Das Revoluções e dos ventos de golpe

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Há algum tempo me incomodam as falas que misturam o ser revolucionário a um tipo ideal de produtor de revoluções. Da mesma forma as Cassandras do mal maior, dos ventos devastadores das tragédias golpistas, cansam o observador com suas proclamas diárias da volta do Planeta dos Macacos.

Porque via de regra o que une os grupos é a tomada da História como um terreno dado, já lido, e cuja função eterna é produzir um mito do eterno retorno, como se a humanidade fosse uma espécie de Sísifo que no terreno da História se movesse apenas para carregar a pesada pedra da conjuntura até o topo para vê-la cair.

As revoluções nunca me parecerem produzíveis ou reproduzíveis de acordo com fórmulas estritas. E aqui tem uma não sistemática junção de leituras diversas da história e da teoria política pela esquerda.

De Marx a Thompson, de Ginzburg a Bookchin, de Natalie Davis a Michael Lowy, de Giovanni Levi a Daniel Bensaid, de Lênin a Trotsky, nunca consegui ler em nenhum dos que me influenciaram alguma forma de entendimento da revolução como uma obra passível de ser produzida, mas entendi-a como uma onda na qual quem estiver mais acurado na observação tende a possuir o caminho para liderar a navegação nela até o quebra-mar.

Claro, o problema pode ser o leitor, mas é um caminho de análise que sinceramente não consegue entender o tipo de dogmatismo que cita de cabeça trechos inteiros de Lênin, Trotsky e Marx e se recusa a analisar o processo dialético que faz com que seja impossível que a História se repita.

Não adianta citar o 18 Brumário de Luiz Bonaparte de Marx e depois ignorar o sentido da afirmação dele da História se repetir como farsa, ou seja, como uma falsificação histórica de um outro fato com fins simbólicos ou teatrais.

Neste texto ele constrói o significado de bonapartismo que nos leva a Bolsonaros e que tais como elementos que surfam em uma onda de popularidade organizada com específicos trejeitos de tragicomédia ou melodrama, e que tendem a tentar uma aproximação com o aspecto mitológico das relações políticas, mas sem jamais ser exatamente alguém do tamanho do mito que tentam reproduzir.

As revoluções, assim, são uma complexa junção de processos históricos que confluem em um tipo de transformação social, do estado às práticas cotidianas, que mudam de maneira global a sociedade em que ocorrem.

Essa junção de processos, pelas diversidades conjunturais e contextuais em que ocorrem, não tem jamais a mesma face em países, cidades e contextos diferentes. Sequer tem como condição sinequanon a vitória do movimento que a liderar.

Os elementos que as tornam possíveis, e que as definem, são as tempestades perfeitas que as fazem ocorrer entre a mobilização de uma ou mais classes contra o poder estabelecido. A explosão do processo revolucionário em si, as condições históricas que fazem com que as movimentações contra o sistema ganhem as ruas e as organizações dos enfrentamentos que a fazem tomar uma face transformadora visível são os elementos que fazem com que a tempestade perfeita exista e que a definem como portadora de um legado de processos anteriores, como a tomada de consciência por uma classe a partir do compartilhamento de experiências, a paulatina chegada de experiências comuns de mobilização, as transformações de valores que fazem com que a população se entenda como partícipe de uma determinada forma de ver e sentir o mundo.

Um exemplo? As ocupações de escolas, o crescimento da auto identificação populacional como negra, a maior aceitação da população LGBT(a partir de sua luta por visibilidade e direitos), o crescimento da identidade feminista entre mulheres pobres, a consciência de uma maioria negra de mulheres liderando famílias pobres, a maior presença nas universidades de negros e pobres, quase pretos de tão pobres e a identificação do sistema como inimigo (Para o mal e para o bem) são, todos, processos que fazem com que a classe operária, ou as classes operárias (incluindo a pequena burguesia, e sim isso é uma provocação), paulatinamente tomem para si o dever de fazer um estado que as inclua.

O próprio crescimento da extrema-direita como reação aos processos que incluem uma maior identificação de negros, LGBT, mulheres, trans,etc, como atores protagonistas de uma transformação do Brasil, e não só, é um elemento que indica o tamanho da transformação em curso.

Nesse sentido se encaixam as leituras sobre a conjuntura atual onde Jair Bolsonaro se coloca como impedido de governar e onde o congresso se impõe sobre ele barrando seus avanços, ao mesmo tempo em que as ruas demonstram que os limites da reação conservadora chegaram.

Porque se há erros na leitura das manifestações como vitórias exclusivas da esquerda, não há equívocos em tê-las como uma vitória de um tipo de percepção democrática que abre caminho para, ai sim, um avanço da esquerda sobre consciências que se perceberam compartilhando um terreno comum de experiências com quem antes era visto como inimigo.

Ao mesmo tempo outros indício como a movimentação do congresso, dos tribunais, ministério público, a guerra aberta no PSL, demonstram que mesmo no campo da direita há uma percepção dos limites do bonapartismo de Bolsonaro.

Essa movimentação não é fã da esquerda, e abre caminho para outra análise sobre a conjuntura futura, mas não é, e nem pode ser, insensível às ruas.

A trajetória do texto da Revolução á conjuntura não é à toa e é intencionalmente compartilhadora de uma noção geral para elementos conjunturais.

Estou dizendo com isso que há uma contextualização histórica revolucionária? Não, mas que existem elementos que podem vir a se tornar uma revolução, inclusive com as digitais das táticas, a meu ver equivocadas, do governo em confrontar mais do que o sistema, mas as ruas, não negociando sequer com quem lhes tem simpatia e negociava participação no projeto político mais que as filigranas do erário.

Não se pode tentar um golpe organizando um confronto aberto com as forças armadas como Bolsonaro faz e dilapidando o capital eleitoral com meses de inatividade e incompetência para apenas em Maio lançar mão do chamado às ruas para a resistência.

Bolsonaro aqui comete os mesmos erros do PT na reação ao impeachment em 2016. Lançaram mão de uma tentativa de mobilização nas ruas quando era tarde demais e quando perderam até a simpatia de quem poderia estar com eles na defesa do sistema porque construíram um governo que traiu as bases que os elegeu.

Dilma ainda tinha, via PT, uma base social forte que manteve um núcleo de resistência que quase atrapalhou os planos da elite aventureira e do Bolsonarismo que surfou na onda falsificada que culminou em sua vitória. Qual a base social do Bolsonarismo que o defenderá nas ruas?

Se nem a base social do PT foi suficiente para segurar as pontas de Dilma, terá Bolsonaro uma base que nas ruas tenha tamanho para impedir sua derrubada por um congresso que desistiu do governo e negocia direto com guedes, para a sobrevivência deste?

O teste dia 26 de Maio pode ser mais um insuflar das resistências ao governo Bolsonaro na dilapidação da educação e que marcaram atos para dia 30 de Maio, além de ser uma demonstração do real tamanho do inimigo para as forças que já estão abandonando o barco (De militares ao centrão, passando por MBL, Vem pra rua, Novo,etc).

As conjunturas são diferentes, mas os caminhos comparativos entre as inabilidades de Jânio, Collor, Dilma e Bolsonaro transformam a conjuntura atual na tempestade perfeita contra o Bolsonarismo e sequer chegamos em Flávio Bolsonaro e sua organização criminosa no gabinete (O termo escolhido pelo MP-RJ não foi à toa).

E as revoluções? Na conjuntura atual o que se impõe como dado é que os quadros são de paulatino compartilhamento de experiências nas classes trabalhadoras, de identificação de elementos caros à ela (educação e saúde) com um salto organizativo e de percepção do peso destes campos na economia, na cultura, na vida cotidiana.

Isso gera uma percepção do público (roubando um dado de observação do companheiro Célio da Comuna e do PSOL de São Leopoldo) não só nova, como identificável e, mais ainda, disputável.

A culminação narrativa do uber liberalismo como hegemonia cultural a partir das lógicas do empreendedorismo e redução do estado esbarra numa resistência firme e frontal pela primeira vez em, ouso dizer, décadas.

As ruas estão dizendo: Não mexam nas estruturas do estado, elas pesam pro meu cotidiano!

Esta estrutura cultural no entorno das mobilizações e dos atos são um dos elementos fundamentais para a compreensão de qualquer revolução.

As revoluções silenciosas nos comportamentos, nas construções culturais e percepções pela experiência tendem a se tornar explosivas quando passam pro passo seguinte das mobilizações, que é a ocupação das ruas e da política.

E neste sentido o caminho escolhido por Bolsonaro expande o cenário político para a conflagração, não necessariamente violenta, de percepções políticas. Põe pra jogo, como a gíria carioca, uma disputa política outrora dada como livre da esquerda pelo falecimento desta.

A esquerda diria que as noticias sobre sua morte foram manifestamente exageradas.

Não que a esquerda seja a vitoriosa nas mobilizações, mas pelo menos é uma das vitoriosas e se posiciona como elemento disputante do compartilhamento de experiências que explodiu no 15M.

A estética do 15M foi de esquerda, os gritos idem, a defesa do público também. Mas isso não torna nada disso como um ganho definitivo se a esquerda não se reaglutinar de forma radicalmente democrática para receber os novos participantes dos atos que manifestadamente resistem a formatos avesso à oxigenação das ruas.

O mesmo pode-se dizer do conclamação às ruas por Bolsonaro. Seu governo foi flagrantemente contrário ao que defendeu em campanha.

A liberação de armas e outras promessas de campanha não foram nada diante da ausência de uma postura que pelo menos uniria a direita, que respeitaria militares, que faria uma luta para mudar o país. O que se viu, todos viram, foi um caos movido por recalque e que atingiu as chances de crescimento social de pobres, as chances de ganho da elite, a própria ideia de corpo unido dos militares.

E isso diante de uma conjuntura de crise econômica de aumento do desemprego e do desespero, do trabalhador ao pequeno comerciante, que ainda viu a faculdade do seu filho atingida no coração, e seu filho sendo chamado de idiota útil.

Seria um contrassenso entender as resistências do congresso ao governo como dadas apenas pela fome de propina, seria uma negação da própria defesa pela esquerda da política como algo que via além do ganho pequeno e menor.

A resistência veio pela desconfiança de que o governo e seus chefes não iriam compartilhar nada do poder com as demais forças da própria direita. Que inclusive não havia, e não há, plano algum de nada além de destruir tudo o que foi organizado de 1988 em diante. E essa destruição significa a destruição de elementos fundamentais também para a própria elite que os sustenta.

A irresponsabilidade das apostas em Bolsonaro, de parte da elite econômica aos militares, se baseava na possibilidade de doma dele pelos grupamentos da extrema-direita com alguma ideia na cabeça. Não deu.

Primeiro que Bolsonaro e filhos tem uma visão imperial da presidência; segundo que os planos deles nunca foram o de viver na democracia, mas destruí-la qual Orban (Isso vem dos escritos do Celso Barros na Folha com os quais concordo); terceiro que o grupo, que é tido como olavista (à revelia do próprio oportunismo de Olavo que já pulou do barco),tem uma ideia que acreditam real que são majoritários na sociedade, embora tudo, pesquisas, votos e ruas, demonstrem o contrário.

Somem a isso a incompetência geral do governo em governar, pela ausência de qualquer noção a respeito do que significa a máquina pública, e que gerou uma enorme resistência da burocracia de estado, algo que de 1988 para cá ganhou uma faceta própria que nunca se viu na República.

Bolsonaro assim chama as ruas para defendê-lo tendo como base uma minoria com um tom flagrantemente golpista, algo que ele projeta sem uma base real, e que não teria, segundo jornalistas com proximidade com o mundo militar, apoio das casernas, ressentidas pelo confronto aberto e insuflado pelo presidente contra militares da ativa e da reserva que consideram líderes e que também atingem um corporativismo forjado há pelo menos cento e cinquenta anos.

A base de Bolsonaro voltou ao normal e ele se recusa a acreditar, perdido no mundo pessoal em que é fundamental gastar mundos e fundos para receber um prêmio imaginário numa cidade do Texas que não o acolheu, apenas para responder a um prefeito democrata de Nova York e à zoeira das redes sociais que ele ainda acha que domina.

Ao chamar sua defesa no dia 26, quatro dias antes da mobilização chamada antes por uma série de organizações e pela esquerda, Bolsonaro se obriga a ter uma maioria nas ruas que tende a não ter, diante do fracasso numérico das últimas manifestações chamadas por eles e pelo flagrante racha no que o elegeu (Do MBL ao Lobão). E se obriga numa aposta em que se perder só lhe resta a renúncia, saída honrosa, ou apostar a fundo contra um congresso que não vai demorar muito tempo em aceitar pedidos de impeachment.

E as revoluções? Bem, elas se produzem em processos complexos de danças e contra danças, pesos e contrapesos.

1917 só foi possível por 1905. 2013 produziu dos ocupa escola à ascensão de uma direita das ruas. 2019 aponta para uma nova faceta de processos mais complexos e que envolvem uma dinâmica de consolidação de transformações culturais de longo prazo.

Quando índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval é preciso entender que o que se contrapõe a eles são os homens exercendo seus podres poderes.

Invariavelmente nessa dança as bases carnavalescas se impõem.

Havan, o tipo de trabalho e emprego gerado e as cidades.

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A chegada das lojas Havan na cidade de Pelotas trouxe ao cenário político pelotense uma tensão entre forças políticas que se movem em um cenário de falsa polaridade. Talvez agraciadas pela influência das redes sociais, as tensões e relações de força se põe, muitas vezes de forma intencional, como pró ou contra o emprego, quando há questões muito sérias a serem debatidas sobre a chegada da loja, seu perfil empregatício, seu impacto no planejamento urbanístico da cidade e no próprio modelo de gestão da economia por parte do município, que, não se enganem, tem sua cota de responsabilidade pela crise econômica que passamos, ao menos local.

O próprio Conselho Municipal de cultura denunciou ao Ministério Público a implementação da loja no espaço do Jockey Clube da cidade com base em uma série de violações às leis que regem o patrimônio cultural, ao Plano diretor da cidade,etc. A prefeitura de Pelotas, que depois se declarou a favor em vídeo onde ataca o PSOL por ser, segundo a prefeita Paula Mascarenhas em sua proverbial ausência de apego à verdade factual, contrário à geração de empregos na cidade via Zaffari e Havan, se manifestou contra a chegada das lojas à cidade em parecer anterior à sua, súbita, mudança de ideia. Aliás, a prefeita tanto mente que afirma que seus representantes no CONCULT foram a favor da implementação das lojas no local quando a votação sobre o parecer contrário foi unânime no conselho.

O presidente do conselho esclarece a questão em matéria do Diário popular:

Horas após a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) publicar nas redes sociais sua posição sobre a possibilidade de rompimento de contrato entre os grupos Havan e Zaffari com o Jockey Club, o Conselho de Cultura de Pelotas (ConCult) também se manifestou. O órgão reafirmou que o parecer contrário à lei (leia a íntegra) que permitiu a negociação entre o clube e as empresas recebeu apoio unânime entre os integrantes do conselho. “Esse parecer foi votado e aprovado de forma unânime, inclusive com participação da prefeitura, com votos dos assentos da prefeitura no Conselho de Cultura”, diz Daniel Barbier, presidente do ConCult, sobre o documento encaminhado à Câmara de Vereadores e que embasou denúncia encaminhada ao Ministério Público. Segundo ele, a reunião onde o assunto foi discutido e em que o parecer recebeu aval de todos os integrantes do conselho foi registrada em ata que está com a Secretaria Municipal de Cultura (Secult). “O parecer foi construído não só pelos representantes da prefeitura, como também da UFPel, UCPel e IFSul”, completa Barbier. (DIÁRIO POPULAR, 27 de abril de 2019)

O problema é que a prefeitura usa uma questão de fácil apelo, os supostos duzentos empregos que seriam gerados apenas pela Havan, como arma política para atingir a principal força de oposição, mesmo em que se pese que, na Câmara, o PSOL votou a favor do projeto de alteração legal para que a loja da Havan e da Zaffari fossem implementadas no local.

A questão toda, e que criou o impasse legal,é que a Câmara votou em um projeto colocando a não alteração da função social do clube, e o CONCULT alertou que havia outros problemas na questão, sob o ponto de vista estritamente legal, que não foram observados pela câmara.

A Câmara foi induzida ao erro, e o PSOL por consequência também. A Prefeitura pressionou a sociedade para agir de forma absolutamente irracional contra o PSOL, enquanto por sua parte Luciano Hang, o grande amigo do presidente inepto que comanda o país com recordes de desemprego enquanto o dono da Havan promete empregos que não diz como criará e que qualidade terão, chantageia a cidade com ameaças de retirar uma loja que não abriu ainda, antecipando as chantagens como as que fez em Jaraguá do Sul, quando ameaçou fechar a loja se a Câmara não mudasse o horário de funcionamento do comércio,permitindo a abertura domingo.

O Ministério Público posteriormente, à revelia do bom senso, afirmou não ver impedimento para a instalação das lojas, mesmo o CONCULT colocando que há sim violações ao Plano diretor e à própria lei de registro e tombamento de bens culturais.

A responsabilidade do MP foi de sancionar algo que terá impactos posteriores à cidade, e cabe ao MP arcar com as consequências dela, a nossa responsabilidade é compreender o que está em jogo, economicamente e politicamente, com esse caso.

Em primeiro lugar há uma franca utilização do caso, um clássico do uso da suposta geração de empregos como álibi, para atacar a esquerda, mesmo quando ela atua diretamente para exercer uma função para a qual foi eleita, no caso do CONCULT e da Câmara, que é o de agir para preservar os interesses da sociedade em suas várias camadas e demandas.

A ação da prefeitura e das forças da direita e centro direita na cidade contra o PSOL e o companheiro Dan Barbier foram o puro suco do oportunismo satanizador da esquerda, que de forma pateticamente irônica a prefeita Paula diz em reuniões pertencer, enquanto PSDB e asseclas flertam com o limite da irresponsabilidade, que devem ter aprendido com o supra tucanato via FHC ao apoiar não só a flexibilização das leis de proteção ao patrimônio na cidade como ignorar Plano diretor e qualquer bom senso de planejamento urbanístico permitindo a instalação de lojas em uma região que talvez seja o maior nó de trânsito da cidade, só pra começar, com dois hipermercados, universidades e enorme fluxo de trânsito na direção da zona norte.

O grau de ataques recebidos pelo PSOL, vereadora Fernanda Miranda e ao presidente do CONCULT vão das redes bolsonaristas a apoiadores do PSDB, MBL,etc, e chegam às raias da ameaça. E estes ataques são também responsabilidade da prefeita Paula Shild Mascarenhas que, à revelia da honestidade intelectual e política, reduz assunto sério á politicagem rasteira em nome de um sonho de reeleição que sua figura pública arrogante dá como certa, mas que seu espírito imperial não permite que seja sem tentar destruir o que considera seu principal adversário político, o PSOL.

O descaso da prefeitura com o patrimônio cultural da cidade é um forte argumento para a compreensão do uso oportunista da questão da Havan, ignorando impactos urbanísticos e culturais, para se cacifar de forma irresponsável junto a um eleitorado carente de emprego e renda.

O sete de abril fechado há séculos; o prédio do Banco do Brasil em frente à prefeitura entregue às moscas sem nenhuma ação da prefeita e seu grupo de amigos encastelado no paço municipal para preservar e dar um fim social ao mesmo; o abandono do centro da cidade, que possui uma enorme quantidade de imóveis com características arquitetônicas passíveis de criação de uma rede de preservação, especialmente por muitos terem um estilo art decó com fácil identificação, sem nenhuma ação que tente ao menos mapear as características históricas variadas da cidade e dar um fim social e de identificação deles, inclusive com criação de um aparelho de visitação turística, movimentando economicamente o centro e por fim o descaso com a ocupação do Mercado Municipal onde a prefeitura vem sendo repetidamente cúmplice de uma busca de seu esvaziamento de frequência popular em nome de uma elitização, com a cumplicidade dos permissionários, que só dificulta a vida econômica dos mesmos permissionários, ao lutar contra as rodas de samba, a sexta Black,etc, tudo isso indica que a Prefeitura não entende cultura como parte da vida e da economia, pior tem uma visão tacanha da economia.

E ai entra o segundo ponto: a prefeitura trata a Havan como tábua de salvação porque à ela o assunto economia é uma questão de desgosto profundo, inclusive por sua conhecida incompetência em enfrentar a parte que lhe cabe no latifúndio da crise econômica, tendo políticas de geração de emprego e renda em vez de se abraçar numa tábua de salvação ilusória com impacto diminuto em uma cidade com cerca de 300 mil habitantes, com um enorme contingente de desempregados.

Quais as ações da prefeitura em prol da geração de emprego e renda de forma clara, direta, construtiva? Por que sonhar e digladiar-se por dois empreendimentos com impacto urbanístico grave ao invés de atuar para a implementação de programas de incentivo às pequenas e médias empresas com a prefeitura atuando como fiadora de empreendimentos que auxiliem a geração de empregos? Com seus muitos laços, cursos, viagens, abraços com governador, presidente, amigos industriais,etc não existem canais perceptíveis de financiamento de programas deste tipo visíveis para a prefeitura? Sua qualidade como gestora é tão diminuta que nada sai além do seguir uma cartilha disponibilizada pela Comunitas?

Em março o BNDES anunciou uma linha de crédito de financiamento a pequenas e médias empresas com valores de até 500 mil reais por ano sem limite de faturamento, a prefeitura não teria interesse para enviar a prefeita ou seu secretariado para discutir algo que permitisse um programa de incentivo às pequenas e médias empresas locais e gerasse empregos e renda que inclusive permitiriam que parte do uso do retorno financeiro pelos empresários e empreendedores ficasse em Pelotas e não fossem passear entre Brusque e supostos impulsionamentos de fake news contra adversários políticos? A prefeita e o atual governador que juntos se jogaram na aliança com o Bolsonarismo no rio Grande do Sul são incapazes de atuar com seu aliado para promoverem ações de fôlego e impacto duradouro na cidade além de ações marqueteiras com impacto daninho ao município no longo prazo e sob a ameaça constante dos humores de Hang?

E temos a última série de questões: Que tipo de emprego Hang criará? Empregos cuja necessidade torna os trabalhadores alvos fáceis do abuso moral, inclusive com forte pressão eleitoral? E por que interessa à prefeitura esse tipo de emprego, que tipo de laço ou aliança une Hang e Paula visando as eleições de 2020? As perguntas não são apenas ilações, dada a forma como Hang foi criando uma fama de ir além do razoável,para ser fofo, no que tange a seus apoios eleitorais e uso de sua máquina econômica para fortalecê-los.

Em 2018, últimas eleições, Hang foi acusado e processado de por ameaçar fechar lojas se Bolsonaro não vencesse, atuando como abusador moral coletivo, e posteriormente foi processado pela OAB por chamar advogados de “abutres” tendo sido obrigado pela justiça a apagar posts com a ofensa. Hang também tem questões relacionadas a problemas com pagamento ao INSS dos repasses necessário à previdência e foi processado por isso desde 2006, tendo sido alvo de processos que chegaram ao STF (a partir da página 54 do link citado), não à toa é um feroz apoiador da capitalização presente na Reforma da Previdência do Guedes.

A Havan, na pessoa de seu proprietário Luciano Hang, foi processada pelo MP-SC por diversos crimes cometidos, entre eles “facilitação de descaminho, descaminho, falsificação, crime contra o sistema financeiro e ordem tributária, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha”, e seu crescimento, durante os governos petistas, foi noticiado pela Folha como alvo de pelo menos duas condenações criminais por evasão de divisas e sonegação fiscal, tendo sido inclusive condenado em 2015 por lavagem de dinheiro.

Ou seja, a Havan tem um histórico de assédio moral, lavagem de dinheiro, não pagamento à previdência e débitos trabalhistas, ou seja, não pagamento correto de direitos trabalhistas e repasse desse direito à previdência e FGTS (Será por isso que seja tão fã da reforma trabalhista e da previdência?), e é esse tipo de emprego que queremos em Pelotas? Ou o apoio da prefeitura a Hang talvez não seja pelo emprego?

Porque acreditamos que existem projetos disponíveis e em prática no mundo todo, no Brasil também de encubadoras de empresas, de medidas de geração de emprego e renda via pequenas e médias empresas, de empoderamento das redes de economia solidária (A Índia é um oceano de projetos desse tipo que cabem em nossa realidade) que se promovidas e no médio prazo já geraria empregos e aqueceria a economia, em um impulso que poderia, pasmem, ter um efeito duradouro, mas esse feito é tão reluzente quanto uma estátua da Liberdade na Tablada?

A própria fala, a construção do discurso da Prefeita diz mais sobre sua intencionalidade do que as ações, já que nada fez durante seu mandato pra promover emprego e renda enquanto a vinda da Havan “caiu do céu” para dar à ela um ar de geradora de empregos, dado que o Pacto pela paz nos cemitérios não reduziu a violência na cidade, reduziu a frequência de pessoas nas ruas, e a renda dos donos de bar e de casas noturnas e ainda acumulou queixas de violência policial e contra a mulher.

Em uma conjuntura de desemprego no estado cuja taxa chega a 11%, comemorar 200 vagas diz tanto sobre nossas vulnerabilidades e necessidades quanto sobre as incompetências municipais que moram no Paço. Com 300 mil habitantes e praticamente 3000 desempregados, tendo perdido 757 postos de emprego em 2018 e recuperado apenas 15 em 2019, 200 vagas não seria de se comemorar, a não ser que essa comemoração seja para ocultar a inapetência em produzir políticas de emprego e renda que fortaleçam a economia no âmbito social, econômico direto e indireto de forma duradoura.

A imperatriz do Paço não conhece outro meio de agir, dado que a única política de geração de emprego e renda é ocupar cargos de confiança com indicados pelos aliados políticos conhecidos ou não. Pra que apoiar o pequeno e médio comerciante que se vê na necessidade de ampliar uma rede de crédito via cadernetas,o velho fiado, para manter clientes que consomem cada vez menos e tem mais e mais dificuldades em pagar suas contas se existe uma estátua da Liberdade na Tablada para fingir que produziu algo?

Mas durará o discurso quando a pressão predatória de Hang começar para a Câmara flexibilizar a legislação outra vez em nome de tornar possível que Hang obrigue funcionários a trabalharem domingos e feriados, implementando sua megaexploração que quer que todos trabalharem em TODOS OS feriados do ano?

Terá o sindicato do comércio, setor que representa 49% dos trabalhadores de Pelotas, a impressão positiva que prefeitura e sua base tentarão dar à ideia? Em Santa Maria o sindicato apoiou, o daqui irá pagar o preço por 200 empregos que são prometidos à todas as cidades e que servem de muleta para a incompetência de prefeitos e governador na geração de empregos no estado?

São perguntas que exigem uma reflexão ampla sobre que tipo de emprego defendemos, que tipo de projetos temos para as cidades, que tipo de economia entendemos ser a mais correta e se não precisamos estar mais atentos às nossas defesas, de ficarmos na defensiva enquanto a direita age de forma absolutamente desonesta para encobrir suas incompetências e vilanias.

Nessa hora é fundamental sabermos em que trincheiras, e com quem, estaremos.