Não vai ter copa #naovaitercopa

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 Muita gente que lê George Orwell, especialmente “1984”, acha que ele faz em seus livros uma crítica genérica à esquerda socialista. Muita gente que lê “A Revolução dos Bichos” ou “1984”, ajudados por uma campanha bastante forte soviética e dos PCs de vincular o escritor a uma atitude de “quinta coluna” ou de traidor pró-capitalista, acha que a crítica é generalizada a todos os partidos e todas as formas de ação relacionadas ao socialismo de linha Marxista, mas não, o foco das críticas era à URSS e aos estados construídos em torno da concepção soviética de socialismo, o tal socialismo realmente existente, SOREX para os íntimos.

Orwell antes de mais nada, tornou-se crítico ao SOREX desde seu envolvimento com o POUM (Partido Operário de Unificação Marxista) durante a Revolução Espanhola de 1936 a 1939 e seu contato com práticas autoritárias dos partidários do PCE, ligado à URSS de Stálin, que inclusive auxiliaram em muito a fragmentação das forças anti Franco, tendo entre suas atitudes uma ação de desmobilização, entrega de ativistas à GESTAPO Alemã e até assassinato, execução, com acusação de traição. O POUM neste período atuava junto aos anarquistas na busca de ainda manter um processo revolucionário em curso e entre os processos que sofreu foi de tentativa do PCE de torná-lo ilegal, por sua defesa da coletivização de terras Há muito de inspiração na vida de George Orwell no filme “Terra e Liberdade” de Ken Loach.

Por que falar em George Orwell, POUM e revolução espanhola em um texto cujo título é “não vai ter copa”? É bastante simples: Porque há uma marcha do partido dos trabalhadores, que governa este país, a partir de sua bem azeitada máquina de comunicação de produzir uma espécie de atuação baseada na “novilíngua” do Big Brother de 1984 no que se refere às manifestações de Junho e que seguem para se intensificarem em 2014, ano da Copa e que gritam desde sempre que NÃO VAI TER COPA.. Sabe-se que a Novilíngua foi uma das mais ácidas críticas que Orweel fez em sua alegoria sobre a união soviética contida em “1984” e consistia em “um idioma fictício criado pelo governo hiperautoritário na obra literária 1984, de George Orwell. A novilíngua era desenvolvida não pela criação de novas palavras, mas pela “condensação” e “remoção” delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o escopo do pensamento”. A lógica do idioma era reverter o significado das palavras para que elas só pudessem ser interpretadas de forma benéfica ao governo do Grande Irmão.

A nova novilíngua petista atua em grupos, que inclui desde jornalistas hadaddistas com grande trânsito nas redes sociais, jornalistas “de direita” que foram correspondentes em Londres até jornalistas que atuam no blog do Planalto, para espalhar que o grito das ruas de “Não vai ter Copa” é autoritário e que inclusive existe uma lógica de alteração da palavra de ordem para “copa pra quem?” indo no sentido inverso do que se discute nos Comitês Populares da Copa*.

Primeiro insistem que o “Não vai ter copa” é autoritário. Depois dizem que há uma disputa de palavra de ordem, resta saber onde, dado que em nenhum comitê popular da copa se debate isso, a substituição de uma palavra de ordem pela outra. As redes sociais consagraram o “Não vai ter copa” e mais, na rua, onde o “Não vai ter copa” foi lançado, é o que mais se grita. Como não dá pra considerar que nossos amigos estejam se confundindo entre os resultados de suas reuniões de pauta com o resultado de reuniões em movimentos sociais dos quais, se participam, não gozam de maior confiança por suas ligações com o PT, a má-fé é a única razão possível para a “confusão”.

Por que “Não vai ter copa” é autoritário? Por que é uma reação a uma rede de autoritarismos que vão desde a condução de investimentos do estado para áreas onde o povo não recebe BENEFÍCIO NENHUM até uma reação à remoções criminosas como as que estão me curso em quase todas as cidades-sede da copa, passando pela reação a um transporte público vergonhoso e que esmaga o trabalhador numa condição de humilhação cotidiana? Por que “copa pra quem?” é “inclusivo”? Porque não nega a copa, principal slogan pró -governo em 2014, e não põe em cheque que o governo petista é o PRINCIPAL RESPONSÁVEL por remoções, ampliação e criação de novos aparatos repressivos para esmagar manifestações? é por isso que alógica falaciosa de que #copapraquem é oposto a #naovaitercopa nasceu, pra tentar confundir**.

Não, petistas, é “não vai ter copa” e sabe porque não vai ter copa? Porque o mundo, a rua, está cansado do bom mocismo ASPONE, adaptado, servil, comicamente e cinicamente adestrado nas burocracias do estado enquanto sofremos com novos Amarildos assassinados por UPPs que vocês consideram um programa excelente. Porque na rua o povo está cansado de perder sua casa em nome de projetos de “urbanismo” que só existem para agradar a FIFA e os megaeventos esportivos que enriquecem grandes empreiteiras, sócias do estado petistas e de seus aliados país afora.

A lógica de atacar quem denuncia, antiga, velha arma stalinista que compõe também o modus operandi orwelliano que criou a novilíngua, é um dos principais eixos que indicam que o que está acontecendo é uma passagem de recibo, o indicativo que o “Não vai ter copa” incomoda, que tá claro que vai ter resistência.

Então coleguinhas, não é só “copa pra quem?” é Não vai ter copa, porque não vai ter copa, vai ter rua e o neo-stalinismo do ex-PT, da Ex-querda, pode até tentar domar a rua, o grito, a população de saco cheio, mas desconfio que vai ser preciso sair do ar-condicionado.

NÃO VAI TER COPA.

* inclusão de texto para explicitar melhor a confusão entre palavras de ordem que governistas procuram fazer.
** idem acima

4 comentários sobre “Não vai ter copa #naovaitercopa

  1. Vou colar aqui algo que escrevi ontem:

    uma sensação minha: a crítica à Copa (como evento/gastos/etc) se esgotou em junho do ano passado. Entendo que o evento ainda serve de catalisador, mas e o próximo passo e o depois? O que pros Governistas (e não o governo exatamente, pq este deu drible até nos governistas no ano passado) e um tanto da esquerda tb ainda não caiu a ficha é que num clique no dia 13 de junho as manifestações foram convertidas em metamanifestações. Foram e (deverão ser na Copa) pelo direito de se manifestar e dar voz aos pedidos de direito, pra exigir uma postura adequada do Estado.

    Dito isso, muita gente tem apontado que o #nãovaiterCopa aparece como autoritário e raso em proposições. Alguns preferem o antigo #CopapraQuem. Analisando como ~meme~ me parece que o Não Vai Ter Copa tem um efeito de suspensão e tensão, ao mesmo tempo vazio e por isso cheio de possibilidades, que entra em conflito com dois antigos mantras brasileiros: “o que os gringos vão achar disso” e “futebol pro brasileiro é sagrado”.

    O #Copapraquem produzido e marcado dentro de um argumento de direito a cidade no processo de construção dos estádios (que deve ser continuado pq há ainda um debate sobre os efeitos futuros destes investimentos) não foi re-alimentado após a Copa das Confederações até pq foi ultrapassado pelas ruas. (só procurar no twitter o uso da hashtag)

    A metamanifestação é tb a teatralização das relações cotidianas da Estado/PM com as comunidades/manifestantes, nas suas mais diferentes consequencias que se pode retirar daí (balas de borracha, espionagem-P2, corte de luz, vinagre etc – Pinheirinho/Carajás/Carandiru etc). Por isso a atuação da PM virou o centro dos debates, quais os combinados que se fazem, o que pode o que não pode e em quais lugares pode. A internet nisso foi bastante importante, ao propagar as diversas narrativas. Me parece que daí se retiram efeitos do crescimento do poder simbólico a partir de junho. Já ouvi milhares de vezes e contextos completamente diferentes a frase “Depois de junho tudo mudou, nós podemos….”. Este “nós” aí é muito importante.

    Neste sentido é que apesar da mobilização ser “pra Copa” o tal meme #nãovaitercopa aparece como um algo aglutinador das pautas quase atomizadas que aparecem desde o ano passado. pq? ué simplesmente pq é um slogan que desafia o Estado. Questionando o como seremos tratados pelo nosso próprios Estado? E isso é desestabilizador da narrativa governista pq é um meme que une uma galera q não necessariamente é de esquerda, e por isso vemos pipocar o slogan nas bases conservadoras etc…. estamos todos de saco cheio.

    tb é uma percepção minha que o Governo vai enquadrar estes surtados, e no discurso vai tentar organizar as demandas (mas nada que vá além disso e não veremos crítica nenhuma sobre a atuação do Estado-PM etc)

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    1. Em resumo, a galera quer domar algo a partir do Meme ou do slogan, é uma disputa pela direção do que não tem como dirigir nas ruas. E é uma disputa magra de uma gente que atua como correia de transmissão do dilmismo e se pretende ainda como de esquerda. Ma é isso mesmo ai em cima, só tentei traduzir.

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