Entre o otimismo da vontade e o pessimismo da razão

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O Governo Jair Bolsonaro expõe as tripas da direita e da elite em praça pública, mas também expõe o imobilismo e a incerteza de uma esquerda que ao mesmo tempo que se organiza no âmbito institucional se fragiliza no espaço público, na rua.

E isso ocorre porque esta mesma esquerda nos mais variados graus prefere se esconder em ambientes controlados do que arriscar a disputa pelas consciências na rua.

Esse fenômeno já ocorreu a partir de 2013, quando parte da esquerda, inclusive a dita esquerda radical (De PSOL a PCO), preferiu criminalizar arroubos de ação direta destrutiva a discutir e disputar essa galera que quebrava vidraça.

Se preferiu, do alto de uma razão irracional e negacionista dos movimentos históricos, por água no moinho da criminalização, de processos, despolitização e violência policial contra os mais radicais (Parte dos socialistas, anarquistas e autonomistas) apostando numa manutenção no poder por inércia de uma ex-querda cada vez mais social-democrata (pra ser gentil) que fazia acordos pornográficos com a extrema-direita entregando anéis e dedos achando que o lulismo sozinho sustentaria dinastias de democratas com pendores sociais no Planalto.

À criminalização pelos discurso se seguiu a criminalização pela justiça, pela polícia, especialmente depois da mal explicada morte do cinegrafista Santiago, com uma nova geração de esquerda vendo novas lideranças não alinhadas à esquerda partidária ser presa, processada, ver a vida ruir e seguir sendo transformada em pária por tentar mudar o mundo.

De Gilberto Maringoni (PSOL-SP) e parte das correntes do PSOL atacando autonomistas e anarquistas (FIP, etc) como “Vândalos protofascistas” até Tarso Genro e Agnello Queiroz (governadores do RS e DF, respectivamente, eleitos pelo PT) enviando suas polícias atrás de ativistas (entre eles ativistas do PSOL), a folha-corrida que mancha a trajetória das esquerdas, com as digitais no esvaziamento da rua pela esquerda com sua ocupação pela extrema-direita, é algo continuadamente omitido pelos mais simplórios e rasos emissores de “análise” sobre as conjunturas, e que hoje acham lindo eximir Dilma de culpa pelo seu ocaso.

Não à toa há um coro de animação histérica sobre revoltas mundo afora e que adora Cânticos dos cânticos da euforia alucinada que repete “Não passarão” para o fascismo, enquanto eles não só passam como dão ré. O problema é que esse coro não rima com o movimento.

O grau de organização e organicidade dos discursos de redes sociais é perto de zero, e mesmo com o crescimento de organização e organicidade de uma revolta palpável nos partidos de esquerda(difícil medir em organizações autonomistas e anarquistas, mas apostaria que também está alta a procura de organização), isso não tem se refletido numa mobilidade de ação que mantenha essa galera entusiasmada.

E parte do problema é que se vende sonho, não se vende o trabalho e a organização necessária para agir e transformar.

Não é um fato incomum para a esquerda o discurso que alimenta “primaveras” não ir além do conversê pra organizar essas primaveras.

Porque transformar exige tocar em vespeiros (homofobia, racismo, machismo estruturais, por exemplo), e ninguém quer tocar em vespeiro e arriscar perder voto, ou poucos topam o risco.

Mais seguro gravar com o Quebrando o Tabu.

As manifestações pela educação foram maiores do que as contra a Reforma da Previdência e pouco se tentou aprender com isso. Pior, pouco se tentou avançar no debate sobre educação em si, pouco fomos além do debate que discute o quanto a universidade precista ir mais pra rua e divulgar sua serventia.

A questão é que a educação atinge todos e especialmente atinge uma galera em formação que mesmo tendo sido pega pela perna pelo Novismo liberal, percebe que a vida não é filme, você não entendeu, e foi pra rua discutir e disputar a necessidade de universidades públicas, porque sentiu na pele e isso lhes deu experiência, experiência que é a base da formação de consciência.

Já a Previdência é um campo onde a disputa está com quem já está às vésperas de se aposentar ou é adulto e tem convicções menos flexíveis com relação a seu dia a dia e seu futuro, convicções que por vezes lhe são deletérias.

A aposentadoria é, pros mais jovens, uma utopia, um futuro, que hoje quase não mais existe.

E o bombardeio sobre o quanto a Deforma da Previdência era necessária, é algo que beira os vinte anos e buscando exatamente sua destruição. Qualquer opinião que revelasse ser uma manobra de opinião pública tinha oitocentas dizendo que a esquerda era negacionista.

Destruir o ensino público ninguém vai dizer às claras como disse que era preciso destruir a previdência. E mesmo assim não conseguiram passar a capitalização.

A questão é que o fôlego da resistência via educação parou, e por quê? Porque parte dos atores que estavam envolvidos na não construção concreta da resistência à Deforma da previdência percebeu que perderia o controle da indignação se continuasse a apoiar os movimentos contra o desmonte da educação, pior, ainda comemora como vitória a manobra do Desgovenro Bolsonaro de, a dois meses do fim do prazo para sua utilização sem que isso impactasse no exercício de 2020, liberar recursos cortados em março.

Mas parou o fôlego? Não exatamente, apenas se reduziu e agora precisa de mais esforço para reavivar a chama, especialmente quando é visível que o neoliberalismo está nas cordas por conta dos movimentos de resistência no Equador e Chile.

Mas como lidar com isso se a esquerda via de regra prefere agir como coro de contente em rede social do que segurar o rojão de organizar, filiar, agir para concretizar seu aumento nos espaços possíveis.

Há interessantes campanhas de filiação, ao PSOL por exemplo, mas isso basta?

Não, porque é preciso existir ações públicas cotidianas que façam as pessoas se sentirem úteis, é preciso também curso de formação abertos e didáticos, com o cuidado de jamais se tornarem cursos de doutrinação (não dá pra confundir formação com proselitismo de dogma), e são muito precisos meios de ação de convencimento para além de divulgação de atos e ações.

Isso tudo é uma ideia de construção de organização partidária, há outros caminhos possíveis, e é didático pra evitar que militância se confunda com a enojante mistura de culto à personalidade com discurso esfuziante de uma alegria militante que nada faz além de divulgar um “Não passarão!” sem práxis que impeça o fascismo de passar.

Porque é disso que faz parte da militância, que confunde a necessária ação contra o desânimo, focada na nossa memória e nos nossos fetos, com uma falsa felicidade estagnada que não constrói porra nenhuma e ainda fica saudosa de péssimas experiências porque hoje estamos literalmente fudidos na mão de um presidente com banca de miliciano.

Não, amigos, não estamos vencendo. Estamos perdendo de um time ruim por 7×1, o gol que fizemos foi de honra e o fato de outros times estarem virando o jogo, ou perto de iniciarem a virada, não faz da esquerda do Brasil mais do que observadora enquanto a extrema-direita vem de novo ameaçar nosso gol.

A mobilização do Chile está vencendo a extrema-direita, mas é lá, não é aqui e não estamos fazendo muito para trazer aquela indignação pra cá, além de comemorar e chorar vendo a foto dos outros, enquanto mugimos “saudades do meu ex” e achamos Maia democrata.

Com o Desgovenro Bolsonaro em derretimento acelerado e sendo questionado por elite e direita, sentamos em cima do gol de honra marcado em março com nossas mobilizações pela educação e achamos que tá bom porque dá pra esperar de um a três anos (dá?) pra demover Bolsonaro de sua cadeira que mancha de óleo nosso litoral e a vida de pescadores e povos originários, amplia o número de feminicídios e crimes de ódio, queima a Amazônia e avança sobre terras indígenas.

Não adianta pedir a queda de Salles e Weintraub se o chefe deles poderá nomear outros dois canalhas.

Não adianta ter medo de Mourão ignorando que a bola da queda de Jair tá quicando na nossa frente e a gente tá deixando Maia e Toffoli o manterem no poder enquanto as digitais do assassinato de Marielle, rachadinhas e aparelhamento criminoso do poder avançam sem suar.

O otimismo da vontade do nosso discurso é delusional e tenta calar o pessimismo da razão que explicita nossa imobilidade.

Sim, a imprensa liberal erra ao dizer que a esquerda está parada na institucionalidade, porque nessa ela não está, mas acerta, sem mirar lá, pra dizer que ela tá omissa na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé,

Com exceção dos indígenas, povos originários, Sem teto e Sem terra, o restante da esquerda tá olhando pra ontem, e em vez de ser pra revolução Russa tá olhando pros governo Lula como se fossem o Reino Encantado de Aruanda.

A gente precisa do pessimismo da razão, porque estamos perdendo e o fato do time de lá ser ruim e o juiz ter cansado de roubar não transforma o resultado uma vitória.

Mas também precisamos de um otimismo da vontade real, que faça com que, mesmo com todas as tretas, a gente levante no dia seguinte e faça acontecer as organizações, os atos, as produções de conhecimento e programa, as ações necessárias.

O otimismo da vontade não é um alento pro pessimismo da razão, mas o combustível pra, de forma realista, transformar a realidade que faz a razão ver tanto pessimismo.

É fundamental sairmos do transe que sonha com a volta de Lula como nosso Dom Sebastião de Garanhuns e pormos em prática movimentos de organização e organicidade que permitam que a conjuntura mude e que ele possa ser o Dom Sebastião de Garanhuns pra quem precisa de um homem pra chamar de seu.

Temos que pôr em prática movimentos que permitam que saibamos quem mandou matar Marielle e porque Jair, Flávio e Queiroz estão desde sempre produzindo canalhice e fake news sobre ela.

Pra sairmos do transe é preciso construir meios de irmos pra rua, é preciso fazer banquinha com material, discutir no cotidiano, filiar gente, chamar passeata, cobrar as lideranças porque não estamos agora gritando “Fora Bolsonaro!” e estamos tentando derrubar ministro.

Há um latifúndio para nosso otimismo da vontade ocupar e há uma conjuntura violenta que o pessimismo da razão precisa ver.

E pra vencermos é fundamental agirmos com o primeiro, enxergando com o segundo.

Por uma consciência ambiental de classe

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Em um mundo onde debates são levados a cabo com uma frequência estonteante sobre os mais diversos e profundos assuntos, a questão ambiental chegar a ser reduzida a sentenças definitivas fugazes em redes sociais era uma questão de tempo.

E não é recente não, pelo menos desde o advento do Orkut os debates em torno de questões políticas e ambientais se reduzem muitas vezes ao soterramento do bom senso pela ecolocalização da razão (O popular ganho no grito).

Há tempos há uma (falsa) dicotomia entre a revolução socialista e a consciência ambiental, ou melhor, da consciência de classe e da consciência ambiental.

O que combate mais o aquecimento global? Andar de bicicleta e não comer carne ou fazer a revolução? Ambos e nenhum. Porque a transformação através de inciativas pontuais e a construção da revolução levam praticamente o imensurável mesmo tempo.

E nem vale a pena aqui o necessário debate sobre a própria ideia de revolução enquanto algo a ser construído, na direção oposta da necessidade da produção da consciência de classe e em que me alinho na ideia de que a segunda constrói a primeira e não o inverso e que a revolução é mais um corcel a ser cavalgado que um castelo a ser erguido.

A consciência individual das responsabilidades ambientais é bem vinda, mas se ela é só individual e só responsabiliza a si mesma ela não é exatamente uma consciência.

A consciência coletiva e de classe que entende que o capitalismo é o grande problema e que sem derrubá-lo não se resolve a questão ambiental também é bem vinda, mas também não é exatamente uma consciência.

A consonância transformadora de ambas as matrizes de consciência é, essa sim, a transformação necessária e consciente do mundo para que se organize uma transformação ecológica, ecossocialista, do globo para combater mais do que o aquecimento global, mas o próprio sistema capitalista e sua base ecocida e opressora.

Porque as inciativas individuais são absorvidas pelo deslocamento de demanda sem mudar um sistema cuja matriz predatória não negocia com a natureza. E as iniciativas que buscam construir algo objetivamente impossível de se dizer quando ocorre e que espera que esse evento quase religioso e escatológico que se tornou parte majoritária da defesa da revolução, também não resolve os problemas cotidianos que o sistema causa à ecologia , ao meio ambiente e a própria vida.

Andar de bicicleta sem comer carne, usando bolsas de PET pra evitar usar o plástico, separar o lixo, comprar mais orgânicos,etc, são elementos que sim são funcionais e necessários para serem demandas coletivas, mas não resolvem a maior parte das questões, nem mesmo as que atingem diretamente, quando mais se extrapolarmos o problema para as demandas da classe trabalhadora.

Andar de bicicleta como transporte alternativo funciona em cidades com um trajeto de curta quilometragem, cidades pequenas e médias. Em cidades grandes, metrópoles e megalópoles é praticamente inviável um sistema de larga escala de uso de bicicleta para o deslocamento.

Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, teriam que ter mais do que uma revolução urbana para que se transforme a bicicleta em alternativa. Mesmo em se pensando a integração bicicleta, trem e metrô. Há distâncias longas demais e a alternativa trem/metrô é em si uma alternativa com também, enorme queima de carbono, embora menor que carro/ônibus, por óbvio.

Reduziria o impactos ambiental e no aquecimento global? Sim e é uma medida que precisa se tornar política de estado, não apenas ações individuais, e que mesmo assim demandam longo tempo pra resolver.

Por que? Porque precisa ajustar ciclovias, construí-las e repará-las, organizar bicicletários, ampliar o acesso popular a bicicletas (que não sejam patrocínio de bancos), organizar as integrações modais de transporte, e por aí vai.

Só que sem mudar a centralização da produção econômica, a própria organização sistêmica onde os empregos estão em lados da cidade opostos à moradia dos que neles trabalham, ainda teríamos um enorme passivo ambiental e de pegadas de carbono.

A não discussão aqui da opção pessoal pelo andar de bike é de propósito, porque sem uma opção coletiva de política pública é como curar câncer com dipirona, pode rolar, mas é improvável.

As opções de consumo ou não de carnes vai pelo mesmo caminho. Sem políticas públicas de transformação da relação entre consumidor e produtos; Sem a descentralização da produção e com isso do consumo, com a ampliação das redes locais de produção e consumo em contraponto aos grandes mercados que absorvem mais e mais comidas processadas, produção em massa de carne, que impactam a vida animal e o ambiente, não se resolve nada em si. E o problema continua, a solução individual só aplaca consciências pesadas.

E eu nem entrei na questão do comer em si, como algo que vai além da opção política pelo alimento e de sua origem.

Por outro lado a própria ideia presente no coração da propagação da solução individual tem que estar presente na produção da consciência de classe, e com ela da revolução, porque ou ela é ecossocialista e caminha em sua construção lado a lado com a defesa de políticas transformadoras do capital ou ela não é digna do nome.

Uma revolução ou é ecossocialista ou não é revolução.

E por que? Porque não há sequer tempo de ignorar as questões ambientais com fundamentais pra estarem no coração do processo de transformação social.

E uma revolução ecossocialista não pode existir sem ser uma revolução interseccional, que levanta de forma ecológica a relação entre o capital e todas as opressões de gênero, identidade de gênero, orientação sexual, raça e classe.

A relação ecológica entra a ação política e a transformação do mundo é a única forma de produzir transformações coletivas que contenham em si uma consciência ambiental de classe.

Essa consciência ambiental de classe é a consciência que se extrai da experiência coletiva em que há uma correlação entre as opressões e a predação do ambiente, e isso envolve debate sobre racismo e machismo ambiental, incidência de doenças causadas pelo consumo de produtos processados como alimento e pela poluição em seus mais diversos níveis, de ampliação dos danos psicológicos advindos de um sistema de transporte massacrante e de uma carga e uma jornada de trabalho cada vez mais dura com um salário cada vez pior, de uma vida cada vez mais impactada por eventos extremos climáticos.

Discutir o uso da bike precisa ocorrer em paralelo aos motivos pelos quais é fundamental ter ciclovias dignas do nome, integração modal de transporte, melhor jornada de trabalho sem redução de salário, fomento a alimentação saudável com melhoria não só no alimento do trabalhador na jornada de trabalho (defesa de refeitórios nas empresas com comida balanceada), mas também na melhoria de alimentação de sua família. E também precisa discutir-se onde está o trabalho e a descentralização dos locais de trabalho que permitam que mais e mais trabalhadores atuem perto de onde residem.

E isso, amigos, não é nem o início do tanto de política possível de debater em torno dos temas levantados e que incluem processo de construção ecológica da consciência de classe.

A decisão individual é linda, mas inócua se não for uma decisão coletiva ou pelo menos se transformar em um debate coletivo que não tenha a aparência liberal da defesa da transformação um a um. A decisão precisa ser coletiva, e a meu ver como política de estado.

A transformação ecossocialista abre caminho para uma série de debates, mas eles precisam ter a unidade com o debate de classe ou morrem no berço.

Das Revoluções e dos ventos de golpe

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Há algum tempo me incomodam as falas que misturam o ser revolucionário a um tipo ideal de produtor de revoluções. Da mesma forma as Cassandras do mal maior, dos ventos devastadores das tragédias golpistas, cansam o observador com suas proclamas diárias da volta do Planeta dos Macacos.

Porque via de regra o que une os grupos é a tomada da História como um terreno dado, já lido, e cuja função eterna é produzir um mito do eterno retorno, como se a humanidade fosse uma espécie de Sísifo que no terreno da História se movesse apenas para carregar a pesada pedra da conjuntura até o topo para vê-la cair.

As revoluções nunca me parecerem produzíveis ou reproduzíveis de acordo com fórmulas estritas. E aqui tem uma não sistemática junção de leituras diversas da história e da teoria política pela esquerda.

De Marx a Thompson, de Ginzburg a Bookchin, de Natalie Davis a Michael Lowy, de Giovanni Levi a Daniel Bensaid, de Lênin a Trotsky, nunca consegui ler em nenhum dos que me influenciaram alguma forma de entendimento da revolução como uma obra passível de ser produzida, mas entendi-a como uma onda na qual quem estiver mais acurado na observação tende a possuir o caminho para liderar a navegação nela até o quebra-mar.

Claro, o problema pode ser o leitor, mas é um caminho de análise que sinceramente não consegue entender o tipo de dogmatismo que cita de cabeça trechos inteiros de Lênin, Trotsky e Marx e se recusa a analisar o processo dialético que faz com que seja impossível que a História se repita.

Não adianta citar o 18 Brumário de Luiz Bonaparte de Marx e depois ignorar o sentido da afirmação dele da História se repetir como farsa, ou seja, como uma falsificação histórica de um outro fato com fins simbólicos ou teatrais.

Neste texto ele constrói o significado de bonapartismo que nos leva a Bolsonaros e que tais como elementos que surfam em uma onda de popularidade organizada com específicos trejeitos de tragicomédia ou melodrama, e que tendem a tentar uma aproximação com o aspecto mitológico das relações políticas, mas sem jamais ser exatamente alguém do tamanho do mito que tentam reproduzir.

As revoluções, assim, são uma complexa junção de processos históricos que confluem em um tipo de transformação social, do estado às práticas cotidianas, que mudam de maneira global a sociedade em que ocorrem.

Essa junção de processos, pelas diversidades conjunturais e contextuais em que ocorrem, não tem jamais a mesma face em países, cidades e contextos diferentes. Sequer tem como condição sinequanon a vitória do movimento que a liderar.

Os elementos que as tornam possíveis, e que as definem, são as tempestades perfeitas que as fazem ocorrer entre a mobilização de uma ou mais classes contra o poder estabelecido. A explosão do processo revolucionário em si, as condições históricas que fazem com que as movimentações contra o sistema ganhem as ruas e as organizações dos enfrentamentos que a fazem tomar uma face transformadora visível são os elementos que fazem com que a tempestade perfeita exista e que a definem como portadora de um legado de processos anteriores, como a tomada de consciência por uma classe a partir do compartilhamento de experiências, a paulatina chegada de experiências comuns de mobilização, as transformações de valores que fazem com que a população se entenda como partícipe de uma determinada forma de ver e sentir o mundo.

Um exemplo? As ocupações de escolas, o crescimento da auto identificação populacional como negra, a maior aceitação da população LGBT(a partir de sua luta por visibilidade e direitos), o crescimento da identidade feminista entre mulheres pobres, a consciência de uma maioria negra de mulheres liderando famílias pobres, a maior presença nas universidades de negros e pobres, quase pretos de tão pobres e a identificação do sistema como inimigo (Para o mal e para o bem) são, todos, processos que fazem com que a classe operária, ou as classes operárias (incluindo a pequena burguesia, e sim isso é uma provocação), paulatinamente tomem para si o dever de fazer um estado que as inclua.

O próprio crescimento da extrema-direita como reação aos processos que incluem uma maior identificação de negros, LGBT, mulheres, trans,etc, como atores protagonistas de uma transformação do Brasil, e não só, é um elemento que indica o tamanho da transformação em curso.

Nesse sentido se encaixam as leituras sobre a conjuntura atual onde Jair Bolsonaro se coloca como impedido de governar e onde o congresso se impõe sobre ele barrando seus avanços, ao mesmo tempo em que as ruas demonstram que os limites da reação conservadora chegaram.

Porque se há erros na leitura das manifestações como vitórias exclusivas da esquerda, não há equívocos em tê-las como uma vitória de um tipo de percepção democrática que abre caminho para, ai sim, um avanço da esquerda sobre consciências que se perceberam compartilhando um terreno comum de experiências com quem antes era visto como inimigo.

Ao mesmo tempo outros indício como a movimentação do congresso, dos tribunais, ministério público, a guerra aberta no PSL, demonstram que mesmo no campo da direita há uma percepção dos limites do bonapartismo de Bolsonaro.

Essa movimentação não é fã da esquerda, e abre caminho para outra análise sobre a conjuntura futura, mas não é, e nem pode ser, insensível às ruas.

A trajetória do texto da Revolução á conjuntura não é à toa e é intencionalmente compartilhadora de uma noção geral para elementos conjunturais.

Estou dizendo com isso que há uma contextualização histórica revolucionária? Não, mas que existem elementos que podem vir a se tornar uma revolução, inclusive com as digitais das táticas, a meu ver equivocadas, do governo em confrontar mais do que o sistema, mas as ruas, não negociando sequer com quem lhes tem simpatia e negociava participação no projeto político mais que as filigranas do erário.

Não se pode tentar um golpe organizando um confronto aberto com as forças armadas como Bolsonaro faz e dilapidando o capital eleitoral com meses de inatividade e incompetência para apenas em Maio lançar mão do chamado às ruas para a resistência.

Bolsonaro aqui comete os mesmos erros do PT na reação ao impeachment em 2016. Lançaram mão de uma tentativa de mobilização nas ruas quando era tarde demais e quando perderam até a simpatia de quem poderia estar com eles na defesa do sistema porque construíram um governo que traiu as bases que os elegeu.

Dilma ainda tinha, via PT, uma base social forte que manteve um núcleo de resistência que quase atrapalhou os planos da elite aventureira e do Bolsonarismo que surfou na onda falsificada que culminou em sua vitória. Qual a base social do Bolsonarismo que o defenderá nas ruas?

Se nem a base social do PT foi suficiente para segurar as pontas de Dilma, terá Bolsonaro uma base que nas ruas tenha tamanho para impedir sua derrubada por um congresso que desistiu do governo e negocia direto com guedes, para a sobrevivência deste?

O teste dia 26 de Maio pode ser mais um insuflar das resistências ao governo Bolsonaro na dilapidação da educação e que marcaram atos para dia 30 de Maio, além de ser uma demonstração do real tamanho do inimigo para as forças que já estão abandonando o barco (De militares ao centrão, passando por MBL, Vem pra rua, Novo,etc).

As conjunturas são diferentes, mas os caminhos comparativos entre as inabilidades de Jânio, Collor, Dilma e Bolsonaro transformam a conjuntura atual na tempestade perfeita contra o Bolsonarismo e sequer chegamos em Flávio Bolsonaro e sua organização criminosa no gabinete (O termo escolhido pelo MP-RJ não foi à toa).

E as revoluções? Na conjuntura atual o que se impõe como dado é que os quadros são de paulatino compartilhamento de experiências nas classes trabalhadoras, de identificação de elementos caros à ela (educação e saúde) com um salto organizativo e de percepção do peso destes campos na economia, na cultura, na vida cotidiana.

Isso gera uma percepção do público (roubando um dado de observação do companheiro Célio da Comuna e do PSOL de São Leopoldo) não só nova, como identificável e, mais ainda, disputável.

A culminação narrativa do uber liberalismo como hegemonia cultural a partir das lógicas do empreendedorismo e redução do estado esbarra numa resistência firme e frontal pela primeira vez em, ouso dizer, décadas.

As ruas estão dizendo: Não mexam nas estruturas do estado, elas pesam pro meu cotidiano!

Esta estrutura cultural no entorno das mobilizações e dos atos são um dos elementos fundamentais para a compreensão de qualquer revolução.

As revoluções silenciosas nos comportamentos, nas construções culturais e percepções pela experiência tendem a se tornar explosivas quando passam pro passo seguinte das mobilizações, que é a ocupação das ruas e da política.

E neste sentido o caminho escolhido por Bolsonaro expande o cenário político para a conflagração, não necessariamente violenta, de percepções políticas. Põe pra jogo, como a gíria carioca, uma disputa política outrora dada como livre da esquerda pelo falecimento desta.

A esquerda diria que as noticias sobre sua morte foram manifestamente exageradas.

Não que a esquerda seja a vitoriosa nas mobilizações, mas pelo menos é uma das vitoriosas e se posiciona como elemento disputante do compartilhamento de experiências que explodiu no 15M.

A estética do 15M foi de esquerda, os gritos idem, a defesa do público também. Mas isso não torna nada disso como um ganho definitivo se a esquerda não se reaglutinar de forma radicalmente democrática para receber os novos participantes dos atos que manifestadamente resistem a formatos avesso à oxigenação das ruas.

O mesmo pode-se dizer do conclamação às ruas por Bolsonaro. Seu governo foi flagrantemente contrário ao que defendeu em campanha.

A liberação de armas e outras promessas de campanha não foram nada diante da ausência de uma postura que pelo menos uniria a direita, que respeitaria militares, que faria uma luta para mudar o país. O que se viu, todos viram, foi um caos movido por recalque e que atingiu as chances de crescimento social de pobres, as chances de ganho da elite, a própria ideia de corpo unido dos militares.

E isso diante de uma conjuntura de crise econômica de aumento do desemprego e do desespero, do trabalhador ao pequeno comerciante, que ainda viu a faculdade do seu filho atingida no coração, e seu filho sendo chamado de idiota útil.

Seria um contrassenso entender as resistências do congresso ao governo como dadas apenas pela fome de propina, seria uma negação da própria defesa pela esquerda da política como algo que via além do ganho pequeno e menor.

A resistência veio pela desconfiança de que o governo e seus chefes não iriam compartilhar nada do poder com as demais forças da própria direita. Que inclusive não havia, e não há, plano algum de nada além de destruir tudo o que foi organizado de 1988 em diante. E essa destruição significa a destruição de elementos fundamentais também para a própria elite que os sustenta.

A irresponsabilidade das apostas em Bolsonaro, de parte da elite econômica aos militares, se baseava na possibilidade de doma dele pelos grupamentos da extrema-direita com alguma ideia na cabeça. Não deu.

Primeiro que Bolsonaro e filhos tem uma visão imperial da presidência; segundo que os planos deles nunca foram o de viver na democracia, mas destruí-la qual Orban (Isso vem dos escritos do Celso Barros na Folha com os quais concordo); terceiro que o grupo, que é tido como olavista (à revelia do próprio oportunismo de Olavo que já pulou do barco),tem uma ideia que acreditam real que são majoritários na sociedade, embora tudo, pesquisas, votos e ruas, demonstrem o contrário.

Somem a isso a incompetência geral do governo em governar, pela ausência de qualquer noção a respeito do que significa a máquina pública, e que gerou uma enorme resistência da burocracia de estado, algo que de 1988 para cá ganhou uma faceta própria que nunca se viu na República.

Bolsonaro assim chama as ruas para defendê-lo tendo como base uma minoria com um tom flagrantemente golpista, algo que ele projeta sem uma base real, e que não teria, segundo jornalistas com proximidade com o mundo militar, apoio das casernas, ressentidas pelo confronto aberto e insuflado pelo presidente contra militares da ativa e da reserva que consideram líderes e que também atingem um corporativismo forjado há pelo menos cento e cinquenta anos.

A base de Bolsonaro voltou ao normal e ele se recusa a acreditar, perdido no mundo pessoal em que é fundamental gastar mundos e fundos para receber um prêmio imaginário numa cidade do Texas que não o acolheu, apenas para responder a um prefeito democrata de Nova York e à zoeira das redes sociais que ele ainda acha que domina.

Ao chamar sua defesa no dia 26, quatro dias antes da mobilização chamada antes por uma série de organizações e pela esquerda, Bolsonaro se obriga a ter uma maioria nas ruas que tende a não ter, diante do fracasso numérico das últimas manifestações chamadas por eles e pelo flagrante racha no que o elegeu (Do MBL ao Lobão). E se obriga numa aposta em que se perder só lhe resta a renúncia, saída honrosa, ou apostar a fundo contra um congresso que não vai demorar muito tempo em aceitar pedidos de impeachment.

E as revoluções? Bem, elas se produzem em processos complexos de danças e contra danças, pesos e contrapesos.

1917 só foi possível por 1905. 2013 produziu dos ocupa escola à ascensão de uma direita das ruas. 2019 aponta para uma nova faceta de processos mais complexos e que envolvem uma dinâmica de consolidação de transformações culturais de longo prazo.

Quando índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval é preciso entender que o que se contrapõe a eles são os homens exercendo seus podres poderes.

Invariavelmente nessa dança as bases carnavalescas se impõem.

Imprensa, democracia e uma crítica ao antipetismo liberal, Tabata Amaral e Malu Gaspar.

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Na última semana vi ótimos jornalistas liberais apoiando golpe na Venezuela porque “Era contra um ditador” e destilando um ódio mal disfarçado a Lula que não destilam em metade ao Bolsonaro, que dizem combater.

Não existe apoio digno a golpe, não existe, mesmo contra ditadores.

A diferença entre golpe e revolução é farta na literatura, basta ler o dicionário de política de Bobbio e se entende a enorme diferença, e o Norberto trata Revolução como um golpe em proporções populacionais de engajamento com transformação estrutural.

Um Putsch, que foi o que tentaram fazer contra a Venezuela, é um atentado á democracia, mesmo uma democracia autoritária, como via de regra desde 2008 todas são, como a de Maduro.

Se Maduro é ditador, Alckmin, Dilma, Tarso, Cabral, e agora Witzel, Bolsonaro e Moro também são.

Perseguiram ativistas, processaram gente por portar Pinho sol, atiraram com bala de borracha e até armamento letal em ativistas, matam a população negra a rodo, em uma escala genocida, usam snipers para matar pretos pobres, estimulam a morte de indígenas e sem terra, atuam para permitir o armamento de milícias rurais para exterminar sem terra e liberar o morticínio de pretos e pobres por policiais,e por ai vai.

Então cês vão me desculpar, mas essa linha lógica de apoiar com fome um golpe de estado patrocinado pelos EUA em nome da “democracia” porque “Maduro é ditador” é um equivoco, pra ser gentil.

Eu apoio Revoluções? Apoio. Revoluções são golpes? Em muitos sentidos? Sim.
A diferença é que ou são apoiados por um levante populacional que ou o precede ou o segue ou são apenas golpes de estado.

Revoluções que o pais passou, se passou, ou foi o mais próximo disso? A Independência, talvez a Abolição ou a Revolução de 1930. que foram precedidas de longos embates, armados inclusive, e transformaram a sociedade como um todo e a própria estrutura do poder, inserindo novos elementos populacionais no cenário político e mexendo com as estruturas sócio-econômicas e culturais, mas isso é papo pra longas horas de debate teórico.

Mas apoiar golpe apenas para derrubar um ditador que se luta contra,ignorando a auto-determinação do povo Venezuelano, que esse ditador foi eleito, e que nenhum dado faz com que se veja um levante popular concreto contra ele, e isso mesmo em estados onde ele tem menos poder e cujo alinhamento não é a Maduro nem a Guaidó, mas a um chavismo anterior a Maduro?

É impressionante como alguns jornalistas trataram a entrevista do Lula com oito Vezes mais dureza do que o dia a dia de Bolsonaro. Bolsonaro é alvo de “ironias finas” e críticas até duras, mas aquém do ódio destilado contra Lula.

Lula precisa fazer penitência, autocrítica, plantar bananeiras recitando a Salve Rainha ajoelhado no milho enquanto se chicoteia, mas a mesma imprensa que faz falsa simetria com “os dois lados do radicalismo político” pra vender Tabatas Amarais se recusa a fazer uma mínima versão disso que chamam de auto-crítica.

Malu Gaspar diz que as críticas da esquerda à Tabata Amaral são porque “ela não é esquerda suficiente”, com altas doses de ironias. Que grande democrata e intelectual temos que sequer consegue conceber que existem divergências mais amplas entre o que eles, da imprensa, chamam de esquerda, não?

Aliás, essa leitura de ser “esquerda” pra parte da imprensa adaptou uma versão estadunidense da divisão política ou é impressão minha?

Sério que entender as proximidades e distâncias com a Tabata Amaral, por ela ser uma liberal e não uma socialista ou comunista ou parte do grupo ideológico tradicional da esquerda, em síntese anticapitalista, é apenas julgá-la “não sendo esquerda suficiente”? Isso é o melhor que uma jornalista especializada em política pode fazer?

Não sei em que ponto faltou leitura, pesquisa ou apenas uma clareza na percepção e exposição do próprio alinhamento ideológico. pra ser gentil.

Não é problema nenhum ser liberal, Malu e a Tabata tem muitos pontos em convergência com a esquerda tradicional (anticapitalista, socialista e comunista) e pontos de divergências centrais, reconhecê-los com respeito é um bom caminho, o desprezo ao que não entende, e nem tenta entender, é um péssimo caminho pra quem prega uma suposta unidade que não pratica.

Aliás, é fundamental que liberais dignos do nome, como a Tabata Amaral, a Malu Gaspar e outros, se assumam como tal, que assumam a defesa do liberalismo na linha Democrata moderada estadunidense no Brasil, cuja direita dificilmente é melhor que um Republicano anti aborto e que via de regra é composta de um Tea Party piorado enquanto brandem um suposto programa “liberal”. Até o conservadorismo no Brasil fede a um integralismo verde-oliva, e é francamente reacionário.

Então é sim bem vinda a Tabata e outros com seu liberalismo socialmente engajado, mas um liberalismo, pró-capitalismo e francamente pouco apegado à percepção do geral como divergência e não como “ideias que não tem mais lugar”. Agir como se a ideologia liberal pré-Marx fosse mais atualizada com seu misticismo teológico da mão invisível do mercado, mas com preocupações sociais, não fosse um socialismo utópico aplicado à contemporaneidade do que uma concepção teórica e política, com enorme base filosófica (Epicuro e Hegel pra começar), organizada por Marx e que é constantemente repensada, debatida, discutida, dentro e fora da academia, inclusive por liberais, por outros ramos da filosofia e da ciência política.

Aliás, ideias tem data de validade? Se tivessem o perfil socrático de Paulo Freire não existiria.

É fundamental que liberais exista,mas seria de bom tom que respeitassem a divergência, inclusive a crítica aos limites de sue alinhamento à esquerda, em vez de ridicularizarem o que os expõe como o que são.

E nãos e iludam, parte do PSOL, PT, PSB,etc são compostas por liberais como a Tabata, se você votou nestes partidos pode ter votado em alguém com u perfil próximo si, não precisa de certificado pra se dizer de esquerda, viu?

A REDE tem esse perfil, programático inclusive.

O que tem que ver é esse antipetismo que transforma o PT no diabo fugindo da cruz e que se torna muito mal disfarçado no discurso, no sentido da análise de discurso, de parte da imprensa, especialmente a que compõe a falsa simetria.

Esse antipetismo fez com que parte dos apoiadores de Marina em 2014, uma liberal com origem na esquerda, tenha apoiado Bolsonaro em 2018 , Abraham Weintraub entre eles.

Inclusive a mesma imprensa faz forfait pra se lembrar exatamente o que fez durante as eleições em nome de uma suposta defesa da democracia, hoje, quando ela precisa ser defendida concretamente, não mexe metade da palha que os demais membros da sociedade mexem.

A democracia quando sob ameaça recebe da imprensa o tratamento que muitos críticos de cinema dão à arte, uma odiosa observação não participante e supostamente crítica.
Precisamos de mais que intérpretes do real, viu? E sim, é um sentido marxista.

Amigos, a crítica ou é acompanhada da ação ou é apenas cagação de regra omissa.

E sigam o exemplo do Jânio de Freitas, do Gaspari, que são ácidos contra todos os governos, sem se omitirem na defesa REAL da democracia.

Não precisamos sequer concordar ideologicamente com eles para sabermos disso, como não precisamos achar Mino Carta o supra sumo da pureza da esquerda para respeitar sua luta em defesa CONCRETA da democracia, como idem o José Roberto Toledo, entre outros.

Mas é preciso sabermos com quem estamos lutando a defender a democracia.

Nós, que fizemos oposição ao PT anos a fio pela esquerda, nunca vimos muitos destes liberais nas nossas trincheiras. É sempre bom termos novidades, mas é preciso que lembremos sim quem esteve onde e quando.

Quem ocupa esta trincheira também ocupa a defesa de golpes contra o que consideram ditadores?

Quem ocupa essa fronteira também ocupa a resistência contra o que os jornais que ajudaram a eleger com falsa simetria e é mais próximo de Maduro do que eles mesmos assumem? Abro mão.

Essa defesa de golpes não é a da democracia.

O messianismo iluminista por trás de “A esquerda está perdida”.

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Se a gente for pesquisar no Google usando a frase “a esquerda está perdida” teremos doze milhões e quinhentas referências. Duvida? Testa, eu te garanto porque testei.

Há referências de 2007 usando esta frase, a mais recente é um artigo da The Intercept, escrito pela Rosana Pinheiro Machado e Tatiana Roque explicando para nós, celerados e completos estúpidos ocasionais, que as esquerdas permanecem perdidas.

O interessante disso tudo é que o argumento muda pouco, muda mais a figura em torno da qual se organizam os argumentos. Antes era Lula e o PT, depois mudou para acrescentar a estes figuras do neo-PDT, como Tabata Amaral e Ciro Gomes, sobre quem atribuem o epíteto de serem “de esquerda”.

O fim do argumento é que a crítica, o posicionamento, a postura contrária até, em vez de configurar democracia e pluralidade configura “fogo amigo”.

Não é surpresa, não só as esquerdas brasileiras, cuja base originária stalinista é difícil de se livrar, têm uma base autoritária, como via de regra a sociedade, como por ser em grande número parte da academia tem o germe da negação do contraponto e do embate como parte da democracia.

A crítica ácida é tida como ataque, a dureza idem, porque ambas, as esquerdas e a academia, tem um modelo de comportamento e convivência que confundem unidade com uniformidade e educação e fraternidade com curso na Socila (antiga escola de “etiqueta” do Rio de Janeiro).

Há um modelo de comportamento que confunde respeito ao outro com aceitação tática e acrítica de seus posicionamentos, quando via de regra é o inverso que configura respeito.

Respeitar a Tabata Amaral deveria consistir em ser duro crítico tanto ao posicionamento liberal dela na educação e na economia quanto a seu relacionamento com a fundação Lehman, ao mesmo tempo em que se valoriza seu preparo, sua inteligência e sua qualidade parlamentar na defesa do que acredita, idem no combate ao autoritarismo e neo-fascismo de Bolsonaro e dos Vélez da vida, as posições são convergentes ao invés de mutuamente excludentes.

Respeitar o outro inclui respeitar as diferenças e sim criticar o outro faz parte do respeito.

A questão é que há mais do que usar discursos como cunhas ou ter posições anti-fascistas como aliadas, há disputas que permeiam a política como um todo e que inclui disputas entre pró e anti-capitalistas.

Não dá pra esquecer que a Deputada Tabata Amaral é a favor da Reforma da Previdência, mesmo discordando da de Bolsonaro e que seu discurso contra Vélez foi tecnicista e tem o perfil de uma defesa de educação liberal, com ênfase no papel das fundações, que consiste na ampliação do papel privado na educação e menos papel do estado e isso, queridos, é algo que nosso programa enquanto PSOL, como a maioria dos programas da esquerda, tem como dever bater de frente.

Até seu elogio ao combate a Vélez tem que ser cuidadoso e parar no que consiste na defesa do estado democrático de direito, quando isso resvala na defesa de um estado tutelado pelo neoliberalismo a gente precisa apontar sim, e faz parte da democracia, pasmem, entender isso.

Mas há outros problemas, como o de parte da imprensa e da academia, e infelizmente de uma suplente de deputado federal pelo PSOL, tratar as esquerdas, que se organizam de formas diversas, como algo a ser tutelado e guiado pelo universo porque “parou no tempo” ou “está cega”, como se houvesse uma percepção extra sensorial em alguns iluminados para dizer o que organizações complexas e cujas representações tem mecanismos seus de construção de atuação como ela se deve comportar e, pior, de fora e de cima.

E vocês vão me desculpar se eu enxergo ai, mal de um historiador que pesca indícios e detalhes e lida com comunicação e discurso, um reflexo da ideia de “digital influencers” que permeou a ascensão da nova direita: não se organiza um núcleo contra nada em lugar nenhum, mas usa o blog, a coluna no site ou o vídeo no you tube para tentar na pancada enfiar uma ideia goela abaixo de organizações complexas com as quais não se dialogou ou se tentou sequer pensar.

Nem com os/as parlamentares dos partidos de esquerda que de alguma forma tentam organizar a esquerda enquanto oposição, com relativo sucesso, nem com movimentos sociais nem com núcleos, nem com militantes se pensa ou senta? É mesmo de cima pra baixo que se mete o discurso e dane-se?

E aí mora a arrogância, intelectual inclusive, de ignorar o contexto, os grupos, as pessoas, o difícil trabalho diário para taxar uma diversidade inteira de “A esquerda” e pior, se posicionar como douto professor e guia de caminhos.

E isso se espalha por blogs, podcasts, contas pessoais dos divulgadores de jornais, jornalões, que fazem isso com interesse editorial,etc como se tudo isso fosse apenas algo corriqueiro e não um posicionar-se como criador de regras gerais para problemas complexos que sequer os analisou para compreender.

E tem mais, há posições editoriais que adoram essas opiniões supremas e suspensas no ar da arrogância político-intelectual e que se fingem de uma isenção superior sem assumir um lado diretamente, no caso em específico o apoio direto a um perfil liberal democrata que se enfia na esquerda sei lá porque cargas d’água, como se um oligarca como Ciro Gomes fosse parte de uma tradição de diversidade que inclui Brizola, Prestes, Lula, Chico Mendes, Freixo,etc.

Sem contar que é óbvio que essas posições editoriais tem um lado político e fazem parte de uma disputa simbólica pela hegemonia do que é “esquerda”.

Respeito isso, é parte do jogo, o que não dá é não assumir o lado, não entender as diferentes formas de atuar nas esquerda e taxar como uma grande lei dogmática que “A esquerda está perdida”. Está? Que esquerda? O que é esquerda? Você está falando com os anarquistas antifa que perambulam todo dia caindo na porrada com neonazi, os membros socialistas do PSOL, a esquerda que tangencia o liberalismo do mesmo partido, os capas do PT, os núcleos militantes socialistas do PT, os prestistas no PDT, a Tabata Amaral, o MPL, os autonomistas, com quem você tá falando? De todos ou de nenhum deles?

E perdida porque? Há um guia que ignora as diferenças contextuais e conjunturais, os micro combates, as disputas simbólicas, as leituras de realidade em conflito e que contém também a disputa pela hegemonia cultural em torno de uma percepção neoliberal da realidade e uma diversa, que aponta para um anticapitalismo, e muitas vezes para um anticapitalismo ecossocialista? Que guia mágico é esse que faz tábula rasa de toda a complexidade em uma lei geral inóspita, redutora e estupidificante de todo um complexo ideológico?

A própria tese de perdição da esquerda propõe um dogma guia. E nem precisa ser analista de discurso pra perceber que isso rima demais com o marxismo vulgar ortodoxo que secundariza lutas e divergências em nome de “algo maior”, que só é definível pelos interesses imediatos do grupo político que defende aquele algo.

Nada mais parecido com este discurso do que o discurso que culpou o #Elenao pela vitória de Bolsonaro porque precisava-se “de pautas econômicas’, ou o que ficou treze anos dizendo “não é hora de criticar o governo, precisamos lutar contra a direita” enquanto Lula abraçava o Maluf.

Deve ser por isso que a pesquisa no Google sobre “a esquerda está perdida” tem doze milhões e quinhentos resultados, porque faz aniversário percepção autoritária da diversidade que confunde unidade com uniformidade.

A esquerda não precisa de guia, precisa de organização e organicidade, trabalho de base e trabalho diário.

Perdido está quem ainda acha, mesmo com todos os doutoramentos, que existe um guia possível para situações e organizações complexas.

Os tempos da política e da história: massacres, crise da masculinidade, armas e o ódio como valor.

DISCO D - AS MINHAS IMAGENS 456

Escrever sobre política e tempo é interessante porque a lógica cartesiana normal põe o tempo como uma dinâmica linear e, além da física, a história, há tempos, já trabalha com a ideia de diversas temporalidades funcionando em paralelo.

O que isso significa? Significa que o processo de percepção do tempo varia de acordo com a dinâmica e conjuntura do momento em que indivíduos e grupos sociais vivenciam.

Um exemplo rápido? A arquitetura, por exemplo, era utilizada no Brasil com tempos diferentes, estilos mais contemporâneos ao início do século XX, tinham diferentes tempos de utilização dependendo do lugar. Se no Rio de Janeiro, São Paulo e até Pelotas, os estilos arquitetônicos mais modernos eram utilizados à farta já no último quarto do século XIX, no interior da Bahia por vezes só se começa usar o neoclássico já nos fins da década de 1930, e o art decó, que teve um boom nos anos 1920, só aparece quase nos anos 1940.

O tempo da ciência também varia,descobertas recentes da física na Europa do início do século XX demorariam anos até serem aceitas de forma mais ampla no Brasil, especialmente apenas pós anos 1930. Da mesma forma que a tecnologia  até os anos 1980 demorava para entrar em uso no Brasil mesmo sendo já comuns nos EUA e Japão por quase uma década antes. O uso de aparelhos reprodutores de VHS, já em uso no fim dos anos 1970, só começaram a serem usados largamente no Brasil no fim dos anos 1980. Com o tempo o atraso de chegada da tecnologia acompanhou a revolução nos transportes e nas comunicações que chegou a ser quase simultâneo. Primeiro o CD, depois o DVD chegaram com um intervalo curto, de poucos anos, hoje o Iphone é lançado simultaneamente, as atualizações de software e hardware dos computadores idem.

Até a década de 1990 os filmes estadunidenses, os hoje chamados blockbusters, demoravam meses para estrear em cinemas de cidades médias do interior, hoje tem uma diferença de dias, se é que não estreiam de forma simultânea.

O tempo dos costumes já atua em outra dinâmica, vemos costumes contemporâneos irromperem paralelo à manutenção de costumes medievais ou até anteriores. A própria estrutura da masculinidade como provedora, fornecedora de varões cuja força suprime a divergência, que se resolve na lógica do guerreiro medieval e antigo, que submete o diferente e mulheres é uma permanência de tempos imemoriais, mais precisamente do tempo das escrituras, reforçada pro valores medievais, mas que remetem à antiguidade.

Enquanto isso a construção dos costumes da compreensão da diferença e da divergência, da existência de individualidade,s identidades, sexualidades e culturas múltiplas, mal traduzido no conceito guarda chuva de “pautas identitárias” ou “multiculturalismo”, são processos cujo valor remete à crítica da razão e do predomínio da ideia de progresso e evolução que se inicia no XIX, explode num quadro de lutas de descolonização, de conquista de direitos civis para mulheres, negros e negras, indígenas, culturas que estão sob domínio imperialista,etc.

Essa janela de tempo compreende desde as críticas à ideia de civilização, progresso e razão feita pro intelectuais europeus da metade do século XIX em diante, até as lutas pelos direitos civis dos negros estadunidenses, que se inicia na guerra da secessão e prossegue até hoje, com conquistas enormes no fim do século XIX e,nos anos 1960 do século XX; passando pelo pan africanismo, que se inicia no século XIX e chega a um patamar mundial no século XX; pelo feminismo, que em suas múltiplas vertentes se origina no século XVIII e se transforma a cada período até hoje, constituindo vertentes com diversos viéses; pela luta LGBT,etc.

Nesse conjunto de transformações há as críticas de Nietzsche e Benjamin, incluindo Marx e passando até Annales, pelos intelectuais do pós-guerra, como Foucault, Thompson e Stuart Hall, há a obra de Angela Davis e Simone de Beauvoir,etc,etc,etc. Mas o fundamental é que há uma ruptura social, que se estabelece em crescente ataque a uma lógica de costumes que perdurou de tempos imemoriais até hoje, sendo absorvida pelo capitalismo como sempre o foi pelas classes dominantes. O irônico é que a ruptura e o ataque também forma abraçados pelo capitalismo, mas isso é outra história.

A questão é que os tempos diferentes dos valores se chocam e produzem ondas políticas que varrem o mundo e que dificilmente são facilmente definíveis nos termos de direita e esquerda. Não porque flutuem, mas porque são valores que se chocam de forma transversal, atingindo elementos de ambos os espectros ideológicos, que possuem uma fragmentação enorme, muito maior do que gostam seus membros, no trajeto da própria ideia de fragmentação do indivíduo que os mais ortodoxos acham que é uma definição da irrealidade do concreto, quando nunca foi, mas isso também é outra história.

O tempo da política se abraça em diversos eventos do tempo dos costumes, e reflete em seus textos e discursos o processo a partir ou da ruptura ou da manutenção, incluindo os que no fundo tentam conciliar os dois mundos e somam-se mais ou menos a um dos lados a depender de sua trajetória e produção de sentidos.

As eleições da extrema-direita nos tempos recentes se produzem como respostas de alas ada população a um crescimento de uma ruptura visível nos valores como se estabelecem desde sempre e em escala nunca antes vista. Talvez seja mais que uma gestação de um novo mundo, talvez já seja o parto e a própria ideia de revolução que se propagou durante muito tempo e que se esperava que fossem grandes eventos com choro, ranger de dentes e coros esfarrapados d’A Internacional, mas que surge como passeatas de mulheres, trans, travestis, LGBTS, negros e negra,s indígenas, aborígenes, mulheres parindo em parto natural e amamentando em público e lutando por este direito.

Como não parece em nada com um evento escatológico, um Apocalipse ao som de  Mercedes Sosa, tem inclusive resistência da própria esquerda menos afeita a perceber em si os rastros do cavaleiro medieval, do homem branco cujo fardo era domesticar os silvícolas.

O lance, parceiro, é que a dança tá no salão e é preciso dançá-la para não dançar.

A extrema-direita, e isso foi identificado pelo grande amigo cujo pseudônimo Fernando L’Overture é facilmente encontrado pelo Twitter, por sue lado busca uma identidade histórica que remete a tempos antigos e medievais, reivindicam grandes batalhas contra muçulmanos na Europa dos trezentos ou seiscentos, falam de identidades nacionais em contraponto com as internacionais e matam, sustentando suas lutas com base no discurso de limpeza étnica travestida de nacionalismo e em ataques terroristas ou pontuais  a membros alvo, ou de minorias ou de grupos religiosos ou nacionalidades estrangeiras a seus países.

A reivindicação de identidade e de um passado idealizado ocidental macho adulto e branco é o principal elo com o fascismo clássico e faz desse novo fascismo o cavalo de batalha da longa luta cultural do tempo dos costumes em conflito. Para cada direito não branco cisheteronormativo conquistado há umas célula da cultura de ódio que vai reivindicar batalhas antigas e uma branquitude que nunca existiu pra justificar um massacre com forte apelo freudiano.

Nesse choque de tempos e culturas há processos que independem da vontade consciente de grupos políticos e isso é notável no cotidiano, na produção cultural, na própria realidade das periferias, pequenas e médias cidades, favelas,etc, para além dos textos, acadêmicos ou não, cheios de adrenalina e impressionismo que culpam o vento, a Internet ou o Bob Esponja Calça Quadrada, por um tipo de ódio que sempre esteve aí e que hoje se organiza em resistência a processos que já estão aí pelo menos há dois séculos.

 A cada mulher que se percebe a grande provedora dos seus, que se pretende e se faz independente, digna de entender que tem direitos, consciente de seu papel na sociedade e do poder de sua ação para a transformação, cai um tijolo do muro das lamentações incel que se pretende dominante e só é boquirroto.

Sim, este texto deu um passinho à frente na análise, não é definitivamente uma tese, e se propôs a comemorar que, independente do chilique incel, o tempo do choque produz monstros para quem acha que é válido defender limpeza étnica macha adulta, branca e brocha,m como valor.

E o tempo da cultura é, hoje, um tempo onde os valores de uma antiguidade e medievalidade que nunca existiu forma pro saco, porque como elas mesmo dizem: ninguém vai voltar para armário, senzala ou fogão.

Os massacres são, antes de qualquer explicação psicologizantes, atos políticos com um discurso. De Columbine a Nova Zelândia, passando por Suzano, os ataques são frutos de um discurso político que se elegeu defendendo que há uma superioridade cisheteronormativa branca e que é válido “metralhar os petralhas”, que significam toda a resistência a estes valores que caem dia a dia a cada mulher, negro e indígena que vai à luta pro seus direitos. E, ó, são milhões, viu?

De Trump a Bolsonaro, são muitos os sintomas de uma reação reacionária a um processo histórico que atinge até culturas milenares que nunca foram bastante afeitas à expansão nos direitos das ditas minorias (Arábia Saudita tá aí pra isso), e que tentam não se dobrar a uma maré que nem o capital quer enfrentar (Adoro a indústria cultural nesse sentido, ela percebe antes o que tem que fazer pra não morrer). Só que era preciso combinar com os russos.

Por isso salta aos olhos a ideia de que a esquerda precisa dialogar com quem patrocina a reação porque elegeu-se um sujeito simpático a milicianos, racista, misógino e LGBTfóbico, quando, por motivos óbvios, ela precisa dialogar com o que o mundo aponta, com a maré que transforma tanto que já obrigou à minoria reacionária a se organizar e gastar trilhares de dólares para vencerem eleições e tentarem,s em sucesso, segurar na porrada uma transformação que tá na casa do vovô fascista que morreu ontem.

Eles mataram Marielle por que podiam? Sim, mas também porque temiam.

 Eles quebram placas em sua homenagem por um pavor brocha mal dissimulado, eles rasgam adesivos, eles piram na casinha citando Celso Daniel, que além de ser um problema do PT já foi resolvido, supostos mandantes da facada em Bolsonaro, caso resolvido e com o criminoso preso e apontamento de inexistência de mandantes, ou Patrícia Acyoli, cujo mandante e assassinos forma presos, mesmo a contragosto de Flávio e Jair Bolsonaro que meio que justificaram sua execução dizendo que ela desrespeitava os PMs, na maioria criminosos.

E eles fazem tudo isso porque pouco se importam com a morte de qualquer um desses, eles fazem isso porque perdem a cada dia o frágil domínio sobre a cultura que eles tentam manter.

É medo, é fruto de um pavor que se reflete na própria face do presidente a cada entrevista (apavorado pro estar ali e achando que seria mais fácil bancar o macho fodão), no exagero de um Itamaraty que ataca ativista como se a ONU fosse o Whatsap, nas tolices de ministros.

E um medo diante do óbvio: independe da vontade consciente até da própria esquerda lidar com uma transformação que irrompeu mundo afora com as lutas pelos direitos de quem nunca os teve e que não vão recuar nem em nome de Deus nem na ponta de uma lança, nem na base de bala.

A reivindicação de Braudel aqui, foi ele quem iniciou a ideia de temporalidades diferentes, veio por obra e graça disso: processos históricos de tal monta, onde a mudança é de planos culturais de longa duração, não são produzidos nem do dia para a noite, menos ainda paráveis apenas por desejo de poderosos ou grupos sociais temporariamente empoderados.

E é nas margens desse Mediterrâneo que encontraremos o melhor canal para que a esquerda navegue pelo Mare Nostrum.