidade tem,mas quer?

Duvido que queira ser mais do que um ator ilustrado e articulado na tática velha de guerra de tentar governar com a arrogância santificada das boas intenções que superam até os valores na sanha de ser o condutor iluminado das massas na conquista do executivo.

E por essa razão Freixo e o PSOL ,e toda a esquerda partidária são parte do problema e não da solução.

E sim, estou dizendo que a diferença entre Freixo e Crivela, no discurso e em geral é de gradação da opressão.

Freixo vai melhorar em relação às mulheres, LGBTs, Trans,etc? Depende da pressão.

Com pressão e se precisar Freixo vai dizer o óbvio: O PSOL precisa isolar os Black bloc.

A responsabilidade de quem vai além da retórica e da aparência é centrar fogo também em Freixo, lamento.

Quem defende criminalização de ativismo não merece nenhuma trégua.

Breves reflexões eleitorais do anarquista amigo meu que diz que desse jeito não vai ser feliz direito

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Breves reflexões eleitorais do anarquista amigo meu que diz que desse jeito não vai ser feliz direito

A esquerda ficou 16 anos focando em eleições, rifando as ruas e quem ia pras ruas e tudo isso pra ter no Rio uma vitória que é meia vitória, enviar Freixo pro segundo turno, e uma estagnação: O PSOL deve manter quatro vereadores na capital, talvez aumentando pra cinco vereadores, dependendo tudo isso do coeficiente eleitoral e da nova regra dos 10% do coeficiente que o vereador precisa ter pra ser eleito.

Analisando o país todo é uma imensa derrota pra esquerda partidária, enorme, gigantesca, quase nenhum avanço real e concreto. Quem vai pro segundo turno praticamente já estava lá desde 2012, há perdas de vereadores, há candidatos que poderiam estar no segundo turno em cidades médias e que não estão.

O PT cai, e feio, o PSDB cresce, e muito. O PSOL se mantém, mas entre se manter e perder espaço. O quadro geral é tenebroso, e isso diante de uma eleição plebiscitária, que poderia indicar um animus operandi da população em relação ao que vem por ai.

O PMDB não pode comemorar também não: Em PoA ficou atrás do PSDB, caiu no RJ e em SP e tende a não ir muito longe nas principais capitais. Temer não elege nada.

Paes não elegeu seu sucessor mesmo com todo o gigantesco apoio midiático da Rede Globo, Globonews,etc, olimpíadas,etc é sintomático,mas não podemos esquecer que o PMDB ampliou sua bancada de vereadores.

O lado bom é esse: O PMDB de Temer perdeu espaço.

O problema é que o PSDB cresceu.

E enquanto isso a esquerda partidária vendeu sua não mobilização nas ruas em combate às reformas neoliberais do Temerismo pra eleger prefeitos que não elegerá e vereadores que me parece que também não serão eleitos, com exceção do Rio.

E vocês tem noção que parte do “debate político” da eleição foi “Não podemos permitir que a Igreja Universal do Reino de Deus eleja prefeitos!”? Cês medem isso, medem o quanto isso é tremalandramente não debater política?

Valeu a pena?

Valeu a pena dizer que não reestatizaria a PPP do Porto Maravilha e defender Guada Municipal Armado, esquerda?

Valeu a pena isolar os Black bloc?

A Esquerda, a Direita, Eleições, Catequese e Colonização

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Eu voto nulo e faço campanha pro voto nulo, todo mundo sabe,mas não dá pra deixar de comentar eleições e como elas se dão, e como o comportamento da esquerda é equiparável ao da direita com relação aos mais pobres.

Os rumos eleitorais nas grandes cidades tendem a uma enorme confusão.

A direita encontrando mais dificuldade do que esperava e a esquerda, que contava com a eleição certa de Luciana Genro e Freixo e a reeleição de Haddad, enfrenta dificuldades extra nas suas caminhadas.

Parte do problema e das dificuldades da esquerda vem menos da fantasia de uma unidade mitológica perdida e mais da perda de capilaridade de sua organização no decorrer dos anos 1990,2000 e 2010.

O que isso quer dizer? Quer dizer que dos anos 1990, onde havia núcleos do PT espalhados por praticamente todos os bairros das grandes cidades, até os anos 2010, onde nem o PT manteve o que tinha nem o PSOL avançou sobre os espaços deixados pelo outrora maior partido da esquerda, a organicidade dos partidos de esquerda não só minguou como foi transformada numa mudança metodológica de organização que priorizou a formação de burocracias à formação de contingente militante e politização consciente nas cidades e interior.

Enquanto isso a direita, especialmente a vinculada a grupos evangélicos, construiu sólida expansão nas periferias e cidades do interior via velhos métodos, centros sociais e clientelismos, e novos atores, a participação cada vez mais ativa de religiosos neo pentecostais na política e inserção forte das igrejas na construção de laços de solidariedade comunal nos mais diversos locais dos grandes centros urbanos e interior.

Em resumo: A esquerda optou pelo eleitoral a partir do voto de opinião, a direita ampliou seu arco de ação fazendo trabalho de base cotidiano via igrejas e centros sociais e gerou um enorme contingente de gente que não só apoia candidatos de direita,mas os apoia ideologicamente, fazendo parte orgânica, especialmente via igrejas, das forças políticas que os mantém.

Exatamente, gafanhoto! A direita construiu militância capilarizada, enquanto a esquerda focou em manutenção de militância orgânica de classe média e expansão de apoiadores não militantes a partir de laços mais próximos do clientelismo, especialmente via lulismo, que de identificação ideológica.

E o segundo caso muitas vezes muda de lado pelos mesmos laços, e ainda passa a participar de um tipo de organicidade ideológica conservadora.

São vinte anos de transformações na direita e na esquerda, e é óbvio que isso daria em mudança no quadro eleitoral.

Nesse meio tempo outro fenômeno também cresceu nas periferias: Uma esquerda não partidária que não se identificava com a esquerda sucrilhos e combatia a direita evangélica.

Essa galera caiu dentro de uma posição apartidária,mas crítica, quando não anarquista e autonomista.

Muitos dessa esquerda periférica votam, outros não, todos são politizados e buscam um debate politizado a partir do ethos da própria periferia, seja via RAP, seja via organizações como núcleos socialistas (O IFHEP em Campo Grande no Rio é um exemplo), seja via coletivos de educação popular ou assembleias populares das periferias.

Toda essa galera tem posição combativa pela esquerda e critica fortemente o viés elitista da esquerda partidária tradicional.

E ai temos um fenômeno interessante: A direita dialoga com essa esquerda, mesmo sem contar com seu apoio e sabendo disso,mas a esquerda partidária a ataca.

E por que? Porque o pastor que aglutina os laços de solidariedade comunal que o sustentam politicamente sabe que o filho da Dona Naná que é anarquista e não vota nele é filho da Dona Naná, Primo do cumpadre meu Quelemem, irmão do Riobaldo, namorado da Zuleica, filha do marceneiro João, todos da igreja, menos o o filho da Dona Naná, que é bom menino e que isso de anarquia vai passar.

O Pastor pode estar errado no diagnóstico,mas na relação não. Ele sabe que o sujeito que ele vai combater na favela tem mãe, e a mãe é da igreja, e que os laços não podem ser rompidos, ele vai precisar conversar,mesmo com condescendência e mal disfarçado nojinho,mas vai ter de conversar.

E o assessor do vereador do partido bonito que dança tambor de criola na Lapa? Porra esse fica ofendidíssimo porque aquele fudido preto e pobre da favela do Jacó não vota no seu candidato que é a salvação da porra toda com sua proposta de fazer uniformes escolares de cânhamo que geram energia a partir da absorção da luz do sol e carregam celulares enquanto o corno fica no sol esperando duas horas pelo ônibus.

Como assim a esquerda não merece o voto da periferia?

Talvez seja porque a periferia nunca viu a esquerda, nem comeu, só ouve falar.

Esse comportamento se dá de forma simples: Catequese e colonização.

Sim, a esquerda espera uma reação de gratidão do fudido àquela que lhe leva a luz da consciência política de cima pra baixo à esquerda de quem entra. Logo ela que desperdiça domingos de sol que podia gastar na praia à passos de sua casa pra levar a luz da consciência política à esses bárbaros da favela é desprezada? Como assim não se consegue mais catequizar o pobre?

Talvez amigo, porque a direita montou posto avançado de colonização enquanto tu aparece apenas com o evangelho surrado de um marxismo cambeta.

O evangelho que vale é o do pastor que tá ali dando a cara tapa todo dia e não do missionário catequético e caquético que aparece do nada falando de um Deus Estado socialista mágico que tende a puni-lo se ele não gostar de seu messias.

Aliás, bora combinar que a esquerda que aparece pra catequizar também quer colonizar a periferia, né?

E por isso a esquerda que tá na periferia também repudia tanto o socialismo amarelo quanto o bispo Machado.

Mas quando a esquerda partidária vai entender isso? Nunca, ela sequer entende que passar na casa de alguém não é morar lá, imagina questões complexas.

O Hegelianismo travestido de Marx que a esquerda partidária insiste em usar, a partir da versão de São Lênin-Zizek-Mujica, impede por seu idealismo que a dialética funcione.

Por isso temos uma esquerda marxista sem Marx, sem antropologia, sem sociologia, sem samba.

E enquanto isso a direita tem o evangelho, e laços de solidariedade comunal, e diálogo com o filho da Dona Naná, mas o problema pra esquerda é quando o cozinheiro escreve.

 

Eu eurocêntrico: Ou da crítica como álibi pro analfabetismo funcional

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A galera perde a mão na crítica por vezes por absoluto analfabetismo funcional.
 
Me chamaram de eurocêntrico porque cito num texto uma porrada de autores, entre eles Frantz Fanom e Ashata shakur (Martinicano e estadunidense, respectivamente), e colocava que era fundamental dialogar teoria com MCs,funk,etc, com a comunidade, porque é fundamental mesmo.
 
Em vários momentos, até nesse texto, coloco que a teoria e a ação ou são da periferia pro centro ou dançam.
 
Sim, as pessoas leram (Leram?) a citação aos autores e ignoraram o texto, e desconhecem parte deles.
 
Também citaria João José Reis e Eduardo Silva, como já citei várias vezes, ou Chalhoub,mas eles são historiadores que tem uma contribuição teórica menos simples de ser transferida pro debate político em si (Vá lá dá pra fazer isso com Negociação e Conflio,mas Thompsom já aborda a mesma coisa),mas preferi citar as fontes teóricas mais amplas e mais facilmente transferíveis pro debates (E fontes dos debates propostos pelos eutores citados ai).
 
E também ignoraram o alvo do texto pra dizer que “Não cito todas as variantes da esquerda”, óbvio, eu me dirigia a uma variante, o que eu chamo de Esquerda de Apartamento©, seria no mínimo anti-didático citar todas as variantes de esquerda NESTE texto.
 
As pessoas não me lêem, não me conhecem, não procuram saber, não interpretam nem um textão “lacrador” (como se referiram a meu texto), mas são ágeis no julgamento (agilidade nem sempre é qualidade).
 
Isso não é problema, seria se não incluissem uma acusação de racismo porque uso o termo “nego” uma vez no texto, termo esse que cresci usando e ouvindo no subúrbio do Rio sendo emitido por todas as cores.
“Nego”, “negozinho”, é uma terminologia comum do Méier em diante. É negativo? Nunca percebi desta forma ou fui alertado a respeito.
 
Se for eu não tenho problema nenhum em parar de usar, basta me informarem a respeito, a questão é julgar tudo pelo uso de um termo ou porque sequer conseguem prestar atenção no conteúdo de um texto, seu contexto (todo texto tem contexto perceptível nele mesmo, basta ler) ou a forma que se aborda.
 
Ter cuidado e crítica são fundamentais, especialmente pra alertar sobre racismo, misoginia e homofobia, p.ex.,mas complica se o uso da crítica vira outra coisa, algo como caça às bruxas e gincana do purismo.
 
Pra me conhecer basta clicar no nomezinho presente no perfil e procurar nas minhas postagens o racismo,a homofobia, a misoginia, procurar minhas abordagens.
 
Querer em todo texto uma citação à todas as variantes da esquerda é de foder. Ou o Facebook agora vai precisar ter nota de pé de página?
Até porque se a pessoa que leu, e tá na esquerda, não consegue entender que quando a gente aponta Esquerda Brasileira de Apartamento© (chamar de generalização algo que eu cito nome a nome seus participan tres ou referências deles é dose) aponta para uma determinada Esquerda Fora Temer©(Tá repetido isso no texto inclusive), ela tem problemas sérios.
Ou todo autor que critica a Esquerda é automaticamente posto na caixinha da direita?
 
Transformar todo um texto em racista porque se usa um termo que pode vir a ser racista, não sei se é, uma única vez dentro de um contexto específico nada racista?
 
Chamar alguém de Eurocêntrico porque não entendeu o texto (Ignorar um parágrafo inteiro e a nacionalidade de Frantz Fanom pra chamar o autor de eurocêntrico é de foder)?
 
Não dá.
 
E com todo respeito, quem utiliza a ferramenta da crítica pra agir dessa forma é reflexo enorme do que apontei no texto a que me refiro: Falta de formação.
 
Não porque a esquerda precise ter toda leitura do mundo, não,mas ela precisa saber ler, e saber ler não é o exercício automatista de ler um texto inteiro, mas é ler, entender, possuir ferramental pra ir além de entender, efetuar a crítica do que leu e formular dali pra frente.
 
E com todo respeito: a maior parte da esquerda não faz mais uma mísera linha de análise do real que não seja um amontoado de lugares comuns mal escritos, anarquistas inclusive.
A fundamentalidade da esquerda sim ter programa que ensine teoria grossa (Tem enorme material produzido fora da Europa, viu?) é cada dias maior.
Inclusive é óbvio que a esquerda precisa ensinar a ler, sim, a ler, a ler textos inteiros e textos complexos, atuando inclsive como reforço pra quem começa universidade.
 
E sim, isso é A Esquerda Brasileira©. Sim, é de Apartamento©.
A minoria da esquerda é popular.
A minoria da esquerda partidária e a extrema minoria da esquerda nao partidária, são populares, são feitas de gente pobre e preta das favelas e bairros pobres.
Nunca vi o PSOL em Oswaldo Cruz, nunca vi anarquista em Santa Cruz, organizado não.
Tem sim esquerda não partidária em barirros pobres, mas ela não representa a maioria destes bairro e nem aponta pra isso. E basta ler meus textos pra saber que mesmo assim louvo sempre que posso o trabalho dessa esquerda não partidária, que tenho o GEP como referência, o MOB, a FARJ, a FAG.
A minoria de anarquistas está nas organizações de luta cotidiana, a maioria tá na internet chamando o coleguinha de eurocêntrico sem entender texto.
A Esquerda Partidária tá tão Ciranda Cirandinha© que sai de Starbucks em Starbucks gritando Fora Temer, Fora Feliciano, Fora Cunha enquanto a direita cassa nossos direitos e nos caça nas ruas, especialmente mulheres,negros e lgbts.
 
As marchas antifascistas são em menor número e com menos gente dos que as confirmações nos eventos de Facebook.
 
Vão nas comunidades anarquistas, por exemplo, tem mais gente querendo determinar se tu é “anarquista evrdadeiro” do que gente querendo dialogar com teoria.
É mais fácil aparecer anarco sindicalista chamando confederalista libertário de “traidor do movimento porque Bookchin defendeu que anarquista vote” (A rapaziada não entende sequer o contexto dessa defesa dentro da realidade estadunidense) e dizer que árvore e índio que se organizem como os trabalhadores se organizam, do que gente afim de construir alguma coisa pra além da teatralidade do “ser de esquerda”.
Nessas comunidades a rapaziada se escandaliza mais quando um companheiro diz que a luta sobre a prostituição, a favor ou contra, é uma questão que diz respeito à mulheres, cis ou trans, no máximo também a homens, cis ou trans, envolvidos com prostituição e chama de “doutrinado” porque se defende algo que é BÁSICO: Feminismo é um debate que deve ser feito entre mulheres.
 
Não muito mais longe, entre autonomistas se transformou em moda dizer que anarquistas são exemplo perfeito de quem só vê o lado bom de sua forma de luta, jamais admitem fracassos, ou seja, somos novamente um mundo onde a luta virou competição, a meritocracia invadiu o sistema da esquerda,né?
 
E a esquerda partidária com “Fora Temer”?
Outra questão é “Professores são também de direita!” ou “E tem professores que são de esquerda apenas no discurso!”, sim queridos, também tem “Esquerda” que só é “esquerda” em rede social, mas o texto era claro: A esquerda tem trocentos professores e é incapaz de organizar formação em seus vários espaços.
 
Eu centrei fogo na Esquerda Fora Temer,mas não só ela comete isso, quantos de nós estuda para além da obrigação formal?
Jura mesmo que as trezentas comunidades anarquistas nas redes sociais são compostas de quem realmente assim se pensa, mas opta comodamente pra nunca se organizar entre anarquistas fora da bolha e não tem problema nisso? Tá.
 
Quantos de nós leu minimamente? Poucos, e não me venham com papo de “Existe a sabedoria das ruas e nem todo mundo sabe ler texto pesado”, porque é bulshit.
 
Por que é bobagem? Porque a sabedoria das ruas não perde porra nenhuma em ganhar a companhia de ferramental teórico da pesada, vão por mim.
E nem o intelectual perde porra nenhuma em dar ouvidos às ruas, e ser das ruas, a não ser que o “sábio das ruas” esteja impregnado de um anti-intelectualismo estéril e tão burro quanto o nojinho elitista do intelectual de apartamento.
 
Ninguém precisa gostar de funk pra ouvir funk e funkeiros, nem amar Chartier pra aprender com Chartier, ou Fanom, ou Shakur ou Bookchin…
 
Só que sim, precisamos ler, precisamos saber Bahktin, precisamos ler Ginzburg, precisamos saber Shakur, precisamos de Samora Machel (Foda-se se ele era stalinista!), precisamos dar mais atenção às categorias nativas, de quem produz teoria com rap.
E precisamos de Marx, engels, Trotski, Nakunin, Kropotkin, Malatesta…
 
Mas precisamos antes de mais nada acordar pra vida e parar de fazer causinho babaca porque precisa “lacrar” o outro.
 
Aliás, “textinho lacrador”? Meçam vocês por suas réguas, amigos, não a todos.
Nem todo mundo usa rede social pra fazer forfait ou tentando pagar de mais brabo que o colega de escola.
O “ser de esquerda” virou valorativo moral, rótulo qualitativo das pessoas, e não identidade política que se estabelece enquanto ação.
O “ser de esquerda” virou uma versão menos ativa que o “ser vegano”, é sociedade do espetáculo, é representação, é teatralidade estéril.
Pois é, enquanto isso seguimos sem formação, com poucos de nós voltados pra entender mais e mais dor eal, dialogar amplamente com tudo e todos que permitam-se ao diálogo transformador seremos essa merdinha isolada, purista, burra, tosca e limitada.
 
Porque é sempre mais fácil atuar como grilo falante de mal humor que propor qualquer porra.
 
A crítica, arma da transformação, quando vira álibi, torna-se inerme.
 

Sobre não dar descanso a Temer, as diferenças, distinções e imobilidade eleitoreira

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Quando Dilma sofreu o impeachment na câmara parte da esquerda partidária e de movimentos sociais declarou que não daria um segundo de paz a Temer.

Pois é, mas deu.

Deu inclusive mais que um segundo em paz, deu dias, semanas, meses.

Manifestações até ocorrem, mas pingadas, poucas e pouco representativas.

Ações, como as que ocuparam o MinC, foram pouquíssimas e pararam há semanas, mesmo obtendo vitórias diante deste governo apalermado, ilegítimo e fraco.

E o governo ilegítimo prossegue com suas ameaças asneiras não só à classe trabalhadora, mas à democracia, ao bom senso, ao futuro da produção científica e à educação laica e de qualidade.

Mas a esquerda partidária prossegue sem tirar a paz de Temer, a não ser que entenda que tirar a paz seja xingar muito no Twitter.

Nesse meio tempo a esquerda partidária redescobriu o PMDB vilão de desenho animado, mesmo que o PT, que se aliou ao PMDB feliz em 2010, tivesse se construído denunciando o PMDB coo parte da direita coronelista brasileira desde seu nascimento nos anos 1980.

Todo santo dia parte dessa esquerda chora lágrimas de esguicho porque Cunha, Temer, etc são “ladrões” e “golpistas”, chega a ser meigo, doce e dramático, mas tem a função social do furúnculo na bunda como processo civilizador, com a devida vênia pela utilização terminológica.

Enquanto isso se não fosse índios, padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazendo o carnaval à revelia da política institucional poderíamos dizer que a esquerda morreu enforcada nas tripas do último burocrata.

Sim, não há esquerda nas ruas, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Tá, vá lá. Não sejamos injustos!
Profissionais estão em greve em vários estados, especialmente professores, e especialmente no Rio e RS, mas a vida da esquerda é mais que greve, por enorme importância que elas tenham.

E a vida política das greves é mais que elas mesmas e suas categorias.

Nem às greves o apoio coletivo da esquerda, o enorme peso necessário pra disputa hegemônica e contra hegemônica das consciências, a gente vê com a ênfase necessária.

Greve Geral? Sonha!

Vemos sim a esquerda tartamudear lamentos grandiloquentes sobre a maldade do mundo contemporâneo gritando o inócuo e babaquara grito “Primeiramente Fora Temer”.

Como se essa fraseologia amestrada fosse um abracadabra da libertação dos cães capetóides da revolução pra cima da direita, que ri, de lacrimejar na gravata, dessa bobagem.

A esquerda partidária definitivamente abraçou a teleologia da revolução enquanto evento escatológico e apocalíptico.

Sua religiosidade “racional”, seus mantras, signos, sinais, santos e demônios travestido de figuras públicas e burguesia, e segue na procissão candente dos ignaros rumo ao nada.

Tem avanço fascista que mata alunos da UFRJ, amplia crimes de ódio, ameaça professores, ganha DCEs, apoia bolsonaros, etc?

Lutaremos contra isso, mas vamos tentar canonizar nosso santo da vez elegendo-o prefeito primeiro?

E às diferenças e distinções entre nós da esquerda, como são tratadas? Com a velha e boa desqualificação dos que não são convertidos à fé dos mosteiros vermelhos de São Lênin, São Marx, São Trotski e Reverendo Stálin, na borrachada.

A nova é o racha do PSTU provocando grandiloquentes debates sobre a razão ou desrazão de gente adulto optar por tomar outro caminho organizativo.
Como se isso fosse sequer da conta coletiva ou elemento fundamental de qualquer mudança dramática na conjuntura ou tivesse efeito daninho à organização política coletiva.

Sim, a esquerda partidária ainda se ressente de gente adulta definindo que não quer mais fazer parte de grupo A e se deslocando pra fazer parte de grupo B ou vender sua arte na praia.

Como se o cara ao migrar sua militância pra anarquia ou sair do partido A pra fundar outro ou ir pro B, ou mudando seu nome pra Chupeta de Baleia e fazer performances acrobáticas na praça XV mudasse um cacete de elemento prático na conjuntura e tornasse a vida coletiva mais ou menos dura no enfrentamento político contra a direita.

Mas reparem que a cada racha ou a cada crítica soltam-se as balalaicas argumentativas dos xóvens do mosteiro vermelho falando da necessidade de “um partido da classe”.

Vejam bem, não falam da necessidade da classe trabalhadora se organizar ao máximo, mas dela ter “um partido”, reparem no numeral “um”, isso mesmo, apenas um, unzinho.

E as diferenças, as dissonâncias, a diversidade, as distinções? Fodam-se elas, só pode existir um.

Tá certo que parte boa da esquerda de hoje cresceu com Highlander no imaginário, mas desde os anos 1960 ao menos temos elementos teóricos pra discutir essa obsessão pela uniformidade na esquerda que dão um novo gás à nossa própria percepção do mundo e rediscutem a obsessão marxista-leninista pelo partido único, centralizadaço, supostamente democrático, não?

A diversidade, as distinções, as diferenças produzem mais diversidade, mais distinções e mais diferenças, e isso tá longe de ser negativo diante da óbvia complexidade da composição da realidade e das classes operárias, dos mundos e fundos que são feitos de gente que luta, se organiza, sobrevive, produz suas próprias pautas e lutas.

E o que isso tem a ver com dar descanso a Temer?

Tudo.

Até porque enquanto a esquerda partidária ignora o mundo externo a ela e o aumento dos crimes de ódio, da sanha bolsonarísta de se impor na porrada sobre mulheres, negros, LGBT, a coletividade transformadora da esquerda não partidária tá por ai enfrentando essa direita sem precisar gritar “Primeiramente Fora Temer”.

E segue a esquerda ignorando essas lutas, tratando-as como “problematização que desvia o foco da luta de classes”, atacando mulheres, atacando indígenas, atacando LGBT que gritam, em grandiloquente razão, sua fome de mudanças e conseguem cercear a direita, emparedar a direita, tornar a vida da direita um inferno enquanto a esquerda partidária agenda uma nova apresentação do Papai Noel de Montevidéu numa tour inútil de louvação tosca a figuras públicas burocratizadas, mas pop.

Ou isso ou lendo um Stalinista pop como Zizek falar bobagens reaças, mas de esquerda, enquanto Temer agenda matar a CLT a pauladas.

Vão esperar perder direitos pra agir? Não é a lição que secundaristas, índios, LGBT e mulheres estão dando.

Mas uma esquerda que ainda acha que só há um caminho pra transformação, e portanto um tipo de conhecimento supostamente racional e organizado pra compreender a realidade, consegue aprender algo que fuja do adestramento?

Difícil.

Da diversidade da subversão e do ethos transformador

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Primeiramente #Molotov .

Os caminhos ideológicos da esquerda traduzem as contradições próprias do campo contra hegemônico a partir de sua miríade de campos dentro e fora do marxismo tradicional.

Quando coloco campo contra hegemônico é proposital pra fugir da terminologia “Progressista” onde são encaixados uma outra miríade de grupos que nem sempre são participantes de qualquer noção ética de transformação social ou ruptura ao status quo, entre eles liberais democratas, capitalistas desenvolvimentista de linha keynesiana, etc.

Por que os caminhos da esquerda hoje, tida como dispersa e fragmentada, traduzem as contradições inerentes a este campo contra hegemônico? Porque a esquerda jamais foi esse monólito vivo em torno do ideário marxista.

E isso se tornou mais eloquente pós-crise do estruturalismo decorrente dos efeitos da segunda guerra mundial e da racionalização do genocídio a partir do nazifascismo provocando uma crise na própria narrativa moderna da razão como libertadora e mãe do progresso.

Inclusive esse é mais um motivo pra crítica do uso do termo “progressista” para definir quem atua no campo contra-hegemônico, mais conhecido como esquerda. Porque a lógica moderna do progresso traduz uma percepção de avanço das forças produtivas que despenca na ideia do domínio antropocêntrico da Terra com desprezo absoluto ao meio ambiente, e também a um etnocentrismo que põe na frente a concepção moderna do progresso industrial e científico branco ocidental como medida de todas as coisas e culturas.

Dessa crise “da razão” emergiram muitas formas novas de transformação contra-hegemônica, mas também ressurgiram formas antigas e que estavam em campo desde muito tempo antes, como a própria ideia de anarquia que por muitos anos foi submersa pelo marxismo-leninismo, nem sempre apenas com a hegemonia ideológica e cultural, mas com violência (vide 1936 na Espanha).

Além do ressurgimento de campos ideológicos antigos como a anarquia e o autonomismo, surgem novas formas de debate contra-hegemônico como as que nascem a partir do feminismo e da luta LGBT, como a teoria Queer; A própria ideia de organização política dos povos originários, com seus paradigmas teóricos próprios que compreendem o mundo, a sociedade e as formas de transformação para além do que as teorias ocidentais propõe, mesmo que dialoguem com elas em algum momento; As construções ideológicas das populações africanas e do Oriente médio e Ásia a partir do caudal cultural e teórico produzido na descolonização, com ações que incluem o pan-africanismo e o marxismo, mas também releituras de ambos e transformações que traduzem valores próprios como a filosofia Ubuntu.

Para além disso as teorias produzidas na História, Filosofia e nas Ciências sociais apontam para novas saídas teóricas passíveis de serem utilizadas, como de fato o foram, por movimentos.

Pensadores como Ginzburg, Foucault, Thompsom, etc, fogem dos paradigmas centrais ao marxismo-leninismo e apontam para novas interpretações possíveis da vida humana e das organizações sociais que não eram contempladas quando Marx produziu suas teorias no século XIX ou quando Lênin se organizou misturando a teoria marxista a uma percepção fordista da política. Ou se eram contempladas o eram de forma absolutamente embrionária.

Se já haviam esses movimentos nos anos 1920 ou 1930, com críticos como Walter Benjamin tanto trabalhando com a crítica à construção marxista-leninista como mecânica quanto apontando o progresso, e a própria noção de História como irmã do progresso, como um processo de inevitável libertação da humanidade a partir do desenvolvimento técnico, como se a sociedade e a tecnologia fatalmente se abraçassem um dia numa era de ouro do humano, eles triplicaram em participação, peso e vivência no pós-segunda guerra e produziram tantas transformações quanto possível na própria ética da transformação no campo contra-hegemônico.

E desde os anos 1960 em especial esses movimentos e caminhos se tornaram cada vez mais diversificados e mais contundentes na ampla raiz de uma crítica complexa, completa e permanente de todos por todos e da própria ideia de transformação social.

E o que isso nos mostra? Nos mostra muitas possibilidades de análise e entre elas está desde a própria percepção das transformações como parte fundamental para o avanço das ideologias de transformação, com resultados práticos, até a própria reação de parte da esquerda outrora absolutamente hegemônica a esta diversidade e à própria crise de estabelecimento de sua ideia de unidade como hegemônica entre o diversificado plano de consciência dos movimentos de transformação.

Além disso, esse confronto entre a miríade de movimentos de transformações e os outrora campos hegemônicos do ideário de transformação põe também em confronto a própria ética da transformação, ou seja, o ethos que permite a compreensão da moral deles (Dos opressores) e da nossa (quem busca as transformações).

Não é incomum que nos embates e nas lutas pela representação do ideário da transformação o amplo espectro da ética inerente aos mais diversos movimentos seja mandado pro espaço em nome da punição daquele que disputa com o outro o papel de representante da transformação social e política (Seja ela a revolução, a anarquia, a igualdade de gêneros ou o fim do racismo ou tudo isso junto). Não é incomum as acusações mútuas entre os campos de serem traidores de uma causa em especial ou de uma bandeira ou de um campo de significados que simbolizam a revolução. E não é incomum todos estarem certos.

A diversidade da subversão por vezes é tomada como panaceia ou como veneno, quando não é nem um nem outro e sequer deveria também significar diversidade do ethos transformador.

A diversidade da subversão é um fenômeno histórico que traduz uma nova percepção do real como multifacetado e intraduzível de forma única pelas mais diversas ciências e teorias (incluídas ai as ditas exatas), algo que se não é consenso é cada vez mais perceptível nos debates ocorridos no interior das ciências humanas, e não só.

A diversidade no ethos transformador é que é um problema e dos grandes.

Porque a diversidade da subversão é filha dileta da expansão das formas de luta e dos campos de embate contra a opressão, que produzem amplos espectros de vitórias e de exposição das forças conservadores e do Estado a uma miríade de táticas e demandas que não os permitem muitas saídas simplificadoras.

Prendem anarquistas? Autonomistas atuam. Prendem comunistas? Grupos feministas estão nas ruas. Universitários reprimidos? Secundaristas ocupam escolas.

Entre todos esses existem comunistas ortodoxos e não ortodoxos, autonomistas tradicionais e novos, black blocks, feministas interseccionais e radfem, movimento negro unificado ou que inclui brancos, movimento indígena com raízes partidárias e autonomistas, entre todos existem foucaultianos, confederalistas libertários, anarquistas, autonomistas, malucos, etc.

E todos participam da enorme tarefa de transformação do mundo com o estabelecimento de uma polifonia onde vários mundos acabam se tocando e dialogando, na marra.

Isso é o estado da arte da diversidade teórica e da liberdade de ação política conquistada pela contestação, dentro e fora da academia, e que permite de tudo um pouco nas ruas, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.

Essa diversidade teórica e liberdade de ação política nasce da própria crítica às amarras teóricas e políticas produzidas no campo contra-hegemônico pela ascensão do marxismo-leninismo como resposta única a todas as questões produzidas no espectro contra-hegemônico que contemplassem as transformações necessárias nas sociedades contra toda forma de opressão.

Essas amarras nasceram e cresceram desde a ascensão de Lênin ao poder na URSS com silenciamento de todas as contradições internas e externas aos bolcheviques, muitas vezes com uso do exército vermelho de Trotski, e viraram um Leviatã sob Stálin e com o crescimento do peso geopolítico da URSS e seu controle sobre os partidos comunistas mundo afora.

Não à toa dois dos momentos de explosão da miríade de movimentos e concepções de luta nascem na e da explosão teórica pós-1960, período onde também ocorre o primeiro rompimento coletivo com o Stalinismo partindo da própria URSS e tendo reflexos na saída da China do estado de parte do Komintern, e após a queda da URSS nos anos 1990.

O resultado das reações à diversidade teórica e liberdade de ação política pós-1960 vem sendo, primeiro pelos PCs e agora pelos partidos da esquerda tradicional (em geral trotkistas) mundo afora, bem similares: Descrédito a tudo o que foge da ideia de “unidade”, que no fundo é busca de uniformidade; desqualificação das teorias contra hegemônicas não partidárias como “pós-modernas” , mesmo que a maioria ainda compartilhe de boa parte dos paradigmas da modernidade e o pior dos casos, o desvio ético que contempla o abandono do ethos da transformação em nome da garantia de espaços de poder, em geral burocráticos, que permitam o confronto com vantagens operacionais contra as mobilizações diversificadas, ou mais gerais e autônomas. Essas vantagens nos confrontos incluem uso do aparato policial de governos, processos judiciais e sim, tem muito a ver com a concepção fordista e até militarizada (Trotski defendia inclusive a ideia de militarização de sindicatos na revolução russa) de movimentos sociais e organizações políticas.

E ai é que está parte do problema do rompimento com o ethos transformador.

Porque o ethos transformador inclui na práxis cotidiana a ideias de reprodução ética de valores aos quais se deseja espalhar para toda a sociedade, ou seja, não adianta defender igualdade de direitos entre gêneros e etnia e incorrer em racismo ou machismo.

Não adianta ser contra transfobia e ser transfóbico, homofóbico, etc. Não adianta querer a liberdade da sociedade via revolução e encarcerar quem diverge de você, ou desejar que alguém morra de forma brutal por ser seu adversário, mesmo ele sendo um torturador ou defensor de torturadores.

A diversidade de meios de luta contra hegemônica é positiva, a flexibilização ética do ethos transformador não.

Há uma bela diferença entre pacifismo e contraposição à barbárie com barbárie.

Precisamos manter a lógica de ampliar a diversidade de percepções, interações, construções contra hegemônicas, a diversidade não nos enfraquece, fortalece e “pira” o poder.

Se nesse meio tempo essa diversidade também enfraquece as forças políticas organizadas em torno das burocracias, paciência e problemas deles.

Enfrentemos os resultados disso, pensemos e construamos a resistências à opressão com ou sem essas forças, com ou sem parlamentares, mas não esqueçamos da necessária manutenção do ethos transformador.

Parte da diferença entre nós e Bolsonaro é saber a nossa ética. Quem esqueceu ainda dá tempo de lembrar.

A própria ideia da catalogação ideológica em caixinhas determinantes e limitadoras é parte de um processo redutor do outro ao limite ideológico imposto. Por isso limites como “anarquistas não podem votar” ou “marxistas tem de ser centralistas democráticos” são parte da redução e da simplificação, que contém uma boa dose de autoritarismo.

O limite do pertencimento ao campo contra-hegemônico deveria ser menos doutrinário e mais ético, menos autoritário e mais libertário, menos redutor e mais amplificador e pode ser resumido na luta contra a opressão e contra o capital como porto seguro de todas as opressões a partir das opressões de classe.

Precisamos ir além do sistema e pensar pra fora dele. Ir além do voto, ir além das caixas, mas sem desgrudar de nossa ética fundamental: Não podemos ser como quem combatemos.

 

Usar politicamente as ferramentas, redes sociais e internet? Sim! Mas, apenas atuar nas ferramentas não!

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Desde há muito tempo percebemos que a atuação política via internet é muito forte.

Há dez anos apenas parte da internet era usada para ação política, na maior parte para articulações ou circulação de informações via blogs, listas de e-mail, sites,etc.

Hoje em dia a internet é parte importante de ação política, agitação e propaganda via seus inúmeros meios e ferramentas.

É possível atuar na internet em blogs, redes sociais das mais variadas, nestas com enquetes, memes e a clássica circulação de notícias dos mais variados veículos.

Há também abaixo assinados virtuais como Avaaz ou Change.org e ferramentas de governança via internet como e-cidadania.

Além disso, há ferramentas de pressão, que utilizam e-mails de vereadores e deputados para envio em massa de protestos e reivindicações, como Meu Rio e Panela de pressão.

Tudo isso é extremamente válido e funcional, facilita em muito as coisas,especialmente pra quem é mais velho,mais cansado, com mais problemas de mobilidade.

Também são ferramentas de formação muito eficientes, é possível trabalhar de forma a construir debates e discussões, apontando erros,acertos, caminhos, trabalhar releituras dos clássicos políticos, inserir ganhos teóricos ao debate político,etc..

Os blogs são, ainda, meios de atuação muito interessante para construir propostas teóricas, debates fraternos, crítica e autocrítica. Medium e ferramentas similares também.

A questão é: Essas ferramentas bastam? A meu ver a resposta é simples: Não!

Sem ocupações de escolas, terras, órgãos públicos, ruas, sem pressão cotidiana no estado e nas comunidades, sem escolas de formação, sem construção de assembleias de decisão horizontal, sem construção de redes de economia solidária, de política solidária, de compartilhamento de informações, arquivos, músicas, produção artística e conhecimento nada disso serve para muito além de alívio de consciência pesada.

Política se faz na rua. Quem faz política de gabinete é quem senta na representação e a partir dela usufrui de um poder delegado como se fosse seu. A estes interessa a militância estritamente virtual.

O problema é que cada vez mais mais e mais gente, especialmente entre diletantes e anarquistas, a militância virtual é a única e parca atuação. Por isso muitas vezes o militante virtual é um militante cujas contradições presentes em nós todos aparecem mais claras.

Na militância virtual há o LGBT machista, o anarquistas racista, o socialista homofóbico e por ai vai.

Outro fenômeno é a santa inocência, presente em todos, mas berrante na direita, que aceita informações, quaisquer uma, como verdade mesmo que a fonte seja uma só, sem nenhum endosso de qualquer outra, por mais absurda que seja. Um sub fenômeno desse é aquele clássico “Repassem até chegar em..” mesmo o objetivo final do protesto seja um ator político, como Temer, que vai cagar gomas asiáticas forjadas em Wakanda ao ler o tal protesto.

A relação “mágica” com a Web como se uma voz fosse ouvida com respeito por ser uma voz, u pensamento liberal inclusive, é a crença em coelho da páscoa aplicada à ideologia.

A relação “mágica” com a Web também substitui o Jornal Nacional na cabeça de milhões de brasileiros cujo analfabetismo funcional abraçado à preguiça monstra de olhar a data de notícias transforma qualquer notícia de 1983 em um meio de atacar personagens nascidos em 1996.

Isso tudo é parte da ausência de concretude das lutas, da ausência de vivência de militantes entre si e na comunidade, de ausência de conhecimento prático da política e da extensão do efeito das ações políticas.

Outra coisa linda desse fenômeno é o uso de notícias pelo teor negativo dela para o inimigo, sem sequer fazer um comparativo crítico desta mesma notícia quando aplicada a aliados.

Por isso Temer cancelando o FIES pra uma universidade é mais grave do que Dilma fazendo exatamente o mesmo pra duas, porque é ele, ele é inimigo e ponto.

E a politica nisso? Foi transformada em menos do que intriga de quinta série. Briga de torcida é menos rebaixada.

O interessante desse fenômeno é que ele trabalha em paralelo com outra forma de despolitização feita via internet e pela mídia: A santificação da política institucional como único caminho da atuação política e a transformação da ideologia em uma espécie de arque tipificação de grupos sociais sem nenhum tipo de relação entre o que é o comunismo, por exemplo, e as ações cotidianas dos atores políticos da política institucional, o mesmo para o liberalismo, o conservadorismo,etc..

O mais engraçado é que os mesmos cientistas políticos e âncoras de TV, comentaristas de sites cobram uma política mais “ideológica” e ”programática” enquanto esvaziam em seus discursos toda política de sua ideologia e programa.

Esses comentaristas, cientistas políticos,etc, trabalham com a política como se fosse um manual da institucionalidade estruturalista do XIX, um manual recortado, que ignora a complexidade do real e trabalha as instituições francesas, inglesas e estadunidenses como idênticas as brasileiras porque tem o mesmo nome e porque as constituições dialogam. Além disso, transformam o MST em ideológico, o Bolsonaro em não -ideológico. Difícil dizer quanto isso é estupidez e o quanto é desonestidade intelectual.

Quando juntamos esses fenômenos o que temos?

Uma redução da política a um teatro de aparências e ações que esvaziam as ruas e todo o locus de disputa cotidianos e a transformam em ferramentas de representação, em suas múltiplas formas de categorização, onde o parecer ação é mais importante que a ação.

Esse tipo de mimetização da política em parecer política acaba permitindo que o “engajado” seja apenas um construtor de memes, enquanto isso as ruas, as praças, os parlamentos, os debates nas padarias e botecos tornam-se hegemonizados por um senso comum que nunca vai ler o construtor de memes e abaixo-assinados da esquerda porque ele jamais leva esse debate com ele pra rua. Na rua ele é anônimo.

E ser anônimo na rua é ser nada.

Fazer política é, de alguma forma, ocupar as ruas. Nem que seja construindo aulas, falando na padaria,mas sempre, disputando espaços ideológicos.

Construir apenas virtualmente, podendo ir além, é fazer menos de 10% do processo necessário pra mudar o mundo.

Não adianta compartilhar meme até chegar em Temer, isso sequer é engraçado.

Do Impeachment ao stalinismo: A ampliação do silenciamento de mulheres, LGBT, Negros e índios

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O Brasil passa por milhares de problemas hoje.

Pós-impeachment de Dilma ele acrescentou a uma crise econômica gravíssima dentro de um contexto mundial, um nível de ruptura institucional complicadíssimo pra quem vive a luta institucional.

Acrescente a ampla descrença no sistema político brasileiro que vem em um crescendo ao menos desde 2013 um avanço de conservadores, amplifique com desconfiança tácita em todos os partidos, um judiciário ativista com flexibilidade ética, um governo interino ilegítimo e uma esquerda imobilizada, voilá, temos um caldeirão pronto pra requentar o caos.

Pra piorar o governo ilegítimo acha que o impeachment os legitima pra uma guinada de 180º na linha política já tímida do governo anterior em relação a direitos e a esquerda partidária pira na batatinha endossando o que o Governo Dilma e o PT mais querem: A irreflexão sobre os anos de concessões que pavimentaram o golpe transformada em apoio acrítico, recheado de pânico, ao Partido dos Trabalhadores como se um golpe fosse uma espécie de morte, que a tudo santifica.

É de um lado Alexandre de Moraes afirmando que usará a lei antiterrorismo pra meter a porrada em manifestante e quem criou a lei antiterrorismo e foi cúmplice de violência contra manifestante na copa e sócio do agronegócio no ataque a indígenas dizendo que são lados opostos, porque Dilma foi apenas péssima em DH, enquanto Temer é o horror.

Só que tudo fica mais pantanoso e até leviano quando nos pegamos lendo atitudes que envergonharia a esquerda se essa não tivesse perdido a noção de ética e do que é nossa moral em relação à da burguesia faz tempo, nessa marcha de naturalização do Stalinismo como se fosse pragmatismo e da secundarização de lutas como se fosse “foco na Luta de Classes”.

Bem, o PT e parte da esquerda partidária não satisfeitos em mimetizar a mídia corporativa para atacar Temer, como se precisasse, também está utilizando o momento crítico pra fazer uma caça às bruxas a toda a esquerda que atuava nos movimentos ampliando as pautas e exigindo mais direitos, especialmente os movimentos calo pro PT e governo como LGBT, Mulheres, Negros, Índios, Trans, etc.

Além do clássico “Não é hora de criticar o PT” temos agora o “Essa galera que problematizava turbante, essas ‘‘feminazis’’ são também participantes do golpe!” e variações da ladainha numa ressurreição do movimento de criminalização de ativistas produzido em 2013 que chegou ao ponto dos MAV do PT espalharem fotos fake de anarquistas empunhando bandeira nazista, foto manipulada por Photoshop que apagou o A anarquista e pôs a suástica.

Pra completar ninguém da esquerda partidária faz a mínima autocrítica sobre sua participação na criminalização de anarquistas e autonomistas feitas de 2013 pra cá, e não só, atua pra aparelhar as ocupações de escolas e transformar todo movimento de resistência a Temer em parte da “Frente Povo sem Medo”.

Se juntarmos o avanço de silenciadores secundarizadores de luta tentando silenciar mulheres e negros com o aparelhamento da indignação não é difícil entender o que temos pela frente: além da luta antifascista, que não recebe um pingo de ajuda dos partidos da ordem como PT, PSOL e PSTU, ainda temos um avanço de uma concepção stalinista de esquerda que é um avanço autoritário terrível para a esquerda.

E sim, esse momento contém mais perigos do que podemos imaginar. O avanço do Stalinismo dentro do campo das esquerdas naturaliza o autoritarismo como solução.

Some a contaminação autoritária da esquerda à ampliação do caudal autoritário na sociedade como um todo e o resultado não é exatamente cheiroso.

Se a esquerda é autoritária e a sociedade também é não há Chapolin Colorado que nos salve.

Em tempos onde escolas ocupadas sofrem ataques violentos de estudantes financiados pela direita para agredir quem as ocupa é perigosíssimo transformar quem deveria resistir a isso em espelho.

A complexidade dos problemas e da conjuntura exige mais do que uma reação dura aos ataques conservadores, ela exige uma reação qualitativa ao avanço do conservadorismo.

Não precisamos e nem podemos responder autoritarismo com flores, mas também não precisamos ou podemos responder ao conservadorismo com autoritarismo centralizador, silenciador e até misógino e racista.

É nessa hora que precisamos entender a diferença entre nós e eles. E ela não é só de um suposto lado que ocupamos e arbitrariamente definimos como se fossem uma manifestação binária maniqueísta.

A diferença entre nós e eles é também de valores, de busca de abolição de hierarquias, classes, fronteiras, opressões.

E não, isso não é sonhador, isso é identitário, estruturante.

Não podemos manipular manchetes pra desqualificar Temer, não precisamos disso, temos a defesa dos DH e a luta contra sua violação como tarefa, e isso já dá um enorme caldo pra batermos no governo ilegítimo.

Não, não precisamos sacanear movimentos autônomos ou a luta contra o silenciamento, debatedora do lugar de fala, e contra a apropriação cultural racista pra supostamente focar na luta de classes sufocando “desvios”, porque a luta anti racista e contra privilégios,misoginia, machismo e homofobia SÃO A LUTA DE CLASSES.

E também não precisamos fantasiar o governo Dilma pra chamar Temer de um horror.

Essa é inclusive a hora de E-XI-GIR do PT uma plataforma de real guinada à esquerda, uma reversão programática do que vinha fazendo, concretizando promessas jamais cumpridas, isso pra começar, e não para agirmos como esquerda domesticada pronta a servir o tutor do Campo da esquerda na hora em que ele precisa, mesmo sem merecer uma linha de confiança.

Precisamos inclusive entender que as fragilidades do governo Temer tem tudo pra miná-lo mais cedo do que a imprensa encantada com o governo reaça deseja e sequer percebe. E que essas fragilidades fatalmente porão de novo o PT no governo, ou ao fim de 180 dias ou em 2018,mas que recebendo endosso ao que foi Dilma baseado numa espécie de amnésia causada pelo pânico teremos a continuidade de governos terríveis pra DH, meio ambiente, indígenas, favelados, etc..

Não basta, portanto, resistir a Temer, derrubá-lo, precisamos também derrubar no PT o que levou Temer a ser presidente ilegítimo.

E não faremos isso com silenciamento e adesão acrítica, precisamos de mais e um bom começo é saber que nossa moral e a deles não é a mesma.

O que a conjuntura atual significa pra anarquistas?

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Primeiro, é fulcral dizer que a conjuntura se alterou de forma tão brusca que melaram todos os cenários analisados recentemente.

Segundo que a nomeação de Lula aliada à resposta de Moro (Vazamento de gravações, etc) construíram um cenário de absoluto caos institucional no país, que fica impossível de prever qualquer coisa.

Em terceiro é fundamental observar o que essa conjuntura significa enquanto sinal de avanço direto, com apoio midiático, de um ethos absolutamente autoritário.

Tendo isso em mente é preciso ressaltar alguns elementos.

Um deles é o fato do aparato judiciário, midiático e parlamentar estar absolutamente deslocado, hoje, para a deposição de Dilma e estrangulamento do PT no governo.

Vai conseguir? Não se sabe, mas o movimento é esse.

Pra completar temos um cenário de rebelião do judiciário em primeira instância que comprou a narrativa de que Lula como ministro seria “Blindagem” e temos uma nítida situação onde o judiciário federal de primeira instância em peso apoia um Juiz como Moro divulgar grampos cuja legalidade é no mínimo questionável e que é tratado como crime sem que haja nenhuma evidência indiscutível deste fato.

Essa rebelião está para o judiciário como a Revolta dos Sargentos às vésperas de 1964 estiveram para as forças armadas. A diferença é, além de termos uma conjuntura diversa em relação a golpe, que o STF não tem exatamente uma situação de controle hierárquico sobre instâncias mais baixas e é sensível à pressão midiática e corporativa, inclusive vem respondendo a todo o caso sob o ponto de vista da reação corporativa.

Legalmente não há nada nem para o impeachment, nem para a alegação de obstrução da justiça, nem sequer para o entendimento que Lula é criminoso.

Os jornais impressos, os portais, as TVS atuam para construir em torno de todo o caos a impressão social de que há consciente obstrução da justiça e ilegalidade em todo o processo, incluído o tal sítio de Atibaia tomado pela imprensa como de posse de Lula sem um documento assinado por ele provando isso. Uma minuta sem assinaturas tornou-se, pasmem, garantia de posse.

Diante disso os cenários são, sim, de golpe de estado. Não um golpe militar, mas um golpe institucional com raiz no judiciário e reflexos diretos nas relações entre poderes e peso no parlamento.

Ignora-se, todas as forças ignoram inclusive os movimentos de rua, a quantidade de membros deste parlamento envolvidos em ilícitos e indiciados pela Lava Jato, coisa que Lula não é.

Enfim, não só o impeachment tá rolando, como as ruas se enchem de pessoas cujo interesse maior é menos limpar o país da corrupção e mais retirar o PT do poder.

Pras forças partidárias de esquerda não há muita saída além da de ir para as ruas defender a democracia e o governo, até porque uma derrota do PT hoje é derrota para todos os partidos.

Pra ilustrar isso é simples: Redes Sociais e ruas hostilizam qualquer coisa vinculada à cor vermelha, é francamente adversária de Sem Terras, Sem Teto, Feministas, Cotistas, Socialistas em geral.

A cada Jornal Nacional temos uma peça que amplia a narrativa de que derrubar o governo é a chave. A repetição cotidiana dos grampos vazados de forma absolutamente autoritária e ilícita, e contendo nada, é um infográfico da narrativa irresponsável que a imprensa sem nenhuma vergonha tomou como sua tarefa.

E está tendo sucesso.

Diante disso é fundamental cobrar do próprio PT sua responsabilidade na construção deste quadro, através de amplo silenciamento das forças de oposição com acusações diretas que foram de “Quinta Coluna da Burguesia” a “hordas fascistas”.

A narrativa de Golpe construída pelo PT de 2003 até hoje se constrói como fato a partir de erros do próprio PT ao chafurdar na lama da corrupção enquanto trocava bandeiras históricas pela disputa da gerência do capitalismo, lucrativa, inclusive, pro partido.

Pra piorar desde 2013, quando forças de esquerda ocuparam as ruas para barrar aumentos tarifários, combater a corrupção de governos, entre eles governos de aliados do PT que hoje lhe abandonam, como o PMDB, o PT tratou toda a esquerda não alinhada a ele, inclusive a atual linha auxiliar psolista, como fascistas.

Não é preciso esquecer que vários de seus soldados virtuais não tiveram nenhuma vergonha em tratar anarquistas como nazistas, inclusive efetuando montagens que incluíam suásticas no lugar do famoso A anarquista.

A partir daí governos estaduais atuaram com celeridade para criminalizar francamente todas as forças de oposição de esquerda aos governos, colocando vários lutadores na cadeia com base em nada. Entre estes lutadores sobrou até para um morador de rua munido de Pinho Sol, tratado como arma, o Rafael Braga que nem militante era.

Sininho, Camila Jourdan e mais 21 pessoas foram processadas no Rio com nenhum, absolutamente nenhum indício de nada além de “citarem Bakunin” ou “terem ligações com ações terroristas”,que vinham a ser uma suposta “ligação com os Black Bloc”. Hideki Harano, entre outros, sofreram o mesmo em SP. No Rio Grande do Sul a mesma coisa.

Pra completar a tragicomédia, partidos de esquerda fizeram o possível para corroborar com essa narrativa ao tratar Black Blocs como “cúmplices da violência policial” ou “O PSOL precisa isolar os Black Bloc”, como fizeram PSOL e PSTU.

O abandono de anarquistas e autonomistas à sua própria sorte, o desprezo à análise do Estado Democrático de Direito ser esgarçado por um autoritarismo judiciário e todo aparato policial e avançando por sobre a esquerda, tudo isso foi posto em prática em nome da construção pelo PT da Copa das Copas e por PSOL e PSTU de tentativas de ficarem bem com “seu eleitorado” ou “sua base” e virem a eleger prefeitos, vereadores e deputados.

Ou seja, o que o PT, Lula e o governo sofrem hoje, todos nós anarquistas e autonomistas sofremos de 2013 em diante.

Sim, anarquistas, autonomistas, MPL foram, são e serão perseguidos pelo Estado com toda a sua truculência, sofreram ataques cotidianos pelas TVs e jornais, foram atacados DENTRO DO SINDICATO DOS JORNALISTAS.

A narrativa de que “Black Blocs mataram o cinegrafista Santiago” se tornou uma realidade, inclusive dentro dos partidos da esquerda sem que uma maldita prova aparecesse em qualquer investigação. Pessoas foram processadas a partir desta narrativa.

Durante a Copa de 2014 pessoas foram sitiadas para que não se manifestassem.

Durante a Copa de 2014 ocorreu bombardeio pelas forças de segurança de manifestações absolutamente tranquilas e que chegaram a ter bombas em um Parque da cidade do Rio de Janeiro mesmo com enorme população infantil ali.

De lá pra cá até o MPL foi impedido de se manifestar em 2016 na cidade de SP, pois foi informado que “teria de informar seu trajeto para não atrapalhar o trânsito”.

Tudo isso ocorreu sob absoluto silêncio do PT e dos partidos de esquerda.

Agora a direita marcha pedindo a cabeça do PT, hostilizando movimentos, sem que a Polícia se preocupe com o trânsito.

Todo esse arbítrio foi ensaiado de 2013 até hoje e hoje estoura no colo do PT e da esquerda partidária. Até hoje o silêncio quando nossos companheiros da FIP, da OATL ou da FARJ e FAG eram aprisionados não tinha doído no lombo da esquerda partidária, hoje dói.

Todo esse processo golpista ocorreu sob as barbas dos governos do PT e dos parlamentares da esquerda, foi inclusive endossado por eles com a formulação da “Lei antiterrorista”.

Hoje o impeachment tá na rua, tem enormes chances de derrubar Dilma e trazer todo o preço, altíssimo, disso para toda a esquerda.

E os anarquistas com isso?

Difícil dizer, mas penso que hoje é fundamental atuar com os movimentos NAS PERIFERIAS que acusam o golpe cotidiano que sofrem com a violência policial, a suspensão de direitos constitucionais e a ocupação militar das periferias. Total solidariedade aos companheiros da periferia que sentem na pele todo dia o que Lula sentiu recentemente.

Agora, solidarizar-se com as marchas organizadas pelos partidos da esquerda que só agora percebem o quanto o Estado é duro para com seus inimigos? Lamento, mas a meu ver é sandice.

Para nós a mídia não fez filme com personagens inspirados em nossos companheiros mais fotogênicos. Para nós os partidos não apontaram que chamar Black Blocs de violentos era narrativa falaciosa. Para nós não vigorou a solidariedade coletiva de socialistas quando companheiros nossos tiveram sua vida destruída, sua carreira prejudicada, foram presos, exilados, humilhados, esmagados.

Dialogar com a periferia na resistência ao golpe do Estado contra os direitos constitucionais não deveria significar apoio a Ex-Mandatários que ocuparam o Estado ampliando sua faceta violenta contra todos nós, em especiais nossos companheiros da periferia.

Para os anarquistas a conjuntura é preocupante, mais do que para a esquerda partidária, mas nosso trabalho permanece o de construir a resistência ao Estado onde ele é mais arbitrário: Nas periferias.

E o mais preocupante da conjuntura atual é a percepção global de como o Estado, os jornais, as TVs, os poderes, o judiciário, são seletivos em sua sanha por “limpar” a vida pública nacional.

Só que essa face a conhecemos bem, e nunca recebemos solidariedade, o irônico e didático é a percepção ter se espalhado.

Portanto para os anarquistas a conjuntura atual significa o que significa o cotidiano: precisamos permanecer lutando e construído o poder popular, porque é negro o couro da gente que segura a batida da vida o ano inteiro.

O DH flexível de Roseno,Freixo e do PSOL ou desde quando tem DH pra Black Bloc?

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Desde 2014 o PSOL se notabilizou por uma tática de isolamento junto com o Estado de ativistas desalinhados com a política partidária.
 
Enquanto o Estado atuava de forma absolutamente ilegal e autoritária no isolamento do que eles identificavam como “Black Bloc” o PSOL não via ali violação de DH.
 
Vinte e três pessoas foram encarceradas e processadas e sofrem até hoje perseguição do Estado e da mídia e NEM UMA PALAVRA DO PSOL, a não ser pra insuflar mais e mais perseguição, como na entrevista de Marcelo Freixo em que sobra a frase “O PSOL precisa isolar os Black Bloc”.
 
Pra tentar não cometer a mesma injustiça é interessante reconhecer que isoladamente,mais isolados que os Black Bloc, membros aqui e ali do PSOL atuam denunciando a perseguição, mas nunca, jamais, nevermore, o partido agiu na mesma toada, e NENHUMA CORRENTE que o compõe também.
 
Enquanto Partido, o PSOL, e não só, age como cúmplice do Estado na criminalização de ativistas anarquistas e autonomistas, igualzinho agem como linha auxiliar do PT no combate à REDE,por exemplo (Partido que por mim se dane também).
A omissão, quando não a ação consciente e ativa de criminalização de “Black Blocs” e de todas as correntes que de alguma forma tangenciam a tática, é carro chefe do partido no trato à questão e a todas as forças políticas não alinhadas com seu projeto de eleger prefeitos em 2016 e deputados em 2018.
 
Aliás, o PSOL não fez NENHUM esforço para entender o fenômeno de Junho de 2013, a tática Black Bloc, nada. Se há isoladamente quem pense sobre isso no partido, esses pouco apitam na determinação de políticas da legenda, que continuadamente permanece como agente de criminalização aberta ou camuflada de “Black Blocs” (Pesquisem textos de Maringoni, Luciana Genro, Robaina, Declarações de Freixo e Jean).
 
E todas as leituras do PSOL sobre os movimentos recentes de rua, Black Blocs,etc são viciadas pelo controle dos movimentos e entendimento da transferência das novas percepções de luta para as urnas.
E o que não controla ou entende, o PSOL rifa.
 
Em resumo, o partido nunca tentou entender teoricamente, nem na prática, a existência de diversidade tática de organização e nas lutas e isso se reflete inclusive nas críticas cotidianas.
Aliás, a militância se esforça cobrando uma compreensão das diferentes tradições de lutas sem nem sequer uma vez manter uma relação recíproca nesse sentido.
 
O PSOL é omisso na defesa dos direitos civis e humanos de quem não participa de seu campo imediato de ação política, da mesma forma em que é omisso e tosco na análise de conjuntura envolvendo todas as mudanças nas lutas a partir da entrada no poder do PT e de todo o aparato burocrático que o envolve e que atua nas suas franjas (CUT,MST,etc).
Na dúvida, o PSOL se alinha com a burocracia petistas e das suas franjas, toda solidariedade à ela e às suas ações,inclusive as repressivas, nenhuma solidariedade a outros ativistas do campo da esquerda atingidos por essa repressão.
Procura o PSOL na luta dos indígenas e Quilombolas, na luta mesmo, e tu vai achar partes de grupos e nunca o partido em si.
Via de regra o PSOL nas lutas urbanas, indígenas, quilombolas e ambientais (eu incluiria na maioria das lutas) é um participante teórico e estético, pouco presente e muito omisso.
Na contramão dessa omissão é impressionante o esforço e a celeridade que o PSOL usa a máquina do Estado pra investigar espalhamento de boatos sobre seus parlamentares.
Na razão inversa que usa mandatos na defesa de quem sofre a perseguição do Estado por ser anarquista ou autonomista, dane-se se essa perseguição é sustentada por nada vezes nada, se a “investigação” que a embasa foi feita em cima de “depoimentos” de figuras como o “Coringa” ou se a investigação procura Bakunin até hoje.
 
Pra ser solidário com lutadores, culpabilizados de forma absolutamente calhorda e ilegal pela morte do Santiago, pelo PSOL inclusive, e a partir daí por uma suposta “organização para cometer crimes e possíveis atos terroristas” que encarcerou e mantém processo sobre 23 pessoas apenas por serem autonomistas e anarquistas, o PSOL não se move nem aciona o estado e seus mandatos para defendê-los.
 
Mas para se defender de boatos o PSOL aciona até o papa.
 
Então que o PSOL, os psolistas e os fãs clubes de Roseno, Freixo e outros omissos me desculpe: Fodam-se! Que chafurdem na hipocrisia.
 
Defensores de DH? Só do DH que podem utilizar de forma absolutamente instrumental. A favela não os vê, ativistas perseguidos pelo Estado também não.
 
A defesa de DH do PSOL se restringe aos direitos dos humanos que compõem seu campo de captação de votos.
 
Afinal o Estado tá aí pra “isolar os Black Block” quando o PSOL precisa. E desde quando tem DH pra Black Bloc?