The Bookchin is on the table

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Pensar ecologicamente é descentralizar, é construir holisticamente e descentralizadamente um processo coletivo de interação. É gerir-se e gerir a política para além da dialética e do diálogo, buscando a polifonia onde não que tente e nem se construa a síntese, mas se produza um processo que vá além da síntese, do amálgama do processo coletivo e horizontal em um processo amputado, sintético que que se conclui com a tentativa de unidade opinativa e não de construção coletiva concreta onde a isegoria se transforma em liberdade.

Ecologia demanda pensar de forma descentralizada e decentralizante, anti estatal, anti capitalista, indo além da proposta centralizadora da maior parte dos partidos e do próprio ethos partidário, de manter o estado e reformar o método de gerenciamento dele a partir de parâmetros socialmente avançados.

É preciso desconstruir a ideia de mudança pela gestão do estado sem mudar a estrutura, buscando dentro da institucionalidade centralizadora e hierarquizante construir um mundo idealmente descentralizado e comunal.

Se o ecossocialismo despertou em mim esta compreensão, a partir de Tanuro e Lowy, ao ler Bookchin entendi que ser ecológico é ser anticapitalista e antiestatista e que o centro das transformações está na tomada de poder pelas comunidades, pelas aldeias, pelos bairros, pelas mulheres, pelos velhos, pelos índios, pelos quilombolas, pelas crianças.

Se a anarquia despertou de novo em mim o antiestatismo que nunca foi embora e a ideia radical de que sem destruir a hierarquia não se tem anarquia, em Bookchin entendi que além de anarquizar é preciso ecologizar, é preciso ir além de ser horizontal sendo ecológico, participando ativamente da relação integral entre espécies, entre reinos, entre as diversas formas de existência presentes no mundo dito natural.

A ideia de Bookchin é revolucionária por si só quando ele discute a cidade e a ecologia a partir da necessária defesa da diversidade, do papel revolucionário dos bairros e das cidades na luta contra o estado e pela relação de vizinhança, de solidariedade comunal, que rejeita a hierarquia do estado impulsionando a opressão. A partir deste eixo ele constrói a teoria onde bebe em fontes amplas, desde a democracia grega até se referenciar nas associações comunais da Nova Inglaterra, presentes até hoje de alguma forma como eixo de tensionamento com o estado estadunidense em suas diversas esferas, especialmente nos condados e municípios, mas indo até mais longe que isso.

A ecologização da política se reflete para além do discurso, e mais, ataca o eixo de compreensão do estado, coletivos, comunidades partindo da lógica anti hierárquica. Este efeito influenciou os Zapatistas no México, os revolucionários curdos de Rojava e diversos coletivos anarquistas ou não mundo afora. E influencia, pois radicaliza na defesa da horizontalidade e da ideia revolucionária que sem diversidade e ecologia o pensamento anti hierarquia morre por falência múltipla de órgãos.

E por que morre? Porque é fundamental para a sobrevivência de um bioma que ali exista diversidade, ausência de hierarquia, relação de isonomia entre os entes que ali vivem, acesso a alimento, água, presença de múltiplas e igualitárias regras de existência paras que da árvore ao esquilo todos vivam para que nutram-se em equilíbrio.

A tosca analogia entre predador e predado esquece que o predador morre, apodrece, vira adubo que alimenta as árvores, que fornecem vegetais que alimentam os animais menores que alimentam os predadores. Com o perdão da analogia também tosca, mas a ecologia deixa claro que o mais forte não sobrevive sem uma relação de simbiose em algum nível com o mais fraco e que esta relação não é necessariamente opressora e nem precisa ser.

Não há como permanecer uma separação entre produção, economia, consumo, processos decisórios, judiciário, segurança, alimentação e saúde sem a compreensão dos efeitos de interligação entre cada elemento destes, de nossas vidas e do mundo dito natural.

Não há mais espaço, na verdade nunca houve, para humoristas ironizarem em rede nacional em programa de entrevista a luta contra a caça às baleias perguntando para que elas servem (Chico Anysio no programa “Jô onze e meia”).

Não há mais espaços para a defesa de crescimento econômico, de reformas urbanas, políticas, sociais sem a discussão sobre recursos naturais, responsabilidade no consumo, papel da indústria, da cultura de fábrica, direitos comunitários, laços de solidariedade comunal, conhecimentos tradicionais, clima, hidrologia,etc.

Não se pode defender um crescimento econômico a todo custo projetando-se no macro ignorando-se o efeito disso no cotidiano populacional. Mais, é criminoso pensar o macro ignorando-se o somatório de efeitos de processos decisórios nas múltiplas realidades do micro e seus efeitos.

Em suma, não é possível que se mantenha a cegueira optativa de entender que a ampliação de hidrelétricas na Amazônia tem efeitos daninhos lá e esses efeitos ecoam na crise hídrica do sudeste.

Não é possível ignorar que a ampliação do consumo de energia que segundo os “planejadores” da economia obrigam a investimento na ampliação de hidrelétricas e térmicas ocasiona ampliação do aquecimento global, mudanças ecológicas que interferem no regime de chuvas, na sobrevivência de espécias e que isso tem efeito amplo que vai da crise hídrica à ampliação de presença de contaminação por doenças antes desconhecidas a partir de insetos, por exemplo.

A centralização e hierarquização da política, dos processos decisórios, da própria lógica econômica, do estado, dos governos, da ideia de PIB, tudo isso é em si anti ecológico e por consequência criminoso e anti vida.

Enquanto a Economia busca a normatização,regulação e administração (Oikos = Casa; nomos = Costume ou lei) do lugar onde se vive, a Ecologia busca entender o funcionamento do lugar onde se vive (Oikos = Casa; logos = estudo ou lei). E quando a normatização ocorre antes da compreensão a coisa toda degringola.

Com o devido perdão da simplificação filosófica a partir da semântica, a ideia não distancia-se de uma análise mais profunda da relação entre percepção hierarquizante, centralizadora e autoritária do estado e a ausência nas tradições políticas estatistas de qualquer compreensão ecológica e resistência à ideia de horizontalidade, de gestão comunitária, citadina, de bairro, de rua a rua, de recursos, direitos, justiça, segurança, saúde.

Essa ausência de percepção, essa ausência de entendimento do coletivo, do comunitário, da cidade, bairros, vilas e ruas como eixo da vida cotidiana, das organizações sociais, dos grupos sociais, como fundamentos e não como elementos secundarizantes e secundarizados, provocam a percepção de que é lógica a instalação de grandes siderúrgicas que destroem a vida de pescadores artesanais e o bioma de Santa Cruz, como no caso da TKCSA ou implantam termelétricas como a de Pecém no Ceará, que se alimenta de enorme quantidade de água em uma localidade com enorme carência de recursos hídricos ou ainda pior no caso de Belo Monte, onde além de destroçar a vida de comunidades indígenas e populações tradicionais ainda secam uma grande área do rio Xingu atingindo desde aldeias indígenas até o óbvio, a vida animal e vegetal ali presente, sem considerar em nenhum momento o que isso vem a causar nos demais biomas, nas demais relações ecológicas que respondem pela sobrevivência do planeta e na nossa própria sobrevivência.

Esse descolamento não é sintoma, é a causa do processo de crise ecológica que se tornam visíveis com a crise hídrica e climática, mas cujos efeitos são muito mais amplos, talvez sequer tenhamos a compreensão total destes efeitos.

Até hoje não se tem compreensão completa dos efeitos do vazamento de petróleo das plataformas da British Petroleum no golfo do México. Os efeitos das mudanças climáticas, causadas pela ação humana em especial pela queima de petróleo e outros combustíveis fósseis, possuem efeitos claros e em andamento (Como a crise hídrica mundial, e mais especificamente no sudeste brasileiro), já denunciados e anunciados, porém há uma relação de reação em cadeia para cada efeito deste, a partir do somatório de danos ambientais localizados, que não se pode nem matematicamente medir, dada a grandiosidade.

Essa grandiosidade ocorre porque se pensa o macro ignorando os efeitos de cada ação no âmbito micro e como isso se reflete a partir do somatório de efeitos e das reações em cadeia produzidas. Pensa-se no macro sem na verdade se pensar no macro, ou entende-se o macro sem entendê-lo como um somatório de micros.

A chuva que falta e causa a crise hídrica também seca plantas que deixam de alimentar animais que deixam de ser alimentos de outros animais maiores. E o problema ai não é o aumento de preço no mercado, é a possível extinção de espécies, cujos efeitos não são facilmente mensuráveis e tem tudo pra produzir mudanças no meio ambiente que causam outros tantos danos e mais reação em cadeia.

Em resumo a partir do desprezo pelos processos micro históricos, no interior dos grupos sociais, dos biomas localizados, das micro relações no meio ambiente, a partir da estruturação de uma ideia de relações sociais, econômicas,etc que ignoram a vila, a planta, o bicho e só pensem no nacional, no estado, na transnacional, no continental e no mundial, mas do jeito errado, o que se pavimenta é a destruição estrutural e totalizante de tudo isso.

Por isso the Bookchin is on the table, porque é preciso descentralizar, ecologizar, organizar a transmutação de baixo pra cima, destroçando a generalização, a hierarquização, a ausência de diversidade, o autoritarismo da sociedade que naturaliza o estado e do estado propriamente dito.

É preciso ser mais vila e menos Governo, mais planta e menos plantação, mais bicho e menos manada.

The Bookchin is on the table, basta ler, basta agir, basta ser ecológico e horizontal, porque é lógico, porque é eco.

É pau, é pedra, é o fim do caminho

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A vida no sudeste do Brasil sempre foi um processo festivo. Ao menos pra uma elite e classe média que pediam crescimento e avanço por sobre as selvas da ignorância e da mediocridade nacional, envergonhados de não serem franco-canadenses ou anglo-saxões e conviverem de forma forçada com bugres do norte-nordeste enquanto franqueavam a natureza a visitação gringa.

Para essa elite a vida sempre foi um misto de reclamar do atraso brasileiro, da incapacidade de fazer renovações legais e comportamentais diante do atraso de Pindorama, e um louvar ao avanço por sobre as matas da ignorância e de um atraso tipicamente brasileiro chamado natureza e ausência de lojas Hermés na orla.

Essa elite infectou uma classe média que pagava de progressista e avançada e que pedia revolução no país desde que não atrapalhasse o choppinho da sexta.

Essa classe média acadêmica, intelectual, vivente e amante do povo, registradora da vida do povo, escrevente do cotidiano popular e alegre defensora da ideologia “de esquerda”, também guardava no fundo um desejo atávico que derrubasse as florestas todas e se promovesse o “crescimento econômico” que “tirava quarenta milhões da pobreza” enquanto criticava de forma tímida que esses milhões perdessem as casas, ou fossem índios e quilombolas atacados e removidos, mortos, pra não perder o verniz de esquerda e mantivesse a capa de “voto crítico” no PT em toda eleição.

Se essa classe média gritava contra o governo enquanto se votava nele, afinal não se pode perder o emprego na universidade, no fundo ela também só gritava contra o governo até a página dois, dado que o que importa é que o governo faça mais universidades que empregue mais os filhos desta classe média, todos com doutorado, ou recém chegados nela a partir dos títulos acadêmicos.

Parte da oposição de esquerda também flanava sua indignação e construção da revolução sem ir a Irajá numa boa até que, pasmem, surgiram outros atores menos afim de pagar de pateta da indignação revolucionária pontual.

Essa galera chegou chegando e pondo em prática o que fazia quando a PM matava alguém na favela onde morava: pondo fogo em ônibus e fazendo manifestação deselegante e deseducada, que assusta os filhos da classe média que se reuniam na universidade pra desfilar sua juventude dourada e protestante, domesticada, na cara de um estado pronto pra dar porrada nela.

E ai o estado chegou chegando como o estado sempre faz. E prendeu sem provas, e criminalizou, e meteu a porrada com tiro porrada e bomba.

E ai a classe média deu pra trás e chamou a massa ignara que a ignora de boba, feia e chata.

Mas o problema nem tinha começado. Além do mundo por a esquerda na roda do embate cotidiano entre polícia e rebeldes, entre polícia e pobres, entre a PM e os pretos, entre o povo e quem se posta de frente a ele dizendo representá-lo enquanto o ignora, o mundo resolveu avisar de forma prática que o tal crescimento, o tal avanço por sobre a floresta da ignorância, as matas e as trevas de uma brasilidade que ofende a francofonia e anglosaxonisse de sua psiquê, levou a todos pro pântano da seca no sudeste.

É amigos, o tal crescimento sem eira nem beira deu ruim!

E nesse ruim todos chora sem saber se vão pra sala ou pra cozinha fingindo que queimar petróleo não tem nada a ver, achando que deixar pra lá os votos críticos, os endossos aos governos cretinos e assassinos, achando que tá de boa deixar vinte e três presos políticos se foderem enquanto se tenta eleger prefeito.

Se na rua é pau, é pedra, na natureza é o fim do caminho.

E o que resta pra todos? Um resto de toco, um pouco sozinho.

E é no caco de vidro, na vida, no pó, que se ergue a resistência e uma resistência pouco afeita aos salamaleques das casas do povo que acham que Eduardo Cunha pode ser presidente de algo.

Essa resistência cotidiana é quilombola, indígena, preta, pobre, favelada e tá de saco cheio de ficar sem água enquanto a esquerda passa férias em Medelin pesquisando em como ser prefeito modernizando a cidade sem discutir com os pobres.

Essa resistência feita de gente morta que resolveu desmorrer e não se secar como defende quem nada em piscinas reclamando do Alckmin enquanto vota “responsavelmente” na Dilmãe e desfila sua vida de princesa enquanto se diz chocada com a nomeação da Katia Abreu, tá indo pra rua.

Essa resistência vai pra rua querendo tarifa zero pro ônibus, pra água, pra luz, pra comida, pra saúde e querendo saber pra onde foi a água, a árvore, a chuva e porque mataram o cerrado.

E se ela ainda não disse que quer saber é porque ficaram dizendo pra ela votar na Dilmãe que tudo ia dar certo, até que essa resistência se fodeu com a cassação do seguro desemprego, do seguro-defeso que vai obrigar pescadores artesanais a desobedecerem a lei pra comer, mas ela vai querer saber porque parou de chover no Rio e em SP e porque isso a deixou sem água.

A esquerda vai estar lá? Duvido. Ao menos não a que tá no ar condicionado do gabinete sonhando com Freixo prefeito do Rio.

O elogio da loucura – Um desabafo

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Pra quem quer ter um parâmetro da desolação de quem viu ontem o debate entre os presidenciáveis e viu o discurso da questão climática ser abordado de forma absolutamente irresponsável, recomendo ler essa entrevista com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e a filósofa Débora Danowsky. Ou se achar muito grande é só ler o blog do companheiro de lutas Alexandre Costa. Também funciona procurar sobre crise climática, crise hídrica e crise ecológica no Google.

Se mesmo assim permanecer a dúvida da gravidade da omissão dos candidatos a presidente em abordar o tema das mudanças climáticas e se insistir no discurso produtivista de que sem mexer na economia nada muda, isso pra justificar uma análise macroeconômica que exclui a ecologia como fazem a maior parte dos militantes da esquerda partidária, eu apenas lamento.

Lamento porque o que se viu no debate pode ser definido como um elogio da loucura. E se o discurso do proto fascista Levy Fidelix chocou pela pregação da violência homofóbica, com razão, a omissão coletiva sobre este tema e sobre a questão climática mais que chocou, ofendeu.

Lamento ver o ecossocialismo, corrente do socialismo marxista que respeito e me formou como ambientalista, ser secundarizado num discurso pálido, omisso, frouxo, irresponsável.

Lamento ver que o ecossocialismo no Brasil é tratado como chacota especialmente no único partido que o mantém como um discurso a princípio apenas parcial, propagandístico, e com todas as oportunidades de produção teórica e política de formarem quadros ecossocialistas, candidaturas ecossocialistas, não o fazem.

O ecossocialismo no Brasil fracassa porque salvo raríssimas exceções é tratado como assessório, como discurso slogan e como discurso espetáculo que jamais é tomado em seu inteiro teor diante da gravidade da crise ecológica e da crise climática, uma embutida na outra e que ocorre na nossa fuça.

Ao tornar o petróleo cláusula pétrea e ao se omitir no abordar o fim dos combustíveis fósseis, metas de redução de emissão de carbono, programa de transição energética e vincular isso à agroecologia, mudanças nos parâmetros de consumo, alimentação, distribuição de alimentos, o PSOL, único partido com um setorial ecossocialista de peso, se omite de ser um partido necessário.

Se a forma partido pra mim já era desnecessária por um em número de questões e se essa sensação já existia quando eu paulatinamente tomava contato com o anarquismo verde e anarco primitivismo e os lia e entendia formas diferentes de organização na luta ecológica, ontem essa forma partido perdeu inclusive a áurea de tensionamento de discurso. Perdeu essa possibilidade porque na prática tensiona muito pouco e perde todas as oportunidades de sair do discurso de combate aos bancos e ao discurso udenista moralista e partir pra porrada concreta com relação às opressões e à crise ecológica.

Não foi só Luciana que perdeu oportunidades ontem, foi o partido. Luciana perdeu oportunidades no debate e é tratada com condescendência por seus companheiros e militantes e nome do espírito de corpo, que na prática também corroboram com ela na completa ignorância da questão ambiental.

Ontem, além do asco que a empatia com todos os LGBT me leva a ter após o desastre da omissão coletiva diante do discurso fascista de Levy Fidelix, me senti como um lixo humano de ter construído por anos uma luta ambiental totalmente ignorada pelo partido e por hoje sua principal figura pública.

Se minha adesão ao PSOL havia falecido quando me voltei novamente para a militância anarquista, ontem vi qualquer resquício de respeito ao programa ecossocialista por parte da candidata ser jogado fora pela manutenção do desprezo pela ecologia em nome do discurso fácil da macroeconomia mais ortodoxa.

Ontem Luciana Genro sepultou o ecossocialismo no PSOL. Eleger deputados foi mais importante que isso. Eleger deputados foi mais importante que a manifestação de completo repúdio à homofobia. Eleger deputados e atacar o PV foi prioridade ao invés do discurso ambiental.

Ontem o PSOL definitivamente acompanhou o PT, o PSB, o PSDB no elogio da loucura.

O partido do SOL ignora o sol como fonte de energia, não se declara ao sol, não fala do sol, não toca no totem do petróleo sonhando um dia ser poder pra entrar na OPEP.

Ontem a democracia fracassou, o meio ambiente fracassou, os indígenas fracassaram. Toda a luta ribeirinha, indígena, quilombola foi secundarizada junto com a luta LGBT, outra luta que vira slogan bonito, mas que fora a defesa correta do casamento civil igualitário quando se fez necessário o enfrentamento direto à homofobia se preferiu seguir um script.

Esse marxismo é o marxismo que veste a farda da crítica anarquista ao marxismo. Esse marxismo leninismo de cartilha, pobre, parco teoricamente, omisso e covarde, não é o marxismo de Thompsom, de Lowy. Esse marxismo não é sequer o marxismo de Marx.

Esse Marxismo teológico e teleológico que acha que a revolução é um dado histórico, esse mecanicismo obreiro e disciplinado que ignora o atropelamento da ecologia no cotidiano, sendo cúmplice dela ao tratar a crise ecológica como palavra de ordem. Esse marxismo de galinheiro que opta por elogiar a Diva em vez de perceber a cagada que foi o conjunto da obra da opção entre a defesa de um programa que varreria Eduardo jorge para seu lugar de capacho verde da direita e o ataque às alianças do PV e do silêncio diante da homofobia explícita de Fidelix. Esse marxismo de galinheiro é primo dileto da burocratização e da cooptação do estado.

O PSOL ontem fez seu canto do cisne pra mim, definitivo e completo. O partido “necessário” se tornou desnecessário arremedo.

Quando a principal voz da esquerda guetificada pelo conjunto de sub-radicalismo com oportunismo eleitoreiro opta, em sua melhor chance, por seguir um script careta e um discurso de eleição de DCE em vez de assumir a responsabilidade sobre a crise ecológica e sobre o combate direto à homofobia ali presente, gritada, ai já deu, sua necessidade não existe mais.

Lamento profundamente ter visto a comédia de justificativas pobres, de ataques velados ou abertos aos críticos ao invés da análise crítica do tamanho da oportunidade perdida.

Pela primeira vez em muitas eleições a crise climática entrou na pauta, mas a atriz com o melhor papel para atuar sobre ela, preferiu o script errado.

Desde que batemos todos os recordes negativos do acúmulo de CO² na atmosfera, que batemos recordes de temperatura, desmatamento, desde que entramos em profunda crise hídrica em um dos países praticamente proibido de tê-la, se exige mais que discurso ecológico da boca pra fora, de discurso ecológico capitalista ou de discurso de privatização das florestas. Mas quem tem como fazer esse contraponto optou conscientemente por não fazê-lo e reduzir o debate a um combate ao desmatamento, sem citar desmatamento zero e pior, ainda gastou mais da metade do tempo pra bater nas alianças do PV em vez de discutir o programa.

Não é de hoje que o debate ecológico no PSOL é negligenciado. Enquanto há setorial não há nenhum respeito a ele, menos ainda absorção das políticas por ele defendida. Diante disso como ter fé em um partido que despreza seu próprio programa ecossocialista?

Diante disso como aturar críticas ao “Não vote, lute!” que diz que nenhum partido cumpre seus programas ou pode garantir este cumprimento se a própria candidata ao assumir a tarefa foi incapaz de seguir seu próprio programa?

É muito fácil questionar os críticos às eleições em nome de argumentos como “Não votar fortalece a direita”, enquanto se discursa um discurso que fortalece a direita, o produtivismo, o negacionismo climático, etc.

É muito fácil questionar a desilusão alheia contribuindo para ela.

Depois se reclama o baixo percentual e se culpabiliza quem abandona o barco, é sempre a saída mais fácil. É sempre mais fácil transformar tudo em mágoa.

Enquanto se constrói um partido que despreza a luta ecológica, se critica quem faz a saída das ocupações, das ecovilas, como lutadores pela saída individual ou pontual, mas estes ao menos estão concretamente reduzindo emissões e discutindo emissões de forma pública e apontando soluções.

E os partidos? O que fazem além de transformar debate político em sociedade do espetáculo, tratando o desenvolvimento como panaceia acrítica, ignorando a necessidade de decrescimento da economia, de redução da estrutura econômica predatória, da obsolência programada, d consumismo devastador, de combate imediato à crise ecológica? Nada.

A ideia do desenvolvimento das forças produtivas, dogma perpétuo dos nano marxistas de cartilha, impede os partidos de olharem pra fora e verem o desastre.

Talvez pensem que no longo prazo estaremos todos mortos. E talvez seja ai a única vez que acertam.

A verdade, o unilateralismo, a beleza, o índio, o negro e o black Bloc

images (1)Todo pensamento unilateral contém o inevitável autoritarismo. O entendimento de algo como uma verdade única, centrada em uma objetivação da realidade é automaticamente inibidor da diversidade e portanto da democracia.

Esta “ditadura” reflete-se na sociedade de muitas formas, desde a lógica do padrão de beleza unitário, que exclui gordas e negras do belo, até o entendimento da ideia de progresso como ligada intimamente ao aquecimento da economia, ao aumento de consumo, ao aumento e desenvolvimento das “forças produtivas”, como se fosse um ligar de uma locomotiva faminta e sem freios na direção do abismo.

201109070815340000004175Produzir significa acumular capital, conforme o pensamento hegemônico, produzir significa consumir matéria-prima e energia para que bens sejam construídos, consumidos em nome de um bem-estar intimamente ligado ao ter. Esta ideia de produção é o carro-chefe de uma ditadura de entendimento da realidade, de um pensamento único, que se vale da concepção que produzir, viver, ter, estar, morar são estados relacionados diretamente com a ideia de propriedade, com a ideia de economia com valoração de cada elemento ao redor do homem, inclusive ele, seja terra, ar, água, bichos, plantas, como se todos tivessem um preço, como se o valor de uso e troca fosse natural, nascesse com cada item da realidade ao redor do homem, líder máximo de uma lógica onde o homem é o centro do universo.

la-pensee-uniqueEsse entendimento é complementado com a recusa de percepção de qualquer outra forma de entender a realidade, de qualquer percepção cultural divergente, como passível de alguma “razão” ou sentido. A concepção de etnias indígenas da terra como parte de um organismo vivo, como elemento fulcral da existência deles para além da economia, da produção, do valor continente no uso da terra, vira anátema, pois bate de frente com a lógica, o pensamento único em torno do qual se ergue a economia e a lógica de vida ocidental, cristã, branca.

Outro aspecto da ditadura do pensamento único é a ótica do que é bom ou não para segmentos inteiros da população. Pobre morar na favela? Não pode e jamais passa na cabeça das pessoas a possibilidade urbanizar a favela, de que favela seja cidade. Greve? Atrapalha o trânsito. Proibir carro no centro das cidades? Atrapalha o direito individual da posse do automóvel, dane-se se o transporte coletivo permanece secundarizado em nome do individualismo egoísta, consumidor de combustíveis fósseis que aceleram os efeitos do aquecimento global. Lutar pelo fim dos combustíveis fósseis? Maluquice, a economia EXIGE crescimento e isso EXIGE energia, EXIGE, o conforto individual, a matriz energética em uso é o petróleo e não se fala mais nisso, energia renovável e alternativa são caras demais!

20090207_non.pensamento.unico.grandeE palavra em torno de muitas destas questões é “custo”, é a centralidade do “custo”, do aspecto monetário sobre todo e qualquer entendimento relativo à lógica do bem viver como mudança dos paradigmas de civilização, para além da precificação da vida, das pessoas, das cidades, da terra, das matas, do existir. O “custo” das coisas é central, o “custo” das coisas é o eixo em torno do qual giram a lógica que prioriza, hierarquiza o que deve ou não ter a economia direcionada para realizá-lo, ou seja, o que é prioritário para a população e sociedade é decidido em torno de “custo”.

E quem decide? Como se dá o processo “democrático” de decisão? Há democracia? Se chega ao todo todas as informações, todos os meios de decidir, o que está em jogo?

imagesPoderíamos elencar também problemas relacionados ao processo de veto à homossexualidade, de repressão à orientações sexuais diversas, à transsexualidade, à ideia do papel da mulher, à lógica de respeito à diversidade étnica, ao racismo, ao racismo ambiental e tantos outros efeitos da ditadura do pensamento único, que parte de uma hegemonia cultural elitista e chega aos jornais e Tvs e é reproduzida, naturalizada, tornada como um elemento dado da vida cotidiana, imutável, asfixiante.

E todo pensamento contra hegemônico é crime, é criminalizado.

Todo método contra hegemônico é crime, é afastamento do povo das lutas, é afastamento da regra, da lei, do bom comportamento, dos bons modos, do bom senso.

E é por isso que toda criminalização dos Black Bloc tem um pouco de navio negreiro.

A dimensão da utopia, a revolução e os novos Lênins

 Road_to_utopiaTratar de mudança política não é exatamente simples, tampouco receita de bolo. A dimensão da transformação tem tantas miríades de sentidos possíveis subjetivos a serem lidos em atos, palavras e movimentos, que a simplificação de um método ou de uma ideia de estado, ou de mesmo uma só ideia de revolução é delírio simplificador.

Se ler a realidade concreta fosse fácil e apontasse para um só sentido unitário não haveria desde sempre um mar de pensadores mundo e história afora, cada um com sua percepção de uma realidade, de uma verdade ou até da não-verdade.

A questão é que cada contexto histórico, cada conjuntura, aponta sinais identificáveis de novas formas que a multidão de gentes por vezes denominada “povo”, “massa”, “massona” ou “povão” (quase sempre por quem se aparta dela para defini-la com distância segura) interpreta se não o real a ruptura com o que entende como sistema ou peso opressivo de alguma realidade.

Cada contexto histórico traz suas insurgências, traz suas permanências, traz suas rupturas e conservações e é necessário que cada pensador ou militante que pretenda transformar este real lê-las, olhá-las nos olhos, preocupados menos com encontrar a verdade verdadeira única de todas as coisas e mais com antecipar minimamente uma tática de intervenção que consiga atrair o máximo de gente possível para oque defende como eixo de ações transformadoras.

É, amigão, to falando de convencer pessoas que tua tática revolucionária é o lance.

img_ju427-06bNeste contexto atual, por exemplo, o próprio questionamento da relação entre movimentos, partidos e ativistas com o cotidiano político é questionado. A própria relação entre os movimentos, as pessoas e a atividade política é jogada aos leões em busca de demolir concepções quadradas de vida, de militância, de relação com vidros, vidraças, mundo, ambiente, amor, mídia.

A dimensão contestatória não tá ai para fingir que não vê a frase maldita cheia de homofobia do sujeito que em tese diz que quer mudar o mundo.

A contestação, caras pálidas, não tá vestindo o fraque mediado do fanfarrão da esquina, tampouco o papo brabo de que “povão é assim”.

A contestação quebra vidraça do Itaú,a contestação arrebenta a secadora do Xingu, invade usina, ocupa Câmaras, derrete leninismos de salão querendo mais que conversinha nas terras Quilombolas, na avenida Paulista ou na praça onde Feliciano-RS prendem pessoas que se beijam em um espaço público ocupado por ele indevidamente em nome de uma só vertente de uma só fé, atropelando a laicidade do estado, atropelando a democracia de um estado cujo emblemático simbolismo de um Pastor Deputado (jamais um Deputado Pastor) chamando a polícia para reprimir lésbicas se beijando EM ESPAÇO PÚBLICO é eloquente.

street_art_24A contestação não trata a dimensão do sonho como um “Além da Imaginação”, uma “Twilight Zone” promovida por esquerdóides, amiguinhos. A contestação chegou à sala de aula, e não na cabeça de estudantes, mas na de professores precarizados em greve numa das principais cidades do país.

A contestação tá na rua derrubando um dos governadores centrais para a política do PT e para concepção de cidade mercadoria, de mundo mercadoria, de Brasil Grande neodesenvolvimentista com fome de petróleo, com fome de carbono, de escolas, de postos de saúde, de consumo que nos consome enquanto gentes a trabalhar doze, treze, quatorze horas para pagar os carnês das dívidas enquanto deixamos a vida no prelo.

A contestação pegou a dimensão do sonho gritando que não era por vinte centavos enquanto militantes amestrados pro revistas, blogs e sites de partidos acostumados com a cadeira acolchoada do poder dizia se tratar de Vândalos e Baderneiros.

imagesA dimensão do sonho voltou numa contestação mascarada que lei nenhuma vai desmascarar e enquanto isso ainda existem citadores compulsivos de Lênin procurando pelo em ovo pra justificar qualquer coisa em nome de mandatos acomodados, acostumados a pedir em vez de exigir, a criar espantalhos para a fome de moral e bons costumes de quem pede o fim da corrupção como se pedisse pães franceses na padaria mais próxima.

E enquanto a dimensão do sonho renasce com utopias múltiplas, dissonantes e polifônicas, como deve ser, a exigência de novos Lênins é clara, imensa, nítida. Mas exigem-se novos Lênins com menos fome por construir estacas fundadores de novos países e novos estados, mas canais para o fluxo contestatório passar derrubando represas.

São precisos Lênins que construam o diálogo, um diálogo amplo, que aprendam, que ensinem, que se joguem, que quebrem, que requebrem, que riam, que sambem, que ouçam a polifonia menos buscando a síntese perfeita e mais aprendendo que ruptura pode sim rimar com gostosura, com liberdade, com vontade e com verdades, sim com s, por muitas, imensas, gigantes, que nunca dorme, que se soltam noite afora quebrando tudo até a última ponta para derrubar Cabrais e outros ditadores mal-acostumados a achar que a voz das ruas é rouca, enquanto sempre foi doce.

images (3)São precisos novos Lênins prontos a divertirem-se recuperando a utopia, a dimensão do sonho em que Garibaldis, Bakunins, Marx, Engels fizeram a primavera dos povos.

Porque sempre precisamos de mais primaveras.

É a ecologia, estúpido!

imagesA questão ambiental está hoje para a esquerda como o iceberg está para o Titanic: ninguém dá bola, até ela bater de frente com o imperativo da contradição capital x trabalho.

Não é mole não, pra quem é ecossocialista, a luta diuturna contra a solene ignorada que socialistas e nem tanto dão para uma questão que cientificamente está para a luta política quanto apoiar Galileu contra o Vaticano estava nos idos do aparecimento da dita idade moderna, na classificação antigona da História em eras, idades e cortes bruscos temporais que fingia não ver que tudo é muito mais complicado do que os cortes curtos e dribles mecânicos fazem entender.

No que tange à História o Zagueiro é clarividente e o drible é visto e revisto mil vezes num replay mental que sempre vai surpreender quem ainda cisma nas táticas que ignoram o vento, o sol e o clima, como efeitos gritantes no campo de jogo.

No que tange à luta ambiental somos nós os críticos que dizem: é preciso jogar no ataque que dá pra virar o placar. Enquanto isso a estrondosa religião dos seguidores de Lênin finge que o mundo é facilmente resolvível em equações deturpadas de um livro vermelho qualquer e seguimos tomando goleada.

É dura a vida pra quem grita “é a ecologia, estúpido!” e só é dura porque há um longo e tenebroso inverno do marxismo que por inúmeras idas e vindas é confundindo com seu mecanicismo que já nos idos dos anos 1930 era criticado como mecânico por Benjamin, Marcuse e outros tantos que apontavam já lá, que a vulgarização de Marx mora na simplificação do complexo e na recusa de sair da matemática simplória do engessamento das realidades.

Enquanto muitos nadam nos manuais burocratizados deturpantes do marxismo de Lênin, acusadores de espontaneísmo aos que lêem Rosa, acusações de fratricismo aos que reivindicam Trotski, há outros tantos que catam Benjamin, Foster, Thompson e outros tantos ocultados, gritantes e até não marxistas que repicam o grito em uníssono “É a ecologia, estúpido!”.

E o grito tá aí, tá na rua, na ciência, tá na exigência de recontarmos os exércitos para enfrentar a luta, lado a lado com quem ignora a existência de Marx, mas não da natureza, e ocupa estradas, mentes, corações sendo quilombolas, indígenas, ribeirinhos, pescadores artesanais e novas gerações, novas vidas encarantes, vindas de um futuro cada vez mais tenebroso, atacado violentamente pelo Nêmesis da vida chamado Capital.

O grito tá aí, porque é mais difícil ensinar novos truques a tantos que calados no esquematismo, calados no interesse burocrático, calados e cúmplices do medo da revolução, calados no eleitoralismo, optam por não ir longe, não olhar radicalmente o problema, não enfrentar com radicalidade um tenebroso futuro onde o capital suga de forma violenta a vida da terra, e não só a humana.

O grito tá aí, tá do lado de quem morre, de quem morrerá e de quem verá uma linha do horizonte amarga e cinza, gerações inteiras que pagarão caro por nossa omissão.

936339_601578399853964_255236182_nHá que irresponsavelmente ache que se tudo se desenvolver até o talo a mágica acontecerá, confundindo desenvolvimento como uso em massa de fósseis, carvão e petróleo, em máquinas sujas, que assassinam o clima, e com o clima assassinam pessoas, espécies, mundos.

Há quem opte pro não ver por não saber ir além do gabinete.

E há quem grite com os índios e quilombolas a plenos pulmões: “É a ecologia, estúpido!”.

Não há mais tempo de tremer às mortes: do PT em diante.

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Acaso um ser humano adulto durante os anos 1930 fosse transportado para 2013, seria difícil explicar pra ele que a História não foi um processo que deu uma vitória permanente ao conservadorismo e ao fascismo.

No Brasil especialmente a derrocada do PT de Esquerda, substituído pelo PT de Ex-querda que publica em redes sociais um “Vai pra cima dos índios!” em nome da defesa de um desenvolvimento erroneamente confundido com avanço imparável de uma locomotiva genocida, trouxe à baila com cumplicidade do Partido dos Trabalhadores, um samba de enredo ruim, evolução escabrosa e cuja harmonia não rima lé com cré rumo ao caos.

A marcha conservadora no Brasil não explica-se apenas por si mesma, explica-se pela cooperação feérica do Partido dos Trabalhadores em sua construção a partir do entendimento que construir uma governabilidade que o mantivesse no alto da gerência do capital, e do estado para o capital, saísse do plano da tática para o plano da estratégia, abandonava o posto de prática provisória, para tornar-se práxis, ou método permanente.

A lógica da governabilidade para a execução de uma atividade fim vinculada com a transformação do Brasil foi substituída por uma governabilidade executada para a execução de uma atividade meio que é a manutenção do aparato burocrático para o comando do Brasil.

O que antes era dito como “Precisamos governar para mudar a vida das pessoas” foi substituído por “Precisamos governar, mudamos a vida das pessoas” e essa construção não inclui apenas o entendimento do merecimento do status de governante, inclui antes de mais nada o entendimento da necessidade quase adicta de ocupar espaço burocrático para ostentar um poder que se entende como “desígnio” como “destino manifesto”.

Não à toa a relação próxima entre os empedernidos defensores do Governo Petista, e sua megalômana e leviatânica coalização governamental, se aproximam ao fanatismo fundamentalista religioso no entendimento de uma legitimação automática de todo e qualquer ato governamental dado que este é aquele escolhido para transformar o Brasil em um acelerado e transformador veículo de condução do progresso. O problema é que esse progresso só lembra avanço se o imaginarmos como uma máquina destruidora atropelando tudo à sua frente que não consegue ou conduzi-lo ou resistir a ele.

Para agravar essa lógica perversa a relação entre destino manifesto de ocupação do poder com a governabilidade a qualquer preço, a lógica da governabilidade e do inegável poder conquistado com méritos político-pragmáticos levou ao PT a abraçar com desenvoltura tudo o que lhe permitisse não só garantir um poder nunca visto antes em tempos democráticos sobre congresso, estados e municípios, como também minar o exército adversário através da tática de cooptação de lideranças que antes eram base tucana.

O exercício dessa cooptação levou à construção de alianças com a mais perversa direita e fundamentalistas religiosos em um processo que já estava em curso com relação a outras legendas, especialmente nas coalizações regionais, e que foi levado para dentro do PT que federalizou o processo regional. Com essa tática, o PT reduziu a oposição oficial, partidária, a quase zero, a natimorta, a um espantalho bobo que só assusta quem cai nos contos de fadas despolitizados que a claque brande mundo afora.

O problema da tática é que o PT virou inicialmente um refém de sua própria necessidade, sendo obrigada manter práticas que sua história renegava em nome do objetivo final de manter-se a todo custo no governo. E com essa ação ele acabou trazendo para dentro de seu arco de alianças a oposição que mantinha fora. Esse processo inicialmente fez o PT oscilar entre recuos e avanços da agenda dessa oposição intestina à suas bandeiras históricas, porém no decorrer do tempo o processo iniciado por Lula de assimilação das forças políticas que podiam gerar algum tipo de ruído (e que inicialmente compreendia a própria base social do PT, movimentos sociais,etc, cooptados sem dó nem piedade no decorrer dos anos Lula) passou da assimilação de nomes e partidos para a assimilação de programas e o que era externo ao PT, que engolia em nome de um projeto, virou o próprio PT, que agora tem inclusive entre seus quadros quem sustenta discursos similares ao mais abjeto fascismo de Malafaias, Bolsonaros e Felicianos.

E nesse processo o que se vê é a percepção por parte do PT e do Governo de que esta agenda conservadora e fascista não é uma agenda problemática e que os movimentos e pessoas que sustentaram a chegada do PT ao poder, e antes ao estágio de maior experiência da esquerda mundial, não são mais necessários.

O ataque aos direitos das minorias e o patrocínio de homofóbicos e suas políticas levados a cabo pelo PT são a marca disso. O ataque aos povos originários, indígenas e quilombolas, em prol do avanço do agronegócio não são efeitos colaterais da tática, são a própria tática, são a escolha de um lado, o do dito desenvolvimento do país, sendo que desenvolvimento é visto como crescimento de indicadores econômicos e não necessariamente de melhorias estruturais para a população brasileira, que se consome continua sem escola e saúde de qualidade.

E o que faz a oposição de esquerda nesse momento? Bem, considerando a gravidade do momento e a óbvia desconfiança para com toda a esquerda depois do que aprontou o menino PT, a esquerda até que aos trancos e barrancos consegue alguma unidade de ação que se não supera a fragmentação, supera o imobilismo. E esta esquerda possui um gigantesco desafio pela frente, que é superar o descrédito e mais, a metodologia que herdou da tradição socialista e também do próprio PT, da qual a maioria saiu.

Diante de um quadro onde lutadores de todas as origens que se referenciavam no PT, apoiavam o PT ou faziam parte de seus quadros, pedem pra sair, porque já não suportam o debácle do PT e o estupro de sua história em nome de uma governabilidade que só serve hoje para manter as íntimas relações entre os comissários e doadores de campanha, cabe à esquerda se reorganizar para ocupar mais celeremente o espaço deixado vago pelo ex-PT.

Alguns desafios são claros aos partidos e movimentos de esquerda: superar a formação flácida da maior parte da esquerda, que resume seu cotidiano teórico à reproduções acríticas dos escritos marxistas-leninistas, sem uma reflexão concreta sobre a teoria de Marx e seus comentadores através dos tempos em toda a sua abrangência; Ir além de Marx, compreendendo formação como mais que adestramento, mas como espaço de reflexão, de formação de capacidade analítica e para isso exigindo uma formação robusta com possibilidade de contraponto, de leitura do contrário para além do “precisamos compreender como o inimigo pensa”, mas sim “precisamos entender a amplitude de ferramentais teóricos à nossa disposição”; romper como viés burocrático de ocupação de espaço político pelo espaço, sem leitura estratégica da necessidade de trabalhos de longo prazo e portanto da necessidade de conquista da hegemonia político-ideológica, que passa pelo cultural; ir além do eleitoral, sem no entanto negar-se a ele não só como abertura de espaço de debate, mas como fundamentalidade da defesa de direitos adquiridos e populações marginalizadas e tidas como minoria, diferenciar-se do PT, diferenciar-se do possibilitismo da esquerda pós-anos 90, buscar ser “impossibilista’, acreditando na inovação, seja tecnológica, política, metodológica. Entendendo a necessidade de renovar linguagem e métodos, sem perder-se nisso como um fetiche “desmarxizador”, mas entendendo a necessidade de dialeticamente reconstruir o papel de transformadora que a esquerda possuía; A esquerda precisa ser também propositiva, porém não entendendo proposição com timidez, entendendo proposição com radicalismo, entendendo a discussão sobre políticas públicas questionando o cerne ideológico delas, não se prendendo e assustando quando ver o temor custo colocado como empecilho, sendo que custo é ali um entendimento neoliberal da ideia de política pública, como se o custo financeiro fosse mais importante que o custo social da imobilidade, isso se aplica muito na discussão sobre energia, quando brande o custo da energia solar como empecilho, sendo esse raciocínio ocultador também do custo não declarado das energias prioritárias para o capital, como nuclear e fóssil.

Enfim, há um longo desafio para as esquerdas pela frente, sejam elas as partidárias ou não, e para percorrer esse caminho é preciso agir, é preciso estar atento, forte, não há mais tempo de tremer às mortes.

Omissões e assassinatos

Por Gilson Moura Junior

 

DILMA/SUPERSIMPLESEscolhas políticas tem peso dois na vida humana. E esta última entre opções políticas e vidas  se refletem cotidianamente.

Escolher o projeto do PMDB no Rio de Janeiro resulta em última análise em cumplicidade com o ônus e o bônus dos governos deste partido. Se o PMDB foi o partido que atuou na governança que em algum grau esteve presente nas tragédias das chuvas de 2010 e 2012, no estado e no município, as mortes advindas destas tragédias tem a impressão digital destes governos e deste partido.

Da mesma forma o homicídio contumaz, pra não dizer genocídio, de jovens negros e pobres nas grandes cidades têm a impressão digital dos governos que comandam as políticas destes estados e que não atuaram na transformação do papel das polícias que de capitã do mato virou agente de repressão da população pobre e negra com metodologia não muito diferente dos primeiros perseguidores de escravos fujões.

Lançamento do plano Agrícola e pecuário - Foto Wenderson Araujo (52)Se os governantes não puxam o gatilho ao menos são omissos quanto ao combate do papel exercido pela polícia que comandam.

Porém não basta culpar os governantes do PMDB ou do PSDB por uma característica quase inata ao que representam estes partidos, atores eleitos pela elite como porta-vozes de suas convicções e concepção de estado, é preciso estender a responsabilização aos neófitos na arte da representação da concepção de estado da elite que são os partidários do Partido dos Trabalhadores, outrora um partido de esquerda.

Usina-UHE-Estreito-do-Maranhão-Hidrelétrica-no-Tocantins-inauguração-da-UHE-Estreiro-presidente-Dilma-Rousseff-Siqueira-Campos-José-SarneyAlém disso, é preciso também entender que quem opta conscientemente por uma política de blindagem dos governos do PT, de qualquer esfera de estado (Municipal, Estadual e Federal) tem uma relação de cumplicidade última com o apoio ao latifúndio, ao agronegócio e com os ataques aos povos indígenas, quilombolas, às minorias LGBT e às mulheres. Ocultar os recuos do governo federal e governos estaduais e municipais em todas as questões que se relacionam com Reforma Agrária, LGBT, Quilombolas, povos originários e mulheres é ser cúmplices das ações destes governos.

12534111Ao omitir-se diante do envio das polícias para bater em professores na Bahia ou em Sergipe os apoiadores dos governos do PT são cúmplices da mão policial que empreendeu a repressão. Ao omitir-se de ações veementes com relação a uma crítica contundente quanto ao nítido recuo dos governos do PT ( Dilma só assentou mais que Collor, o pior até então) com relação à reforma agrária e com opção nítida pelo agronegócio, os apoiadores dos governos do PT tornam-se corresponsáveis pelo avanço da violência no campo a partir do crescimento do poder do latifúndio.

images (1)Ao optar por blindar os Governos do PT, o MST optou também por omitir-se diante do nítido avanço do papel dos ruralistas no governo que apoiam. O MST critica corretamente Katia Abreu e a vincula com Serra, a quem a senadora apoiou em 2010, mas ao omitir-se de efetuar uma avaliação crítica das relações carnais entre Dilma e Katia Abreu (E porque não dizer do PT) e o agronegócio, o MST contribui pelo engessamento da luta pela terra e para a exposição de lutadores e lutadoras ao avanço do ruralismo, do latifúndio, e este nunca avançou sem sangue.

images (3)Ao fingir não saber que a opção pelo agronegócio por parte do governo federal, que inclusive cogita nomear a senadora Katia Abreu para um ministério, o MST toma a esquerda e sua base por míopes. Em nome da opção pelo apoio e pela blindagem do governo do PT o movimento finge não ver a aproximação acelerada com o PSD que leva inclusive à presença entre os ministeriáveis de Afif Domingos, atual vice-governador do mesmo estado de São Paulo cujo governador é Geraldo Alckmin do “inimigo declarado” PSDB, o mesmo partido do “satã” José Serra. Além dos indícios acima a cogitação do PT-SP apoiar Gilberto Kassab para o senado em 2014 não é desconhecida dos meandros políticos, rifando Eduardo Suplicy.

imagesAo omitir-se diante do avanço nítido do agronegócio para a gerência do estado brasileiro com a cumplicidade do PT, gerência essa materializada pela aproximação com Katia Abreu, o MST se torna cúmplice do latifúndio pela via da omissão.

A cereja do bolo da contradição absurda de fingir não ver as relações carnais entre ruralistas e o desenvolvimentismo petista é o movimento usar a partir de um assessor seu o termo “invasor’ para se referir a sem terras ocupantes do instituto Lula em nome da blindagem do governo.

1507-3Ao usar “invasor” o movimento reproduziu o ataque do qual foi alvo durante toda sua existência e tendo sido a opção por uma mistura de partidarismo com resistência à ver seu nome, e suas relações, manchadas por uma ação de dissidência, o uso do termo torna-se ainda mais grave dado que sua utilização se fez a partir de uma atitude de baixa política.

images (2)Ao vincular a ocupação ao PSOL o movimento ainda optou pelo desvio de foco da questão grave que é o fato da ocupação ter sido feita a partir da ameaça de despejo do Assentamento Mílton Santos (assentado pelo INCRA durante o governo, Lula daí a opção pela ocupação do Instituto do ex-presidente) em um estado onde já tivemos Pinheirinho e useiro e vezeiro da utilização de feroz violência para expulsar ocupantes.

images (4)Neste contexto o assassinato do lutador Cícero Guedes, líder do MST, em Campos, Norte Fluminense, é um triste lembrete dos limites das concessões e blindagens, dado que a mão pesada do capital e do latifúndio não faz concessões aos oprimidos. Em meio à cálculos políticos, vítimas fatais seguem sendo feitas. Em meio à escolhas de cúpula, lideranças locais morrem. Enquanto a burocracia do movimento oculta às suas bases que o Governo federal é no mínimo cúmplice por omissão da opressão que as vitima, os latifúndio é estimulado a expandir-se, enquanto o recuo da reforma agrária, patente e escandaloso, é presenteado pela blindagem do maior movimento de luta pela reforma agrária.

Neste momento de solidariedade com todos os sem terra, em especial os companheiros assentados do assentamento Zumbi dos Palmares, que ocupam a Usina Cambahyba em Campos , não podemos esquecer de que poucos dias antes outros sem terra, que podem também serem vítimas da mão pesada do capital, foram vítimas da legitimação do rótulo de “invasores”, que tanto usa a mídia empresarial aliada do latifúndio, pelo próprio Movimento dos trabalhadores Sem Terra que pela sua inegável legitimidade os deveria defender.

Se não podia ou queria legitimar a ocupação, que a crítica não contivesse a desqualificação que a mídia busca ininterruptamente gravar nas mentes e corações da opinião pública como relacionada ao MST. Ao optar pela desqualificação que antigamente recebia, e em nome da blindagem do Governo do PT, o MST cruzou seu rubicão.

Lider_do_MST_Cicero_GuedesA solidariedade para com os companheiros do MST que perderam mais uma liderança neste cotidiano de luta contra o latifúndio não pode esquecer que mais mortes ocorrerão enquanto perdurar a omissão do maior movimento de luta pela terra no que tange ao combate ao imobilismo consciente do governo Dilma e do Partido dos Trabalhadores quanto à reforma agrária.

Escolhas políticas tem peso dois na vida humana, e muitas escolhas causam morte. Para evitá-las é preciso que a solidariedade não se torne muda, acrítica e perdure na sustentação de omissões.

O baile da coerência e o Assentamento Mílton Santos

oscar-wilde (2)Quem somos?

Em nossa viagem pela Terra, parafraseando o inenarrável Pedro Bial em algum dos seus péssimos poemas declamados na longínqua e inóspita região do BBB, somos afeitos à transformações.

A coerência é uma virtude inata nos sem imaginação, correto estava Wilde, mas também é um refúgio não para a imobilidade monolítica da alma, mas para a busca de manter nestas transformações algum elo que nos mantenha a identidade, se não intacta, ao menos legível.

assentamento-milton-santosPara o terreno do símbolo, que é para a política quase uma definição de si mesma, a coerência é antes de mais nada a manutenção de seu significado através dos perigosos rumos que o tempo, este senhor tão bonito, traça para os cansados pés militantes.

Observar a coerência não é não mudar de ideia,mas ter a postura firme e transparente de conduzir estas transformações sem perder a meada do que se é. É possível transitar do comunismo ao neoliberalismo, ou agroruralismo, mantendo alguma coerência, vide o PCdoB, com e sem ironia ao mesmo tempo.

Ao PCdoB não é possível imputar incoerência sua da ida do produtivismo stalinista ao agroruralismo sino-brasileiro. É possível ver a ponte, é possível ver o caminhar das letras, das conjunturas, a leitura “desenvolvimentista” imune à “questiúnculas” de direitos, etnias, gêneros, raças. Porque parar o trator do progresso quando nós é quem o comandamos “em nome do povo”? Podemos até relativizar o “povo” ali incluído ou ironizarmos chamando este “povo” de “burocracia político-partidária neocomunista”, mas apontar incoerência não nos é possível, pois ela tá ali, cristalina, mesmo em meio ás transformações ardilosas do tempo.

assentamento-milton-santos_repNeste dia de nosso senhor de vinte e três de Janeiro de 2013 temos um exemplo contrário, onde a coerência foi mandada às favas e ressuscitou outro famoso autor chamado George Orwell, que ao escrever em 1948 o romance distópico “1984” cunhou o termo ‘novilíngua” para se referir aos usos da língua como arma de manipulação. A manipulação e a manutenção de uma linguagem “informativa” era useira e vezeira do malabarismo terminológico como ferramenta de qualificação de aliados e adversários do regime totalitário comandado pelo “Grande Irmão”, que posterior e ironicamente serviu de inspiração ao programa chamado Big Brother, que o incansável Bial comanda em Terras Brasilis.

images (1)A critica de Orwell era ao regime Stalinista em vigor na URSS, embora brilhantemente exposta em um romance de altíssima qualidade onde era desnecessária a afirmação direta para o entendimento. Esta lógica foi ressuscitada pelo neo-PT gestado pelo comissário José Dirceu no decorrer de seu processo de conquista do governo do estado burguês e da hegemonia eleitoral da dita esquerda, que paulatinamente foi vendo abandonadas suas bandeiras em nome da lógica de manutenção do aparato estatal recém-adquirido. De objeto de ação tática, conquistar o governo virou estratégia e para mantê-lo todas as armas são precisas, necessárias e usadas.

23jan2013--militantes-do-movimento-sem-terra-e-integrantes-do-assentamento-milton-santos-de-americana-sp-ocupam-o-instituto-lula-no-bairro-do-ipiranga-na-zona-sul-de-sao-paulo-para-protestar-1358941106850_956x500Neste dia de nosso senhor ocorreu a ocupação pelos assentados do Assentamento Mílton Santos, do instituto Lula. Imediatamente quase a tropa de choque virtual do Governismo/PT acusou o golpe tratando os ocupantes como “invasores”. Esta ação era esperada, dada a tarefa de manutenção do bloco monolítico de apoio ao governo em todos só níveis e à tática de rotulação dos “desviantes’ como “o inimigo”, e inimigo quando não é tucano ou democrata é “psolento”. O que surpreendeu foi o uso pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, e pelo Assessor de comunicação do MST, Igor Felipe do termo “invasores” para atacar os ocupantes.

Ao usar o termo “invasores” ambos, MST e Okamoto, ultrapassaram os limites, o rubicão, e em nome da manutenção da novilíngua disseram a que veio: quem não apoia o governo, por mais justa que seja sua luta, é um “traidor”, porque o governo, mesmo sendo aliado do Agronegócio, o maior inimigo da reforma agrária, é a luz, a verdade e a vida.

1984-bbE na manutenção da novilíngua também se optou por manter Lula, maior figura pública do PT, como algo que não tem nada a ver com o PT, a presidenta do país, que é do PT, o INCRA, que faz parte do governo que é comandado pelo PT e é do ministério comandado pelo PT.

Lula apesar de ser a maior figura pública do PT é um espectro que ronda o PT e não influencia o PT. Você acredita? Pois é, nem eu.

E o desejo dos ocupantes, até ingênuo, de pressionar a maior figura pública do PT para talvez sensibilizar a presidenta do País e chefe maior do INCRA, e também figura pública do PT, virou “ação partidária”, “leviana” que “não faz sentido”, pois tocou este espectro, esta “alma penada” política chamada Luiz Ignácio Lula da Silva.

shepard_fairey_george_orwell_1984Mesmo tendo em mãos dados do próprio setor Agrário do PT na Câmara dos deputados e da Pastoral da Terra dos resultados pífios dos governos Lula/Dilma, na questão da reforma agrária, o MST e o PT preferiram a desqualificação da ação, digna da novilíngua criada por Orwell, como “partidária” e “do PSOL” a uma mea culpa sobre a reforma agrária e uma ação sensível aos desesperados e ameaçados de despejo assentados do Assentamento Mílton Santos.

Ao usar a novilíngua tanto o MST, quanto o PT atravessaram o rubicão, e também jogaram no colo do PSOL o preço da ação dos Assentados.

george-orwellAo PT e ao MST resta mandarem lembranças à coerência. Ao PSOL resta agradecer a si mesmo por mantê-la, a tal coerência, e à ambos, PT e MST, pela vital vinculação desta bela ação dos assentados do assentamento Mílton Santos ao partido.

É muito orgulho ser visto pelos adversários como responsável por tão bela e lutadora ação.

O medo estupra a esperança no Governo Dilma

Arnaldo Branco nos idos de 2003 brincava com o Slogan de Lula ao fim da eleição de 2002, “A Esperança venceu o medo”, e acho que na nomeação de Henrique Meirelles cunhou o chiste “O medo empata o jogo e sufoca a Esperança”.
Oito anos depois Dilma Roussef e seu governo instauram um impasse no diálogo com movimentos sociais, recuam em avanços do Governo Lula e apontam com Belo Monte, o desmonte do Minc e a “Comissão da meia verdade”, entre outros atos desgoverrnados, para um avanço cruel do fim de toda a esperança, morta a pauladas por um medo concreto da burocracia não só dominar governo e  Partido, como aliar-se ao pior do ruralismo e do mundo reacionário e realizar o que temíamos que Serra realizasse com requintes irônicos de crueldade. 
Se o Neoliberal carola e neo-fascista foi superado nas urnas o que se vê é um retrato fiel do mais sórdido stalinismo proto-fascista em marcha, tanto no governo quanto no que antes era um partido socialista chamado Partido dos Trabalhadores. 
Em nome do desenvolvimento até a cidadania vira um valor relativo para o governo e seus defensores ferrenhos e plenos em desonestidade, sofismas e truísmos. Cidadania vira algo a reboque de um desenvolvimento que exclui quem se opõe ao avanço do trator do “progresso” seja ele índio, negro, pobre, macho ou fêmea.. opôs-se? passemos por cima.
 “O Brasil precisa crescer”, dizem ávidos ministros, apoiadores e milicia progressista que na virtualidade são prenhes dos mais covardes métodos de defesa do indefensável.
A formação de milicias virtuais  para resistirem aos sórdidos ataques feitos à Presidenta nas eleições de 2010 pelos eu adversário e câncer José Serra se mostrou de muita serventia para a resistência ao bombardeio que os movimentos e militantes de esquerda iniciaram quando o governo mostrou-se muito mais conservador que seu predecessor recuando avanços deste e mais ainda, impedindo outros avanços, votando o código florestal que praticamente legaliza o ecocídio, recuando em avanços na educação que seria proporcionado pelo Kit Anti-homofobia, destroçando a comissão verdade ao ponto de impedir que familiares de desaparecidos e presos discursassem em cerimonia e negar qualquer tipo de abertura de arquivos e agora com o recrudescimento da resistência a Belo Monte com uma das mais sórdidas campanhas de desqualificação dos que condenam o apelidado pelos movimentos sociais de “Belo Monstro”.
Nos moldes fascistas a tropa de elite Governista chega aos píncaros da Glória de dizer que os indígenas são “nômades” e nem notariam o empreendimento.  Com relação ao massacre dos Guaranis a omissão chega a graus criminosos e nenhuma linha da “nova imprensa” progressista. 
Esta aliás atua ou em bloco insano de defensores a qualquer custo, armados de desqualificação e truísmos sobre Belo Monte ou bastam a si mesmos com um silencio constrangedor, calculado, que torna-se um claro indicio de agirem exatamente da mesma forma que o que chamam de PIG, mas a favor.
O voto que foi arrancado a fórceps de muitos e propagandeado como manutenção de avanços se transformou na abóbora do rodo, do trator, da insensibilidade social, ambiental, de gênero, histórica e anti-homofobia, se transformou no pior pesadelo de qualquer um que olhe pra fora dos antolhos do mais imbecil pragmatismo e se entenda de esquerda, um governo fortemente alinhado ao mais pútrido desenvolvimentismo a  serviço do conservadorismo e nada sensível às causas mais caras dos campos socialistas e de esquerda.
A esperança foi substituída pelo assustador e impotente medo. Um medo que tende a ser duplo, por temer também a alternativa ao estupro cotidiano do mais humanista sentido do que é política.
PT e PSDB  digladiaram por muito tempo para obterem o controle do governo e  hoje capitaneiam a nau de uma sociedade cada vez mais amante de medidas de exceções e do fascismo.
Parabéns a todos os envolvidos.