Nota de Repúdio às arbitrariedades cometidas pelo Estado no ato em apoio aos profissionais da educação #issonãoésobreoblackbloc

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O Rio de Janeiro passou nesta terça, 15 de outubro, por mais uma mobilização em apoio aos profissionais da educação. O ato em defesa da educação pública, marcado para o dia do professor, reuniu dezenas de milhares de pessoas. No final da passeata, na Cinelândia, quando ainda restavam cerca de cinco mil manifestantes, iniciou-se um grave ataque por parte da polícia. Grande parte das pessoas foi atingida de surpresa pelas bombas de gás lacrimogêneo e demais armamentos. As forças de repressão do Estado agiram com violência e arbitrariedade contra os/as manifestantes, de forma absolutamente desproporcional.

Segundo a nota da assessoria de imprensa da Polícia Civil, divulgada pelo globo.com no dia 16 de outubro, 190 pessoas foram conduzidas para oito delegacias da capital, sendo 57 adolescentes. De acordo com advogados/as que assistiram os manifestantes, esse número passou de 200 e não havia motivos de ordem técnica para os detidos serem levados para delegacias de outras regiões, se tratando de um expediente para dificultar a defesa jurídica dos/as acusados/as. Ainda segundo a nota, foram presos 64 adultos/as e 20 adolescentes apreendidos/as. Desse total, várias pessoas foram autuadas com base na nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013), aprovada em agosto desse ano, um mecanismo de criminalização das grandes manifestações deflagradas a partir de junho em todo o país.  

Ao menos um manifestante foi atingido por tiros de arma de fogo. Rodrigo Gonçalves Azoubel, de 18 anos, relatou que participava do ato na Avenida Rio Branco, quando percebeu que os braços estavam sangrando. Segundo o hospital, ele passou por cirurgia e está bem. Além disso, o acampamento ‘Ocupa Câmara’, que estava há cerca de dois meses pacificamente na escadaria da Câmara de Vereadores, foi destruído pela PM e os pertencens jogados num caminhão da COMLURB. Há relatos de muita violência na dispersão do acampamento, onde manifestantes que estavam parados no local foram cercados por grande efetivo de policiais de diversos batalhões, incluindo BOPE, CHOQUE e Operações com Cães. Os manifestantes foram revistados e detidos em massa de modo arbitrário.

Consideramos a ação da polícia na manifestação pela educação uma severa afronta aos direitos da população. Os governantes, em lugar de dialogar, tratam com violência e arbitrariedade a luta por direitos. Vale lembrar que o Rio tem uma das polícias mais violentas do mundo. Assassinatos pela polícia e desaparecimentos forçados continuam, como exemplifica o caso de Amarildo de Souza. Atualmente, as forças de repressão atuam com uma forte política de militarização e controle armado do cotidiano da cidade. O Estado não acaba com o controle territorial das milícias, especialmente na Zona Oeste, enquanto nas áreas valorizadas se utiliza da ocupação militar dos territórios a partir das UPPs e reprime com violência a todos que não se enquadram na ordem estabelecida pelos interesses dos grandes negócios: população em situação de rua, trabalhadores/as ambulantes, manifestantes etc.

Na cidade que sediará grandes eventos mundiais, a população está coagida a não ir para as ruas reivindicar seus direitos, mesmo perdurando uma realidade em que a educação pública é precária, acomodada a uma estrutura de desigualdade social e racial. O Estado se nega a dialogar com a população ao mesmo tempo em que adquire cada vez mais armamentos, consumindo recursos significativos do orçamento público. Um exemplo disso é a previsão da ampliação do uso das armas “não letais” pelos agentes do Choque de Ordem a partir de 2014, o que foi barrado liminarmente na 22ª Câmara Cível, dada a inconstitucionalidade da medida. Não precisamos de uma cidade cada vez mais armada, seja por caveirões, fuzis, balas de borracha, teaser, gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Nossos problemas sociais só se resolverão quando a população tiver seus direitos respeitados. Armas não garantem direitos, pelo contrário, têm gerado violência, mortes e arbitrariedades, fazendo nos lembrar os não tão distantes tempos de ditadura civil-militar.

Apesar da truculência policial e autoritarismo dos governos Cabral e Eduardo Paes, mais uma vez a história mostra que lutar vale a pena. Após as mobilizações, o Supremo Tribunal Federal concedeu uma liminar ao SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro) que impede o desconto de greve nos salários dos profissionais da rede estadual. O governo estadual ficou proibido de efetuar o corte dos vencimentos dos grevistas e a decisão valerá pelo menos até 22 de outubro, quando haverá uma nova audiência entre o governo e o sindicato. Além disso, o Tribunal Regional do Trabalho de Brasília concedeu uma liminar suspendendo a cassação do registro sindical do SEPE, outra ameaça que o sindicato sofria frente às mobilizações. 

Apoiamos a luta dos profissionais da educação e daqueles e aquelas que lutam por seus direitos. A violência de Estado sistemática que vivemos no Rio precisa ter fim e nossas reivindicações, com milhares de pessoas nas ruas, respeitadas e atendidas! Chega de autoritarismo dos governos e truculência policial no Rio de Janeiro!

 

CAMTRA – Casa da Mulher Trabalhadora

ASDUERJ – Associação de Docentes da UERJ

DCE – UFRJ

CEVIS – Coletivo de Estudos sobre Violência e Sociabilidade/UERJ

Cidadania e Imagem/UERJ

Círculo Palmarino Rio

CMP – Central de Movimentos Populares

COLIG – Coletivo Ilha do Governador

Comitê Popular Copa e Olimpíadas – RIO

CZOII – Coletivo de Resistência Popular Zona Oeste II

DDH – Instituto de Defensores dos Direitos Humanos

Fórum de Juventudes RJ

Fórum Social de Manguinhos

Growroom

Grupo de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola

IFHEP – Instituto de Formação Humana e Educação Popular

Laboratório Cidades/PPCIS-UERJ

LeMetro/IFCS-UFRJ – Laboratório de Etnografia Metropolitana

Mandato do Deputado Federal Chico Alencar (PSOL/RJ)

Mandato do Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL/RJ)

Mandato do Vereador Renato Cinco (PSOL/RJ)

Mandato do Vereador Eliomar Coelho (PSOL/RJ)

Mandato do Vereador Paulo Pinheiro (PSOL/RJ)

MLM – Movimento pela Legalização da Maconha

MNLM – Movimento Nacional de Luta pela Moradia

Núcleo Anticapitalista 1º de Maio

Núcleo de Direitos Humanos – PUC/RJ

Núcleo de Estudos Constitucionais – PUC/RJ

Núcleo PSOL Largo do Machado

Núcleo Socialista de Campo Grande

Observatório das Metrópoles (IPPUR/UFRJ)

Organização de Direitos Humanos Justiça Global

PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul

PCB – Partido Comunista Brasileiro

Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência

 

Mais assinaturas enviar para: contato@global.org.br

Das Contradições #issonãoésobreoblackbloc

cartaz-2006_652x408A discussão sobre Black Blocs, processo repressivo pelo estado e até sobre dialética, contradição capital/trabalho ou capital/natureza, tudo, absolutamente tudo, tende a uma lógica binária que passeia desde as intervenções de esquerda até as dificuldades interdisciplinares de entendimento entre as ditas ciências “naturais”, objetivas, e as ciências “humanas”, subjetivas.

Todos este processo acaba migrando para uma miríade de contradições que não raramente tende ao binarismo puro e simples, à lógica opositora, cuja centralidade acaba sendo um problema de ocupação de espaço e da lógica até política de entender-se pela alteridade radical.

2013061837627Para se opor ao “velho” sustenta-se o “novo”, para se opor à “naturalização” sustenta-se a “fluidez”, todos os pontos de intersecção por vezes são atulhados de explosivo plástico, retórico inclusive, que não ajuda muito na medição humana e textual disso que simplificamos ao chamar de “realidade” e portanto da diversidade de percepções deste mesmo real construídas pelo humano, pelo diverso.

Além do mar de jargões situantes de cada grupo em seu nicho de existência/atuação, que por vezes impede a compreensão de quem não nada naquele mar.

E ai temos o físico puto com o antropólogo que diz que a ciência é um “constructo social” e o antropólogo puto com o físico porque este defende a “objetividade” da ciência. As pontes entre ambos e a possibilidade tácita do termo para cada um ter o significado diverso e até antípoda, ou seja, o nº um entende “constructo” de um jeito diverso do que escreveu o nº dois, idem para o sentido inverso para o sentido de “objetividade”.

As problematizações diferentes de cada processo, de cada categoria, a lógica existente em cada grupo social e o peso para cada terminologia já renderem teses mil e permanecem rendendo, criando oposições onde não necessariamente existe.

Lute---Rubens-Gerchman---1967---foto-Rafael-Adorján-(3)[14]A ânsia de uma resposta definitiva para as contradições e até o anseio dialético de torná-las duais, quase maniqueístas, acabam ajudando muito. E ai temos a esquerda que não assume os Black bloc como parte dela pela necessidade de apontar a diversidade mais que o consenso, pela necessidade dual, maniqueísta de construir muros que separam e organizam taxionomicamente o mundo, que encaixotam, rotulam e apresentam pro mundo como “ó meu trabalho de feira de ciências!”.

Talvez isso ocorra pela lógica de mecanicismo marxista que torna a dialética uma ferramenta menos usada do que propagandeada e mais, não criticada, como fez Bakhtin, pelo ponto de vista de na busca de síntese a dialética atropelar a polifonia e portanto perder o fio da meada do mapeamento do concreto.

Se a crítica no âmbito da metodologia marxista em sua ciência por um marxista como Bakhtin já dava chabu, imagina se a colocarmos sob o ponto de vista político?

2013061837876Porque a dialética enquanto método de análise do concreto acaba por vezes indo no vício mecânico e taxionômico de ocultar o que é múltiplo em nome de uma síntese revolucionária dada, objetiva, com todas as problematizações do objetivo, que atropela qualquer consenso entre os diversos.

A luta de classes bradada aos quatro ventos, jamais é vista pelas possibilidades mil de ter sido transformada, como fenômeno histórico que é, pelo decorrer do tempo e pela complexificação do concreto, das relações humanas, de trabalho, da vida.

A contradição capital/trabalho, filha da luta de classes, jamais é analisada sob o ponto de vista da superação dos limites da exploração, da lógica dos direitos da natureza e do entendimento do agravamento da contradição para a gravidade da oposição capital/natureza ou capital/vida.

E como um resultado previsível, cria-se a contradição entre as contradições. De um lado ecossocialistas apontando para a critica ao avanço das forças produtivas, com crítica entendendo-se como análise fina, e marxistas tradicionais entendendo ser necessário ampliar o desenvolvimento das forças produtivas superando as contradições capital/trabalho sem olhar muito para o resultado disso no plano da vida muito além do humano.

Outro processo é o da dicotomia quase automática entre métodos díspares de luta para a transformação social.

Em vez de entender a profunda polifonia entre metodologias de ação em atos, manifestações ou mesmo de compreensão de intervenção política para a transformação radical do sistema se opta por criação de muros intransponíveis entre os diversos em nome de uma disputa cega em torno da construção de nichos de atuação política que se autointitulam radicais, mas não enxergam um palmo da raiz à frente do nariz.

Contradições-felipe-ret-Evandro-Siol-Rap-em-CartazE muitos se dizem marxistas, muitos se dizem utilitários da dialética, formadores de construções a partir de Marx, quando no máximo fazem é uma construção semirreligiosa de um marxismo morto-vivo, mecânico, pouco avesso à complexidade e mais adepto à simplificação grosseira.

A divergência em torno do processo revolucionário e da metodologia para chegar até ele leva à muita gente a criar regras rígidas que deveriam caber em situações díspares, mas obviamente não cabem e vem aia contradição mestra de todas: Marxistas supostamente dialéticos não aplicando ao concreto suas teses construídas no abstrato, dado que tomam por concreto um abstrato mitológico construído por Lênin em 1917. Ou seja, “Marxistas” mandando às favas a dialética, mas trabalhando com um idealismo hegeliano travestido de Marxismo fazendo trottoir como discurso de esquerda.

E é por isso a ojeriza aos Black Bloc, aos autonomistas, aos anarquistas e, por que não, aos indígenas, camponeses, quilombolas que por acaso nem entendem exatamente o que significa a palavra “Capitalismo” ou “latifúndio”, mas lutam contra ele num anticapitalismo de encher os olhos de alegria de quem tá ai não para bater palma pra maluco dançar festejando na seita o sucesso de um DCE, mas para superar um sistema que nos obriga a gritar: Ecossocialismo ou Barbárie!

2A lógica da construção de partidos hierarquizados, organizados militarmente em nome de uma revolução que funciona quase como um processo escatológico, mitológico e messiânico, um advento, uma espécie de apocalipse religioso e político, uma revolução que matou o velhinho inimigo que morreu ontem, acaba por solapar qualquer tipo de análise do real que vá além do vício, do mecânico.

Ler? Só Trotski, Lênin, Moreno, jamais Benjamin, Marcuse, Thompson ou qualquer marxista não dogmático, ou pior, sequer ler não-marxistas.

E é por isso que os Black bloc assustam, não por terem respostas, mas por serem perguntas, perguntas ácidas, dolorosas, que nos obriga a ir além do mecânico, além das contradições unitárias, duais, binárias.

Sobre os Black Bloc, professores e a miopia – Retratos de discussões no fervo

divu1Vou começar pelo início:

Não adiante escrever “Aos que se interessam pelo tema: o black bloc teve uma participação engajada, decidida, ativa e militante para criar as condições ideais que a polícia queria para reprimir e acabar com nossa manifestação” e depois dizer que não tá responsabilizando os BB, independente da ressalva feita antes, depois, durante, no meio, ou na transversal.

Se não quis dizer isso reescreva. Se não soube se expressar reescreva. Se não foi isso que quis dizer reescreva. É bastante simples, o resto é ou estar mais perdido que cego em tiroteio ou literalmente não entender patavinas ou ter a critica, ter escrito, culpar mesmo e não querer assumir com o ônus que isso acarreta.

Desculpem ser direto e reto, tem algumas questões que acho um tanto quanto complicado de estarem sendo ignoradas:

  1. O flagrante apoio que a base da categoria dos professores deu aos Black Bloc em assembleia com cinco mil pessoas no Rio.

  2. A quantidade de enquetes, esquetes, entrevistas, pesquisas que indicam que a população não tá recusando nada os BB.

  3. A quantidade de material problematizando os BB, seja em site, seja em artigo científico, etc.

sesc_festclown_2012-_palhaco_xuxuNão somos crianças discutindo no ginásio, somos militantes com responsabilidade política uns com os outros, com o partido, com os movimentos e ser simplista neste campo é levar ônus ao coleguinha do lado, ao partido e ao movimento e levar preços a quem não comete o mesmo tipo de equívoco/tem a mesma posição, etc.

Há uma nítida criminalização dos BB pela mídia/governos e tendo eco nos partidos da esquerda como PSTU/PSOL, sim, me desculpem, eu sei ler.

Retórica à parte, critica sobre a organização dos Black Bloc, fetiche de tática, etc, é uma coisa completamente diferente do que dar parabéns aos BB porque a polícia, essa entidade filha da puta de per si, mete a porrada, me desculpem. É como culpar o moleque de dez anos que chamou o totó que é um rotweiller com raiva pelo cachorro mordê-lo e à rua toda. A culpa é sempre, sempre, do dono do cachorro.

“A Origem histórica dos BB” é fundamental conhecer, é uma história e tem raízes em autonomistas marxistas na Alemanha dos anos 1970 e tem uma longa história e adaptações por onde passou e ao que parece aqui idem. Aqui inclusive tem mais organicidade do que o normal na Europa e se relaciona muito com as ocupações urbanas, conheço antropólogos que encontraram come elas em etnografias sobre ocupações urbanas.

downloadReduzir inclusive os BB às manifestações é equívoco, porque:

  1. Não são um grupo.

  2. Não funcionam somente em manifestações e tem relações menos com anarquistas, que os criticam, e mais com autonomistas marxistas.

  3. Criticar é necessário? Pra quem acha que deve ter crítica é, mas antes de mais nada criticar sem refinar é chutar tijolo.

  4. Tem de entender e tem de entender antes de mais anda que não é disputar com eles, mas disputá-los.

  5. E o problema médio das análises é exatamente a demarcação de diferença com eles como disputa com eles.

E ai me desculpa, vou pegar um dado de um amigo: análise de discurso no trabalho historiográfico me fazem ler com quase clareza absoluta a linhagem de uma declaração. É mais que “intelectualismo” é meu trabalho e o eixo do discurso de parte da esquerda do PSOL e de companheiros do PSTU é muito similar e sim, demarcam para estabelecerem locus político diferenciado, só que partem de uma série de equívocos e artifícios retóricos para estabelecerem estas diferenças menos por entendê-las e mais pela necessidade de disputa.

E sim, não adianta dizer que a culpa é da repressão, mas os BB provocam… esse é igual ao discurso da Maria do Rosário, igualzinho..

Falar de junho sem dizer que os BB participaram é piada. Dizer que “A direção do ato foi” é piada.

imagesPorque se a gente for tratar assim vou mais longe: como é que a gente situa junho fora das rebeliões indígenas de 2012 pra cá?

Como a gente situa Junho sem a Aldeia maracanã, detonada na ensecadeira do Xingu,etc?

Como a gente situa 2013 fora do esteio da ação direta do MST na Aracruz que detonou o laboratório? As rebeliões de favela, Resistência em Pinheirinho?

Como a gente situa junho, ontem, anteontem, Rio, SP, PA, Fortaleza, Recife, fora da ampliação da militarização das polícias, do aumento da morte da juventude negra, do aumento de mortes no campo, da maior precarização do trabalho dos jovens da periferia, do resultado dos primeiros formandos das universidades da Era Lula após a “inclusão” de milhões de jovens que esperavam uma vida melhor após se formarem na universidade?

O problema é a tática? O problema é a ação direta? o problema é o momento da ação direta ou o processo?

Gente, sem olhar o maldito processo histórico e pegando recuos de médio a longo prazo, analisando o hoje a partir do possível arco de influências prévio, da história da tática, do histórico da “direção” de movimentos, do papel e da inserção do PSOL, PSTU, PT, da crise de representatividade da esquerda como um todo, e não tô falando de mensalão e corrupção, a gente vai virar girando que nem peru pré-abate.

Sem olhar o processo histórico vamos fazer como aquele “Marxista” de galinheiro que diz que a greve dos professores é de direita porque contesta um governo “de esquerda” incapaz de resolver o problema da liquidação da educação para o mercado e que aliás concorre como sócio da privatização da educação não só como governo federal, mas como governo estadual e municipal.

Condenar os Black Bloc optando por uma busca frenética de diferenciação como tática de ocupação de um espaço cuja motivação de existência tá muito além da ação direta em si é como culpar o furacão por devastar uma cidade, cagando pro aquecimento global e pelo fato do uso de combustíveis fósseis ser diretamente influente na sua ampliação.

Pensemos amplo, pensemos além, saiamos do simples, do simplório, do que tá só agora.. Vamos ser Marxistas?

images (1)É fundamental ter menos fome de certezas e mais lidar com dúvidas constantes e elencar o maior número de quadros e dados possíveis no liquidificador do concreto abstrato para depois voltar pro cotidiano no tal movimento dialético e ver qualé. apostemos mais, apresentemos discordâncias, dúvidas. Digamos que não temos certeza se concordamos com a tática, mas entendemos o que leva a existir os BB e entendemos que o BB é mais resultado do que causa.

Se queremos mesmo revolução, quando ela vier vamos dizer que não compactuamos com depredações? Vamos reconhecê-la?

A Esquerda, os Black bloc e a mídia

green-bloc-black-bloc-g8-rostock-2007A esquerda gira qual a pomba e se perde no próprio critério da análise do que lhe escapa enquanto força motriz de movimentos e ação. As análises sobre os Black Bloc circulam no eixo “A mídia os usa para nos desqualificar” e “lhes falta organicidade, lhes falta estratégia, lhes falta centralismo”.

O medo pânico do não entendimento do que flutua e foge dos códigos tidos como aceitáveis pela forma-partido tradicional é primo-irmão do entendimento que o socialismo está automaticamente na vanguarda do mundo, ou seja, o socialista é antes de tudo prafrentex.

imagesSó que não,né? O socialista é gente e o socialismo tem quase duzentos anos, portanto parte dele criou craca, apesar dos esforços do Papai Noel do Socialismo, ele, o Marx, em criar uma metodologia de análise da sociedade e do capitalismo que pela dialética fosse de certa forma “auto-limpante” ou imune aos efeitos do tempo. Ao menos outros marxistas como Benjamin, Thompson, Marcuse, Foster,  Bensaid, Lowy procuram fazer de Marx mais do que um pré-Lênin criador da solução final teórica.

No entanto a gente fica em um movimento cíclico de citação do uso dos BB para desqualificação de movimentos, da falta de organicidade, do papel ameaçador que tem para os partidos, que em tese seriam o sujeito da revolução por excelência,etc e tal sem no entanto que o cerne  da questão Black Bloc seja corretamente trabalhado. E quando digo corretamente digo que a própria lógica do que são os BB tá sendo distorcida e não posso, nem acho que nenhum socialista deva, se posicionar com a qualificação dos BB que a mídia conservadora faça.

QUEBRA-QUEBRA-440x293E eu não consigo compreender como “as ações dos Black Bloc” seja vista desatrelada do objetivo tático deles dentro das manifestações: Interromper o avanço das forças de repressão NAQUELE ATO/MANIFESTAÇÃO.

Fora que a repetição ad infinitum do uso que a mídia faz dos BB para desqualificar atos/manifestações da categoria a ou b contém o que ouso chamar de uma ingenuidade atroz. Porque qualquer luta/manifestação/ato que atue de forma contra hegemônica jamais vai ter simpatia da mídia ou vai ser alvo de qualquer objetivo da mídia que não seja a desqualificação. E se não tiver o quebra-quebra (Que no caso dos BB é uma ação consciente de desvio do foco da manifestação para eles com o fim de ajudar na dispersão do ato após violência policial), vai ser um “confronto” inventado, ou uma discussão entre professor e PM, alguma coisa, como tantas vezes ocorreu, como tantas vezes sabemos que existe,etc.

images (1)Nos atos da copa das confederações a PM sentou a porrada pela simples aproximação da área do Maracanã e no primeiro ato não teve nenhum quebra-quebra, mas os manifestantes “entraram, em confronto com a polícia que atuou para dispersá-los’ segundo a mídia.

A gente vai mesmo pautar nossas análises no beneplácito da mídia que atua, como bem disse Gramsci, em momentos de crise como partido da burguesia?

Quando citam os BB como um grupo esquecem que não é um grupo, uma organização na acepção do termo e enquanto for lido como tal (como se tivesse um objetivo estratégico/tático, organicidade,etc) e com o viés de qualificação deles como co-responsáveis pela desqualificação que a mídia faz de atos contra-hegemônicos, não vai ser entendido, sequer vai ser cheirado.

01 Arnaldo Antunes nao creia em tudoE digo mais o preconceito que está existindo nas análises diz demais de uma lógica que na verdade reflete a doutrinação midiática sobre atos/manifestações.

A Mídia é nossa inimiga, os BB não.

Sobre a Democracia Operária

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Ernest Mandel

 

16 de Novembro de 1968

 

 

Os lamentáveis incidentes ocorridos na ULB (Universidade Livre de Bruxelas), quando Garaudy aí foi falar(1), levam-me a explicar mais uma vez porque é que aderimos aos princípios da democracia operária.

 

A democracia operária foi sempre um princípio básico do movimento proletário. Era tradição do movimento socialista e comunista defendê-lo firmemente, no tempo de Marx e Engels, como no de Lenine e Trotsky e só a ditadura estalinista na URSS veio abalar tal tradição, contribuindo igualmente para miná-la a vitória temporária do fascismo na Europa Ocidental e na Europa Central. No entanto, as origens deste desafio à democracia operária são mais profundas e mais antigas: remontam à burocratização das grandes organizações operárias. A Social-Democracia e a burocracia sindical foram as primeiras a começar a minar os princípios da democracia operária. Começaram por convocar pouco frequentemente reuniões gerais de sócios; depois começaram a manobrá-las ou a suprimi-las totalmente e a restringir ou a abolir a liberdade de discussão e crítica dentro das suas organizações. Não hesitaram sequer em chamar em seu auxílio a polícia (e inclusive a polícia secreta) para combater minorias revolucionárias. Durante a primeira guerra mundial, a Social-Democracia Alemã deu um triste exemplo de colaboração com as forças repressivas do Estado. Nos anos subsequentes, tal exemplo foi seguido pelos Social-democratas de todo o mundo.

 

Primeiro a burocracia soviética, depois os burocratas dos Partidos Comunistas estalinistas (ou em sindicatos com direcções estalinistas) seguiram muito simplesmente o padrão estabelecido pelos Social-democratas, ampliando-o progressivamente. Aboliram a liberdade de discussão e de tendências. Calúnias e mentiras substituiram os argumentos e o debate com tendências opostas. Usaram sistematicamente a força física para impedir que os seus opositores «causassem algum dano». Assim, toda a velha guarda bolchevique que dirigira a Revolução de Outubro e a maioria dos membros do Comité Central de Lenine foram exterminados por Estaline durante os negros anos das Grandes Depurações (1935-38).

 

A jovem geração de militantes anti-imperialistas e anti-capitalistas que agora desenvolvem uma consciência revolucionária estão a regressar espontaneamente às tradições da democracia operária. Isto foi visível em França em Maio e Junho quando, nas assembleias de estudantes e de trabalhadores e estudantes revolucionários, foi zelosamente salva-guardada a liberdade de expressão de todas as tendências.

 

Mas esta nova geração nem sempre tem consciência das razões de princípio e das razões práticas da democracia operária.

 

Assim se explica a vulnerabilidade da juventude a uma espécie de demagogia derivada da estalinista, espalhada por certas seitas pró-chinesas que procuram fazer crer que a democracia operária é contrária aos «interesses da revolução». Por isso, é necessário reafirmar com força essas razões.

 

O movimento operário luta pela emancipação do proletariado. Mas tal emancipação requer a abolição de todas as formas de exploração a que os trabalhadores estão submetidos. Rejeitar a democracia operária significa muito simplesmente querer manter uma situação semelhante à actual, na qual as massas trabalhadoras não são capazes de fazer ouvir as suas opiniões.

 

A crítica marxista à democracia burguesa parte da ideia de que tal democracia é apenasformal, uma vez que os trabalhadores não possuem os direitos que as constituições burguesas garantem formalmente a todos os cidadãos. A liberdade de Imprensa é mera formalidade, enquanto são apenas os capitalistas e os seus agentes quem pode obter em conjunto os milhões de dólares necessários para estabelecer um jornal diário.

 

Mas a conclusão que se tira desta crítica à democracia burguesa é obviamente a de que devem ser criados os meios que possibilitem que todos os trabalhadores tenham acesso aos «mass média» para difusão das suas ideias (imprensa escrita, comícios,. rádio e televisão, cartazes, etc.). Se, pelo contrário, se concluir que só um auto-proclamado «partido dirigente do proletariado — ou mesmo uma pequena seita que declara ser a única «genuinamente revolucionária» — tem o direito de falar, de utilizar a imprensa, ou de propagar as suas ideias, então corre-se o risco de fazer aumentar a opressão política dos trabalhadores, em vez de a abolir.

 

Os estalinistas respondem muitas vezes que a abolição do sistema capitalista é igual à emancipação dos trabalhadores. Concordamos em que a abolição da propriedade privada dos meios de produção, da economia baseada no lucro, e do Estado burguês são condições essenciais para a emancipação dos trabalhadores. Mas, ao dizermos que são condições «essenciais», não queremos dizer que são condições «suficientes». Porque, uma vez abolido o sistema capitalista, levanta-se o problema de saber quem vai dirigir as fábricas, a economia, os municípios, o Estado, as escolas e as universidades.

 

Se um único partido reclama o direito de administrar o Estado e a sociedade; se impõe pelo terror um monopólio do poder; se exclui os trabalhadores da administração — então desenvolve-se inevitavelmente um fosso crescente entre a burocracia omnipotente e a massa dos trabalhadores.

 

Então, a emancipação dos trabalhadores não passará duma mentira. E sem a verdadeira democracia operária em todos os campos, incluindo a liberdade de organização e de imprensa, é impossível a verdadeira emancipação dos trabalhadores.

 

Estas razões de princípio são reforçadas por outras razões de ordem prática. Como qualquer classe social histórica, a classe operária não é homogénea. Possui interesses comuns de classe, bem como interesses imediatos e históricos. Mas essa comunidade de interesses é tecida de diferenças de origem vária — interesses imediatos especiais (profissionais, de grupo, regionais, etc.) e diferentes níveis de consciência. Muitos estratos da classe operária não acederam ainda à consciência dos seus interesses históricos. Outros foram influenciados pelas ideologias burguesa e pequeno-burguesa. Ainda outros estão sobrecarregados por um fardo de derrotas e falhanços do passado, de cepticismo, ou da degradação causada pela sociedade capitalista, etc.

 

O sistema capitalista não pode todavia ser derrubado sem a mobilização de toda a classe operária, unida na acção comum contra ele. E apenas pode obter-se tal unidade na acção se os vários interesses especIais e os vários níveis de consciência puderem exprimir-se no seu interior e pouco a pouco forem neutralizados através do debate e da persuasão. Negar essa diversidade apenas pode servir para quebrar a unidade na .acção e para levar grupos sucessivos de trabalhadores à passividade e ao campo do inimigo.

 

Quem quer que tenha alguma experiência de luta sabe pela prática que as acções mais bem sucedidas são preparadas e conduzidas por meio de inúmeras assembleias, primeiro dos trabalhadores sindicalizados e depois de todos os trabalhadores abrangidos. Nessas assembleias, podem desenvolver-se todas as razões favoráveis à luta, podem exprimir-se todas as opiniões e expor-se todos os argumentos da classe inimiga. Se se iniciar uma luta sem o benefício de tal democracia, haverá um risco muito maior de que muitos trabalhadores a observem desinteressadamente, se é que a observam.

 

Se isto é verdade para uma luta isolada, ainda mais se aplica a uma luta geral ou a uma revolução. Todas as grandes mobilizações revolucionárias dos trabalhadores — desde a Revolução Russa até à explosão revolucionária de Maio e Junho de 1968 em França e inclusive as Revoluções Alemã e Espanhola, para citar apenas alguns exemplos — foram caracterizadas por verdadeiras explosões de democracia operária. Aí coexistiram muitas tendências da classe operária, exprimiram-se livremente em discurso e na imprensa e discutiram perante toda a classe.

 

A palavra «soviete» — conselho de delegados dos trabalhadores — exprime essa união de opostos — a unidade dos trabalhadores na diversidade das suas tendências. No Segundo Congresso dos Sovietes Russos, que tomou o poder na Revolução de Outubro, havia uma dúzia de tendências e partidos diferentes. Cada ataque repressivo a tal democracia operária — por parte da Social-Democracia na Alemanha, dos Estalinistas em Espanha — pressagiou, quando não exprimiu, um retrocesso ou derrota da revolução.

 

A ausência de democracia operária não só dificulta a unidade na acção, como obstrui a construção de uma linha política correcta.

 

É verdade que o movimento operário possui um excelente instrumento teórico capaz de o guiar nos meandros e viragens muitas vezes extremamente complicados das lutas sociais e políticas — o marxismo-revolucionário. Mas tal ferramenta deve ser usada correctamente. E ninguém tem o monopólio da sua correcta aplicação.

 

Marx e Lenine foram gênios, sem dúvida alguma. Mas a vida e a história colocam incessantemente problemas novos que não podem ser resolvidos simplesmente por um regresso às escrituras. Estaline, considerado «infalível» antes da sua morte por muitos comunistas honestos, cometeu na verdade muitos erros, para não dizer muitos crimes, alguns dos quais — como é o caso da política agrícola — tiveram consequências funestas durante três décadas para todo o povo soviético. Mao Tsé-Tung, que outras almas ingénuas consideram igualmente «infalível», subscreveu a política de Aidit, o chefe do PC indonésio, até à véspera do golpe de Estado militar. Tal política foi responsável pelo menos em parte da morte de 500 000 comunistas e trabalhadores indonésios.

 

Quanto ao mito de que o comité central de um partido «tem sempre razão», ou de que a maioria desse comité «tem sempre razão», o próprio Mao a rejeitou na célebre resolução aprovada pelo CC do PCC (Partido Comunista Chinês) acerca da «revolução cultural», em Abril de 1967.

 

Mas, se nenhuma pessoa ou grupo tem o monopólio da verdade e da sabedoria, éindispensável a discussão para determinar uma linha política correcta. Recusar a discussão sob qualquer pretexto (e o pretexto de que um opositor político é contra-revolucionário» ou «um agente do inimigo» é tão velho como a burocracia), ou substituir o debate por epítetos ou pela violência física significa condenar-se a permanecer vítima de idéias falsas, análises inadequadas e erros, com consequências debilitantes se não catastróficas.

 

Diz-se muitas vezes que o marxismo é um guia para acção. E é certo. Mas o marxismo distingue-se do socialismo utópico pelo seu apelo à análise científica. Não se concentra na acção «per se». Concentra-se na acção capaz de influenciar a realidade histórica, capaz de transformá-Ia numa dada direcção – na direcção da revolução socialista, rumo à emancipação dos trabalhadores e de toda a humanidade.

 

Do embate das ideias e tendências, emerge a verdade capaz de servir de guia para a acção. A acção inspirada pelo pensamento «monolítico», livresco e infantil – que não se submete à crítica desinibida, apenas possível num clima de democracia operária – está condenada ao fracasso. Só pode resultar, no caso de pequenos grupos, na desilusão e desmoralização individuais; no caso de sindicatos e de partidos maiores, em derrotas para a classe; e, no que diz respeito à massa dos trabalhadores, em derrotas com uma longa sequência de humilhções, privações e empobrecimento, se não de baixas.

 

Estes argumentos a favor dos princípios e da prática da democracia operária são muitas vezes contrariados nos círculos estalinistas pela afirmação de que a democracia dos trabalhadores não pode ser alargada aos «inimigos do socialismo» dentro do movimento operário. É curioso que certos grupos que se proclamam antiburocráticos e muito de esquerda seguem uma linha semelhante para vaiarem e assobiarem ou para recorrerem à violência física, em substituição do debate com os seus opositores políticos.

 

Os estalinistas e os ultra-esquerdistas gritam: «Não se discute com os revisionistas, com as forças capitalistas e representativas do inimigo». Na prática, os estalinistas tentam substituir o debate pela repressão, quando não pelo assassinato e pelo uso de tanques militares contra os trabalhadores (desde os Processos de Moscou até à intervenção na Hungria e na Checoslováquia). Os ultra-esquerdistas limitam-se mais modestamente a impedir que Garaudy fale, sem dúvida até ao dia sonhado em que poderão usar de meios mais «efectivos», modelados sobre os dos estalinistas…

 

Claro que as burocracias da classe operária agem objectivamente no interesse do Capital, essencialmente canalizando as explosões revolucionárias periódicas dos trabalhadores para soluções reformistas, bloqueando assim as oportunidades do derrube do capitalismo. Desempenham o mesmo papel, influenciando os trabalhadores no alicerçar diário da colaboração de classes, minando a sua consciência de classe com ideias provenientes do mundo burguês.

 

Mas a função objectiva e o papel dessas burocracias não se confinam à manutenção da paz entre as classes. Prosseguindo as suas actividades reformistas de rotina, entram em conflito com os interesses diários do capitalismo. Os aumentos de salários e as leis de segurança social alcançados pelos reformistas, em troca do seu compromisso de manter as reivindicações operárias dentro de limites que não ameacem as bases do sistema reduzem até certo ponto os lucros capitalistas. As organizações sindicais que dirigem introduzem a força colectiva do trabalho nas relações diárias entre patrões e trabalhadores. Como consequência, esses conflitos têm hoje resultados totalmente diferentes dos do século passado, quando a força dos sindicatos era débil ou inexistente.

 

Nos períodos em que a economia capitalista é florescente, a burguesia está de acordo em pagar o preço que representam essas concessões, a troco da «paz social». Mas, quando a economia capitalista fraqueja, essas mesmas concessões tornam-se rapidamente inaceitáveis para a burguesia. Então, é interesse dos capitalistas eliminar totalmente tais organizações, mesmo as mais moderadas e reformistas. A própria existência dos sindicatos torna-se incompatível com a sobrevivência do sistema.

 

Isto mostra a verdadeira natureza da burocracia reformista no movimento operário. Essa burocracia não é composta de proprietários de capital que comprem força de trabalho para se apropriarem de mais-valia. É constituida por empregados assalariados (das organizações dos trabalhadores ou do Estado) que vacilam e oscilam entre o campo do capital e o do proletariado, inclinando-se umas vezes para um, outras vezes para outro, conforme os seus interesses particulares e das pressões a que são submetidos. E, enfrentando o inimigo de classe, os trabalhadores de vanguarda têm todos os motivos para fazerem o máximo para forçar esses burocratas a regressarem ao seu campo. De outro modo, a defesa comum seria grandemente enfraquecida.

 

O desprezo por estas verdades elementares conduz às piores catástrofes. O movimento operário aprendeu-o à sua custa durante o ascenso do fascismo. Nessa época, o «genial» Estaline inventou a teoria do «Social-Fascismo». Segundo essa teoria, não haveria qualquer diferença entre os «revisionistas» social-democratas e os fascistas. Proclamou-se mesmo que a Social-Democracia tinha de ser derrotada antes de poder ser ganha a luta contra os nazis.

 

Enquanto os trabalhadores social-democratas e comunistas se batiam alegremente — os dirigentes reformistas compartilham esta responsabilidade, na época, com os seus correspondentes estalinistas — Hitler ascendia ao poder, mascarava milhares de militantes operários e dissolvia todas as organizações operárias. E, assim, tornava possível a temporária e um tanto amarga reconciliação entre os social-democratas e os comunistas… nos campos de concentração. Não teria sido melhor, sem qualquer concessão à luta ideológica contra o revisionismo, lutar em conjunto contra os nazis e impedi-Ios de tomarem o poder?

 

Numa escala infinitamente menor e menos trágica, a situação na universidade pode levar a um dilema do mesmo tipo, durante esta noite. Todas as tendências de esquerda lutam para que seja reconhecido o seu direito de realizar «actividades políticas» dentro da universidade. Mas é muito possível que a administração tome como pretexto os incidentes que rodearam esta visita de Garaudy para proibir toda e qualquer outra conferência política. Que outra via há então que não seja lutar em conjunto para obter uma liberdade política mínima na universidade? Não seria preferível respeitar de hoje em diante as regras da democracia operária, uma vez que elas são conformes aos interesses do movimento operário e do movimento de contestação estudantil?

 

Em 1957, em resposta à revelação oficial dos crimes de Estaline feita no 20º Congresso do Partido Comunista Soviético (que na altura ele aprovou), Mao Tsé-Tung sublinhou a necessidade de distinguir cuidadosamente a maneira de resolver as divergências no seio do povo — pela persuasão, discussão e experiência prática — e a maneira de proceder em conflitos com a classe inimiga. E nisso estava apenas a reafirmar implicitamente a necessidade de manter a democracia operária «no seio do povo».

 

Porém, esta distinção apenas tem sentido se apoiada em critérios objectivos. O inimigo são os capitalistas (e, em países menos industrializados, os proprietários de terras). O povo é a massa de produtos, os trabalhadores dos serviços e, nos países semi-coloniais, os camponeses pobres.

 

Se se substituirem estes critérios objectivos por critérios subjectivos («Quem quer que não apoie cada uma das minhas viragens tácticas é um capitalista e um contra-revolucionário, ainda que tenha sido Presidente da República Popular da China e vice-presidente do Partido Comunista Chinês durante 20 anos!»), então cai-se na mais completa arbitrariedade. Acaba-se, evidentemente, por apagar qualquer distinção entre contradições no seio do povo» e «conflitos com inimigo de classe», tratando aquelas cada vez. mais como estes últimos.

 

Claro que é impossível separar total e absolutamente na coisa e outra. É possível que haja casos marginais. Nós defendemos o debate franco em reuniões de grevistas. Não pensamos que tenhamos de restringir-nos à discussão polida com os fura-greves.

 

Em cada caso marginal, todavia, temos de distinguir os actos (ou crimes) das opiniões e tendências ideológicas. Os actos têm que ser provados e julgados de acordo com critérios claramente estabelecidos, bem definidos, do interesse dos trabalhadores (ou, depois do derrube do capitalismo, da legalidade socialista), de modo a impedir arbitrariedades.

 

A falta de distinção entre actos e opiniões apenas pode levar à extinção da democracia operária, baixando o nível de consciência e de mobilização dos trabalhadores e roubando progressivamente aos próprios revolucionários a possibilidade de orientarem a eles próprios politicamente.

 

 

Nota:

 

(1) Roger Garaudy (na época era ainda dirigente do Partido Comunista Francês) visitou a Bélgica em 5 de Novembro de 1968 para fazer uma conferência sobre Maio de 1968 em França, a pedido da União dos Estudantes Comunistas da Universidade de Bruxelas. Não foi surpresa para ninguém os estudantes radicais terem considerado como uma provocação uma conferência sobre tal assunto feita por um representante do Partido Comunista Francês.
De qualquer modo, no início da reunião, uma dúzia de maoístas, ostentando retratos do Presidente Mao, e de anarquistas, com uma bandeira negra, tentaram persistentemente e com bastante êxito impedir Garaudy de se dirigir ao público.
Seguiu-se um confuso debate no qual se misturou a questão de se dever ou não permitir que Garaudy tomasse a palavra com a questão de saber se tinha ou não existido em Maio e em França uma situação revolucionária.
Finalmente, maoístas e anarquistas puseram fim ao debate, expulsando Garaudy da sala de reuniões.
Este incidente levantou importantes questões acerca das normas do debate e comportamento democráticos, no seio da classe operária e do movimento socialista. Em resposta a algumas das questões levantadas, Ernest Mandel, escreveu um artigo sobre democracia operária, que foi publicado em duas partes nas edições de 16 e de 23 de Novembro de 1968 de “
La Gauche”.

Os Black Bloc, a ladainha e o chatolino

downloadBem, sob pena de ser chato e repetitivo: Os Black Bloc não são um movimento. Sem nenhuma tentativa de ironizar ou desqualificar o interlocutor: Me surpreende a dificuldade que parte da esquerda tem de entender que os Black Bloc não são um movimento e não possuem táticas que visem acúmulo pras lutas.

Além disso, os Black Bloc não necessariamente são os mesmos que quebram Bancos, pontos de ônibus e MacDonalds, embora em Seattle e Genova esse tipo de protesto tenha ocorrido por uma parte das pessoas que se organizavam no bloco preto, que é o que na verdade são os black bloc.

black-blocBlack Bloc é uma identificação externa de um bloco dentro de uma manifestação que se organiza de forma defensiva, de forma a impedir o avanço dos choques. A tática de movimento é ocasional, é organizarem-se a cada manifestação de forma a defenderem o resto do ato dos avanços das polícias. A lógica começou nos anos 1970 por autonomistas alemães, a maioria marxistas, e ganhou na Europa outras cores com adesão de anarquistas, anarco punks e punks, muitas vezes organizados também nas ocupações urbanas.

Nas manifestações antiglobalização dos anos 90/2000 se espalharam mundo afora e no Brasil começaram a aparecer.

À rigor os Black Bloc não tem diferença tática de queimar pneu em avenida ou quebrar cabine de pedágio ou ocupar terra ou ocupar edifício. E não tem nenhum tipo de acúmulo imediato pra luta. Qual o acúmulo pra luta teve a ação da via campesina em quebrar o laboratório da Aracruz ou dos índios do Xingu detonarem a ensecadeira do Rio Xingu na obra de Belo Monte? E como se define “Acúmulo pra luta”?

3d8facd6f2c20f669666e55e5ccc81b3_500A luta não é um banco onde só ações táticas diretas ganhas a partir do contrato adquirido pós-greve se acumulam na acumulação primitiva de capital político.

Na luta aspectos simbólicos se juntam com aspectos objetivos do cotidiano e da luta política e o que se busca aqui, no imediatismo que nos toma, talvez nos cegue para o que se ganha lá na frente.

E antes de mais nada o primeiro grande acúmulo pras lutas que os Black Bloc nos deram é nos tirar do imobilismo analítico e estanque, que aponta a ação direta como um câncer para um processo revolucionário amorfo e mezzo idílico que na maioria das vezes não passa de fantasia.

Junho gritou, junho avisou, outubro repete, mas quem ouve?

downloadOs Black Bloc, o “Vandalismo”, a proteção a uma lógica de que a ação violenta “afasta” manifestantes, o medo de passar da linha que divide o bom moço que é palatável pro voto da vovó Donalda e o cara que apanha da polícia e a enfrenta, tudo isso reaparece a cada ação da política e da polícia que exigem irmos além do ramerrame intelectualóide e “tático” que permeia o mundo da esquerda, que ainda conservadora, tem medo do planeta, porque o planeta tira votos.

A Esquerda ai se arvora de Super Nanny dos “rebeldes e irrefletidos ativistas quebradores”, tratando quem tá na rua como mulas que precisam do genial guia dos povos. A esquerda se coloca como defensora de uma lei que a Polícia não anda seguindo ou respeitando na hora de jogar bomba de gás.

untitled-3A lógica do PSTU, infelizmente, reaparece em textos cuja leitura limitada da relação entre as pessoas, o povo, e os BB, é uma leitura inclusive mais próxima da leitura classe médianovista do que do povo, povo mesmo. Ao tomarem pra si a lógica de que os Black Bloc tornam-se barreira à chegada de mais gente nos movimentos e manifestações, ao fomento da atividade política das masses, muitos analistas são como o jornalista que briga com a imagem ao escolher interpretar quem quebra banco como “vândalo” e não como resistente à polícia e à política que quebra gentes, trabalhadores, etc. Não há diferença ai entre o militante da Esquerda com medo e o jornalista que chama de confronto o massacre que as polícias fazem dos trabalhadores.

Primeiro porque o povo quebra, e quebra mesmo, as estações de trem do Rio quando sofrem as contínuas paradas da Supervia são quebradas, nas ruas o que se houve é que se entende o emputecimento que leva à depredação de bancos e vidraças, pontos de ônibus em um estado de coisas onde as pessoas são tratadas como gado. E o quebra-quebra não é exatamente um elemento novo na história dos cansaços e manifestações da população carioca e Brasileira. As estações de trem e barcas que os digam.

download (1)Os professores por exemplo, abraçaram os BB, os entenderam, e primeiro, entenderam que os Black Bloc não são e nunca foram exatamente os mesmos que depredam, sendo muito exatamente quem fica na frente do batalhão de choque quando este avança, pro resto da massa poder se proteger. E isso é historicamente sabido e comprovado, é repetido ad infinitum, mas se opta por cair, mesmo pessoas das mais preparadas, no senso comum que envolve os analistas dos adeptos da tática.

imagesE quando se chama os Black Bloc de vanguarda, o que se mostra é uma leitura formatada pro esquemas rígidos imutáveis para uma esquerda teoricamente reduzida a igrejas teóricas cegas, surdas, mudas e meio mancas. Até visualmente os BB são retaguarda, até na tática militar os BB são retaguarda. Essa lógica de são uma vanguarda e de que existe uma vanguarda que pensa como tática política para o assalto ao poder uma tática de resistência EM manifestações, revela um problema analítico grave, porque não situaliza a questão, não organiza a análise em torno do objeto específico dela, mas generaliza a partir de uma espécie de sobrevoo universalista.

images (2)Diante disso a brecha para a criminalização, se não legal ao menos política, é dez merréis pra ter. E exatamente porque coloca os BB e toda ação direta como uma barreira à organização popular. É? Vamos mesmo cometer o mesmo erro da esquerda francesa diante dos quebradores de carros dos subúrbios do país que reagiam à violência popular e tomaram o ato como tática de resistência?

images (1)Vamos ignorar os alvos das depredações? Que quando raramente fogem de Bancos e revendedoras de automóveis são abrigos de pontos de ônibus e automóveis, símbolos gritantes do capitalismo e da cultura de consumo que atinge a população no acirramento do desejo, mas jamais os permite passear no céu da obtenção de bens supérfluos que Bancos e Indústria automotiva esfregam nas suas fuças?

E será mesmo que a gente precisa relembrar os companheiros que foi exatamente após confrontos entre políticas e “vândalos” que a luta acirrou? que um milhão forma às ruas? Que até os mesmos profissionais de educação citados no texto gritaram ontem “Black Bloc é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo”?

Junho ensinou mais, muito mais, aprender deveria ter sido um dever.

Educação para professar a mudança

black-bloc-rio-de-janeiro-20130812-30-size-598O ar é sólido, irrespirável, arde, arde em quem está nas praças e em quem assiste de casa.

O ar é pesado, é duro, é nitidamente absurdo, concreto.

Essa é a sensação do desgoverno autoritário que vivemos no Rio de Janeiro, do desgoverno abraçado à Abril Educação, Fundação Roberto Marinho, acobertado pela mídia, pela covardia do PT local e nacional, pelas alianças, pelas amizades, pelas empreiteiras, pelas ânsias, pelas máquinas.

Essa é a sensação de quem vê governos optando por pagar ao professor quase o mesmo que pagam em cada bomba de gás lançadas sobre manifestantes, educadores, merendeiras, e isso independente de serem agressivos espantalhos mascarados ou mulheres, homens, jovens ou não, professores acampados, pacificamente acampados e exercendo o direito constitucional de manifestarem-se.

Essa é a sensação de quem vê a omissão do ministério Público do Rio de Janeiro, do Ministério Público Federal, de lutadores e lutadores, ou ex-lutadores e ex-lutadoras, que optam conscientemente pelo cálculo eleitoral que sustenta esta máquina de absurdos que emulam ditaduras.

O ar é pesado, o ar é rígido, o ar é de luto e de luta, mas uma luta que cria raivas, raivas que separam, raivas que juntam.

caetano-veloso_black-blocJá disse o poeta Aldir Blanc: “A fome tem de ter raiva para interromper, a raiva é a fome de interromper, a raiva e a fome é coisa dos home”.

E é essa raiva que se espalha, nas velhas ruas vacinadas de revoltas, pelas velhas ruas vacinadas por baterem-se contra almofadinhas “modernizantes”, contra soldados, contra marmanjos fardados, contra vidigais, contra miliciais e sargentos.

“A fome tem de ter raiva para interromper” e a raiva cresce.

O chão da Cinelândia cheira a pimenta, pimenta que verte sangue e que no sangue verte força. Força que verte mudança e a cada mudança o grito ecoa.

Ouvimos as vozes que nos dizem que o Rei está nú e por isso é chegada a hora da reeducação de alguém.

Solidariedade à Policiais militares? Passa amanhã

meninaA Policia Militar é uma organização filha da puta, desculpem o termo, mas é.

E mais, seus soldados ao serem cúmplices dos governantes e baterem em trabalhador tornam-se pior que cães amestrados.

Depois choram por solidariedade quando os seus morrem no combate à violência, a mesma violência que praticam usando farda, se igualando a bandidos. Não tem como ter solidariedade com quem nos violentas.

A diferença entre o bandido e o Policial violento é que o bandido não tem como obrigação zelar pelo cumprimento da lei, a ele não temos confiança, não lhes precisamos confiar, tampouco esperar que respeite nossos direitos.

O policial ao contrário, esperamos dele que zele por NOSSOS direitos e não pelo direito da propriedade, do lucro, de governantes ilegítimos.

Qual o que? O Policial militar além dos inúmeros casos de violência, corrupção, achaques, ainda nos violenta em nossas reivindicações mais legítimas, nos bate, nos joga spray de pimenta, gás lacrimogêneo, tudo sob o pretexto de “fazer cumprir a lei”, ou seja para “fazer cumprir a lei” a descumprem nos direitos fundamentais, fora que jamais “fazem cumprir a lei”, fazem cumprir a vontade de seus senhores.

E não citei aqui os assaltos cometidos por PMs, que não são isolados, os achaques, as duras em busca de migalhas do parco salário dos trabalhadores, o tapa na cara de adolescentes, especialmente negros, que ousam dizer que tem direitos, o assédio à mulheres por acaso detidas para averiguação, a organização de milícias para achacar a população sob o argumento mau caráter de “estamos combatendo o tráfico onde a lei não chega”….

Portanto caros soldados da Policia militar, eu lamento, mas não lamento quando vocês sofrem violência. Vocês são semeadores da barbárie, assassinos de direitos e também de vidas, é só olhar as estatísticas relacionadas à morte por ação da polícia, são assassinos do estado de direito, são tanto quanto s bandidos, agentes da barbárie.

Depois de ontem, especialmente depois de ontem, 28/09/2013, quando a PM invadiu a Câmara de vereadores do Rio de Janeiro e expulsou na porrada profissionais de educação, o policial militar é um inimigo do qual tenho tanto medo quanto tenho de bandidos. Evitar acionar a policia militar é mais que uma ordem íntima, evitar chamar, evitar contar com, e também não guardar solidariedade.

PMs ganham mal? é uma pena, mas como vocês optam por agredir quem luta também por melhorias de salários, acho que não precisam de nós, tampouco de nossa solidariedade: Vocês estão sozinhos.

A dimensão da utopia, a revolução e os novos Lênins

 Road_to_utopiaTratar de mudança política não é exatamente simples, tampouco receita de bolo. A dimensão da transformação tem tantas miríades de sentidos possíveis subjetivos a serem lidos em atos, palavras e movimentos, que a simplificação de um método ou de uma ideia de estado, ou de mesmo uma só ideia de revolução é delírio simplificador.

Se ler a realidade concreta fosse fácil e apontasse para um só sentido unitário não haveria desde sempre um mar de pensadores mundo e história afora, cada um com sua percepção de uma realidade, de uma verdade ou até da não-verdade.

A questão é que cada contexto histórico, cada conjuntura, aponta sinais identificáveis de novas formas que a multidão de gentes por vezes denominada “povo”, “massa”, “massona” ou “povão” (quase sempre por quem se aparta dela para defini-la com distância segura) interpreta se não o real a ruptura com o que entende como sistema ou peso opressivo de alguma realidade.

Cada contexto histórico traz suas insurgências, traz suas permanências, traz suas rupturas e conservações e é necessário que cada pensador ou militante que pretenda transformar este real lê-las, olhá-las nos olhos, preocupados menos com encontrar a verdade verdadeira única de todas as coisas e mais com antecipar minimamente uma tática de intervenção que consiga atrair o máximo de gente possível para oque defende como eixo de ações transformadoras.

É, amigão, to falando de convencer pessoas que tua tática revolucionária é o lance.

img_ju427-06bNeste contexto atual, por exemplo, o próprio questionamento da relação entre movimentos, partidos e ativistas com o cotidiano político é questionado. A própria relação entre os movimentos, as pessoas e a atividade política é jogada aos leões em busca de demolir concepções quadradas de vida, de militância, de relação com vidros, vidraças, mundo, ambiente, amor, mídia.

A dimensão contestatória não tá ai para fingir que não vê a frase maldita cheia de homofobia do sujeito que em tese diz que quer mudar o mundo.

A contestação, caras pálidas, não tá vestindo o fraque mediado do fanfarrão da esquina, tampouco o papo brabo de que “povão é assim”.

A contestação quebra vidraça do Itaú,a contestação arrebenta a secadora do Xingu, invade usina, ocupa Câmaras, derrete leninismos de salão querendo mais que conversinha nas terras Quilombolas, na avenida Paulista ou na praça onde Feliciano-RS prendem pessoas que se beijam em um espaço público ocupado por ele indevidamente em nome de uma só vertente de uma só fé, atropelando a laicidade do estado, atropelando a democracia de um estado cujo emblemático simbolismo de um Pastor Deputado (jamais um Deputado Pastor) chamando a polícia para reprimir lésbicas se beijando EM ESPAÇO PÚBLICO é eloquente.

street_art_24A contestação não trata a dimensão do sonho como um “Além da Imaginação”, uma “Twilight Zone” promovida por esquerdóides, amiguinhos. A contestação chegou à sala de aula, e não na cabeça de estudantes, mas na de professores precarizados em greve numa das principais cidades do país.

A contestação tá na rua derrubando um dos governadores centrais para a política do PT e para concepção de cidade mercadoria, de mundo mercadoria, de Brasil Grande neodesenvolvimentista com fome de petróleo, com fome de carbono, de escolas, de postos de saúde, de consumo que nos consome enquanto gentes a trabalhar doze, treze, quatorze horas para pagar os carnês das dívidas enquanto deixamos a vida no prelo.

A contestação pegou a dimensão do sonho gritando que não era por vinte centavos enquanto militantes amestrados pro revistas, blogs e sites de partidos acostumados com a cadeira acolchoada do poder dizia se tratar de Vândalos e Baderneiros.

imagesA dimensão do sonho voltou numa contestação mascarada que lei nenhuma vai desmascarar e enquanto isso ainda existem citadores compulsivos de Lênin procurando pelo em ovo pra justificar qualquer coisa em nome de mandatos acomodados, acostumados a pedir em vez de exigir, a criar espantalhos para a fome de moral e bons costumes de quem pede o fim da corrupção como se pedisse pães franceses na padaria mais próxima.

E enquanto a dimensão do sonho renasce com utopias múltiplas, dissonantes e polifônicas, como deve ser, a exigência de novos Lênins é clara, imensa, nítida. Mas exigem-se novos Lênins com menos fome por construir estacas fundadores de novos países e novos estados, mas canais para o fluxo contestatório passar derrubando represas.

São precisos Lênins que construam o diálogo, um diálogo amplo, que aprendam, que ensinem, que se joguem, que quebrem, que requebrem, que riam, que sambem, que ouçam a polifonia menos buscando a síntese perfeita e mais aprendendo que ruptura pode sim rimar com gostosura, com liberdade, com vontade e com verdades, sim com s, por muitas, imensas, gigantes, que nunca dorme, que se soltam noite afora quebrando tudo até a última ponta para derrubar Cabrais e outros ditadores mal-acostumados a achar que a voz das ruas é rouca, enquanto sempre foi doce.

images (3)São precisos novos Lênins prontos a divertirem-se recuperando a utopia, a dimensão do sonho em que Garibaldis, Bakunins, Marx, Engels fizeram a primavera dos povos.

Porque sempre precisamos de mais primaveras.